A menos de dois meses da abertura, os pedidos de cancelamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio seguem em alta no Japão. O movimento ganhou ainda mais força na noite desta terça-feira (25), manhã de quarta no Oriente, com um editorial do Asahi Shimbun, um dos principais jornais do país, solicitando ao primeiro-ministro Suga Yoshihide que cancele o megaevento, citando os riscos à saúde da população local e do mundo gerados pela Covid-19.
"Não achamos que faça sentido realizar as Olimpíadas e Paralimpíadas de Tóquio neste verão. A desconfiança e a oposição ao precipitado governo, capital e funcionários olímpicos é generalizada, sem tentar abordar as questões e preocupações naturais das pessoas. Pedimos ao primeiro-ministro Suga que avalie com calma e objetividade a situação circundante e decida cancelar o evento neste verão", diz um dos pontos do texto.
Parceiro oficial da Olimpíada, o Asahi Shimbun afirma no editorial, repetidas vezes, que organizar os Jogos é uma "ameaça à saúde". O jornal lembra que a pandemia está fora de controle no Japão, enfatizando que a crescente das novas variantes do coronavírus e o lento processo de vacinação no país são os principais motivos para isso.
Tóquio, capital e cidade-sede dos Jogos, está inserida em um estado de emergência há um mês e assim deve permanecer até o começo de junho. Em todo o país, os casos de Covid-19 explodiram em março, mas os números estão em queda desde o último dia 11. A média móvel registra 4.828 casos por dia nos últimos sete dias.
Apesar de serem números relativamente baixos se comparados a países como Brasil e Rússia, cujas populações equivalem a do Japão, a insegurança do povo local é muito grande e o ceticismo quanto à realização da Olimpíada permanece em alta desde o ano passado. Em uma pesquisa divulgada na última semana pela Kyodo News, 60% dos japoneses disseram ser a favor do cancelamento dos Jogos.
Qual é o significado de abrir as Olimpíadas quando as pessoas estão restritas em suas atividades e forçadas a enfrentar dificuldades? O editorial apelou repetidamente para o governo, a capital e o Comitê Organizador explicarem, mas não houve resposta suficiente... As Olimpíadas estão se tornando uma ferramenta de manutenção política... Independentemente da voz do povo, é conhecido que o primeiro-ministro pretende mantê-la.
Apesar de toda essa resistência, os organizadores mantêm o discurso de que a Olimpíada será realizada, independente da situação. Uma série de medidas preventivas já foram anunciadas, a fim de tornar a Olimpíada um evento seguro para atletas, voluntários, jornalistas e todos os envolvidos, que envolvem, entre outras coisas, testagem diária e restrições de deslocamento e na Vila Olímpica.
O Asahi Shimbun rebate este ponto e argumenta que o controle dos credenciados - a maioria deles vacinados - deverá ser o menor dos problemas, justificando que a organização dos Jogos Olímpicos causará euforia na população, que poderá se aglomerar e não seguir à risca as medidas propostas. Ainda não foi decidido se haverá espectadores nas instalações esportivas.
"Claro, é possível que funcione. Porém, as Olimpíadas só são possíveis se estiveram preparadas para os riscos em múltiplas camadas e que funcionem. Quem assumirá a responsabilidade se surgir um problema, embora nós saibamos que não será a governadora?", diz o jornal, que finaliza o texto chamando a Carta Olímpica de "uma cultura vazia".
Foto de capa: Xinhua
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