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Surto História - Juan Antonio Samaranch, herói ou vilão olímpico?


Os Jogos Olímpicos passaram por muitas transformações desde sua primeira edição na era moderna, em Atenas 1896. Quando as Olimpíadas de Tóquio já estiverem rolando no ano que vem, em 23 de julho, este grande evento já terá completado 125 anos de história, marca muito emblemática para algo que reúne quase todo o planeta. 

Mas se as Olimpíadas reúnem a maior quantidade de países possível, isso deve-se a um dirigente: Juan Antonio Samaranch. O empresário catalão assumiu a presidência do Comitê Olímpico Internacional (COI) em 1980, justamente no auge da Era dos Boicotes, marcada pelas tensões causadas pela Guerra Fria e o Apartheid

Ele teve que lidar com o boicote estadunidense em Moscou-80 e com a vingança dos soviéticos na edição seguinte, Los Angeles-84, atitudes que esvaziaram o evento. 

Para se ter ideia, quando a capital russa sediou a Olimpíada de 1980, eles receberam quase a mesma quantidade de atletas que os Jogos de Tóquio em 1964 (5.179 e 5.151 respectivamente), com uma diferença de 16 anos entre os eventos, uma vez que a presença de esportistas aumentava gradativamente a cada edição. 

Mesmo assim, para os Jogos de 1984, houve grande aumento na participação de atletas saltando para mais de 6.800 participantes. 

Com muita participação nos bastidores, principalmente em ambientes políticos, Samaranch ajudou na união entre Coreia do Sul e do Norte durante a cerimônia de abertura dos Jogos de Sidney em 2000, algo inimaginável para a época.

Porém, o legado de Samaranch na crise entre as Coreias é contestado por alguns especialistas, como o professor Sergey Radchenko da Universidade de Nottingham em Ningbo, China, que conclui que a ausência da Coreia do Norte nos jogos de Seul 1988, contribuiu para a instabilidade a longo prazo na península coreana.

Na última olimpíada sob sua presidência, Sydney 2000, o evento recebeu 10.651 atletas, mais que o dobro de Moscou 1980, primeira edição comandada pelo ex-mandatário, que faleceu em 2010. 

Universalizar para lucrar?
Samaranch não apenas abriu o mundo olímpico para mais de 157 países em média, durante as edições nas quais era o presidente do COI. Ele recebeu de braços abertos o esporte profissional. Foi na gestão do empresário catalão que jogadores da NBA, maior liga de basquete do mundo, puderam participar dos Jogos Olímpicos, mostrando ao mundo o Dream Team.

Se um dia vimos Ronaldo, Ronaldinho e Neymar nas competições de futebol das Olimpíadas, também deve-se a insistência de Samaranch e do COI de contar com os melhores atletas da modalidade.



Uma briga eterna com a FIFA fez com que profissionais estivessem aptos a participar dos Jogos Olímpicos apenas a partir de 1984, para aqueles que nunca haviam disputado uma Copa. Porém, só em Atlanta-96 houve a liberação para que três atletas acima de 23 anos de idade, independentemente de terem jogado ou não um Mundial, pudessem participar da Olimpíada. 

O empresário e também ex-atleta, técnico e dirigente de hóquei sobre patins - esporte disputado em exibição em Barcelona-92 -, ajudou a sanar problemas nos cofres do COI. A entidade sofria com a parte financeira quando o catalão chegou à presidência. Mas com tantas parcerias, abertura para a captação de diversos patrocínios e forte transmissão televisiva, conseguiu fazer do seu maior bem, um produto facilmente vendável. 

Samaranch pegou os contratos de direitos televisivos valendo US$ 122 milhões em 1980 para os Jogos de Verão (em Moscou) e de Inverno (em Lake Placid). No ciclo Sochi-14 e Rio-16 foram arrecadados US$ 4,1 bilhões com transmissão. 

Quanto mais talento, mais dinheiro o Comitê faturava para investir cada vez mais nos esportes. Foi em sua gestão que a disputa para sediar as Olimpíadas ganhou caráter de extrema importância. Para quem tinha condições de arcar com os custos do evento, os jogos poderiam transformar a cidade para sempre, como aconteceu com Barcelona, no ciclo olímpico para os Jogos de 1992.  

Em entrevista publicada pela Folha de São Paulo em 23 de abril de 2000, o ex-presidente do COI disse não saber prever como seria o futuro do evento, no entanto, justificou a melhoria financeira na entidade. 

"É muito difícil dizer como será o futuro do esporte. A grande novidade dos últimos tempos foi a TV. Os Jogos Olímpicos de Roma, em 60, foram os primeiros que tiveram transmissão de verdade. Desde então, aumentou muito o dinheiro do esporte", disse. 

Dá até para considerá-lo um anti-Coubertin. Enquanto o pai da Olimpíada da era moderna prezava pelo amadorismo, Samaranch fez dos Jogos Olímpicos o grande evento para atletas profissionais, verdadeiras estrelas do esporte, como Michael Phelps, Usain Bolt e Simone Biles, por exemplo. Aliás, só o Barão de Coubertin ficou mais tempo na presidência do COI do que Samaranch. 

Mas ai vieram as polêmicas
Há duas grandes manchas no legado de Samaranch: o crescimento do doping e a corrupção na escolha de Salt Lake City como sede das Olimpíadas de Inverno em 2002. 

Em 1998 surgiram denúncias de que alguns dirigentes do COI, na maioria indicados por Samaranch, teriam aceitado suborno para que eles garantissem a cidade estadunidense como sede do evento gelado. O esquema fez com que 20 cartolas fossem punidos, 10 sendo expulsos ou obrigados a se retirar da entidade e outros 10 foram suspensos. 

O próprio Samaranch, em 1999, reconheceu que recebeu "presentes" do Comitê de Candidatura de Salt Lake City. A princípio ele ganhou duas espingardas de caça, que ultrapassavam o valor de US$ 2 mil. 

Porém, mais tarde foi revelado mediante a denúncia de Marc Hodler, ex-membro do COI (faleceu em 2006), que na verdade foram enviadas dez espingardas para a entidade, ao invés das duas citadas por Samaranch. Mas nunca foi comprovado que o catalão de fato recebeu propina, já que o ato de receber presentes dos Comitês Organizadores não era algo ilegal. 

Mesmo que sem comprovação, em meio a tantas polêmicas, o ex-mandatário não disputou a reeleição para o cargo que ocupou desde 1980, saindo do COI em 2001. Após deixar o fim de seu mandato, Samaranch tornou-se presidente honorário vitalício da entidade e mesmo após a sua morte, sua marca não foi esquecida, para o bem ou para mal. 

Fotos: Reuters

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