Dada à situação catastrófica do atual contexto mundial, causada pelo coronavírus, o adiamento dos Jogos de Tóquio para 2021 foi muito comemorado pela maior parte da comunidade olímpica. A decisão, por outro lado, gerou uma grande dor de cabeça na principal parceira de broadcasting do COI, a NBC.
A emissora, que é uma das principais fontes de receita da entidade, pagou cerca de U$ 1,5 bilhões (R$ 7,65 bilhões na cotação atual) para ter os direitos de transmissão da Olimpíada de Tóquio. Somente com seu plano comercial, a empresa já havia faturado U$ 1,25 bilhões na venda de publicidades.
O padrão NBC já é conhecido de longa data. A emissora detém os direitos dos Jogos Olímpicos, de forma exclusiva na TV aberta americana, desde 1988. Em 2014, a gigante norte-americana fez um acordo com o COI e investiu mais de R$ 37 bilhões para ter todas as Olimpíadas de Inverno e de Verão em sua grade a cada dois anos até 2032.
Agora, todas as possibilidades terão que ser revistas. Toda a organização da NBC já estava orientada para produzir, durante esse ano, um material de qualidade voltado para o audiovisual olímpico. Com a mudança para o próximo ano, toda a infraestrutura preparada e as equipes locais já dispostas nos Estados Unidos e no Japão precisarão ser refeitas.
Em entrevista à AFP, o consultor de mídia Patrick Crakes disse que reorganizar esses preparativos para 2021 serão um grande desafio para a emissora. "Não consigo pensar em uma confusão organizacional maior", disse ele, que ainda previu que o adiamento levará a uma elevação nos custos da empresa e diminuirá a qualidade do produto fornecido aos telespectadores.
Antes do adiamento, o presidente Brian Roberts, presidente e CEO da Comcast, empresa-mãe da NBC, disse que a emissora seria capaz de lidar com as Olimpíadas no próximo ano, mesmo tendo que refazer toda sua logística e seus preparativos.
As novas datas para a realização dos Jogos em 2021 ainda não estão definidas. Mas a NBC será, talvez, a principal influência do Comitê Olímpico Internacional no momento de sua escolha. Isto porque, até por conta dos altos investimentos, toda a grade da emissora é selecionada para que a Olimpíada seja encaixada de maneira a gerar o máximo de audiência possível.
Foto: Shannon Stapleton/REUTERS
Tamanho é o poder da emissora que ela foi capaz de mudar a ordem da tradicional Parada das Nações da cerimônia de abertura dos Jogos de Tóquio, para que os Estados Unidos sejam um dos últimos países a desfilarem - se fosse pela ordem tradicional, o país seria um dos primeiros.
Em Tóquio-2020, as finais da natação, carro-chefe da delegação americana, acontecerão na manhã japonesa - noite no ocidente - ocupando o horário nobre das televisões dos EUA. O mesmo aconteceu em Pequim-2008, sob influência da gigante norte-americana.
A realização do evento nos meses de julho e agosto seriam fundamentais para a NBC porque o período corresponde exatamente às férias americanas. É o momento em que as principais ligas norte-americanas, a NFL e a NBA, estão paradas. Ou seja, o maior foco esportivo durante o período passa a ser os Jogos Olímpicos.
Na última quinta-feira, o chefe da comissão de coordenação dos Jogos de Tóquio 2020, John Coates, disse que os meses de julho e agosto de 2021 são as datas preferidas do COI. O presidente da entidade, Thomas Bach, disse na quarta que quaisquer datas serão consideradas, incluindo a primavera japonesa (abril/maio). A definição das datas deve sair em até quatro semanas.
Situação no Brasil: Globo e BandSports
No Brasil, a principal empresa dona dos direitos televisivos, a Globo, se sentiu aliviada com a decisão de adiamento do COI. Apesar de não ter sido consultada diretamente sobre o assunto, a emissora já se preparava para tal desfecho e, por isso, não havia discutido uma logística de deslocamento de seus 102 profissionais.
"Entendemos que, no momento, as prioridades são a saúde e a segurança de todos, e por isso respeitamos as decisões dos organizadores dos eventos. O que podemos afirmar é que, diante do atual cenário e da relação histórica de respeito que temos com os nossos patrocinadores, os planos e projetos relacionados à cobertura dos Jogos Olímpicos serão discutidos individualmente com cada um deles após a pandemia”, pontuou a Globo em um comunicado ao portal Meio e Mensagem.
Foto: Divulgação/TV Globo
Segundo o UOL, a lista dos 102 jornalistas que irão a Tóquio pela Globo deverá sofrer alterações mínimas. A emissora carioca já entrou em contato com a empresa que estava construindo o amplo estúdio na Baía de Tóquio, utilizado para telejornais e transmissões, para notificar a mudança de planejamento.
A princípio, o plano comercial da Globo, que envolve seis cotas de quase R$ 97 milhões cada uma, podendo faturar mais de R$ 580 milhões com todas as vendas, continuará no mercado. Será a primeira vez na história dos grandes eventos que o grupo utilizará um plano único, envolvendo TV aberta, TV fechada (SporTV) e plataformas digitais (GloboEsporte.com).
Outra detentora dos direitos de transmissão dos Jogos de Tóquio, o BandSports agiu com tranquilidade quanto ao adiamento e creu que a decisão foi a mais acertada. Ainda segundo o UOL, a emissora manterá aqueles profissionais já contratados e discutirá com mais calma as negociações em andamento.
Assim como o da Globo, o plano comercial do braço esportivo da Band seguirá no mercado. O BandSports também disponibilizou seis cotas de patrocínio, mas estas são vendidas por um valor mais baixo: R$ 10 milhões cada uma. Três já foram negociadas.
*Com informações do UOL e do Meio e Mensagem.
Foto: Fabrice Coffrini/AFP
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