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Brasil, 100 anos olímpicos - Moscou 1980



Em 1980, o Brasil se aproveitou do boicote dos Estados Unidos e de mais de 60 países dos Jogos Olímpicos de Moscou, por conta da invasão da União Soviética ao Afeganistão, em 1979, para levar a maior delegação de sua história, com mais de 100 atletas e 15 mulheres - um recorde até então.
Mais uma vez, a estrela brasileira da edição foi João do Pulo, que estava em ótima fase com o bicampeonato pan-americano do salto triplo. Mas o que ele não contava foi o grande protecionismo dos juízes para os atletas da casa em sua prova.

Os soviéticos, sonhando com o tetra olímpico de Victor Saneyev, influenciaram bastante os árbitros da final olímpica do salto triplo. Tanto que João do Pulo e o australiano Ian Campbell tiveram dois saltos invalidados que foram bastante contestados. João teve todos os seus saltos invalidados após assumir a primeira posição com a marca de 17,22m. João chegou a saltar 17,40m, mas foi invalidado com a justificativa de que tinha pisado na linha. Lendas contam que, por conta da sua raiva, ele chegou a saltar acima dos 18 metros, mas também ele foi invalidado. No fim, Saneyev não conseguiu o tetra, foi prata, mas o ouro ficou com outro soviético, Jaak Uudmar. João foi bronze.

Depois, João ainda se qualificaria para a final do salto em distância, mas se machucou durante as eliminatórias e desistiu de disputar a final. Mas segundo alguns relatos da época, o atleta teria ficado tão chateado com a final do salto triplo que se desligou da delegação brasileira, indo para a França esfriar a cabeça. 

João do Pulo não pôde ter a justiça de conquistar um ouro olímpico quatro anos depois, pois ele sofreu um grave acidente de carro em 1981 onde após meses internado, perdeu uma das pernas, o que fez encerrar sua carreira precocemente aos 27 anos, morrendo em 1999. Em 2000, o jornal australiano 'The Sydney Morning Harald'  fez uma reportagem com declarações de árbitros daquela final, que diziam que pelo menos dois saltos legais de João do Pulo e do australiano Ian Campbell (AUS) foram anulados para ajudar Saneyev a conquistar o tetra olímpico, o que não aconteceu.


Ao menos a vela ajudou o Brasil a ter a melhor campanha da sua história até então, com duas medalhas douradas - outro feito inédito do Brasil em Olimpíadas - nos mares de Tallinn, hoje território da Estônia. Alex Welter e Lars Bjorkstrom (na foto acima de terno azul) – sueco naturalizado brasileiro - levaram o ouro na classe tornado vencendo regatas e indo tão, que na última regata só uma tragédia tiraria o ouro da dupla, o que não aconteceu, já que a dupla chegou na regata final em quinto garantindo o ouro e quebrando o jejum brasileiro de 24 anos sem medalhas douradas. 

Já a dupla Eduardo Penido e Marcos Soares foi medalha de ouro na classe 470. De apenas 19 e 20 anos respectivamente, e com muita experiência no windsurfe, os cariocas surpreenderam os favoritos, venceram duas regatas e o sexto lugar na regata final garantiu o ouro inédito. Por serem jovens, dupla ganhou o apelido de ‘Meninos do Rio’, por conta do filme brasileiro homônimo em voga na época.


A quarta medalha foi o bronze na natação, com o revezamento 4x200m livre formado por Cyro Delgado, Djan Madruga, Jorge Fernandes e Marcus Mattioli, em uma grande disputa com o revezamento da Alemanha Oriental e da Suécia. O quarteto ainda bateu o recorde sul-americano com o tempo de 7m29s30, NOVE segundos mais rápido do que o recode sul-americano feito nos Pan de 1979, recorde que levou 12 anos para ser quebrado. Essa também foi a primeira medalha olímpica do Brasil em um revezamento de qualquer esporte na história. 

Na trave!

O que não faltou foi modalidade em que o Brasil bateu na trave em Moscou. No atletismo, Agberto Guimarães resolveu abrir distância no início da final dos 800m e liderou metade da prova, mas não resistiu o ritmo dos adversários e ficou em quarto a 0.2s da medalha de bronze. Agberto ainda disputou outra final, no revezamento 4x400m, ao lado de Paulo Roberto Correia, Antônio Ferreira e José Pegado, onde o Brasil terminou em quinto.

No basquete masculino, o Brasil deu a sorte de ser convidado a participar dos Jogos por conta do boicote após não conseguir se classificar.  A geração de Oscar, Marcel e Cia, que tinha sido bronze no Mundial de 1978 e estreava em Olimpíadas, fez um bom papel em Moscou terminando em quinto lugar.

No boxe, Sidnei Dal Rovere caiu nas quartas de final da categoria pena para Krzysztof Kosedowski (POL), a uma vitória do bronze. Nos anos 90, Sidnei ficou conhecido ao se tornar comentarista de boxe na televisão. 

No judô, Walter Carmona quase repetiu feito de Chiaki Ishii em Munique, mas perdeu na disputa do bronze para Detlef Ultsuch (GDR) e ficou em quinto. Walter trabalharia duro para que a história fosse bem diferente quatro anos depois. 

Na vela, mais uma vez Claudio Biekarck ficou em quarto na classe Finn, repetindo o resultado de Montreal. Duas regatas em nono lugar acabaram com as chances de pódio do brasileiro.

Na natação, além do bronze conquistado no revezamento, Djan Madruga poderia ter saído com mais duas medalhas: Ele foi a final do 400m livre e dos 400m medley, mas falhou na sua melhor prova, os 1500m livre. Na final dos 400m, ficou a 0.20s de melar a festa dos soviéticos com um pódio só com os nadadores do país e nos 400m medley terminou em quinto. Djan, que garantiu sua medalha olímpica no revezamento 4x200m, superou o recorde de José Fiolo como o Brasileiro com mais finais olímpicas disputadas, cinco.

No vôlei masculino, vimos um bom quinto lugar e estreando em olimpíadas, nomes como Renan Dal Zotto, Montanaro, Xandó, Balhadoca, Amaury e na reserva de levantador Willian, um jovem Bernardinho. Estava plantada a semente da geração de prata em Moscou.

Estreias

O Brasil estreou no tiro com arco com Renato Emílio e Arci Kepner. Para Renato, essa estreia teve um gostinho especial já que em 76 ele tinha índice olímpico, mas não foi convocado por sua federação. Ele terminou em vigésimo sétimo e Arci, em vigésimo sexto.

Outra estreia foi em um dos esportes olímpicos que no futuro viria a se tornar um dos mais queridos dos brasileiros, a ginástica artística. A ginasta Cláudia Magalhães conseguiu chegar a final, terminando em 31º lugar. Já João Ribeiro terminou na 64ª posição.

Outra estreia foi no vôlei feminino – graças aos boicotes -, onde o Brasil acabou terminando em penúltimo lugar. Além dos ícones do vôlei feminino dos anos 80 Isabel e Vera Mossa, jogava sua primeira Olimpíada aos 18 anos a levantadora Jaqueline, que dezesseis anos depois brilharia no vôlei de praia como Jackie Silva e seria responsável ao lado de Sandra Pires como as primeiras mulheres campeãs olímpicas do Brasil.

‘Pradinho’

Na natação, fazia sua estreia em Moscou nas provas dos 400 metros medley e nos 100m costas, com apenas 15 anos, um menino paulista chamado Ricardo Prado, que quatro anos depois seria o grande astro do Brasil nas Olimpíadas de Los Angeles, na prova dos 400m medley.

Show na Vela

Além das duas medalhas de ouro e do quarto lugar na Finn, a vela brasileira teve uma atuação excepcional em Tallinn, que atualmente pertence a Estônia. Todos os barcos brasileiros que foram aos Jogos ficaram entre os 10 primeiros, sendo que a pior colocação foi de Eduardo de Souza e Peter Ezerberger na Star, um nono lugar. Bronze em 72 e 76, Reinaldo Conrad - na última participação olímpica da carreira - ficou em oitavo na classe Flying Dutchman ao lado de Manfred Kaufmann e os irmãos Gastão e Vicente Brun e Roberto uiz Souza ficaram em sexto lugar na classe Soling 

Quadro de medalhas

Com duas medalhas de ouro e duas de bronze, o Brasil terminou na décima sétima colocação, empatado com a Etiópia, que conquistou o mesmo número de medalhas. Trinta e seis nações conquistaram medalhas em Moscou.




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