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Controle da pandemia, investimento e pluralidade partidária ditam avanço de 'rivais' olímpicos do Brasil


Em tempos normais estaríamos a um mês dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Na passagem para 2020, apesar de já conhecer um pouquinho do coronavírus, jamais imaginaríamos que ocorreria uma pandemia. Ela ocorreu, infectou milhões e matou milhares. E ainda não acabou, infelizmente.

Aproximando mais o tema para o mundo esportivo, eventos foram cancelados e até a Olimpíada, que só parava por causa de guerras, teve que ser remarcada para 2021. Na verdade, essa é uma guerra, mas o inimigo é invisível. E quem acreditou na ciência desde o início já está colhendo os frutos de poder retomar suas atividades gerais de economia e até mesmo as ligas e treinos de atletas olímpicos, fazendo com que estes saiam na frente na busca por medalhas em Tóquio. 

Mas como alguns dos países que devem competir por posições no quadro de medalhas contra o Brasil agiram durante todo este tempo de pandemia para que a população ficasse saudável e o esporte olímpico não fosse enfraquecido? Confira nesta matéria especial do Surto Olímpico, as ações da Austrália, Jamaica, Nova Zelândia e Canadá. 

Austrália (10º na Rio 2016): Uma medalha faz toda a diferença e no caso da Austrália, que teve um ouro a mais que o Brasil na Rio 2016 (8 contra 7), foi o suficiente para garantir a nação novamente entre os dez primeiros no quadro de medalhas do evento. No cenário atual, e sem ser o país sede, dificilmente o Brasil conseguirá competir com os australianos.

Maior potência olímpica entre os quatro países citados, a Austrália anunciou um investimento de US$ 34,7 milhões (R$ 181,7 milhões) para o setor esportivo que será distribuído nos próximos dois anos para aliviar os efeitos da pandemia. 

Além disso, o maior país da Oceania lançou na última terça-feira (23), o programa 'Amigos Parlamentares do Movimento Olímpico na Austrália', que consiste na promoção, conscientização e incentivo sobre a prática esportiva em prol de uma boa saúde ou de modo competitivo, os princípios olímpicos e a manutenção da herança cultural do país. 

O programa é liderado por um fórum bipartidário aberto, e tem integrantes tanto de movimentos trabalhistas e sociais, como de pensamentos nacionalistas e liberalistas. O país também tem o interesse de sediar sua terceira Olimpíada em 2032, no estado de Queensland, que tem como sua capital, Brisbane. A Austrália já sediou o evento em Melbourne 1956 e Sydney 2000.

Jamaica (16º na Rio 2016): Mesmo sem Usain Bolt, que aposentou-se em 2017, esse deverá ser um dos países que lutará por posições no quadro de medalhas com o Brasil. 

Buscando defender sua hegemonia no atletismo, que lhe rendeu as 11 medalhas conquistadas na Rio 2016, sendo seis de ouro, a Jamaica apostou na formação de novos atletas e gestores, investindo US$ 6 milhões (R$ 31,4 milhões) em bolsas para cursos de graduação. 

Além disso, a nação tem se destacado no combate ao coronavírus. Com quase 3 milhões de habitantes, a Jamaica tem 670 casos* confirmados da doença, sendo que 77% dessas pessoas já foram curadas. 

Até o momento, dez mortes foram contabilizadas no país, que adotou medidas como o toque de recolher das 22h às 5h e o fechamento de escolas até setembro para que a saúde da população seja garantida.

Responsável por três dos seis ouros da Jamaica (um com o revezamento) em 2016, Bolt não estará em Tóquio 2021. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Nova Zelândia (19º na Rio 2016): O país de maior sucesso no combate ao coronavírus também disputará por posições no quadro de medalhas contra o Brasil em Tóquio. Mesmo durante a pandemia, a Nova Zelândia liberou um aporte de US$ 157 milhões (R$ 822,1 milhões) para o esporte amador. O valor será distribuído em quatro anos. 

Alinhado com a pluralidade e o respeito, o Comitê Olímpico da Nova Zelândia pediu maior envolvimento dos atletas com a defesa dos Direitos Humanos e o combate a qualquer tipo de preconceito. Além disso, os atletas estão conectando-se com as escolas, para mostrar exemplos e dar conselhos para os alunos conseguirem superar as mudanças causadas pela pandemia. 

O país que registrou 1,516 casos* de coronavírus e 22 mortes, reabriu as atividades econômicas e esportivas no início de junho, após meses de restrições, incluindo cerca de sete semanas de um rígido isolamento social. A liga de rugby da Nova Zelândia contou até com torcida em sua retomada e muitos atletas olímpicos voltaram a treinar.


Canadá (20º na Rio 2016):  Entre os quatro países citados, o Canadá é o que tem mais casos de coronavírus. Mesmo assim, passa longe da situação vivida pelo Brasil atualmente. Foram contabilizados no país do hemisfério norte pouco mais de 100 mil casos* e 8.454 mortes. 

Apesar disso, o Canadá segue financiando o esporte nacional, ao ofertar US$ 51,7 milhões (R$ 270,7 milhões) para o desporto amador. 

De quebra, o programa RBC Training Ground, que ajuda a descobrir novos talentos olímpicos, realocou US$ 230 mil (R$ 1,2 milhão) para as nove federações participantes do projeto investirem em atletas cujos picos de desempenho estão na faixa entre quatro e oito anos, e representam a 'NextGen' do esporte olímpico canadense.

Kelsey Mitchell, medalhista de ouro no ciclismo sprint individual durante o Pan de Lima 2019, foi uma das atletas formadas pelo RBC Training Ground. Foto: Fernando Vergara/AP

Mas e o Brasil nessa história?

Como já estamos cansados de saber, o Brasil leva '7 a 1' do coronavírus quase que diariamente. São mais de 1 milhão de casos da doença e mais de 52 mil mortes de acordo com o Consórcio de Veículos de Imprensa. 

Em consequência disso, indo para o âmbito esportivo, o Brasil, 13º colocado no quadro de medalhas da Rio 2016, sai muito atrás de seus "rivais". Os principais clubes que trabalham com esportes olímpicos no país, como o Clube Pinheiros, Minas Tênis Clube, Sogipa e Paulistano realizaram cortes salariais de até 25%, e em alguns casos esse corte chegou até mesmo nos atletas, como informou a matéria de Marcel Merguizo e Paulo Roberto Conde para o Globo Esporte, em abril. 

Além da reconhecida dificuldade em conseguir patrocínio para o esporte olímpico, até as competições nacionais de base estão sofrendo as consequências de um combate à pandemia mal coordenado. Nesta quarta-feira (24), o Comitê Olímpico do Brasil (COB) anunciou o cancelamento dos Jogos Escolares da Juventude 2020, uma vez que o não-controle da pandemia impedirá a realização do evento.

Organizados pelo COB desde 2005, os Jogos Escolares da Juventude fazem parte do processo de sistematização dos Jogos Escolares Brasileiros, proposto pelo Governo Federal. São a maior competição estudantil do país, reunindo alunos de escolas públicas e privadas do território nacional para a disputa de 17 modalidades, além de atividades educativas e culturais. 

De acordo com o COB, a realização do evento alcança mais de 2 milhões de jovens, considerando as seletivas municipais e estaduais. Atletas como Sarah Menezes, Hugo Calderano e Etiene Medeiros já passaram pelo torneio. 

Para tentar reduzir essa diferença para os adversários, pelo menos em relação a preparação de atletas para as Olimpíadas de Tóquio, o COB tenta emplacar a "Missão Europa", que planeja até o momento levar 207 esportistas de 15 modalidades para treinar em países europeus. 

No entanto, só o tempo e os resultados nos Jogos Olímpicos vão responder se o Brasil foi ou não capaz de superar tantas adversidades para se manter entre as 15 melhores nações no quadro geral de medalhas, assim como fez em 2016 quando foi o país-sede.

* Dados coletados do site Wordometers no momento da publicação da matéria

Foto: Philip Fong/AFP

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