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Mural histórico de arena olímpica italiana é vandalizado por fãs de Patinação Artística



Um mural da arena Palavela, na cidade italiana de Turim, contendo assinaturas e mensagens dos atletas que participaram da Olimpíada de Inverno de 2006 foi desfigurado por pichações feitas por fãs de Patinação Artística que acompanhavam as finais do Grand Prix, realizadas no último final de semana. Com letras e rabiscos feitos com marcadores e crayons vermelhos, lápis e algum objeto afiado perfurante, os fãs escreveram palavrões e mensagens de repúdio tanto em inglês quanto em japonês contra a União Internacional de Patinação (ISU). O dano foi agravado por uma tentativa de apagamento e pode ser irreversível.

De acordo com depoimentos locais o incidente teria acontecido logo após a disputa do Programa Livre masculino, que consolidou a vitória de Nathan Chen, dos EUA sobre o bicampeão olímpico japonês Yuzuru Hanyu. Dois fãs jovens, de origem asiática—aparentemente chineses—foram encontrados na área onde fica o mural: um espaço de circulação restrita, onde o único acesso seria pelo setor VIP da platéia. Os indivíduos foram flagrados pela equipe de segurança através do circuito interno de TV, expulsos da arena e entregues à polícia. Um dos vândalos teria postado uma mensagem na rede social chinesa Weibo se vangloriando do ato, mas não se tem maiores detalhes sobre suas identidades ou se irão responder judicialmente pelos danos causados.

Assinaturas de atletas de diversas modalidades de inverno estão no mural. Entre as assinaturas visíveis na área depredada estão as dos patinadores de velocidade Evita Krievane (Letônia), Katalin Kristó (Romênia), patinadores artísticos Sergey Novitsky e Jana Khoklova (Rússia, dança no gelo), Elene Gedevanishvili (Geórgia, individual feminino), Zoltan Toth (Hungria, individual masculino), Karel Zelenka (Itália, individual masculino), Roxane Luca (Romênia, individual feminino), Idora Hegel (Croácia, individual feminino), dentre outras.

Também na área desfigurada estão assinaturas da medalhistas olímpicos: Carolina Kostner, italiana que ganhou bronze na Patinação Artística em Sochi-2014 e que em Turim-2006 fez sua primeira participação nos Jogos como a porta-bandeira da delegação local, mais as da ciclista e patinadora de velocidade búlgara Evgenia Radanova, medalha de prata nos 500 metros e do suíço Stepháne Lambiel, patinador artístico que assim como Radanova ganhou sua medalha de prata olímpica exatamente na arena Palavela, em 2006. Outra personagem de destaque que teve a assinatura no mural desfigurada foi a técnica canadense de Dança no Gelo Marie-France Dubreuil, que competiu como atleta em Turim-2006 e treinou nas Olimpíadas de PyeongCheng-2018 as duplas Tessa Virtue e Scott Moir (Canadá) e Gabriella Papadakis e Guillaume Cizeron (França), respectivamente medalhas de ouro e prata. Dubreuil atualmente responde pelas três duplas que ganharam todas as medalhas no Grand Prix de 2019 e estava presente na área de aquecimento e treinos do recinto enquanto acontecia a depredação do mural na área restrita.

O ato de vandalismo é mais um episódio das ações hostis feitas por partes do público que desde a adoção do novo regulamento em 2018 vem acusando a ISU de corrupção e de fazer julgamentos parciais, visando favorecer competidores das federações dos EUA e Europa em detrimento de federações asiáticas. A maior parte dos protestos aconteceu até agora nas redes sociais da internet, como criação de perfis voltados exclusivamente para apontar supostos erros de arbitragem e a ocorrência cada vez mais frequente de ataques coletivos a perfis pessoais de atletas e treinadores. Agora, a desfiguração do mural de Palavela aparece em conjunto com a exibição de inúmeras faixas com os dizeres "julgamento injusto" durante a execução do hino dos EUA na cerimônia de entrega de medalhas do individual masculino como as primeiras manifestações físicas desses protestos, e podem levar a ISU a um endurecimento das medidas de segurança nos recintos de competição.

Os maiores perfis e grupos de protesto contra a ISU nas redes são compostos quase exclusivamente pelos chamados "Fanyu": fãs extremamente radicalizados do bicampeão olímpico Yuzuru Hanyu, que são suspeitos tanto do incidente em Turim quanto também de terem sido os responsáveis por um bilhete com ameaças dirigido à patinadora russa Evgenia Medvedeva—colega de treinamento de Hanyu no Toronto Skating Cricket and Curling Club do Canadá—durante shows realizados no Japão em junho último. Membros dessa torcida radical, sobretudo nas redes Twitter e Weibo, reagiram de modo bastante irritado às mensagens exibindo o mural depredado e às acusações: alguns desses torcedores alegaram que os atos seriam obras feitas pelas torcidas rivais para incriminá-los, enquanto outros chegaram até mesmo a dizer que o vandalismo seria justificável ante a alegada corrupção da ISU e a pregar o uso de violência física contra os árbitros.

O público que protestou contra os julgamentos da ISU neste final de semana, e que pode estar envolvido na depredação em Turim dirigiu a maior parte de suas pesadas críticas ao vencedor, Nathan Chen. Os torcedores revoltados alegam que as notas do norte-americano tem sido sistematicamente inchadas, sobretudo após a adoção do novo regulamento da Patinação Artística em 2018 que prevê graus de execução mais extensos, dados de modo essencialmente subjetivo, e isso explicaria a diferença de 44 pontos de vantagem que Chen obteve sobre Hanyu na soma final. Mas ironicamente, uma das vozes mais expressivas na defesa da atuação vitoriosa de Nathan Chen foi justamente Yuzuru Hanyu, que durante toda a final do Grand Prix não poupou elogios ao rival, pediu aplausos para Chen quase o tempo todo e o classificou como uma grande inspiração e motivação para continuar competindo. O bicampeão olímpico e o agora tricampeão do Grand Prix conversaram muito durante os treinos para a apresentação de gala realizada no domingo, exibiram ótima disposição e no final do evento trocaram um abraço caloroso, demonstrando que pessoalmente entre eles não há hostilidades.

Foto:Twitter

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