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Surto Entrevista: Igor Marcondes


O tenista brasileiro Igor Marcondes vivia um momento de ascensão no circuito mundial de tênis, antes da paralisação causada pela pandemia de coronavírus. Com diferentes parcerias, ele conquistou três títulos nas duplas nos torneios ITF M15 disputados em Cancún, no México. Mesmo com grandes expectativas para esta temporada e com saudade dos torneios, o atleta de 22 anos acredita que o circuito não retomará atividades em 2020

"Acho que não tem um esportista que não esteja sentindo falta de seu esporte, da sua rotina, do circuito. Desde a minha suspensão eu ainda não pude jogar uma temporada completa. Eu estava evoluindo, buscando meu melhor momento, tinha muita expectativa sobre este ano", declarou Marcondes. "Mas penso que tem muita chance do circuito não voltar. São muitas restrições nos países. Isso pode acabar limitando muito o circuito. As entidades do tênis não deixariam isso acontecer". 

Punido em 2018 por doping, Marcondes alegou contaminação cruzada na manipulação de um suplemento vitamínico em uma farmácia especializada. O tenista ficou nove meses suspenso, sem poder disputar campeonatos, mas admitiu que durante este período conseguiu amadurecer e aprendeu a aproveitar melhor seu tempo.

"Não é legal ficar parado, principalmente por uma suspensão. Mas eu consegui amadurecer nas minhas atitudes, senti mais as energias dentro da quadra, passei a aproveitar melhor meu tempo nos torneios, viagens, jogos. É importante sentir isso, você nunca sabe o dia de amanhã. Isso ensina a ser respeitoso com o ambiente, com as pessoas, com seu treino, além de sempre valorizar essas coisas".

Durante a quarentena, Marcondes, atual 835º em simples e 729º em duplas, estava treinando com seu pai, na sua cidade natal, Caraguatatuba, Litoral Norte de São Paulo. Com a flexibilização do isolamento social em Santa Catarina, o atleta voltou para o clube onde treina, a ADK Tennis, em Itajaí. Na semana passada, Marcondes pôde conversar com o Surto Olímpico sobre sua carreira, as atuais polêmicas do circuito, apostas, doping, entre outras coisas. E agora você pode conferir mais detalhes nesta edição do Surto Entrevista.

Foto: Luis Cândido

- Quais são as maiores dificuldades no circuito da ITF? Já passou algum perrengue que possa contar?

Marcondes: Acho que as maiores dificuldades para quem está começando nos ITFs e Futures é a premiação. Você tem que viajar, ficar bastante tempo jogando torneios e as vezes você leva o técnico junto, deixando as despesas mais altas ainda. Mesmo que você vá bem no torneio, muitas vezes não dá nem para empatar o valor (premiação/despesas) e isso é muito ruim. No mais, já passei perrengue com voo, coisa de ficar bastante tempo no aeroporto ou até mesmo ficando sem grana para voltar de alguma viagem. 

- Você tem conquistado ótimos resultados nas duplas mesmo com parceiros diferentes. É a sua categoria favorita?

Marcondes: Tenho conquistado alguns torneios em duplas, mas não digo que é minha categoria preferida. Quero ser um bom duplista, o melhor que eu possa ser, assim como desejo o mesmo na categoria de simples. Não quero chegar a escolher uma das duas, quero seguir aliando simples e duplas ao máximo. Minha única ressalva é que a dupla é um pouco mais divertida. Mas só isso.

- Como foi a sua transição do juvenil para o profissional? Tem pontos negativos e positivos que você poderia destacar?

Marcondes: A minha transição iniciou bem até. Não existem pontos negativos. Mas você precisa se adaptar. Você teve um ranking juvenil, estava entre os melhores e quando vai para o profissional, precisa subir tudo de novo, porque começa lá de baixo. Uma boa carreira no juvenil te dá um pouco mais de experiência. Mas existem momentos indescritíveis, só vivendo ali no profissional para saber. 

- Muitos tenistas têm sido pegos no doping, até mesmo atletas de outros países da América do Sul e a maioria deles alega contaminação cruzada em farmácia de manipulação. Você acha que existe falta de cuidado nesses serviços?

Marcondes: Algumas farmácias de manipulação não são tão cuidadosas como na Europa ou nos EUA. Eu fui pego em contaminação cruzada. E as vezes não tem o que fazer. Você mora no país, confia na farmácia e acaba sendo prejudicado por um erro deles. E acaba manchando a gente. Eu nunca mais fiz e nunca mais vou fazer (suplementos manipulados). Nem suplemento compro aqui mais. Prejudicou minha carreira. Algumas pessoas são maldosas e ficam falando coisas ruins. É complicado.

- Você acha que os tenistas brasileiros são excessivamente cobrados no circuito?

Marcondes: O brasileiro se cobra demais. É um povo muito conectado com o esporte. Já tivemos o Guga no tênis, antes o Jaime Oncins, teve também Meligeni, Saretta, Ricardo Mello, Thomas Bellucci e alguns juvenis que se destacaram. Isso aumenta demais as expectativas. Poderia ter menos pressão. Mas nós brasileiros levamos muita coisa para o lado emocional. Isso é bom por um lado. Mas em excesso, atrapalha.
Foto: Nelson Toledo/Fotojump
- O Brasil infelizmente teve um caso recente de um tenista com envolvimento em apostas. Você acredita que isso acontece muito no circuito, principalmente nos torneios menores?

Marcondes: Eu sou contra. Não gosto de apostas. Mas temos relatos de que isso acontece muito no circuito. Ocorreu uma situação estranha em um jogo meu num torneio espanhol. Jogo de Future em segunda rodada não tem público, convenhamos. Era uma quadra mais afastada. Vai normalmente amigos do circuito e treinadores de cada atleta, mas dessa vez tinha outras pessoas. E elas tinham reações a cada ponto. Uma hora eu acertava e os caras comemoravam, outra hora errava e comemoravam também. Aí do nada eu ganhei um ponto e eles reclamaram. Fui falar com o árbitro sobre isso, para avisar que aqueles caras aparentemente eram apostadores e que isso poderia prejudicar o jogo. O arbitro respondeu que era para deixar pra lá, que era norma do clube e não era possível fazer nada. Então isso deve acontecer muito nos torneios menores. Hoje temos a TIU (Unidade de Integridade do Tênis) e o trabalho deles torna o circuito bem melhor, existe mais fiscalização. É difícil, mas com o tempo essas apostas tendem acabar.

- O que você mudaria no tênis? Pode ser alguma regra ou questão de premiação, logística, o que você quiser.

Marcondes: Não mudaria nenhuma regra do tênis. A única coisa que defendo é o aumento de premiação, algo que até o Andy Murray defende muito. Os tenistas do topo do ranking não precisam de muito mais dinheiro e essa grana poderia ser melhor distribuída para os torneios menores, como os Futures, que recebem mais atletas que estão começando a carreira. Mas infelizmente isso não depende nem de mim e nem do Murray que foi número 1 do mundo e é espelho para muitos jovens tenistas.

- Na semana passada o Dominic Thiem havia comentado que muitos dos tenistas que estão nas camadas mais baixas do ranking não são tão profissionais como poderiam ser. O que você pensa sobre esse assunto? 

Marcondes:  É difícil avaliar a situação, mas acho que o Thiem se expressou mal. Existem muitos tenistas merecedores no circuito, que não recebem tanto apoio. Profissionais que ralam todos os dias para tentar alcançar o sonho de viver da carreira do tênis, jogar Grand Slams, ATPs, representar o país na Copa Davis. Esses são muito profissionais. E existem aqueles que têm todos esses sonhos, mas que têm condições financeiras melhores. E têm outros que estão lá por talento, mas não gostam de pagar o preço de se trabalhar dentro de quadra. Mas não sei citar nomes. Acho que o Thiem pensou de um jeito e acabou se expressando de outra forma.

- Outro grande assunto tem sido a possibilidade de fusão entre ATP e WTA. Você acompanhou isso? Acredita que possa ajudar o tênis no geral?

Marcondes: Vi que o Federer chegou a comentar isso, eu acompanhei superficialmente. Mas acho que seria bom para o tênis. As duas entidades são boas, mas ainda existe muita confusão de ideias. A WTA fala que a premiação das mulheres é menor, ai os caras da ATP falam que não tem porque aumentar. A realidade é que se juntar tudo pode ser bom. Muitos torneios não são juntos e uma unificação pode ajudar. Se as entidades virarem uma só, tem muito a agregar tanto para o masculino como para o feminino.

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- Gosta de outros esportes? Acompanha o que? 

Marcondes: Gosto bastante de outros esportes. Quando eu estava na escola, acabava jogando de tudo um pouco. Gosto de acompanhar futebol, o basquete da NBA, gosto também da NFL (futebol americano). Quando o Brasil joga, assisto as partidas de vôlei e futsal também.

- Quais são os seus sonhos dentro do tênis?

Marcondes: Todo jogador de tênis quando começa tem sonhos. Sonhos difíceis as vezes, mas sonhos são sonhos. Eu por exemplo, quero um dia ser número 1 do mundo, quero participar da primeira equipe brasileira campeã da Copa Davis. Quero poder viver do tênis, levar meus pais para assistir partidas minhas em Grand Slams. Seria muito bom realizar esses sonhos.

Foto: João Pires/Fotojump

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