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Coluna Gran Willy: Os dilemas de jogar sem público


Acanhada e fria. Foi assim a retomada do tênis durante a pandemia de coronavírus. Um pequeno torneio disputado em Hohr Grenzhausen, uma cidade de pouco mais de 9 mil habitantes, na Alemanha. O Tennis Point Exhibition Series, foi sediado num pequeno clube e contava com oito jogadores profissionais do país.

O primeiro torneio de tênis ocorreu antes mesmo de nós termos vencido uma batalha muito mais dura e incapaz de ser contada em uma partida melhor de cinco sets. Ocorreu sem a presença de quem mantém o esporte vivo, que é o público. Sem cumprimentos e com tenistas jogando até mesmo de máscara. Era possível ouvir apenas o quicar da bola na terra batida, os passos dos atletas, suas respirações e a voz do juiz de cadeira.

Dentro da quadra estavam apenas os jogadores e o árbitro de cadeira. No lado de fora, próximos a quadra, era possível ver um operador de câmera e uma pessoa da organização do torneio. Ambos usando máscara. Não era possível contar nem com a agilidade dos boleiros correndo "para lá e para cá" para deixar a partida mais rápida e cômodas para os atletas.

Em uma das partidas, Dustin Brown, aquele mesmo que derrotou Rafael Nadal na quadra central de Wimbledon em 2015, deu um belo golpe de frente ao adversário, entre as pernas (cheeky tweener) encobrindo-o. Ao finalizar o ponto olhou para onde normalmente estaria o público e fez um movimento com as mãos como se estivesse pedindo o barulho das pessoas, procurando os aplausos e assobios. O tênis sem público é como se Fernanda Montenegro estivesse atuando em uma peça para um teatro vazio.

Daqui para frente serão realizados alguns torneios de exibição na própria Alemanha, na Áustria, nos Estados Unidos e na França. Alguns pagando razoáveis quantias aos participantes, outros arrecadando fundos para doações. Todos sem presença do público. De alguma forma o tênis está rolando. É difícil avaliar por exemplo, a situação de caras que provavelmente só estão em quadra porque precisam do dinheiro e não porque querem de fato jogar naquelas circunstâncias. 

Mas isso nos faz a pensar além. Poderá o circuito voltar em 2020? O que será dos atletas abaixo dos 50 melhores do mundo caso os torneios não voltem? Se voltar, será com portões fechados? Os tenistas poderão viajar para outros países? 

São muitas dúvidas. O circuito está marcado para retomar às atividades no dia 13 de julho. Mas com tantas restrições que os países estão impondo e que estão programadas para datas mais a frente do que a do tênis, é difícil cravar. 

A chave principal do próximo Grand Slam, o US Open, começa dia 31 de agosto. A organização só vai falar sobre o futuro do torneio a partir de meados de junho. Entretanto já admitiram a possibilidade realizar o evento sem público. Dá para imaginar um Grand Slam sem torcida nas arquibancadas? Imaginem um Fedal (Federer x Nadal) com o ginásio vazio. Por mais que exista todo o protocolo de respeito e silêncio durante os pontos, a torcida faz grande diferença e deixa a partida viva do início ao fim. 

WrestleMania também foi fria e acanhada. Foto: WWE
Fazendo um breve paralelo, no início de abril os Estados Unidos puderam assistir outro grande evento nestes moldes. Por duas noites consecutivas o Performance Center da WWE, uma empresa de luta livre, recebeu mais uma WrestleMania, um tradicional show da modalidade, que ano após ano bate recorde de arrecadação e presença de público dentro dos maiores estádios do país. Mas em 2020 a plateia não teve uma pessoa sequer. Por mais que os lutadores tentassem, não havia clima de fazer um espetáculo sem ter alguém para assistir, comemorar, gritar ou até mesmo xingar. 

Outros pontos podem ser analisados também, como por exemplo, a perda da arrecadação com ingressos por parte dos grandes torneios. O US Open fatura anualmente cerca de US$ 270 milhões e a venda de ingressos faz parte deste montante. O Grand Slam registra lucro de quase US$ 50 milhões, empregando mais de 10 mil pessoas e contando com o apoio de 30 patrocinadores. É o entretenimento esportivo gerando renda para o esporte e criando empregos. Mas com tantas vidas em risco numa época de pandemia, isso tudo torna-se corretamente indiscutível. A vida vem em primeiro lugar. 

É importante que o circuito retorne ou que no mínimo sejam realizados torneios nacionais de tênis em países que já passaram pela pior fase da pandemia, para a sobrevivência financeira dos tenistas e para que eles mantenham-se em atividade. E é mais válido ainda que seja com os portões fechados, seguindo os protocolos de segurança da saúde e diminuindo o risco de contágio entre as pessoas. Se não há tênis sem as pessoas, então temos que proteger a vida delas. 

Smash!

Na última semana aconteceu o Mutua Madrid Open Virtual Pro, um torneio de tênis disputado dentro do jogo eletrônico "Tennis World Tour" e que teve como campeã da chave feminina a holandesa Kiki Bertens e na chave masculina o escocês Andy Murray. O fato curioso que causou alguns constrangimentos é que o game é cheio de "bugs" e falhas durante as partidas. De jogadores que se deslocam de maneira estranha a furadas nos golpes ou até mesmo golpes fantasma fulminantes. 

Seria interessante ver um desses torneios online na plataforma do AO Tennis 2, game concorrente, que em reviews não aparenta apresentar tantas desarmonias e falhas. Ainda assim, a experiência foi válida e os tenistas vencedores puderam doar a premiação, além de dar boas gargalhadas com as partidas online.

Foto: AP Photo/Martin Meissner

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