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Federação Internacional de Judô sinaliza que atleta iraniano poderá representar Equipe de Refugiados em Tóquio 2020


A saga de Saeid Mollaei transformou-se na maior história do Mundial de Judô que terminou no último domingo, em Tóquio. Não só ele foi o único judoca que desafiou o boicote iraniano à competição, apesar de uma promessa feita com a Federação Internacional de Judô em maio deste ano que iria respeitar o Código de Ética da IJF. 

Quando começou a ficar claro que Mollaei e o israelense Sagi Muki poderiam se encontrar na final, uma grande pergunta formou-se na mente dos fãs do judô: Finalmente veriamos um encontro entre Irã e Israel e em um grande evento de esporte olímpico? A última competição internacional entre os dois países foi em 1983 num evento de luta livre em Kiev, então União Soviética.

Em uma série de notícias e vídeos publicados em seu site para chamar a atenção da saga do campeão mundial dos meio-médios no Mundial de 2018, sinalizando que a IJF vai ajudar o atleta a seguir competindo, provavelmente pela bandeira dos Atletas Refugiados, Nicolas Messner e Pedro Lausen contaram a história do dia.



Segundo a publicação, pouco antes das 15:30 locais, quando Mollaei deveria enfrentar o campeão olímpico, Khasan Khalmurzaev (RUS), o técnico iraniano recebeu uma ligação de um funcionário do Ministério do Esporte do Irã, Davar Zani, que passou a ordem que Mollaei deveria ser eliminado do torneio, seguido de uma ameaça contra Mollaei e sua família. 

O judoca iraniano desabou e começou a chorar, emocionando a todos nos bastidores. O ex-judoca iraniano Vahid Sarla, e atual técnico do Tajiquistão, Vahid Sarla, então chamou a Diretora de Competições da IJF, Lisa Allan, dizendo que Mollaei precisava de sua ajuda. Acompanhado pelo Secretário-Geral da Entidade Jean-Luc Rouge, o membro do Comitê Executivo Gerard Benone e seu assistente Abdullo Muradov foram até ele. 

Segundo Abdullo: "eu passei o dia com ele, o auxiliando por todo local. O ajudei com traduções, e vi o medo em seus olhos, o horror em ter que enfrentar as consequências de uma situação que estava fora de seu controle. Ele estava completamente desorientado. É horrível testemunhar isso. São situações que não deveriam acontecer com qualquer atleta ou com ninguém".


O iraniano pediu para encontrar o Presidente da IJF, Marius Vizer, que o recebeu em seu escritório e assegurou o total apoio da federação não importa sua escolha. Ele decidiu ir ao tatame e apesar de todo o estresse, ele conseguiu vencer o russo e também o canadense Antoine Valois-Fortier, medalhista de bronze nas Olimpíadas de Londres-2012.

Antes da semifinal, um funcionário da Embaixada Iraniana no Japão foi até o local do evento e entrou de forma ilegal em área reservada aos profissionais do esporte, com uma credencial de um dos técnicos do país. Ao encontrar o atleta, na área de aquecimento, lhe passou novas mensagens de intimidação, que foram seguidas por uma nova ligação, desta vez de Reza Salehi Amiri, Presidente do Comitê Olímpico Iraniano ao técnico de Mollaei. O atleta ouviu pelo viva-voz que agentes da Segurança Nacional estavam na casa de seus pais. Amigos de Mollaei também enviaram mensagens dizendo que pessoas foram até suas casas e pediram para seu pai seguir a lei ou teria problemas. Sofrendo essas pressões ele não teria conseguido se concentrar, perdendo as duas lutas seguintes e ficando em quinto lugar. Muitos comentaristas acusaram o judoca de não ter entrado com espírito de combate, o que se explica após a revelação desta história.

Em entrevista exclusiva ao serviço de imprensa do IJF, Mollaei declarou que "eu poderia ter sido o campeão mundial. Vim treinando duro, fiz muitos esforços. Hoje eu lutei e venci um campeão mundial, um medalhista de bronze olímpico, entre outros oponentes. Eu sonhei em vencer o campeonato hoje. Mas não foi meu destino: não pude competir por causa da lei no meu país e porque eu estava com medo das consequências para minha família e para mim".

Ele ainda disse: "Hoje, o Comitê Olímpico Nacional do Irã e o Ministro do Esporte me disseram para não competir, que eu deveria seguir a lei. Eu sou um lutador. Eu quero competir de qualquer jeito. Eu vivo num país cuja lei não me permite fazer isso. Não temos escolha, todos atletas devem seguir a lei. O que eu fiz hoje foi pela minha vida, por uma nova vida".

"Eu gostaria de agradecer o Sr. Presidente Vizer, do fundo do meu coração. Ele me disse que poderia me assegurar e me ajudar a ir para as Olimpíadas. Então, meu sonho seguirá real e eu posso me tornar um campeão olímpico. Eu preciso de ajuda. Mesmo que autoridades do meu país me digam que eu posso voltar sem problemas, eu tenho medo. Eu tenho medo do que pode acontecer com minha família e comigo", complementou.

"O Presidente Vizer garantiu que eu posso continuar a competir. Eu sou um atleta, não um político, e nunca estive envolvido em políticas. Eu quero seguir com a Carta Olímpica. Eu estava perdido e com medo", completou.

Fotos: IJF

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