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SurtoLista: relembre sete momentos que "terminaram em pizza" no esporte olímpico


Nesta sexta-feira (10) é comemorado o Dia da Pizza no Brasil. A data foi criada em 1985, quando o então secretário de turismo de São Paulo, Caio Luiz de Carvalho, produziu um concurso para eleger a melhor pizza de margherita e mussarela. É claro que a massa italiana se expandiu pelo mundo e chegou facilmente ao nosso país. O que pouca gente sabe é que outra pizza é "cria" do esporte brasileiro, a expressão "terminar em pizza".

Famosa no noticiário político para explicar quando algo "dá em nada", a expressão, na verdade, nasceu no futebol. Foi o repórter setorista Milton Peruzzi, da Gazeta Esportiva que usou a expressão pela primeira vez. Na década de 50, Peruzzi era setorista do Palmeiras quando o clube passava por uma grande crise política.

Em uma das reuniões da época, dirigentes batiam boca e brigaram por quase 10 horas de plenário, até alguém ter a ideia de comerem e beberem alguma coisa. Presenciador, Peruzzi viu quando os briguentos foram para uma pizzaria. Lá, após muita margherita e bebida alcoólica, a paz foi definitivamente selada. Peruzzi ligou para a redação e deu a seguinte manchete: "Crise do Palmeiras terminou em Pizza!".

O SurtoLista desta semana reuniu sete momentos em que a expressão caiu muito bem no esporte olímpico. Afinal, se a justiça não é feita é porque "terminou em pizza". O apanhado reúne medalhas controvérsias, possíveis crimes sem solução e até mesmo evento que realmente termina em pizza.

João do Pulo e o salto roubado em Moscou


Foto: Arquivo/CBAt

Em 1980, o brasileiro João Carlos de Oliveira chegava como franco favorito a sair com o ouro na prova do salto triplo nas Olimpíadas de Moscou. Então recordista mundial desde os Jogos Pan-Americanos de 1975, João do Pulo vinha 'mordido' após o bronze nos Jogos Olímpicos de Montreal, em 1976. Ele tinha tudo para ganhar disparado a prova, já que além de deter a melhor marca do mundo, havia sido campeão mundial em 1979.

Seu recorde mundial de 17,89m era bem superior ao melhor resultado do seu grande rival o soviético Viktor Saneyev, então bicampeão olímpico, que possuía 17,44m. Na grande final, todos os árbitros da Federação Internacional de Atletismo foram substituídos por juízes da URSS, dona da casa. Resultado: João do Pulo teve quatro saltos invalidados, todos que superavam a barreira dos 18m. Ian Campbell, da Austrália, também foi claramente prejudicado.

No fim, ouro para o azarão Jaak Uudmäe (URSS), com 17,35m, prata para Viktor Saneyev (URSS), com 17,24m e bronze para João do Pulo, com um salto de 17,22m. Um dos árbitros (foto abaixo), revelou futuramente que tinha ordens para prejudicar o brasileiro.


Em 2015, a Athletics Australia (órgão que administra o atletismo australiano) entrou com um recurso pedindo investigação do caso em possível favorecimento aos atletas soviéticos. Até hoje, mesmo com denúncias e confissões, nada foi feito. No fim, o salto do ouro terminou em bronze (leia-se pizza). João Carlos de Oliveira faleceu em 1999 de cirrose.

A prata duplamente dourada do revezamento 4x100m


Foto: Evandro Teixeira/COB

Em uma Olimpíada sem medalha de ouro para o Brasil, o grande destaque ficou para a prata do time brasileiro no revezamento 4x100m do atletismo. Claudinei Quirino, Vicente Lenílson, André Domingos e Edson Luciano Ribeiro voaram nas pistas do Estádio Olímpico de Sidney, naquele 30 de setembro de 2000.

Sem muitas condições de treino, foi na garra e espírito vencedor que o time brasileiro embarcou para as Olimpíadas de 2000. Objetivo era melhorar o resultado do bronze em Atlanta 1996. Com um tempo de 37s90, os brasileiros só ficaram atrás dos imbatíveis americanos, que marcaram 37s61, e 14 centésimos à frente dos cubanos, que conquistaram o bronze com 38s04.

No entanto, anos depois um dos americanos foi pego no exame antidoping. Tim Montgomery foi banido do esporte após diversos envolvimentos com casos de dopagem. Em uma das confissões, Montgomery, que disputou a semifinal do revezamento em Sidney 2000, disse que também estava dopado quando disputou as Olimpíadas. O Comitê Olímpico dos EUA retirou a medalha do ex-corredor, mas ficou nisso mesmo.

Os brasileiros tentaram brigar pelo ouro, contratando advogado para o caso. Eles chegaram a reclamar da postura do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), que na época se candidatava para a Rio 2016. O COB, através de nota em 2018 para o Esporte Espetacular, da TV Globo, disse que "a decisão cabe ao Comitê Olímpico Internacional (COI)", que foi acionado à época pela entidade brasileira, mas não se manifestou sobre o caso.

A prata, que já tinha sabor dourado antes da confissão do Tim, acabou se tornando mais dourada ainda. Até hoje a justiça não foi feita.

Decisão duvidosa em disputa do ouro de Esquiva Falcão

Árbitro Mariusz Gorny com cara de "poucos amigos" ao decretar Murata campeão olímpico em Londres - Foto: Reuters

Em Londres 2012, o Brasil saiu com três medalhas no boxe. Uma delas foi do Esquiva Falcão, que conquistou a prata após ser derrotado pelo japonês Ryota Murata por 14 a 13 na final. 

A polêmica ficou por conta do árbitro principal da luta, o polonês Mariusz Gorny. Após a disputa, Gorny confessou que foi "rigoroso" com o brasileiro e que teve participação direta na derrota do brasileiro. O árbitro polonês, considerado um dos melhores do mundo na época, contou ao juiz brasileiro Jones Kennedy que achava que Esquiva não seria tão prejudicado pela penalidade que ele concedeu.

Ao fim, a penalidade por excesso de contato físico deu dois pontos ao Murata, selando a vitória para o nipônico. A Associação Internacional de Boxe (AIBA), meio que "confessou" o erro do árbitro da disputa, já que o oficial polonês caiu no conceito da associação.

Os boxeadores acusados de estupro


Jonas Junias foi porta-bandeira da Namíbia na abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016 - Foto: Pedro Ugarte/AFP

Pulando alguns anos na história chegamos a Rio 2016. A edição dos Jogos Olímpicos no Brasil foi repleta de casos curiosos. Logo nos primeiros dias, a comitiva australiana queixou-se de quartos inacabados na Vila Olímpica. Com bom humor e tom apaziguador, o então prefeito da cidade do Rio Eduardo Paes, disse que colocaria um canguru inflável na frente dos quartos. No fim, o prefeito foi quem recebeu um canguru de pelúcia e ficou tudo na paz.

Por outro lado, as Olimpíadas no Rio tiveram casos típicos de "acabar em pizza". Dois boxeadores foram acusados de estupro na vila olímpica. Um dos casos foi do Jonas Junias, da Namíbia. Segundo a delegada da 42º DP do Rio na época, Jonas teria agarrado uma camareira, forçando um beijo e teria ofertado dinheiro por sexo com a moça. Seu treinador teria visto tudo e nada fez.

"É um desrespeito às leis e às mulheres brasileiras", declarou a delegada na época. O desrespeito, inclusive, durou pouco. O atleta, que tinha 22 anos durante os Jogos, foi solto quatro dias depois sob um habeas corpus. O treinador não foi denunciado como cúmplice, e o jovem disputou tranquilamente a competição, sendo eliminado na primeira fase para o francês Hassan Amzile, na categoria até 64kg.

A triste história é que o atleta da Namíbia não foi o único. Também boxeador, Hassan Sada, do Marrocos, havia sido detido três dias antes também acusado de estupro. O pugilista teria chamado duas camareiras para ajudá-lo. Entretanto, ao entrarem no seu quarto, o marroquino teria tentado transar com as duas à força. 

O atleta foi preso temporariamente pelo Juizado do Torcedor e dos Grandes Eventos e chegou a frequentar o presídio em Bangu, mas foi solto dias depois. Hassam não foi solto a tempo de disputar a luta de estreia na categoria até 81kg e foi eliminado por WO. A pizza, nesse caso, assustou um pouco os acusados.

Ryan Lochte e seus amigos baderneiros 


Gunnar Bentz saiu do depoimento aos gritos de "mentiroso" - Foto: Hanrrikson de Andrade/UOL

Infelizmente os casos de injustiça na Rio 2016 não pararam. Após uma festa na Lagoa, os nadadores americanos Ryan Lochte, Gunnar Bentz, Jack Conger e Jimmy Feigen, se envolveram em uma confusão no retorno para a Vila Olímpica. Bêbados, eles vandalizaram as dependências de um posto de combustível e, ao serem abordados pelos seguranças, sem envolveram em uma confusão.

Lochte, o mais experiente da turma, teria dito à polícia que sofreu uma tentativa de assalto com arma na cabeça. No entanto, o medalhista de ouro do revezamento 4x100m da natação americana estava mentindo. Lochte saiu do Brasil dias depois com a investigação ainda em curso. Os outros três nadadores ficaram com passaportes retidos e mais tarde confessaram ter sido mentira o suposto assalto.

O chefe da Polícia Civil do Rio chegou a dizer que não era possível afirmar quais crimes os atletas poderiam ser acusados. Sem punição pela justiça brasileira, os nadadores foram punidos pelo Comitê Olímpico e Paralímpico Americano (USOPC). Ryan Lochte, idealizador da farsa, foi suspenso de competir por 10 meses e teve seu salário suspenso pelas entidades esportivas americanas. Além disso, Ryan perdeu a bonificação pela medalha de ouro nos Jogos Olímpicos Rio 2016. Os outros três nadadores foram suspensos por três meses e também perderam os salários.

Terminou em pizza no Rio?

Vista aérea do Parque Olímpico - Foto: Yasuyoshi Chiba/AFP 

Os Jogos do Rio foram um misto de maravilhas no âmbito esportivo, com impunidade no meio de tudo. Não é por acaso que temos tantos casos terminados em pizza justamente durante a edição em nosso país. 

Denúncias de compras de voto para o Rio ser sede das Olimpíadas se espalharam pelo mundo (mas não é exclusivo do Brasil, já que a escolha de Tóquio também está sob suspeita). No ano passado, o ex-governador do Estado do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, admitiu ter pago U$ 2 milhões em propina para garantir o Rio ser sede em 2016. Ex-membro do COI e ex-presidente da Associação Internacional de Atletismo, o senegalês Lamine Diack é quem teria recebido a propina. 

Ex-Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e chefe do Comitê Organizador da Rio 2016, Carlos Arthur Nuzman também é réu no caso. Ele cumpre prisão domiciliar desde 2017. Já Diack está sendo julgado em Paris por diversos esquemas de corrupção e lavagem de dinheiro na World Athletics.

A denúncia de compra de voto é exemplo de como as Olimpíadas do Rio terminaram em pizza. Reflexo disso é o estado que se encontra o Parque Olímpico e o endividamento do Comitê Organizador. O Relatório que aponta todo o histórico dos Jogos, desde o anúncio do Rio como sede até o pós Olimpíada, documento de praxe e geralmente publicado de 1 a 2 anos após a realização do evento, sequer tem data para ser divulgada. Por aqui, a pizza parece que é rodízio.

Sempre termina em pizza, literalmente


Já virou tradição. Todo ano, no torneio da ATP 500 de Basileia, o suíço Roger Federer mantém um costume. Quarto do ranking mundial, o tenista sempre leva os boleiros da etapa do Circuito Mundial para comerem pizza após o final da competição. A janta é por conta de Federer, relembrando os velhos tempos quando ele era um dos boleiros da competição.

Além das pizzas e pura carisma, Federer premia todos os meninos e meninas com medalhas. A bagunça é certa e a competição, literalmente, acaba em pizza.

Foto: Harold Cunningham/AFP

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