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Com criatividade e disciplina, ginastas recriam rotina e permanecem focados em seus objetivos


Não é à toa que o mercado de palestras está escancarado há muitos anos a atletas, ex-atletas e treinadores. Acostumados desde a infância ao conceito de disciplina, o esportista é um ser adaptável por definição. Uma única frase do maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima é suficiente para exprimir a facilidade que essa categoria de profissionais apresenta para fazer, refazer planos - e segui-los: "Aprendi desde menino que tudo na vida a gente consegue com luta e dignidade: correr com as pernas, aguentar com o coração, vencer com a cabeça.”

Cada um a sua maneira, todos os ginastas que ouvimos bolaram estratégias para conservar a força física, fortalecer a mental, cultivar hobbies que ampliam o repertório cultural, solidificar laços familiares e de amizade e até desenvolver habilidades desconhecidas. Caio Souza foi além: observando o trabalho da mãe, que costura e passou a confeccionar máscaras de proteção respiratória, tornou-se ele próprio um fabricante desse material fundamental no combate ao covid-19. "Minha mãe está fazendo máscaras para vender. Desenvolvi com ela a ideia de confeccionar para doação às pessoas que mais necessitam. Não faço esse trabalho sozinho. Minha família inteira está ajudando, porque me propus a fazer muitas unidades, de forma a ajudar o máximo de gente possível. Doei cem máscaras para o Hospital São João Batista. Fiquei muito feliz por poder contribuir. Se precisar, vou fazer outras cem, milhares de máscaras para ajudar todo mundo que puder".

Se aprenderam há anos a condicionar os músculos para executar séries complicadas, o trabalho mental não fica atrás. Beneficiários do amparo criado pela evolução da psicologia esportiva, medalhistas olímpicos do quilate de Arthur Zanetti e Arthur Nory obviamente têm seus receios num contexto de incerteza para toda a espécie humana, mas têm suas ferramentas para enfrentar as adversidades. "Continuo fazendo o treino físico em casa, mas dou bastante ênfase ao treino mental. Foco bastante nisso não só para controlar a ansiedade, como também para dar continuidade à atividade de visualização dos movimentos da série. Dessa forma, o corpo entende que está fazendo aquele movimento, o cérebro reproduz o movimento no plano mental. Isso ajuda a reduzir a perda técnica", explica Zanetti, campeão olímpico em 2012 e vice quatro anos depois, sempre nas argolas.

A ginasta Rebeca Andrade cita a importância de manter a fé e de conservar o seu já costumeiro alegre estado de espírito. "Vivo cantando: no chuveiro, ao lavar a louça, ao arrumar a casa. E acho que a melhor coisa que a gente pode ter hoje é fé. Uso a minha, oro bastante. Também converso muito com os meus amigos, com meus entes queridos. Faço muita chamada de vídeo, vejo os meus sobrinhos, eles são muito lindos. Só de falar aqui já estou sorrindo de orelha a orelha".

Camila Gomes, que compete na ginástica de trampolim, deu um jeito de manter atividades profissionais - ela é nutricionista. "Consegui manter minha consultoria online e dedico algumas horas do meu dia para entrar em contato com os clientes", diz a atleta, que também capricha na meditação e fala praticamente todos os dias ao telefone com os pais.

Estar em isolamento nem sempre é sinônimo de solidão. Zanetti não dispensa nem mesmo a conversa com animais para manter o espírito leve. "Tenho em casa duas crianças de quatro patas, os meus cachorros. Agora a gente fica um tempinho maior com eles e pode brincar mais".

Caio se beneficia por morar em casa com amplo quintal, em Volta Redonda, e não hesita em manter o tônus muscular com um instrumento bastante conhecido por milhões de trabalhadores rurais brasileiros: a enxada. "Além de capinar mato e roçar, amasso e pinto paredes". Uma certa vocação de Professor Pardal vêm à tona em meio à crise sanitária numa rotina recriada com tantos afazeres. "Não fico parado de jeito nenhum. Fiz algumas coisas que me ajudam a treinar, como um taquinho, e estou terminando de construir um cogumelo, um aparelho auxiliar que me ajuda para treinar o cavalo com alças".

As atletas da Ginástica Rítmica, cada uma do seu jeito, também procuram utilizar da melhor forma aquilo que não deixa de ser um patrimônio: tempo livre. "Aproveito para estudar mais o inglês, ler livros, fazer estudos bíblicos e receitas com minha mãe", diz Nicole Pircio. Já Bárbara Domingos reserva um tempo especial para desfrutar da música e da dança, interesses compartilhados pela imensa maioria das praticantes de GR."Tenho ouvido música quase todos os dias e aproveito também para fazer um fitdance".

Camila enfatiza com clareza que o ginasta jamais poderá abrir mão de seguir uma rotina, mesmo que seja significativamente diferente em comparação com aquela dos saudosos tempos pré-covid-19. "Minha principal estratégia consiste na criação de uma rotina que consiga seguir todos os dias. Ter uma rotina faz com que os dias sejam mais normais, produtivos".

Foto: Ricardo Bufolin/CBG

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