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"Acho que arrasei!", diz Rebeca Andrade sobre Tóquio 2020


Rebeca Andrade foi um dos principais destaques do Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio. A atleta conquistou as primeiras medalhas olímpicas do país na ginástica artística feminina e se tornou a primeira mulher brasileira a subir ao pódio mais de uma vez em uma mesma Olimpíada.

A ginasta sempre foi considerada um dos melhores talentos da ginástica brasileira na história. Porém, três lesões nos ligamentos do joelho impediram que Rebeca mostrasse o seu potencial ao longo de sua carreira. Em Tóquio, a brasileira estava 100% fisicamente para conquistar o ouro no salto sobre a mesa e a prata no individual geral. 

Em entrevista ao Surto Olímpico, Rebeca Andrade falou sobre a disputa para se classificar para a Olimpíada, seu desempenho em Tóquio e a expectativa para o Mundial de Ginástica Artística que será realizado no próximo mês em Kitakyushu, no Japão.

Rebeca Andrade na final olímpica do solo - Foto: Ricardo Bufolin/CBG

A CONQUISTA DA VAGA OLÍMPICA

Após o Mundial de ginástica artística de 2019, o Brasil não conseguiu uma vaga na competição por equipes em Tóquio, obtendo apenas uma vaga individual para Flávia Saraiva, sétima colocada no individual geral na ocasião. Rebeca (que estava se recuperando de lesão) tinha duas opções para ir a Tóquio: o circuito das Copas do Mundo ou o Pan-Americano de 2020.

A ginasta tentou primeiro a série de competições internacionais, porém a pandemia atrapalhou os seus planos. Rebeca estava na Copa do Mundo de Baku, no Azerbaijão, onde fazia sua primeira competição desde a lesão que a deixou fora do Mundial de 2019. Ela havia competido nas barras assimétricas e na trave na qualificação e conseguiu boas notas avançando para as finais. Porém, tais finais nunca aconteceram. Com o estouro da pandemia da covid-19, a Federação Internacional de Ginástica (FIG) suspendeu a competição para que os atletas pudessem voltar ao seus países de origem antes que as fronteiras fossem fechadas.

"Eu lembro que eu fiquei bem triste e preocupada. Eu fiquei triste porque eu já tinha competido o primeiro dia, então só faltavam as finais e seria decisivo, para saber se eu iria pra Olimpíada. E preocupada porque era uma coisa que a gente não conhecia. Eu não sabia como seriam os próximos dias, semanas, meses. Nós tivemos que voltar pro Brasil. Era um momento onde todo mundo estava de mãos atadas", lembrou a paulista, nascida em Guarulhos.

Com o cancelamento da etapa de Baku, a FIG usou as notas da fase qualificatória para definir a classificação final e, com isso, Rebeca não teve mais chance de conseguir uma vaga olímpica pelas Copas do Mundo. A única alternativa passou a ser, então, o Campeonato Pan-Americano. A competição seria realizada em maio de 2020 nos Estados Unidos, mas com a pandemia o torneio foi adiado e mudou de sede, sendo realizado no Rio de Janeiro em junho de 2021.

Com a ausência de Estados Unidos (que não enviou representantes no feminino, pois já tinham alcançado o limite de vagas olímpicas) e do Canadá (que não veio ao Brasil devido à pandemia), Rebeca era a grande favorita para vencer a competição e conquistar uma vaga olímpica. Mesmo assim, a ginasta conta que não sentiu nenhum tipo de pressão para conseguir se classificar para Tóquio.

Sabia que o Pan-Americano seria a minha última chance para estar na Olimpíada. Só que em nenhum momento eu me senti pressionada. Eu sabia que eu tinha que fazer o meu melhor, porque eu estava treinando muito e eu estava preparada. Eu queria fazer boas apresentações mesmo. Mas em nenhum momento eu senti pressão. Ninguém nunca me obrigou dizendo que eu pensava ganhar ou que eu precisava ser a melhor. 

"Respeitaram muito o meu processo. Isso me tranquilizava porque eu sentia que eu estava preparada, com o corpo forte e com a mente forte, o que é muito importante. Eu estava bem tranquila na competição, tanto que na trave eu quase caí. Se eu tivesse nervosa com certeza que eu teria caído, mas eu estava sentindo tanto o meu corpo, no controle do que estava acontecendo que que eu consegui segurar e voltar pra série de novo, finalizar e depois terminar a competição muito bem. É muito bom isso para os atletas porque eles não sentem pressionados a ganhar medalha ou estar no pódio".

Rebeca Andrade em sua série de trave no Pan-Americano 2021 - Foto: Ricardo Bufolin/CBG

O atleta já se cobra muito e o que eu sempre cobro em mim é que eu faça meu melhor. Eu penso muito que ‘acontece na competição o que eu fiz no treino’. Então se eu treinei bem, eu tenho muito mais chance de fazer uma competição muito boa. Agora se eu estou treinando mais ou menos eu não posso querer chegar na competição e arrasar. Então é por isso que eu me dedico tanto nos treinos.

OS JOGOS OLÍMPICOS

No Campeonato Pan-Americano, Rebeca Andrade conquistou duas medalhas de ouro (equipes e individual geral) e conseguiu a sonhada vaga em sua segunda Olimpíada. Antes de Tóquio 2020, havia uma expectativa em torno do desempenho de Rebeca. A ginasta estava com boas notas no individual geral e no solo, se colocando entre as principais candidatas ao pódio no Japão. 

Além disso, havia uma especulação sobre o que Rebeca poderia fazer no salto sobre a mesa. Para participar da final do aparelho, uma ginasta precisa apresentar dois saltos diferentes na qualificatória e a brasileira fazia um mistério sobre o assunto (antes de Tóquio, Rebeca ficou três anos sem apresentar dois saltos em uma competição). 

Rebeca na final do salto sobre a mesa - Foto: Ricardo Bufolin/CBG
A confirmação de que a ginasta iria tentar a final do salto veio somente no treino de pódio, quando apresentou um Cheng (Yurchenko com meia volta na primeira fase do salto, seguido de uma pirueta e meia no ar). O salto com valor 6.0 de dificuldade é um dos mais difíceis do código de pontuação e colocou Rebeca Andrade como uma das favoritas ao pódio na prova.

“Eu já treinava o Cheng há alguns anos. Foi o salto mais difícil que eu já treinei. Eu comecei a treinar ele tem muito tempo, só que como eu passava pelas lesões, a gente sempre tinha que voltar do zero e isso acabava prejudicando um pouco. Mas eu me senti muito muito pronta, muito preparada. Eu treinei muito, muito mesmo para que eu pudesse colocar ele na Olimpíada e deu tudo certo".

No vídeo abaixo, o Cheng de Rebeca na qualificação. O salto recebeu nota 15.400, a nota mais alta da ginástica artística feminina em Tóquio, empatado com um salto de Simone Biles e com as apresentações de Sunisa Lee e Nina Derwael nas barras assimétricas na final por equipes.


"Em nenhum momento eu senti que não daria, que seria difícil, ou que eu virasse pro meu treinador e falasse, ‘Chico não não vai dar pra fazer’. Tinha dias que, no treino, eu não me sentia muito bem pra fazer  e meu treinador super me respeitava. Acho que por isso que eu cheguei na olimpíada e fiz tão bem porque eu estava muito bem preparada”.

Angelina Melnikova (ROC), Sunisa Lee (USA) e Rebeca Andrade (BRA) no pódio do individual geral - Foto: Ricardo Bufolin/CBG

MEDALHAS OLÍMPICAS

A primeira medalha olímpica de Rebeca Andrade veio no individual geral. A disputa elege a ginasta mais completa dos Jogos Olímpicos, com a classificação final determinada pela soma das notas nos quatro aparelhos. Rebeca ficou com a prata, terminando 0.135 pontos atrás de Sunisa Lee, dos Estados Unidos. No vídeo abaixo, estão as apresentações de Rebeca na final.



“Eu acho que eu fui muito bem. Eu assisti as minhas competições depois. E, assim, eu tenho o pensamento de que eu posso fazer muito melhor, porque eu tive algumas falhas e são coisas que acontecem, faz parte do esporte, faz parte do ser humano. Não é uma coisa que me traz arrependimento. Eu gostei muito de tudo que eu fiz, de tudo que eu vi, de tudo que eu falei então eu tenho um orgulho enorme aqui de mim e das minhas medalhas. Foi uma conquista muito importante, muito grande para o nosso país e pra muitas pessoas.  Eu acho que eu arrasei! Eu gostei muito do meu desempenho”, avaliou a ginasta sobre seu desempenho geral.

O ponto alto de Rebeca em Tóquio, porém, ainda veio alguns dias depois, na final do salto sobre a mesa. A brasileira foi a terceira ginasta a competir. Além do Cheng, Rebeca ainda fez um Amanar (Yurchenko com duas piruetas e meia), salto que ela não fazia desde 2017. A média dos saltos foi 15.083, colocando a atleta na primeira posição. A partir daí, foi esperar as adversárias saltarem para saber o resultado final.

Rebeca na final do salto sobre a mesa - Foto: Ricardo Bufolin/CBG
“Até chegar  a minha vez de competir eu fico sempre bem concentrada, pensando no meu e em coisas positivas. Eu sempre falo com Deus que é uma coisa que me acalma muito. Eu coloco na minha cabeça que eu já fiz aquele salto muitas vezes para não me preocupar. Mas depois que eu salto, eu fico meio que viajando, porque eu não gosto de sentir, essa sensação de nervosismo ou de pressão ou de qualquer outra coisa que seja. Então eu estava lá torcendo para as meninas, porque eu imagino como foi difícil para elas também estarem lá, com pandemia, com problemas que a gente às vezes nem sabe. Eu estava torcendo muito pelo melhor. Eu lembro que eu falei na minha mente: ‘Rebe, se você merecer vai vir’".

E veio aí! Após mais cinco ginastas saltarem, saiu o resultado final: Ouro para o Brasil. Ouro para Rebeca Andrade!

Eu comecei a pular, abri um sorriso de orelha a orelha, foi uma sensação incrível. Fiquei muito feliz porque há muito trabalho por trás. Um trabalho meu, do meu treinador, da equipe multidisciplinar, de todas as pessoas que me ajudaram a chegar lá. Nossa, é um sentimento que não dá nem pra explicar direito. Falar que que foi uma felicidade ou uma alegria parece até pouco.

Rebeca ao lado do técnico Francisco Porath Neto - Foto: Ricardo Bufolin/CBG
Rebeca ainda competiu em mais uma final nos Jogos Olímpicos, terminando na quinta colocação no solo. A campanha histórica, como primeira mulher brasileira a conquistar duas medalhas em uma edição dos Jogos Olímpicos, lhe rendeu o convite para ser porta-bandeira do Brasil na cerimônia de encerramento. 

Rebeca entrando no Estádio Olímpico de Tóquio com a bandeira brasileira - Foto: Mirian Jenske/COB

COMPROMISSOS PARA O FIM DO ANO

Agora consagrada como um dos maiores nomes da história olímpica brasileira, Rebeca Andrade já pensa nos próximos desafios, que acontecem ainda este ano. O primeiro deles é o Campeonato Brasileiro, que começa na quinta-feira (30), em Aracaju-SE, e, logo depois, o Campeonato Mundial, que será realizado entre 18 e 24 de outubro em Kitakyushu, no Japão.

“Eu estou me preparando como eu sempre me preparei. Eu vou pro ginásio de manhã, eu faço o meu treino, depois eu faço a minha fisioterapia.  Eu estou cuidando da minha mente, cuidando de mim e fazendo o meu melhor. Os treinos estão intensos agora, até porque antes  do mundial eu tenho o brasileiro que também é importante para o meu clube [Flamengo]. Treino intenso, treino forte e com muito foco. Eu só espero que chegando lá eu consiga fazer o meu melhor também. Independente do resultado eu quero sair feliz e grata”.

Rebeca se apresenta na trave nos Jogos Olímpicos - Foto Ricardo Bufolin/CBG
Foto de capa: Ricardo Bufolin/CBG

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