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Destaque da seleção brasileira de esgrima, Guilherme Toldo comenta Mundial e preparativos pra Pan e Olimpíadas



As competições de Esgrima nos Jogos Pan-Americanos de Lima tem início nesta segunda-feira (5), e o Brasil tem boas chances de voltar a subir no lugar mais alto do pódio, após um jejum de 52 anos, quando Arthur Telles foi campeão da Espada Masculina, nos jogos de Winnipeg (CAN), em 1967. Aquela também foi a única final individual de um brasileiro, que conta ainda com 4 pratas – todas da equipe masculina – e 13 bronzes na história. 

Ana Beatriz Bulcão e Gabriela Cecchini no Florete Feminino e Athos Schwantes e Nicolas Ferreira na Espada Masculina são os representantes do Brasil no primeiro dia. Entre as melhores chances de encerrar esse jejum para o Brasil estão a campeã mundial da Espada Feminina, Nathalie Moellhausen e Guilherme Toldo, no Florete masculino. Inclusive, hoje os dois são os únicos que estão na zona de classificação das Olimpíadas. Mas a competição não será fácil: Os EUA virão com força máxima, ainda que a competição não valha pontos para o ranking mundial.

Porém, como Toldo comentou na entrevista, apesar de ter visto o Canadá ultrapassar e avançar na briga pela vaga continental, o Brasil ainda tem chances de conquistar a vaga, faltando quatro etapas da Copa do Mundo para definir o ranking por equipes


Mesmo que o Brasil não consiga a classificação coletiva, Toldo é o grande favorito para ficar com a vaga continental no individual. O esgrimista está vivendo o melhor momento de sua carreira, após a medalha de prata no Pan-Americano da modalidade, em Toronto, e o 15º lugar no Mundial de Esgrima, disputado em Budapeste em julho.  


Em conversa exclusiva com o Surto, o atleta do Grêmio Náutico União (GNU) de Porto Alegre analisou o resultado no Mundial, revelou como ele lida com uma derrota por virada, como a sofrida nas oitavas do Mundial, sobre sua preparação para os jogos Olímpicos - após as quartas de final nos jogos do Rio -, o que inclui uma temporada na Itália, treinando no Frascati Scherma, em Frascati, região metropolitana de Roma, a situação da equipe na busca pela vaga olímpica, seus primeiros passos na esgrima e porque se apaixonou pelo esporte, além das expectativas para os Jogos Pan-Americanos, que encerram a temporada 2018-19 do circuito mundial.



SURTO OLÍMPICO- Como você avalia sua participação no Mundial individual? Ainda que o seu resultado tenha sido excelente, uma derrota por 15-14 e de virada mexe um pouco mais ou você consegue virar a página rápido?


GUILHERME TOLDO- Eu acredito que foi uma boa competição. Foi uma derrota doída, em que eu estava com a vantagem, eu cheguei a ficar com 14-13 e as derrotas assim mexem um pouco com o mental, com o sentimento e acabam trazendo… um pouco de sabor amargo - "podia ter ido mais longe, ter feito algo diferente" e ter ficado tão perto de uma final de mundial… mas se for analisar toda a minha trajetória este ano, o quanto eu evolui e o quanto foi difícil alcançar os resultados, eu fico muito contente sim, eu acabei ficando em 15º do mundo, durante o ano eu não consegui repetir muitas vezes o resultado, apesar de estar jogando uma esgrima em alto nível; meus melhores resultados foram no final da temporada, com o Pan-Americano e com o Mundial. Então por um lado eu fico contente e estimulado para continuar treinando e me preparando para essa corrida de classificação olímpica, o que me dá uma satisfação muito grande, e aquele saborzinho amargo fica no fundo, trazendo aquilo que a gente chama de "vontade amiga" de querer mais, de querer buscar melhores resultados e saber que eu tenho capacidade e não traz nenhum tipo de rancor e nenhum tipo de mágoa, é tudo positivo.



E como você avalia o torneio por equipes? O que faltou contra a Hungria e como vocês estão encarando a briga pela vaga olímpica? Quais são os próximos passos e como a equipe está se preparando?

A questão não é a derrota para a Hungria no quadro de 32 no Mundial, ou de repente a derrota para o Canadá na semifinal do Pan-Americano. A prova por equipes é uma prova muito delicada, em que todos ganham ou perdem juntos, fica difícil apontar um culpado ou uma pessoa que seja responsável sobre aquilo, porque a gente entra junto e sai junto da pista. O que aconteceu foi um jogo pegado contra a Hungria, que foi muito difícil do início ao fim. Talvez eles tenham se sobressaído no último terço por algum detalhe tático, eles estavam mais prontos para esse decisão, eles foram mais felizes num momento de tensão, e fecharam o 45º toque na frente. Fica um pouco complicado apontar um erro grave ou motivo crucial da derrota. Tudo poderia acontecer, se eu não me engano, já tínhamos vencido duas e perdido duas vezes contra eles.


Por mais que a gente tenha perdido alguns pontos importantes, ainda tem algumas outras provas que valem para o ranking olímpico, então a gente está concentrado nestas oportunidades que a gente tem, a gente sabe os pontos que a gente perdeu com essas duas provas que são as mais importantes, mas sabemos do nosso potencial, e não vamos desistir da nossa classificação até que encerre o ranking. Vamos lutar, sabendo das nossas dificuldades, de quantos pontos a gente perdeu e o quanto a gente tem que trabalhar e é nisso que a gente vai se preparar, tanto taticamente, quanto tecnicamente e psicologicamente para este momento. 



Você atualmente é o favorito para conquistar a vaga continental para as Olimpíadas. Como você está se preparando para os Jogos de Tóquio e quais são suas expectativas?

Nosso objetivo para esse ciclo é a classificação por equipes. É um interesse mútuo, um objetivo que a gente vem trabalhando desde o início. Mas, visto que a gente está atrás do Canadá e deixamos passar alguns pontos importantes, no momento a gente se encontra numa situação em que estamos atrás do ranking e buscando a pontuação. Porém, como tu comentaste, eu também tive a capacidade de fazer boas competições nessas provas mais importantes e trazer bons resultados para o país, tanto no Pan Americano quanto no Mundial que me deram a oportunidade de estar no 25º lugar do ranking mundial e disputando a vaga individual. A forma que eu estou me preparando e as minhas expectativas são as mesmas das anteriores. A gente ainda acredita na vaga por equipe, ainda que seja uma estrada longa e difícil, mas a preparação ainda é pela classificação em si, não só pelos Jogos Olímpicos em Tóquio. Estou me preparando tanto pelo ranking individual quanto pelo ranking de equipes da mesma maneira.



Falando de Pan agora, como estão os preparativos para o torneio? Como é lidar com esse período curto entre duas competições importantes? Existe algo de especial no Pan que te motiva? E qual é a expectativa, especialmente após o vice em Toronto?

Os preparativos para o Pan Americano são os melhores possíveis. O Circuito Mundial que tem certos momentos no calendário. Tem o momento inicial, de outubro que vai até dezembro; depois tem a segunda parte que é de janeiro até abril e depois tem a de maio até julho. Eu encaro esse terceiro terço do calendário internacional de competições como um pedaço só e eu encaro essa reta final como a mais importante, porque nela se encontra o Copa do Mundo de São Petersburgo, o Grand Prix de Xangai, o Campeonato Pan-Americano, o Campeonato Mundial e esse ano específico, os Jogos Pan-Americanos. Então, essa reta final que vem desde maio eu encaro da maneira mais tranquila possível porque eu me preparo para este momento, desde o início da pré-temporada, para estar bem preparado fisicamente e mentalmente para encarar esses objetivos mais difíceis e mais importantes. Por mais que os Jogos Pan-Americanos não tragam pontos para o ranking mundial, é uma prova de extrema importância tanto para um significado pessoal, quanto para o Comitê Olímpico quanto para a Confederação de Esgrima, e estou venho me preparando desde o início do ano para estar bem capacitado em disputar uma medalha.

O Pan é uma competição bem interessante. O que me motiva é a motivação pessoal, eu tenho muito interesse em ganhar essa prova, é uma prova que eu gosto, que traz uma realização pessoal muito grande em ganhar uma medalha nos jogos Pan-Americanos, que dá uma visibilidade muito boa, que é o momento único em que tu consegue estar junto dos teus colegas de equipe, em uma condição legal, dentro de uma Vila, com teus amigos, dentro do apartamento. É um momento de união do grupo, já que o grupo da esgrima é muito unido, temos boas relações, então é muito interessante estar com contato com os amigos durante aqueles dias de competição. É uma coisa que me motiva, eu gosto de me sentir bem, de estar perto das pessoas que eu gosto, então a expectativa é a melhor possível. Depois de ter feito uma boa preparação, estando acompanhado dos meus amigos, de toda essa atmosfera positiva, o otimismo é claro, a expectativa é sempre da melhor competição possível e estar buscando o melhor resultado para o Brasil.


No seu site você fala como foi seu início na esgrima. Você poderia falar um pouco mais o que te motivou especialmente na esgrima em detrimento dos outros esportes? E como foi sua decisão especificamente pelo Florete?

Sim, meu início da esgrima foi totalmente casual. Foi por iniciativa dos meus pais que são professores de educação física e sempre me motivaram a fazer todos esportes possíveis e imagináveis e aí eu tive a felicidade de ser filiado ao Grêmio Náutico União (GNU). Por meu incentivo do meu primo, que já tinha praticado esgrima e comentado que era um esporte legal, me encorajou a experimentar um esporte novo. Fui, experimentei, gostei e acabei me apaixonado e foi uma coisa natural, um processo natural de guri que gostou do esporte, achou interessante e acabou levando para vida inteira. Fiz natação, tênis e o que deixou mais apaixonado pela esgrima foi o ambiente, as pessoas, e por achar o esporte de combate muito mais legal do que esporte individual.

O esporte de combate traz essa sensação de desafio, de luta, de entrega, esse lado de ser bem mais psicológico, de ter a pessoa na tua frente querendo o mesmo objetivo que tu, que é sair com a vitória, tudo isso acabou me levando pro lado da esgrima e isso foi um processo natural, completamente tranquilo, sem nenhuma pressão. Os momentos da minha vida fizeram com que eu me aproximasse mais da esgrima e acho que acabei fazendo a escolha certa, os resultados estão aí para mostrar. Pelo fato de eu gostar muito de fazer esgrima, eu acabo tendo muito mais gosto de ver e de alcançar os resultados. A decisão pelo florete foi pelo horário. A minha mãe foi me inscrever e o horário das 15h de terça e quinta era de florete, não tem nada especial não. 


Você está morando em Roma, certo? O que você está estudando aí? Quando você se mudou para Roma? Foi para aí principalmente pensando na esgrima ou pelos estudos?

A minha escolha para me transferir para Roma foi absolutamente pela esgrima. Foi minha, pessoal. em vista das minhas possibilidades econômicas, e de classificação olímpica. Era um sonho meu poder viver de esgrima e poder treinar em alto nível e eu tive essa oportunidade de vir para treinar na Itália, num clube [Frascati Scherma] que me abraçou e ter uma conexão bem legal com os atletas que treinavam aqui. Criei várias amizades e o treinamento aqui é excepcional. Acabei assimilando um novo conceito de Escola de Esgrima, uma nova cultura, uma nova língua, conhecendo novas pessoas, ambiente completamente novo e acabei me familiarizando com uma esgrima de alto nível. Foi uma oportunidade muito boa e que me deu muitas alegrias. Eu me inscrevi em Economia na Università di Roma Tor Vergata (Uni Roma II), mas infelizmente eu não consegui acompanhar, por conta dos treinamentos e das viagens. Aqui na Itália eles não têm abertura muito grande para os atletas, então as dificuldades eram as mesmas ou maiores do que estudar no Brasil, então não desenvolvendo essa parte acadêmica do jeito que eu gostaria. Infelizmente acabei optando pela esgrima, até pelo momento, pelas oportunidades e acabei me agarrando na esgrima e me dedicar exclusivamente ao esporte.



E como você compara os treinamentos na Itália em relação ao Brasil? Quais são as principais diferenças e existe algo no Brasil do qual você sente falta? Você se sente mais preparado aí para as competições internacionais?

Traz muita diferença estar aqui na Itália fazendo parte de um grupo de atletas que treinam em alto nível, que sempre estão buscando o alto rendimento e melhores resultados, No Brasil, infelizmente, eu me encontrava muito sozinho no meu clube [GNU União]. Porque eu buscava sempre resultados melhores, com objetivos lá na frente, em circuito mundial, classificação olímpica; no meu clube, não tinha grupo muito grande, não tinha pessoas que compartilhavam da mesma vontade que eu, então eu busquei um ambiente que fosse mais favorável a isso e que eu tivesse mais oportunidades de crescer. A Europa concentra a maior parte das competições do circuito mundial, concentra o maior percentual de atletas de alto nível no mundo. Então ter contato com essas pessoas, e essa nova escola...Porque aqui na Itália tem um sistema de ensino, que a gente chama de Escola de Esgrima, que é diferenciado. Os Mestres aqui estimulam seus atletas de uma maneira diferenciada, então eu estava buscando uma nova experiência e uma nova oportunidade, eu estava querendo aprender mais esgrima e poder desenvolver a esgrima que eu já sabia. Então esse sempre foi o objetivo profissional, foi o que me motivou a me mudar para cá e que fez com que eu escolhesse a Itália, porque eu poderia ter escolhido qualquer outro país da Europa, ou qualquer outro clube, mas eu escolhi o Frascati Scherma. Esses foram os motivos que me fizeram sair do Brasil. Óbvio que eu acabo sentindo muito do lado pessoal, individual, da família, mas a minha vontade de melhorar profissionalmente e de alcançar os objetivos que eu tinha na esgrima fizeram com que eu me mudasse para cá e gostasse tanto de ficar aqui.


Quais serão os próximos eventos depois do Pan? O seu perfil no site da FIE inclui os Satellites de Amsterdã e Tashkent, é isso? Você já tem um calendário montado para a próxima temporada?

Sendo bem sincero, eu ainda não sei, ainda não planejei meu calendário, ainda não fiz um planejamento anual, não tenho nenhuma ideia de como vai funcionar. Mas depois dos Jogos Pan-Americanos, vou sentar numa cadeira e botar numa balança todas as competições, vou ver quais são as mais importantes, dar uma planejada no meu calendário na questão de preparação, de pré-temporada, porque eu quero chegar bem nas provas que são mais importantes, e conseguir somar mais pontos para a classificação olímpica. Esse é o objetivo, mas ainda não posso responder a tua pergunta sobre as provas específicas que vou valorizar.

Fotos: BizziTeam - FIE / Facebook Confederação Brasileira de Esgrima

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