Últimas Notícias

Tandara demonstra preocupação com treinamentos na Europa: "Qual país vai abrir espaço pra gente poder treinar?"


A oposta-ponteira Tandara Caixeta, campeã olímpica em Londres-2012 e um dos pilares da atual seleção brasileira de vôlei, foi a convidada da live no Instagram do Surto Olímpico desta sexta-feira (19). Em um bate-papo descontraído, a atleta falou sobre sua rotina na pandemia, demonstrou preocupação com a falta de treinos e de contato com as quadras, mas expressou total descrédito com a ida de brasileiros à Europa para retomar as atividades, justificando que o Brasil é o epicentro atual da crise.

"Nós estamos em um país em que tudo está muito difícil. Temos que nos adaptar a tudo, mas temos que esperar e ter paciência, porque não depende da gente. Eu tenho visto notícias de que o Zé (José Roberto Guimarães, treinador da seleção feminina de vôlei) vai pegar a seleção e vai levar pra Portugal, mas o maior surto de Covid está sendo no Brasil. Qual o país vai abrir espaço pra gente poder treinar?", questionou a jogadora.

"Infelizmente, o que a gente pode fazer? Nada. A gente tem que esperar de acordo com o que o Covid vai se desenvolver. É uma coisa pra gente se preocupar porque a gente tá lidando com vidas. E se a gente voltar (a treinar) e uma se contaminar? O time inteiro é prejudicado, então não tem muito o que fazer. Eu confesso que hoje eu estou muito preocupada com a situação", completou.

De fato, o Brasil vive uma situação sanitária muito complicada, com 48.954 mortes totais por Covid-19 já registradas. Somente nesta sexta-feira (19), o país notificou 54.771 casos do novo vírus, ultrapassando a marca de um milhão de infectados, um número que é menor apenas que o dos Estados Unidos. Inúmeras medidas restritivas estão sendo tomadas para conter uma disseminação ainda maior da pandemia, e a proibição das práticas esportivas é uma delas.

Pensando em ajudar os atletas de alto rendimento a aprimorar suas formas físicas, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) planeja levar alguns esportistas à Europa nos próximos meses, para treinar com foco nos Jogos Olímpicos de Tóquio, que acontecerão no próximo ano. Nesta quinta-feira (18), a entidade detalhou o plano, nomeado de "Missão Europa", que por enquanto contempla 207 atletas de 15 modalidades. O vôlei não foi incluído na lista inicial, mas poderá ser acrescentado futuramente.


Apesar de estar longe das quadras, Tandara conseguiu manter-se ativa durante a quarentena. Ela considera-se "privilegiada" por dispor de um amplo espaço em sua casa, com academia e acompanhamento profissional, o que possibilita a realização de treinamentos físicos. Ainda assim, sente falta do contato com a bola e brincou que pode ter desaprendido a manejar seu material de trabalho.

"A gente tá no momento bem incerto, porque a gente não sabe quando vai voltar, dependemos de muita coisa pra isso (retornar). Confesso que nas duas primeiras semanas (de quarentena), eu falei: 'Ufa, tô tranquila, tô de férias, vai passar rapidinho'. Mas acabou sendo uma coisa muito mais séria e, hoje, eu realmente estou com saudades de fazer aquilo que eu melhor sei fazer", disse a brasiliense.

Para Tandara, uma boa preparação mental está sendo fundamental para lidar com esse momento. "É difícil ficar em casa o tempo todo, porque nossa vida é muito corrida. Eu venho vendo notícias de esportes, que vários atletas estão entrando em depressão. A gente sabe o quão ansioso nós ficamos em relação a isso (não treinar), mas eu tô aqui tentando me reerguer e continuar dentro do meu trabalho, pra que toda essa ansiedade e todo esse nervosismo não me pegue", falou.

A oposta confessou que ela mesmo está tendo que enfrentar com uma ansiedade diária "A palavra que me resume hoje é ansiedade, porém eu tenho que ter um cuidado muito maior, porque minha ansiedade me faz comer, então eu fico desesperada e estou treinando dobrado praticamente", revelou.

Tandara é um dos principais nomes da seleção brasileira (Divulgação/FIVB)
Pensando em Tóquio, naquela que deve ser sua última Olimpíada da carreira, Tandara acredita que as forças poderão se embolar com o adiamento do evento e com a forma como cada país tem lidado com a pandemia. Nesse sentido, o Brasil sai prejudicado em busca de seu terceiro ouro olímpico. Em sua avaliação, "treinamento faz falta porque a gente joga o que a gente treina" e seleções como China, Rússia e Sérvia saíram na frente na busca do ouro, uma vez que já retornaram com os treinamentos.

Sobre o ciclo olímpico da seleção, Tandara conta que foi um período conturbado, principalmente falando especificando sobre si. Apesar de ter começado bem, com o título do Grand Prix em 2017, a equipe foi caindo de rendimento em 2018 e em 2019. No ano passado, a oposta sofreu com diversas lesões que a impossibilitaram de participar de boa parte da temporada.

Tentando espantar esse fantasma, a atleta contou que está "trabalhando dobrado" durante a quarentena para fortalecer seu físico e evitar novos problemas corporais. "Eu coloquei como objetivo que, se for pra machucar, que seja alguma coisa realmente séria, algo que não dê pra segurar", disse ela, que está tendo um intenso acompanhamento médico e técnico para ajudá-la nessa meta. 

E Tandara precisa estar bem em Tóquio, já que ela é uma das mulheres de confiança de Zé Roberto Guimarães. O técnico já disse anteriormente que aposta nela, em Gabi e Natália para serem os pilares da seleção na campanha rumo ao tricampeonato olímpico. Apesar de serem as principais jogadoras da equipe e integrarem o elenco brasileiro há um bom tempo, as três jamais jogaram um campeonato inteiro, devido às lesões que acompanham suas carreiras.


Os três pilares da seleção, segundo Zé Roberto (Lucas Papel/GE.com)
"Hoje eu me considero sim um dos pilares da seleção, e eu sei dessa responsabilidade. Sei o quanto serei cobrada e serei exigida para que isso aconteça, assim como a Natália tem ciência disso, como a Gabi também. Eu acho que tudo isso é trabalhado e a gente tem que lidar cada vez mais com essas situações pra gente conseguir colocar em prática toda aquela expectativa que as pessoas colocam na gente", avaliou a experiente jogadora, de 31 anos.

Vitória na justiça
Tandara também falou pela primeira vez sobre sua conquista na justiça sobre o Praia Clube, em um processo que se arrastou por cinco anos -  a jogadora teve 99,5% de seu salário reduzido pelo clube de Uberlândia em 2014, quando ficou grávida de sua única filha, Maria Clara, hoje com 4 anos. O resultado foi divulgado na quinta-feira e a atleta será indenizada pelos mineiros, mas o valor pago pela condenação ainda será atualizado.

"Eu vejo um marco pra atleta mulher, não só pra classe esportiva, mas qualquer classe trabalhista. Se a justiça reconheceu, é porque eu realmente tinha razão e porque tinha direito. Mas também é complicada a situação, porque o meu meio de trabalho é muito restrito. Pioneira nisso, mas pode me complicar lá na frente. Eu estou feliz pela situação, mas eu confesso que estou um pouco preocupada.

"Tenho que esperar como os clubes e como as próximas atletas vão se comportar diante disso. Eu estou muito feliz, foi uma briga muito grande, de cinco anos. Graças a Deus deu tudo certo, eu espero que eu seja espelho pra outras mulheres, não só da classe esportiva, mas de qualquer classe trabalhista. A gente tem voz, sim, e podemos trabalhar, nos dedicar a nossa família e fazer o que a gente ama", disse a atleta.



A campeã olímpica ainda deixou claro que todo o trâmite judiciário foi feito por uma justa causa, excluindo quaisquer assuntos pessoais ou financeiros.

"Deixando muito claro que não é nada pessoal, não tenho raiva nenhuma de Uberlândia. Lá nasceu o meu bem maior, que foi minha filha, meu marido é de Uberlândia, eu tenho família lá. Nunca foi pelo dinheiro e sempre fui chamada de mercenária. O que me moveu e me fez seguir em frente com toda essa briga jurídica foi o amor que eu senti pela minha filha. Eu me sinto muito mais aliviada porque poucas pessoas sabem o que eu realmente passei nesses cinco anos".

Foto: Divulgação/FIVB


0 Comentários

.

APOIE O SURTO OLÍMPICO EM PARIS 2024

Sabia que você pode ajudar a enviar duas correspondentes do Surto Olímpico para cobrir os Jogos Olímpicos de Paris 2024? Faça um pix para surtoolimpico@gmail.com ou contribua com a nossa vaquinha pelo link : https://www.kickante.com.br/crowdfunding/ajude-o-surto-olimpico-a-ir-para-os-jogos-de-paris e nos ajude a levar as jornalistas Natália Oliveira e Laura Leme para cobrir os Jogos in loco!

Composto por cinco editores e sete colaboradores, o Surto Olímpico trabalha desde 2011 para ser uma referência ao público dos esportes olímpicos, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo.

Apoie nosso trabalho! Contribua para a cobertura jornalística esportiva independente!

Digite e pressione Enter para pesquisar

Fechar