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Quatro anos da Rio 2016: Maicon Siqueira, de um bronze surpresa à polêmica da não classificação a Tóquio


Há quatro anos, o taekwondo brasileiro subia ao pódio olímpico pela segunda vez na história. Pouco cotado à medalha, Maicon Siqueira surpreendeu seus adversários e a própria torcida e conquistou um bronze na categoria acima de 80kg. Em comemoração à data marcante, relembramos aqui alguns detalhes daquela noite especial, bem como o ciclo olímpico do atleta, após a conquista.

Era um sábado, 20 de agosto de 2016. Penúltimo dia dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro e o sentimento de "ressaca" já tomava conta dos brasileiros e dos amantes do esporte. As chances concretas de medalha do Brasil naquele dia eram Isaquias Queiroz e Erlon Souza, no C-2 1.000m, da canoagem velocidade, e o futebol masculino, garantido na final e em busca do ouro inédito.

Maicon, de longe, não era um favorito. Nem mesmo o Surto Olímpico o listou como um candidato ao pódio em seu guia da Rio 2016. Mas o brasileiro queria surpreender e sabia que poderia fazê-lo. Ele iniciou sua trajetória "sofrida" pela manhã daquele sábado, batendo o estadunidense Stephen Lambdin, por 9 a 7, nas oitavas.

Se as chances eram "remotas", a conquista de uma medalha ficou ainda mais distante depois da derrota para Abdoulazak Issoufou, já pela tarde (6 a 1). A única possibilidade de retornar à disputa era com o nigerino chegando à final. E, graças ao "deus brasileiro", Issoufou derrotou Dmitriy Shokin, do Uzbequistão, na semifinal, e carimbou passaporte para a grande decisão olímpica, onde cairia para o azeri Radik Isayev e ficaria com a prata.
 
Maicon, então, foi para a repescagem. Ele voltou a lutar já pela noite, quando todos os olhares brasileiros estavam voltados para a disputa de pênaltis da final do futebol masculino. Mas, determinado e empurrado pela torcida que fazia festa na Arena Carioca 3, ele não tomou conhecimento do francês M'bar N'diaye e venceu por 5 a 2, avançando à disputa do bronze.

Na luta decisiva, sofreu com o britânico Mahama Cho, mas o caldeirão do Parque Olímpico da Barra o empurrou para uma vitória em 5 a 4, conquistando uma medalha "inesperada", como adjetivou Marcos Antônio à época. Festa brasileira e 18ª medalha nos Jogos da Rio - após a prata na canoagem velocidade e o ouro no futebol -, a maior quantidade já conquistada pela delegação verde-amarela numa edição olímpica.

Maicon Andrade nos braços da torcida, com a alegria de ser um medalhista olímpico (Folha)

O ciclo olímpico

Após a medalha, Maicon virou uma referência para o esporte brasileiro, mas parece que a Confederação Brasileira de Taekwondo (CBTkd) não reconhecia seu feito, já que atrasou os pagamentos de "recompensa" a que o atleta tinha direito pela conquista. À época, a confederação passava por uma crise financeira e Maicon reclamou sobre a situação à Folha de S. Paulo.

Em dezembro de 2016, Siqueira disputou sua primeira grande competição depois da medalha, o Grand Prix de Baku, no Azerbaijão, reunindo os 16 melhores atletas das categorias olímpicas. Ele acabou derrotado na primeira rodada pelo "carrasco" Issoufou. O brasileiro voltaria a ser derrotado pelo nigerino nas quartas de final do Mundial de 2017, ficando a um passo da medalha.

Depois de um período "apagado", Maicon voltou a ser destaque no Surto somente em março de 2018, quando foi bronze no Aberto da Ucrânia, na categoria acima de 87kg. Na mesma "excursão" pela Europa, ele acabou em sétimo lugar no Aberto da Espanha. Em maio, conquistou um novo bronze, agora no Grand Prix de Roma, na Itália, após três vitórias e derrota para o russo Vladislau Larin

Maicon Siqueira no pódio olímpico (Folha)
A metade de 2018 viu uma sequência positiva do medalhista olímpico. Em junho, ele foi ouro, de forma tranquila, nos Jogos Sul-Americanos de Cochabamba, na Bolívia. Poucos dias depois, foi bronze no Pan-Americano de Taekwondo e, mais tarde, caiu nas quartas de final do Grand Prix de Manchester, no Reino Unido.

Duas importantes medalhas foram conquistadas por Maicon em 2019, ambas de bronze. Em maio, no Campeonato Mundial, após vencer três lutas e perder para o cubano Rafael Alba. Em agosto, nos Jogos Pan-Americanos, com duas vitórias e derrota para o estadunidense Jonathan Healy.

Na sequência do ano, foi em busca de pontos para melhorar sua posição no ranking olímpico e tentar uma vaga para Tóquio. Ele caiu na primeira rodada do Grand Prix de Roma e nas quartas do Grand Prix de Chiba, no Japão, mas foi ouro no Aberto do Canadá e no Drácula Open e prata nos Abertos dos Estados Unidos e da Croácia, não necessariamente nessa ordem.

O melhor veio em outubro, com o título do GP de Sofia, na Bulgária, tornando-se o primeiro brasileiro a conquistar um torneio do nível. Ele venceu quatro lutas para subir no lugar mais alto do pódio. Confira o relato daquela conquista aqui. O detalhe é que Maicon abdicou de sua carreira militar, deixando de ir para os Jogos Mundiais Militares para participar do GP e conquistar pontos para o ranking olímpico. 

Maicon no ponto decisivo da Rio 2016 (Folha)
Mas, depois de cair nas oitavas de final no Grand Prix Final, competição com pontuação dobrada, Maicon não conseguiu a classificação através do ranking, restando-lhe apenas o Pré-Olímpico, que viria a ser disputado em março de 2020.

No entanto, na virada do ano, veio o baque: o sarrafo do taekwondo brasileiro havia subido e, mesmo após todas as conquistas em 2019, ele ficou de fora da convocação da CBTkd para o Pré-Olímpico. Apenas dois homens e duas mulheres de cada país podem participar das seletivas continentais do taekwondo.

Ele ameaçou entrar na justiça para obter a vaga, afirmando que havia cumprido todos os critérios estabelecidos pela CBTkd para a convocação, mas acabou não avançando com a ideia. No fim das contas, os dois homens escolhidos, Edival Marques (68kg) e Ícaro Miguel (80kg), conseguiram a vaga olímpica e são grandes chances de medalha para o Brasil em Tóquio.

Apesar de toda frustração, Maicon já revelou em entrevistas recentes que a página de sua carreira já está virada, com foco total nos Jogos Olímpicos de Paris, em 2024. Ele competiu apenas uma vez neste ano, no US Open, e conquistou uma medalha de prata.

Foto de capa: Folha

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