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Coluna Surto Mundo Afora - Estamos em guerra e entramos para os livros de História


Por Bruno Guedes

Em meio ao caos causado pela Covid-19, a nossa geração se vê diante de um fato histórico que vai além do coronavírus. E, pouco a pouco, vai se dando conta disso. Trata-se do adiamento das Olimpíadas de Tóquio. Ocorrido apenas duas vezes na História e ambas por conta das Guerra Mundiais, o que vivemos atualmente entra para os livros de História.

O primeiro cancelamento dos Jogos Olímpicos aconteceu em 1916, no auge da Primeira Guerra Mundial. Eles aconteceriam justamente em Berlim, na Alemanha, uma das envolvidas no conflito. Á época, o evento tinha uma dimensão inferior a de hoje, entretanto, ainda assim, era considerada a maior competição esportiva do planeta. 

Por conta da expansão dos meios tecnológicos que começavam a ganhar corpo, a não realização ganhou repercussão nos jornais da Europa. Mas, envolvida em uma guerra até então nunca antes vista, com armas e crueldades além das conhecidas, o foco acabou sendo no aproveitamento dos espaços olímpicos para uso militar. 

Foi o caso do Daily Mirror em 12 de abril de 1916. Semanas depois de confirmado o cancelamento, o jornal levou aos seus leitores imagens do Estádio Olímpico de Berlim sendo utilizado para treinamento de novos soldados. À época, a dúvida maior era sobre como e onde seriam as próximas edições. E se haveria. O Illustrated Sporting and Dramatic News trouxe em 3 de junho daquele ano a fala do fundador das Olimpíadas na Era Moderna, Barão de Coubertin, dizendo que não via problemas da sua realização em 1920 em "algum lugar apropriado".

Este lugar foi na Antuérpia, Bélgica. Quatro anos depois os Deuses do Olimpo e os atletas voltaram a se encontrar. Porém, desta vez, já não como na Grécia Antiga. Se naqueles tempos as guerras eram interrompidas para os Jogos, no século XX foi o contrário. A chama da paz se apagou e o primeiro fato histórico estava escrito.

Exatamente 24 anos depois aconteceria novamente. E por duas vezes. As Olimpíadas de Tóquio (como acontece agora em 2020), datadas para 1940, e Londres, para 1944, foram canceladas. E o mesmo roteiro de terem como sedes países envolvidos com a guerra. Além das de Verão, agora também as de Inverno foram minadas, com o triste trocadilho, pela Segunda Guerra Mundial. Estas que teriam como locais de disputa Japão, Suíça e Alemanha de forma distribuída, quatro anos depois na Itália, respectivamente nos mesmos anos.

O maior conflito armado que a Humanidade já viu derrubou por terra qualquer argumento de "Jogos da Paz". Na década de 40, a cultura esportiva havia ganho dimensão bem maior por conta das transmissões via rádio e o cada vez maior acesso às comunicações. O cancelamento dos Jogos de 1940 ganhou uma repercussão negativa imensa e sinalizando que a guerra iniciada iria longe. Bem como agora, vários eventos foram, paulatinamente, sendo cancelados também. 

Os cancelamentos ficaram famosos por conta de vários atletas que disputariam as edições terem ido para o front de guerra. Muitos jogadores de futebol, velocistas e nadadores estiveram fardados e defendendo seus países. E em ambos os lados. Recentemente Louis Zamperini, atleta olímpico americano que foi feito prisioneiro após queda do seu avião no Oceano Pacífico, ficou famoso após sua vida ser retratada no filme "Invencível", dirigido por Angelina Jolie.

Mas desta vez é diferente de tudo. Tóquio 2020 caiu por terra por conta de uma guerra onde uniu toda a Humanidade - ou pelo menos parte dela, que sabe que a luta da ciência contra a Covid-19 é a verdadeira guerra. Foi um coronavírus quem derrubou a edição deste ano e os atletas do pódio temporariamente.

Se antes ouvíamos falar de fato histórico, agora vivenciamos da pior maneira. Assim como narramos momentos passados na coluna, futuramente outros farão. E vão se lembrar da História sendo escrita em 2020. Mas desta vez as praças esportivas não foram tomadas por armas e soldados, mas sim por macas e médicos.

Não há mais atletas indo para o front, mas sim confinados em casa e torcendo para que a guerra desta vez seja menos duradoura. A imprensa está em todo lugar. Até na palma da mão ou a um clique de todos. E diariamente as manchetes são alarmantes. Tais quais as das outras vezes.

Hoje lamentamos o adiamento dos Jogos Olímpicos e buscamos solução. Porém são os livros escritos pelas próximas gerações que vão revelar a face que vivemos agora. E quem agiu de forma correta ou não. Os nomes e seus agentes não serão esquecidos.

Foto: REUTERS

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