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Os Jogos Olímpicos na televisão brasileira - Rio 2016, Bandeirantes








(Vinheta de abertura das transmissões da TV Bandeirantes para os Jogos Olímpicos de 2016. Postado no YouTube por Thiago Rocha)




Narração: Téo José, Álvaro José, Oliveira Andrade, José Luiz Datena, Ivan Bruno, Ulisses Costa, Ivan Zimmermann e Carlos Fernando

Comentários: Neto e Edmundo (futebol masculino/futebol feminino), Denílson (futebol feminino), Marcelo Negrão e Cacá Bizzocchi (vôlei masculino), Virna (vôlei feminino), André Domingos, Vanderlei Oliveira e Cláudio Roberto (atletismo), Patrick Winkler (natação), Helen Luz (basquete feminino), Danilo Castro (basquete masculino), Flávio Saretta e Renato Messias (tênis), Henrique Guimarães (judô), Victor Rosa (ginástica artística), Dayane Camilo (ginástica rítmica), Fabio Vanini (handebol), Gabriel de Oliveira (boxe), Marcos Biekarck (vela) e Márcio Wenceslau (taekwondo)

Reportagens: Fernando Fernandes, Paloma Tocci, Nivaldo de Cillo

Apresentação: Renata Fan, Milton Neves e Elia Júnior

Participação: Ricardo Boechat e Ana Paula Padrão


Antes mesmo da Bandeirantes começar a planejar como seria a cobertura dos Jogos Olímpicos de 2016, ela teve de superar uma das piores perdas que podia imaginar. Após o AVC que impediu sua plena participação na cobertura do Bandsports para Londres-2012, Luciano do Valle (1947-2014) se recompusera para voltar às narrações, ainda naquele ano. Mesmo cada vez mais criticado por erros, mesmo com problemas de saúde aqui e ali, Luciano seguia como a principal voz do canal, o símbolo do que a Band era nos esportes.


Ao completar 50 anos de carreira, em 2013, ele fez um verdadeiro périplo pela casa da família Saad, para ser homenageado: esteve numa edição especial d’Os Donos da Bola, mesa-redonda apresentada por Neto, e foi entrevistado no Canal Livre – sem contar entrevista marcante no Bola da Vez, da ESPN. E narrara os principais jogos da Copa das Confederações, em 2013. Enfim, o paulista de Campinas podia já estar longe da melhor fase da carreira, mas sua história o tornava merecedor de todo respeito. E já se preparava para ser o carro-chefe da cobertura da Band para a Copa de 2014, a décima de sua carreira. Estava tudo certo.


Mas o 19 de abril de 2014 deixou tudo errado. Naquele sábado, Luciano embarcou no aeroporto de Congonhas, com destino a Uberlândia – no dia seguinte, daria voz à transmissão da Bandeirantes para Atlético Mineiro x Corinthians, jogo da rodada de abertura do Campeonato Brasileiro de futebol. Já antes de embarcar, o locutor sentia dores nas costas. Durante o voo, aquelas dores se materializaram num mal súbito. Atendido pelo cardiologista Roberto Botelho, ainda no avião, Luciano foi direto para uma ambulância logo após a aterrissagem, rumando para o Hospital Santa Genoveva. Fez-se o possível. Mas no meio da tarde, veio a notícia infelicíssima: aos 66 anos de idade, morria Luciano do Valle Queiroz. Nunca mais sua voz seria ouvida num evento esportivo.


Só restava o pranto, exposto abertamente pelo narrador Nivaldo Prieto no Gol, o Grande Momento do Futebol exibido antes de São Paulo x Flamengo, no dia seguinte. O luto, nos funerais de Luciano, em Campinas, no mesmo 20 de abril. A lamentação já pensando nos Jogos sem ele, bem expressa por Juca Kfouri em sua coluna na Folha de S. Paulo, em 21 de abril: “Se havia alguém que merecia narrar uma Olimpíada por aqui, este alguém era ele”. E o consolo, ao se lembrar o que Luciano do Valle falara ao Jornal do Brasil, em 12 de setembro de 1982, quando começava a ser o arauto da ascensão do vôlei no Brasil, na rápida passagem pela TV Record: “Quero ser lembrado como alguém que lutou pelo esporte amador”. Não havia a menor dúvida de que Luciano seria e é lembrado assim, como um dos nomes mais importantes da história dos esportes na televisão brasileira.



A homenagem da Bandeirantes a Luciano do Valle, após sua morte: a ausência da voz de Luciano foi sentida nos Jogos Olímpicos de 2016 (Divulgação)

Vida que segue. Quando 2016 chegou, a Bandeirantes já tinha outros problemas para se preocupar – como a crise financeira, que a impediu de continuar transmitindo o Campeonato Brasileiro de futebol, além de forçar uma cobertura mais modesta da Euro. Ainda assim, o foco nos Jogos Olímpicos era total. Bem como o empenho da emissora na montagem de uma equipe e de uma estrutura dignas da tradição que o canal ostentava. E isso seria mostrado na intenção de mostrar mais de 200 horas de esportes no Rio de Janeiro (e capitais vizinhas). E na grande equipe que a Band teria nos trabalhos em duas frentes, no Parque Olímpico e no centro de imprensa – sem contar o auxílio do “filhote” esportivo Bandsports...


Forçosamente içado ao posto de principal narrador da Band em 2014, era assim que Téo José chegaria ao Rio-2016: caberia ao goiano dar voz, preferencialmente, às transmissões dos torneios de futebol (masculino e feminino), além de narrar o handebol na Arena do Futuro. Se se alternava entre rádio Jovem Pan e Bandsports, Oliveira Andrade ficou em definitivo na tevê após a morte de Luciano do Valle, sendo trazido pela Band para ocupar a vaga aberta – e também seria mais um locutor da equipe bandeirantina no Rio, destinado preferencialmente aos jogos de basquete na Arena Carioca 1 e na Arena de Deodoro.


Nome que se alternava entre a rádio e a tevê no Grupo Bandeirantes, Ulisses Costa também colaboraria no futebol, além de dar voz sempre que a emissora dos Saad transmitisse o vôlei de praia em Copacabana. Nome novato no canal e na televisão, egresso da Rádio Transamérica, Ivan Bruno foi o “narrador do pau-pra-toda-obra”: estaria sempre a postos para os flashes de competições ao vivo e para várias modalidades – mas acabaria se alternando com Oliveira Andrade nos torneios olímpicos de basquete. Se necessário fosse, Carlos Fernando e Ivan Zimmermann viriam do Bandsports para narrar.


Todavia, seriam os outros dois narradores da Band que mais chamariam atenção naquela cobertura. Mesmo durante seus seis anos na TV Record, fazendo parte ativa do “período olímpico” vivido lá, Álvaro José seguiu tendo vínculos com o Grupo Bandeirantes. Primeiro, em 2012, ao passar a trabalhar nas emissoras de rádio do grupo – tanto na Bandeirantes paulista por que já passara quanto pela Bradesco Esportes. E no princípio daquele 2016 olímpico, a Band tinha um grande ganho: Álvaro trazia sua experiência nos Jogos de volta ao canal em que tantos momentos vivera. No Rio, ele faria o que quase sempre fizera: estaria à disposição para colaborar em qualquer modalidade necessária, mas seria o narrador preferencial da Band para o atletismo no Engenhão, para a ginástica (artística e rítmica) na Arena Olímpica montada na Barra, e para a natação no Centro Aquático. De quebra, ainda seria a voz esportiva nas transmissões da cerimônia de abertura e da festa de encerramento. A Band voltava aos Jogos, e “Alvinho” voltava a ela.


O outro locutor bandeirantino a saltar os olhos na equipe novamente participaria de um evento esportivo. Afinal, já em 2004, como a cara do Brasil Urgente que até hoje apresenta, José Luiz Datena fora narrador na cobertura da Band em Atenas. De lá até 2016, mesmo sendo reconhecido acima de tudo como apresentador do programa policial, Datena sempre se dizia cansado de ser ligado ao “mundo cão” e evocava sua ligação ao esporte em que começara. No mesmo ano, inclusive, também chamara atenção (fosse elogiado ou criticado) nas suas narrações emocionadas dos jogos da Euro 2016 – ainda mais se os jogos fossem da seleção de Portugal, campeã do torneio. E o paulista de Ribeirão Preto novamente estaria numa cobertura olímpica pela Band, narrando dos estúdios em São Paulo os jogos do vôlei, homens ou mulheres.



De novo, José Luiz Datena daria voz ao vôlei pela Bandeirantes em Jogos Olímpicos (Divulgação)

Se ter sete narradores já chamava a atenção, a Band também não pouparia em comentaristas: cerca de 40 nomes opinariam sobre as disputas no Rio. Alguns deles já eram chamarizes de audiência do canal, é verdade: Neto e Edmundo, a dupla habitual para comentar o futebol ali – Neto em São Paulo, Edmundo no Rio -, acompanharia o périplo da Seleção Brasileira no torneio masculino. Também um velho conhecido da Band, destaque no Jogo Aberto exibido na hora do almoço, Denílson seria o comentarista do futebol feminino. E haveria outros nomes habituais da Band em Jogos Olímpicos. Já presente na cobertura de Pequim-2008, Virna era mais uma que retornava: seriam da natalense os comentários do vôlei feminino. Nome certo nos torneios de tênis que o Bandsports exibia, Flávio Saretta seria o comentarista das partidas no Centro Olímpico. E ainda que não tivesse vindo a tempo para a cobertura anterior da casa nas Olimpíadas, Marcelo Negrão já era reconhecido dos comentários de vôlei, fosse por Band ou Bandsports – e seria parceiro de José Luiz Datena nas transmissões do torneio masculino, com óbvia ênfase nas partidas do Brasil (as demais teriam comentários do treinador Cacá Bizzochi).


Já outros nomes podiam ter menos experiência em televisão, mas lhes sobrava a vivência olímpica. Helen Luz, por exemplo: a comentarista da Band para o basquete feminino fora uma das novatas de destaque no título mundial brasileiro em 1994 e na prata de Atlanta-1996. Ou André Domingos, um dos nomes para comentar as disputas do atletismo, trazendo o que vivera na prata do revezamento 4x100m em Sydney-2000. Ou mesmo Henrique Guimarães, em sua terceira edição de Jogos no Grupo Bandeirantes para comentar o judô: o paulista estivera em Pequim-2008, opinara sobre as lutas para o Bandsports em Londres-2012, e também comentaria as lutas no Riocentro.



A Band podia até estar em crise financeira, mas se esforçou o suficiente para ter equipe grande e fazer uma digna cobertura no Rio (Divulgação)

O reportariado bandeirantino também estaria muito presente no Rio: vários nomes, entre Band e Bandsports, liderados pelas caras mais reconhecidas – Fernando Fernandes, Nivaldo de Cillo, Paloma Tocci. Na apresentação, idem: se alternando entre o “estúdio de vidro” no Parque Olímpico e o estúdio no centro de imprensa, nomes como Renata Fan e Elia Júnior – e quando fosse hora do futebol masculino, Milton Neves comandaria as jornadas da modalidade.


E o jornalismo da Band também cederia dois nomes de grosso calibre para aquela cobertura. Mesmo que já estivesse vinculada ao entretenimento, no comando do Masterchef, Ana Paula Padrão cederia um pouco da experiência no Parque Olímpico. Bem como a principal estrela do jornalismo da emissora na época: Ricardo Boechat (1953-2019) apresentaria por vezes o Jornal da Band no “estúdio de vidro” durante aqueles dias olímpicos, com Paloma Tocci ao lado. Seria assim também na cerimônia de abertura, em 5 de agosto: Ana Paula Padrão estaria na cabine do Maracanã, em sua terceira abertura de Jogos (a brasiliense fizera Sydney-2000 pela Globo, e Londres-2012 pela Record), com Boechat e sua verve jornalística ao lado, mais Álvaro José, se valendo da grande experiência olímpica. E partiu de Álvaro a homenagem que a Band precisava fazer no Rio-2016: o narrador/comentarista evocou a memória de Luciano do Valle, a ausência mais sentida da televisão brasileira no Maracanã, naquele 5 de agosto de 2016.





 (Final da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2016, na transmissão da TV Bandeirantes, com a apresentação de Ricardo Boechat, Ana Paula Padrão e Álvaro José)


E a Band cumpriria o que prometia. Está certo, com alguns escorregões: foi criticada, por exemplo, a opção de deixar as disputas olímpicas de lado na noite das terças-feiras, para exibir o Masterchef que já garantia a audiência (e memes para quem acompanhava via internet) naquele dia, na emissora da família Saad. No entanto, era indiscutível que o canal tinha seu público. Que gostava de ver Álvaro José novamente narrando momentos marcantes, como a prata de Diego Hypólito – e o bronze de Arthur Nory, por extensão -, no solo da ginástica artística masculina. Que gostava de ver José Luiz Datena narrando a vitoriosa campanha do Brasil no vôlei masculino, guiando as partidas com várias expressões emprestadas de (e creditadas a) Marco Antônio Mattos (1939-2004), o eterno locutor que cativava a “galera Band vôlei”.





(Áudio do ponto que deu ao Brasil a medalha de ouro no torneio de vôlei masculino, nos Jogos Olímpicos de 2016, na transmissão da TV Bandeirantes, com a narração de José Luiz Datena e os comentários de Marcelo Negrão)


No futebol masculino, o ouro brasileiro foi entronizado com Téo José usando uma expressão sua, pedindo que Neymar “apertasse o play” e fizesse o que fez: convertesse o pênalti que deu o 5 a 4 ao Brasil nas cobranças, após 1 a 1 em 120 minutos. Aliás, aquele ouro até representou, de certa forma, um fim de ciclo na Band. Afinal, foi o último grande evento de Edmundo no canal: semanas depois dos Jogos acabarem no Rio, o ex-jogador, já um comentarista estabelecido, rumou para o FOX Sports. E mesmo Téo José sairia algum tempo depois: no começo de 2018, sem renovar contrato com a Band, o narrador foi mais um a tomar o caminho do canal esportivo da FOX. Só Neto segue no canal dos Saad, ainda absoluto chamariz de audiência, como apresentador d’Os Donos da Bola, no canal aberto, e do debate Baita Amigos, no Bandsports.




(Áudio da defesa de Weverton, no chute de Nils Petersen, e da cobrança de Neymar que deu ao Brasil a medalha de ouro, após o 5 a 4 na disputa de pênaltis contra a Alemanha, pela final do torneio de futebol masculino dos Jogos Olímpicos de 2016, na transmissão da TV Bandeirantes, com a narração de Téo José e os comentários de Neto e Edmundo)


Enfim, a Band cumpriu no Rio o que devia: mesmo em crise, mesmo perdendo nomes, mesmo sem o grande símbolo que era Luciano do Valle, manteve dignamente sua tradição esportiva. E o grupo de mídia da família Saad seguirá fazendo isso em Tóquio, via Bandsports. Goste-se ou não, uma história que merece respeito.

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