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Imagens do Esporte: Brandonn Almeida e outros nadadores merecem uma segunda chance

Coluna Imagens do Esporte: Bruce Hanson abraça e consola Brandonn Almeida

Nesta segunda-feira (19) teve início o Campeonato Brasileiro Absoluto de Natação, que serviu como seletiva olímpica do país. Ainda que tenha comemorado bastante os índices alcançados por Guilherme Costa e Felipe Lima, a imagem que fica para mim foi a de consternação de Brandonn Almeida ao fim de sua prova dos 400m medley e o abraço e recebido pelo seu irmão Bruce Hanson, representando naquele instante toda a torcida brasileira.


Aos 24 anos, o nadador que defendeu o Brasil na Rio 2016, sabia que poderia ir longe nos Jogos Olímpicos de Tóquio e alcançar uma final olímpica em julho. Mas seu sonho, assim como o de outros atletas, foi interrompido em um sistema de classificação olímpica rigoroso imposto pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) que talvez fizesse sentido em 2016 ou 2019, mas está completamente defasado e fora da realidade nos dias atuais.


Os minutos em que a câmera permaneceu focada na tristeza de Brandonn ainda na borda da piscina me lembrou bastante a série “Fourth” feita pela artista Tracey Moffatt, enfatizando atletas que perderam a medalha por pouco, entre eles alguns nadadores. A série toda você pode ver aqui


Fourth #2 (2001) da artista Tracey Moffatt, representando a dor de atletas de elite que chegaram perto da medalha - Foto: Reprodução / Art Gallery of New South Wales


Moffatt, que se divide entre a Austrália e os EUA, conta que ficou impactada pelos momentos em que eles percebem que “você quase conseguiu, mas perdeu por pouco. Quarto significa que você é quase bom. Não o pior, mas quase… na maior parte do tempo, o que é expressado é na verdade é a falta de expressão, aquele olhar pré-determinado por toda a face humana. É uma máscara horrorosa, bonita e sábia. Todos os atletas correm o risco deste momento, a percepção de ter apenas perdido, de ter ficado de fora por pouco”.


Brandonn, no caso, venceu a prova, mas não levou o que mais queria, a vaga olímpica. Todo um ciclo de cinco anos, que inclui medalhas de bronze no pan-americano de Lima 2019 e no mundial de piscina curta de Hangzhou em 2018 é perdido em uma noite chuvosa no Parque Olímpico.


Atônito, Brandonn recebeu o carinho do competidor e irmão Bruce Hanson ainda na piscina. Bruce ali representou toda a torcida brasileira sensibilizada e perplexa com a ausência de Brandonn nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Essa primeira imagem de um sonho interrompido é provavelmente a imagem que vai ficar comigo de toda essa seletiva. 


Confira a prova do Brandonn Almeida nos 400m medley - Crédito: Canal Olímpico do Brasil

Ainda abalado nos minutos seguintes, Brandonn respondeu em entrevista que “a gente vê todo o trabalho jogado fora”. O nadador que teve um ciclo conturbado parecia ter voltado a sua melhor fase, produzindo bons tempos recentemente e declarando ainda na transmissão que “desde o final do ano passado eu vinha numa fase boa”, completando. 


Isso é o esporte, é frustrante, todo mundo que foi atleta sabe, que a gente vive de altos e baixos


Nas provas seguintes tivemos outras frustrações nas aspirações olímpicas, como a ausência de vagas femininas, mas em especial nos 100m peito. Em uma prova que quatro atletas possuíam índice no tempo regulamentado pela Federação Internacional de Natação (FINA), apenas um levou a vaga, Felipe Lima.


É justo o sistema de seletiva única para o Brasil?


Esta é a pergunta que já vinha se formulando bem antes da noite de segunda entre os especialistas e fãs do esporte, e foi escancarada logo ao fim da primeira prova. Brandonn, deixando claro que não tentava se justificar, foi honesto: “uma seletiva pesa muito para gente, visto que a gente não tem competição e um nível de EUA e Austrália” e deixou registrado seu protesto: “Tenho certeza que se eu tivesse outra chance, que não vou ter, eu faria esse tempo”


É justo privilegiar a seletiva olímpica, em uma tentativa que a CBDA faz para que os nadadores atinjam seu ápice numa noite específica de competição, simulando semifinais e finais olímpicas. A ideia por trás deste raciocínio é que apenas os atletas que conseguem se superar na final nacional estarão na briga de medalhas nos Jogos Olímpicos.


Mas é preciso também dar uma boa estrutura para os atletas, que tiveram que enfrentar uma piscina aberta com muito vento na noite desta segunda-feira no Rio de Janeiro. Para a terça-feira, a previsão metereológica é de chuva forte, justamente no dia em que as provas de nado costas acontecem, com Guilherme Guido e Etiene Medeiros em busca de seus índices.


Brandonn tem novas chances de conseguir a vaga ainda na seletiva. Ele disputa a prova de 800m livre e 200m borboleta  na quarta-feira (21); 200m costas e 200m medley na sexta-feira (23). Conseguindo uma vaga em qualquer uma destas ele poderá disputar também os 400m medley em Tóquio por já ter feito o índice determinado pela FINA.






Quantos atletas serão prejudicados em seus sonhos olímpicos para a CBDA resolver dar uma segunda chance aos nadadores em busca de uma vaga em Tóquio? A maioria dos países flexibilizou suas regras e não contará com uma única seletiva nacional. Grã-Bretanha e Itália, favoritos a inúmeras medalhas, permitirão que atletas façam índice em eventos nos próximos meses nas vagas que sobrarem. 


O problema é que os atletas brasileiros, praticamente isolados do resto do mundo com inúmeras restrições de viagem, praticamente não tem mais chances de disputar provas fortes, como as que acontecerão na Europa no nosso outono. 


Bruce Hanson, que ficou em quinto nos 400m medley consola o irmão Brandonn Almeida, vencedor da prova - Foto: Reprodução / Canal Olímpico do Brasil

Os Países Baixos levarão automaticamente para Tóquioó os 12 melhores do último mundial de natação. Brandonn foi 11º melhor no mundial de Gwangju 2019. Na África do Sul, país que vive problemas similares ao do Brasil com a pandemia, atletas que conseguiram índice durante o período da FINA estão automaticamente classificados, contanto que nenhum nadador tenha obtido a vaga na seletiva. Novamente, mesmo caso de Brandonn. 


Ignorar a pandemia de covid-19 que vive o ápice no Brasil enquanto os atletas treinavam para a seletiva de para os Jogos Olímpicos e já prejudicaram enormemente toda a preparação por mais de um ano, não é só ignorar o bem-estar dos próprios atletas, mas também ignorar o sentido do Olimpismo, a filosofia de vida propagada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) e demais confederações, em que o esporte deve estar a serviço do bem-estar e da sociedade como um todo. 


Permitir que todos os nadadores compitam na segunda chance em 12 de junho, já dada para aqueles infectados pela Covid-19, é o mínimo que pode ser feito para garantir uma equipe forte em Tóquio. Uma segunda chance, não só para Brandonn ou João, mas para todos os nadadores que não conseguirão a vaga olímpica esta semana, é o fair play que os tempos atuais exigem. 


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1 Comentários

  1. Acredito que esse ano vamos ter muitas medalhas de ouro em diversas modalidades

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