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Os Jogos Olímpicos na Televisão Brasileira - Seul 1988, introdução




Houvera boicote do bloco ocidental nos Jogos Olímpicos de 1980, Estados Unidos à frente, e só Globo e TV Cultura (São Paulo) exibiram as competições em Moscou, naquele ano. O bloco da “Cortina de Ferro” deu o troco e nenhum país alinhado à União Soviética esteve em Los Angeles-1984 (com a exceção da Romênia), o que barateou os custos das emissoras brasileiras na compra dos direitos de transmissão junto à OTI. E possibilitou, por tabela, que todas elas também garantissem a exibição da Copa do Mundo de 1986, no futebol. Para os Jogos Olímpicos de Seul, não houve fator externo que abatesse o custo: os canais de televisão do Brasil tiveram de gastar mais.

Atletas de Estados Unidos e União Soviética voltaram às disputas olímpicas, o que automaticamente aumentava o interesse pelos direitos de transmissão dos Jogos. Além do mais, o fuso horário seria ingrato para os brasileiros: as competições na capital da Coreia do Sul – e cidades vizinhas – iriam das 22h30 de um dia às 10h30 da manhã do outro, no horário de Brasília. Seria difícil para as emissoras conseguirem altos índices de audiência, ao contrário do que se viu em Los Angeles, quando a diferença no fuso colocava as disputas horas antes do horário brasileiro, favorecendo as televisões. Para piorar a situação, já não haveria câmeras exclusivas na exibição das competições ao vivo: todas as emissoras teriam de mostrar o sinal gerado pela KBS, emissora sul-coreana.

Ainda assim, o interesse esportivo pela volta das disputas entre norte-americanos e soviéticos (e quem mais pudesse desafiá-los) já motivava as emissoras a ratearem a quantia pedida pela OTI pela compra dos direitos de transmissão dos Jogos Olímpicos – US$ 2 milhões. Além do mais, a velha regra da entidade ibero-americana de televisão seguia vigente: quem não exibisse os Jogos, não poderia comprar os direitos de transmissão da Copa do Mundo dali a dois anos. Então, as afiliadas brasileiras se cotizaram na prática do pool: mantendo em dia as anuidades pagas à OTI, quatro delas (Globo, Bandeirantes, Manchete e SBT) pagaram US$ 500 milhões cada uma pelos direitos. Cada uma pagou mais US$ 250 milhões, pelo satélite que dividiriam durante o evento. E enfim exibiram o que se passou em Seul, entre 17 de setembro e 2 de outubro de 1988.

Mas todas as emissoras que transmitiram Seul-1988 para o Brasil tiveram pelo menos um momento de constrangimento. Foi na noite de 20 de setembro de 1988 – já manhã do dia 21, no horário de Seul. Marcado para as 22h30 de Brasília, no dia 20, o aguardado Brasil x Estados Unidos da fase de grupos do torneio olímpico de basquete masculino foi antecipado para as 20h45 do dia 20, no horário de Brasília. Detalhe que atrapalhava a programação da madrugada olímpica de todas – afinal, as imagens via satélite só começavam a vir de Seul às 22h30 de Brasília. Logo que souberam da nova hora do início da partida entre brasileiros e americanos no ginásio Jamsil, Bandeirantes e Manchete avisaram aos espectadores – a Band, informando no seu noticioso noturno Diário de Seul; a Manchete, inclusive, mostrando imagens da partida durante o Jornal da Manchete. Já a Globo nem isso fez: a antecipação do início de um importante momento brasileiro em Seul passou em branco no Jornal Nacional. E veio a falha criticada por público e imprensa: às 22h30 de Brasília, Globo, Bandeirantes e Manchete começaram a exibir o Brasil x Estados Unidos do bola-ao-cesto de homens, como se nada se soubesse. Nenhuma das três transmissões informava que o jogo era ao vivo, é verdade. Mas expressões como “direto de Seul” davam a entender aos telespectadores menos atentos que... sim, o horário inicial do jogo era aquele das 22h30. Porém, as rádios brasileiras que cobriam os Jogos Olímpicos já haviam transmitido aquela partida recém-encerrada àquela altura, com a derrota brasileira (102 a 87 para os EUA). E muita gente assistiu a uma disputa já realizada, como se ela estivesse acontecendo naquele momento. Pegou mal, muito mal. E o diretor de esportes da Rádio Jovem Pan paulista, José Carlos Carboni, pôde alfinetar, à revista Veja de 1º de outubro de 1988: “As emissoras ganhariam em credibilidade se admitissem que estavam mostrando um videoteipe”.

Na reta final dos Jogos, o golpe veio do TSE (Tribunal Superior Eleitoral): a partir de 29 de setembro, três dias antes do final de tudo em Seul, o órgão obrigou as emissoras a exibirem o horário eleitoral gratuito, com vistas às eleições municipais que teriam turno único em 15 de novembro de 1988. A propaganda eleitoral seria mostrada pela manhã e à noite. No período noturno, nem haveria problemas. Mas a exibição matutina forçou as emissoras brasileiras a cortarem pelo meio várias disputas olímpicas decisivas (como Brasil 1x2 União Soviética, a final do torneio de futebol masculino, e União Soviética 3x2 Peru, a final do vôlei feminino) para mostrarem obrigatoriamente o horário eleitoral. Restou às tevês exibirem o que fosse cortado, em VTs posteriores logo que a propaganda dos candidatos acabasse.

Mas entre marchas e contramarchas, quatro emissoras brasileiras conseguiram fazer a primeira experiência de “madrugada olímpica” que a tevê daqui viu na cobertura dos Jogos. Clique para ver o detalhamento dos trabalhos de cada uma na Coreia do Sul.




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