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Brasil,100 anos olímpicos - Los Angeles 1984



Em mais uma Olimpíada com boicote, dessa vez comandada pela União Soviética, que alegou falta de segurança a eles e a maioria dos países que compunham o seu eixo socialista, o Brasil novamente foi com uma delegação recorde para os Jogos de Los Angeles em 1984, 52 anos depois da primeira participação olímpica brasileira na cidade americana. E dessa vez, o país fez bonito e conseguiu bater o recorde de medalhas conquistadas em uma Olimpíada: foram oito láureas, sendo cinco de prata, outro recorde. E mais ainda: Só em Los Angeles o Brasil conquistou um terço das medalhas que tinha conseguido em todas as suas participações anteriores.

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O grande destaque brasileiro nos Jogos foi Joaquim Cruz. O médio fundista de apenas 21 anos na época fez uma prova excelente na final dos 800m, conseguindo bater o britânico Sebastian Coe, grande nome da prova, com um sprint final memorável, que rendeu ao corredor a medalha de ouro e o recorde olímpico da prova. Essa vitória de Joaquim foi a maior margem para o segundo colocado nos 800m desde os Jogos de Amsterdã em 1928 e foi o primeiro ouro no atletismo desde Adhemar Ferreira da Silva no salto triplo em 1956. Foi, também,e o único ouro do Brasil em provas de pista do atletismo em Jogos Olímpicos.

Outro grande destaque brasileiro foi a seleção de vôlei masculino, a primeira do esporte em Olimpíadas. Vice-campeã mundial em 1982, a seleção foi a Los Angeles com status de favorita, já que os soviéticos, que eram os campeões mundiais, estavam fora da disputa. A Geração de Renan Dal Zotto, Willian, Montanaro, Bernard, Xandó e Cia foram responsáveis por uma verdadeira febre do vôlei no país naquela época. E com uma primeira fase irretocável, com direito a uma vitória de 3 sets a 0 nos donos da casa, Estados Unidos, acendeu a esperança do primeiro ouro em esportes coletivos do Brasil.


Mas ao reencontrar os americanos na final, o sonho acabou. Os americanos tinham se poupado na partida da primeira fase, e estudaram os brasileiros, que foram totalmente anulados na final, com um inapelável 3 sets a 0. Ficou a medalha de prata para o Brasil, metal que nomeou essa geração tão talentosa que abriria um caminho para o país virar potência mundial no esporte.

A segunda prata - e medalha inédita na modalidade para o Brasil - veio no futebol, que o COI e a Fifa se acertaram finalmente liberaram jogadores profissionais para participarem dos Jogos, mas apenas aqueles que nunca disputaram uma Copa do mundo. Vai entender...

No esporte em que o mundo nos via como os melhores, já que tínhamos três títulos mundiais, conquistávamos uma medalha pela primeira vez. E ela veio graças a um combinado de jogadores do Internacional de Porto Alegre - inicialmente seria um combinado de jogadores do Fluminense, mas os dirigentes cariocas preferiram excursionar pela Europa para faturar uma grana - acrescido de alguns jogadores de outros clubes comandados por Jair Picerni.


A apelida 'Sele-Inter' chegou à final no estádio Rose Bowl contra a França, em uma partida que teve mais 100 mil pagantes, recorde de público em partidas de futebol em Olimpíadas. O Brasil perdeu por 2 a 0 e ficou com a prata, mas dois jogadores daquela final voltariam a esse mesmo estádio para serem campeões mundiais dez anos depois: o goleiro Gilmar Rinaldi e o volante Dunga, capitão do tetracampeonato. Já o destaque em Los Angeles foi Gilmar Popoca, autor de quatro gols e eleito melhor jogador do torneio. 

A terceira medalha de prata veio com um prodígio da natação e outro destaque da delegação brasileira: Ricardo Prado. Com 19 anos, ele veio como favorito após ter quebrado o recorde mundial com apenas 17 anos. Ele já não detinha o recorde quando competiu em Los Angeles, mas ainda era um dos favoritos ao ouro. 'Pradinho' fez uma disputa emocionante na final dos 400m medley com o canadense Alex Baumann.

Especialista  no nado borboleta e costas, Prado sabia que teria que deixar uma boa vantagem para o nado peito, que era a especialidade do canadense, para decidir o ouro no nado crawl. O plano estava dando certo, mas Baumann foi espetacular no nado peito, ultrapassando o brasileiro, levando o ouro e quebrando o recorde mundial. Ricardo, que fez o melhor tempo da carreira, ficou com a prata e o recorde sul-americano. Um detalhe que quase ninguém lembra é que Ricardo Prado quase saiu de Los Angeles com duas medalhas, ficando em quarto lugar nos 200m nado costas, estilo que era uma de suas especialidades.

A quarta prata foi no judô, com Douglas Vieira, que só foi superado por Hyung-Joo na categoria até 95kg, em um confronto que teve que ser decidido pelo juízes após o fim do tempo regulamentar  (naépoca as lutas de judô só podiam durar 7 minutos). Foi o combate mais equilibrado do judô em Los Angeles. 


Douglas foi o primeiro judoca brasileiro a disputar uma final olímpica. O judô ainda conquistaria dois bronzes em Los Angeles, com Walter Carmona, que venceu na disputa do bronze Glenn Beauchamp (CAN) na categoria até 86 kg e Luis Onmura, que derrotou Densing White (GBR) na categoria até 71 kg. Esse foi o início de uma sequência vitoriosa no judô brasileiro, uma vez que, em todas as Olimpíadas seguintes, pelo menos um judoca sempre saiu com uma medalha no peito.

A quinta prata veio na vela, a terceira Olimpíada seguida que o esporte trazia medalhas. E ao lado de Daniel Adler e Ronaldo Senfft na classe Soiling, um dos maiores medalhistas olímpicos da história do Brasil ganhava uma medalha em sua primeira participação olímpica: Torben Grael, que comandou o barco brasileiro em dura disputa pela prata com o barco canadense, terminando em terceiro na rodada final.  Em Los Angeles, também tivemos a estreia olímpica do seu irmão Lars Grael ao lado de Glein Haynes, ficando em sétimo lugar na classe tornado.

Na trave!

Bateram na trave dessa vez João Batista Eugênio, que terminou em quarto nos 200m rasos. Por 0s4 o paraibano não superou Thomas Jefferson (USA) e acabou com a festa americana de ter todos os corredores do pais no pódio.

No remo, no ‘dois com’ vimos Ângelo Rosso, Valter Soares e Nilton Alonço, o ‘gauchinho’, também ficarem em quarto, cinco segundos longe do pódio, quase conquistando uma medalha que até hoje permanece inédita no remo brasileiro.

Delival Nobre ficou em quarto na pistola rápida de fogo 25 metros nos tiro esportivo, quase quebrando o jejum de 64 sem medalhas do Brasil no primeiro esporte em que o país brilhou em Olimpíadas. Delival - que era atirador nas horas vagas, pois ele é cirurgião plástico - terminou empatado com o terceiro lugar com o finlandês Rauno Bies com 591 pontos e acabou perdendo na rodada de desempate pelo bronze, por 146 a 141.

Estreias

O Brasil estreou em dois esportes também estreantes em Jogos Olímpicos: a ginástica rítmica, com Rosane Fávilla, que terminou em 24º lugar. Ela foi a primeira ginasta sul-americana a disputar a modalidade em Jogos Olímpicos. Já no nado artístico – na época, chamado de nado sincronizado – Paula Carvalho terminou em 13º lugar no solo e ao lado da irmã Tessa Carvalho, terminou em 11º nas duplas.

Eleonora Mendonça foi a nossa representante na estreia da maratona feminina nas olimpíadas. E quase que ela não conseguiu ir aos jogos, pois teve que entrar na justiça para que seu índice olímpico fosse aceito pela CBAt – Na época, ainda se achava totalmente temerário uma mulher correr uma prova de 42km. Ela terminou a prova em quadragésimo quarto, seis posições atrás de Gabrielle Andersen (SUI) que ficou famosa pela sua chegada praticamente sem forças que emocionou o mundo.

Decepção

O basquete masculino foi decepcionante. Após o ótimo quinto lugar em Moscou, a seleção, comandada por Renato Brito Cunha, bronze em Tóquio 64, não se encontrou em Los Angeles e foi eliminado na primeira fase. Logo após 1984, o Brasil entraria em uma ótima fase comandada pelo técnico Ary Vidal, conseguindo extrair o melhor dos cestinhas Oscar e Marcel, o que culminou na vitória histórica contra os Estados Unidos no Pan de Indianápolis.

Surpresa no tiro feminino

Sem qualquer apoio, Deborah Srour se tornou a primeira atiradora do Brasil em Jogos Olímpicos. Ela chegou a final da pistola 25 metros e terminou em uma excelente sétima posição, com 578 pontos, a cinco do pódio. Até hoje esse é o melhor resultado de uma atiradora brasileira em Olimpíadas.


Quadro de medalhas

Com uma medalha de ouro, cinco de prata e duas de bronze, o Brasil terminou na décima nona colocação entre quarenta e sete nações que conquistaram medalhas em Los Angeles.



fotos: CBAt, CBF e Acervo do jornal 'O Globo' (fotos de Aníbal Philot)

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