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Surto Entrevista - Marcelo Melo


Profissional desde 1998, o tenista mineiro Marcelo Melo, 36, quebrou diversos tabus, tornando-se em 2015 o primeiro brasileiro número 1 do mundo no ranking individual das duplas, após ganhar o título em Roland Garros e dois Masters 1000 (com Ivan Dodig). Outra façanha foi a conquista do caneco em Wimbledon 2017, (com Lukasz Kubot) que não vinha para o Brasil, no circuito profissional, há 51 anos, desde o título de Maria Esther Bueno, também nas duplas, em 1966. 

Melo disse em entrevista ao Surto Olímpico que a popularidade circuito de duplas cresce cada vez mais e declara. "A gente espera mais jogadores de simples jogando duplas". 

Buscando a tão sonhada medalha olímpica nas duplas, Marcelo Melo terá mais um ano de preparo ao lado de Bruno Soares, para superar a barreira das quartas de final, melhor resultado que alcançaram em Londres 2012 e Rio 2016. Confira agora mais uma edição do Surto Entrevista.

Foto: Divulgação/COI
- Como está a expectativa para a disputa de uma medalha nas Olimpíadas? 

Marcelo: Eu e o Bruno (Soares) alcançamos quartas de final por duas vezes. Vamos, logicamente aproveitar tudo de positivo que a gente fez nessas oportunidades anteriores e acrescentar coisas novas para, quem sabe, dar esse passo das quartas para uma semi, para uma tão sonhada medalha de ouro. Eu e o Bruno temos esse sonho. Acho que iria coroar muito bem a nossa carreira. A Olimpíada é especial. É o nosso objetivo. 

- E como é realizada a preparação junto ao Bruno? Vocês planejam algo diferente? Existe uma relação mais madura entre vocês?

Marcelo: Tínhamos como foco fazer treinamentos e disputar dois torneios juntos, que provavelmente seriam em Munique e Stuttgart, ambos na Alemanha. Logicamente, agora, tudo vai mudar, com a paralisação do circuito e os Jogos de Tóquio tendo sido adiados para o próximo ano. Eu e o Bruno temos de sentar e conversar para ver como vamos fazer essa nova programação. Nós nos conhecemos muito bem. E vamos ter agora mais tempo de preparação. 


- Como você analisa as questões financeiras de tenistas fora do top 300, agora com a paralisação do circuito?

Marcelo: Realmente a questão financeira é algo complicado. Não precisa nem ir tão longe assim, acredito que dentro do top 100 mesmo, existam tenistas que podem sofrer com essa parada por causa da pandemia. Mesmo não viajando, nós tenistas ainda temos um gasto alto. Quem está mais acima no ranking, tem uma reserva, mas quem depende dos resultados semana após semana, realmente vai sentir muito.

- Quais são suas atividades para se manter em forma durante esse período de isolamento/coronavírus?

Marcelo: Estou nos Estados Unidos desde o início de março. Vim para disputar os torneios de Indian Wells e Miami. Com essa paralisação, essa confusão toda no circuito, eu acabei decidindo ficar por aqui. Da Califórnia, eu viajei para Tampa, para treinar na Saddlebrook Tennis Academy, aqui na Flórida, a convite do meu amigo Alexander Zverev. Tento seguir uma rotina, apesar de ter que ficar muito isolado, como todo mundo em suas casas. Mas estamos conseguindo manter os treinos físicos e em quadra, com todo cuidado e isso está sendo muito bom.  

- E como começou sua amizade com o Alexander Zverev?

Marcelo: Começamos a conversar nos torneios, trocar ideias, brincar um com o outro e foi nascendo essa amizade entre nós. Fomos ficando mais próximos em função dos torneios que disputamos, que são praticamente os mesmos. Treinamos juntos, quando possível, tanto aqui em Tampa, como em Monte Carlo. Nas folgas das quadras, aproveitamos o tempo para jogar golfe.

Foto: Divulgação/Rio Open
- Existe preconceito com as duplas?

Marcelo: Não acredito que haja preconceito. O circuito de duplas vem crescendo muito, e a ATP está promovendo muito mais, principalmente em redes sociais. Os jogos são divertidos, as quadras ficam lotadas, principalmente nos grandes torneios. Os Estados Unidos, por exemplo, apoiam muito as duplas. Aqui no Brasil a recepção tem sido fantástica, as pessoas assistem nossos jogos e querem ver a nossa técnica para tentar reproduzir isso quando vão jogar. E os resultados que eu e Bruno alcançamos ajuda muito também.

- Você acredita que um tenista pode ser top 10 em simples e duplas ao mesmo tempo? Isso seria viável?

Marcelo: Hoje em dia o tênis está bem diferente, é difícil um jogador de simples conseguir ter bom ranking em dupla ao mesmo tempo. Por exemplo, jogar Wimbledon em simples e duplas é muito difícil hoje me dia. O Ivan Dodig (ex-parceiro de Melo), quando jogava simples e duplas comigo, teve um dia que ele jogou nove sets na grama e isso é realmente muito desgastante. Acho difícil hoje um top 10 ter o mesmo desempenho jogando os dois ao mesmo tempo. Mas nós, duplistas, estamos sempre incentivando os jogadores de simples a participarem. Fica um jogo diferente, não é tanto jogo de rede, fica uma mescla entre os dois e é muito legal isso. A gente espera mais jogadores de simples jogando duplas.


- Existe momento certo para virar duplista? 

Marcelo: Eu recomendo sempre ao tenista jovem jogar simples o máximo possível, até esgotar, mas sempre equilibrando isso ao jogo de duplas, pois mudar para as duplas muito jovem pode ser algo precipitado. As vezes isso acaba evoluindo o jogo de simples dele. A dupla parece ser um caminho mais fácil, mas na verdade é complicado. Precisa achar um parceiro que encaixe o jogo, a premiação é de 15 a 20% do que é dado em simples, fora que a estrutura para jogar duplas em alto nível é praticamente a mesma, então é um risco muito grande virar duplista muito cedo. 

- É normal no circuito com tantos jogadores, a movimentação de trocar de dupla. Na sua opinião, quais são os momentos certos para optar pela troca de parceiro?

Marcelo: Normalmente acontece a troca de parceiros logo depois do US Open, pois é o último Grand Slam. A temporada está perto do fim e acontece a avaliação se a dupla está evoluindo. Também  acontece depois do Masters 1000 de Miami, no início da temporada ainda, pois dá para ver se vai dar certo ou não. É necessário estar em constante evolução como time, ter muita paciência. Mas quando isso acaba é melhor trocar de parceiro.

Foto: Divulgação/ATP

- Você está treinando jogo de rede com o Zverev. Acha que esse estilo é algo ultrapassado ou algo que só tem serventia em duplas?

Marcelo: Não acho que seja ultrapassado. Acho que ao aliar o jogo de rede, com as trocas na base, o jogador pode ficar mais completo. Por exemplo, o Tsistsipas é um jogador que tem uma bela base de fundo e joga muito bem na rede, dando uma vantagem enorme pra ele. Quando você pega um jogador agressivo na base e adiciona a ele o jogo de rede, se torna muito mais perigoso. É inclusive um dos pontos no qual o Zverev vem trabalhando. Ele já tem muita potência de fundo de quadra e precisa aprimorar a aproximação e o voleio, juntando os dois estilos.


- Você já sabe o que deverá fazer após sua aposentadoria do circuito?

Marcelo: Depois que eu aposentar, por enquanto gostaria de ser treinador. Logicamente um diretor de torneio tem que se manter envolvido no tênis. Eu vivi minha vida praticamente inteira no tênis e seria estranho sair completamente. Como treinador eu não sei se viajaria tanto como jogador, mas eu gosto bastante de estar em quadra. 

Foto: Matthew Childs/Reuters

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