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Jogos Olímpicos na Televisão brasileira: Barcelona 1992, SporTV (Top Sport)



Narração: Luiz Carlos Júnior, Maurício Torres, Sérgio Maurício, Márcio Martins e Lincoln Gomide
Comentários: Fernando Leão (vôlei masculino/vôlei feminino)


Em 1991, as Organizações Globo decidiram dar o pontapé inicial e decisivo em algo que já começava a se insinuar no futuro da televisão brasileira: os canais a cabo. A história deles no país começara em 1989, quando o Canal+ (nome inspirado no Canal Plus francês, exibindo a programação da ESPN norte-americana, em inglês mesmo) se tornara acessível para portadores de televisores com antenas UHF, na cidade de São Paulo. Um ano depois, mais canais à disposição para os paulistanos, via antena UHF: a RAI italiana, a CNN inglesa e a versão brasileira da MTV, estreando em 20 de outubro daquele ano.

Finalmente, 364 dias depois, em 19 de outubro de 1991, o supracitado grupo de mídia da família Marinho iniciou as operações de seu braço para a televisão a cabo: nascia a Globosat. Com ela, quatro canais, disponíveis apenas à base de pouquíssimos assinantes que a experimentava, ao contratar os serviços da operadora Multicanal: Multishow (artes e espetáculos), GNT (então mesclando notícias e documentários, bem diferente da linha atual), Telecine (cinema)... e o Top Sport. Pois é: quando surgiu, o canal esportivo da Globosat tinha este nome.

O conteúdo produzido pela minúscula equipe sediada no bairro carioca do Rio Comprido era pouco: apenas um programa, o 360 Graus, ligado a esportes radicais e apresentado por uma cidadã carioca que deixava a esplendorosa carreira no bodyboard para começar sua também longeva carreira televisiva: Glenda Kozlowski. Mas aos poucos, mais gente ia aparecendo. Como um cidadão de 25 anos em 1991, também carioca: Luiz Carlos Filho da Paixão Júnior, radicado por muito tempo em Brasília, onde começara a carreira como locutor de rádios musicais da Capital Federal ligadas ao rock (exemplos: as retransmissoras brasilienses da Transamérica e da 105 FM).

Posteriormente, Luiz retornou ao Rio, e naquele começo de década fez um teste no nascente Top Sport. Foi contratado, para também fazer a locução de esportes radicais, sem aparecer na frente das câmeras. Simultaneamente, prestava serviços apresentando programas para a PGB, produtora de programas esportivos que Galvão Bueno mantinha naquela época – o que, graças a uma parceria da PGB com a TV Record, incluía o Record nos Esportes. Naquela época, inclusive, Luiz Carlos pensava ter futuro em outra função dentro da televisão, como revelou ao UOL em 2019: “Eu era só o apresentador, que era o que eu imaginava ser. Eu me imaginava como o Fernando Vannucci, não como o Galvão Bueno”. Mas logo a parceria PGB-Record acabou. E foi como Luiz Carlos Júnior, narrador e apresentador, que ele se converteu, de vez, num símbolo da história do canal em que trabalha até hoje.

Até porque, em 1992, o Top Sport já tinha mais material a ser exibido – ainda que proveniente da Prime Network, uma emissora norte-americana. Já tinha mais gente trabalhando nele – como o narrador Maurício Torres (1971-2014), mais um carioca, este proveniente da Rádio Globo. Também do rádio (trabalhara em mais emissoras: Roquette Pinto, Capital, Tamoio, CBN, Manchete) viera Sérgio Maurício Droge, outro locutor dos eventos e campeonatos que o Top Sport possuía. E mais outro narrador carioca também se incluiria no pequeníssimo grupo de funcionários do canal a cabo: Lincoln Gomide. Sem contar o último nome entre os locutores: Márcio Martins.

A estrutura podia até ser pequena, mas a vontade era gigante. Tanto dos funcionários quanto da Globosat, que deu sua primeira grande cartada naquele 1992: comprou os direitos de transmissão dos Jogos Olímpicos. Os de inverno (exibiu os Jogos de Albertville, na primeira vez que a televisão brasileira os mostrou)... e os de verão, em Barcelona.

Havia gente em Barcelona? Não. Os nomes nas transmissões eram poucos? Eram. Havia comentaristas? Pouquíssimos: um exemplo era o carioca Fernando Leão - auxiliar técnico de Bebeto de Freitas na seleção que disputou o torneio de vôlei masculino em Seul-1988, Fernando comentou o vôlei em Barcelona – masculino e feminino - para o Top Sport. Mas foi assim que a emissora esportiva da Globosat fez sua primeira cobertura olímpica, se orgulhando de ficar 20 horas no ar exibindo o que pudesse exibir em Barcelona, das provas mais prestigiadas às menos vistas, incluindo as finais de todas as modalidades daquelas Olimpíadas.


Propaganda da Globosat para a cobertura do Top Sport (SporTV) nos Jogos Olímpicos de 1992, na "Folha de S. Paulo" de 25 de julho de 1992 (Reprodução)

Deu certo. Mesmo com todos trabalhando nos estúdios do Rio de Janeiro, houve eventos que ficaram para a história do canal – como Lincoln Gomide dando empolgadamente sua voz à medalha de ouro do vôlei masculino brasileiro. O Top Sport sobreviveu a uma séria crise em 1993, quando teve suas atividades ameaçadas – falou-se até que Globo e Bandeirantes forneceriam equipe e equipamentos para um novo canal a cabo que o substituiria, chamado “TV Esporte Brasil”. Mas o fato é que acontecera o que Alberto Pecegueiro, diretor-geral da Globosat entre 1994 e 2019, falou à Biografia da Televisão Brasileira feita por Flávio Ricco e José Armando Vannucci (Matrix, 2017): “Quando começamos a estudar o negócio de TV paga em outros países, a gente diagnosticou que, nas experiências bem sucedidas de outros lugares, o sucesso dela tinha dois retornos principais: os canais de esporte e filmes. (...) Com o Top Sport recém-nascido, foi feita a transmissão dos Jogos Olímpicos de Barcelona. De uma maneira quase amadora, de uma maneira bastante precária, mas já se mostrava ali a vocação do que um canal de esporte pode fazer”.

E aquele canal faria muito, em termos olímpicos. A partir de 1994, seguiria marcando presença, mostrando os Jogos de Inverno, sediados na norueguesa Lillehammer. E seguiria com outro nome a partir daquele ano: de Top Sport, a emissora esportiva da Globosat virou SporTV. Assim retornaria para Atlanta-1996, em condições maiores. Incluindo a concorrência.

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