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Mundial de Esgrima 2019 - Dia 4: A Fênix reerguida - Nathalie Moellhausen coroa carreira com título mundial inédito para o Brasil



Em 2012, aos 26 anos, Nathalie Moellhausen já tinha uma carreira muito bem-sucedida. Entre suas principais conquistas estava a de campeã mundial por equipes pela Itália no Mundial de 2009, bronze individual em 2010 e novo bronze, agora em equipes no ano seguinte. Ao ser escalada como reserva no time italiano que foi para as Olimpíadas de Londres, pensou que seu tempo na esgrima tinha chegado ao fim e resolveu dedicar-se aos estudos e à carreira pós-esportista. 

Mal ela sabia que tinha sido apenas uma pausa, talvez fundamental e que culminaria na maior consagração até então de sua carreira: Nesta quinta-feira, 18 de julho, aos 33 anos, representando o Brasil há cinco anos, Nathalie foi coroada – ou corou-se, melhor dizendo… – campeã mundial no Florete, no Mundial de Esgrima de Budapeste. O triunfo pessoal é também o triunfo de uma nação: foi a primeira medalha e título na história da esgrima brasileira em mundiais. 

Isso provavelmente não estava nos planos no fim de 2013. Durante seu ano sabático das competições, ela assumiu a direção artística do evento de gala dos 100 anos da Federação Internacional de Esgrima. Segundo sua carta aberta à Federação Italiana de Esgrima, "uma experiência trabalhista que mudou minha vida" e o modo dela ver e refletir sobre a esgrima e até hoje ela coordena as principais festas e em eventos da FIE. O convite para representar o Brasil, pátria de sua mãe, lhe encheu de esperança não só de participar de novos Jogos Olímpicos – na época o país não tinha nenhuma espadista no top100–, mas de colaborar com a Esgrima Nacional.

Ao contrário de outros atletas que vieram para jogar os Jogos Olímpicos pelo Brasil, Nathalie fala português fluente, apesar de morar e treinar em Paris há doze anos vem ao Brasil regularmente para participar dos torneios do circuito nacional – como já fazia quando criança –, e foi bem recebida pela comunidade esgrimista nacional. A consagração ficou no quase em 2016: ela perdeu para a francesa Lauren Rembi nas quartas-de-final, ou para "mim mesma", como comentou numa entrevista de 2017.

Alguns dias depois da final de Wimbledon, em que o seu ídolo esportivo Roger Federer ficou no quase para levar o que seria o maior título de sua carreira, Moellhausen rejeitou o ganhou quase várias vezes durante o dia, para sempre triunfar no fim. Foi uma campanha difícil, mas a esgrima é um esporte em que não dá para descansar ou pensar muito na adversária. Nesta quinta-feira, ela venceu seis disputas em um período de apenas oito horas.





Ela entrou em pista na manhã deste 22ª melhor do mundo e saiu como Campeã Mundial e quarta no ranking. A primeira vitória contra Renata Knapik-Miazga (POL, 47ª) a botou no caminho da nona melhor do mundo, Zhu Mingye (CHN, 9ª), que não foi páreo para Nathalie: um triunfo por 15-10 deixou claro que ela estava num bom dia. Uma vitória muito apertada (15-14) contra a italiana, Alberta Santuccio (29ª) deixou a medalha muito perto, o que seria uma medalha inédita para a esgrima brasileira.

Uma medalha inédita na modalidade para Luxemburgo ou Brasil seria decidida na quartas-de-final entre Moellhausen e Lis Rottler-Fautsch. O placar de 10-10 seria desempatado no "combate de ouro". A luz vermelha pareceu ter sido o fim do sonho de Nathalie, mas houve uma reclamação por parte do técnico brasileiro. A decisão foi para a arbitragem de vídeo – ou VAR, como os muitos brasileiros que estavam acompanhando emocionados pelo canal no Youtube da FIE chamaram no Twitter. Deu certo e o combate voltou, desta vez com a luz verde de Nathalie, nos últimos segundos, disse que o sonho dela poderia continuar. O Brasil que já tinha conquistado duas medalhas em mundiais cadetes, marcava presença assim em seu primeiro pódio de mundiais adultos.

Na semifinal, Kong Man Wai Vivian (HKG), terceira melhor do mundo e já líder do ranking, era a única top10 na disputa, em uma competição marcada por surpresas. Nathalie, porém, não fez valer o ranking e deixou claro que o dia era seu. No último tempo, Nathalie embalou de 8-8 para 13-9 e conseguiu administrar a vitória até o final. 

A um toque do ouro
Com a prata garantida, Nathalie entrou em pista contra a chinesa Lin Sheng, número 13 do mundo, com uma feição muito determinada, o que foi prontamente destacado pelos comentaristas oficiais da FIE. O primeiro tempo mostrou duas atletas bem nervosas, se estudando, o que é uma característica de forma geral da espada, arma tática da Esgrima, em que cada toque conta como ponto, então é fundamental tocar sem receber o contra-toque. 

Nathalie conseguiu uma vantagem importante de 4-2 com um minuto e meio de disputa. As duas trocaram bons toques e o primeiro tempo terminou com 5-3, com uma aviso por falta de combatividade, faltando 7 segundos. Lin ganhou prioridade, o que daria ponto em caso de ataque simultâneo por um minuto, o que a chinesa aproveitou para eventualmente virar e marcar 7-6. Faltando 1:22 minutos no segundo tempo, Nathalie após ter empatado com um ótimo arresto, tropeçou na adversária, levando cartão amarelo. O que parecia ter alterado um pouco seu espírito não se concretizou. Um final de segundo tempo em banho-maria viu Nathalie tomar a liderança por 8-7.

No último tempo, com três minutos de combate até a decisão, Nathalie quase tropeçou novamente, mas continuou a manter-se firme para seguir na vantagem até 11-10. Faltando apenas um minuto, Lin conseguiu um ótimo ataque, que deixou tudo igual: 11-11. Apenas um ataque simultâneo marcou o final nervoso entre as atletas e o 12-12 significou que a decisão foi para o combate de ouro, de um minuto. 

O sorteio indicou que Nathalie teria a prioridade, o que significa que ela poderia chamar para um simultâneo. Não bastou para ela, que em um lindo flèche sagrou-se campeã mundial com enorme beleza, ponto digno de entrar para a história da esgrima brasileira. Depois, o rosto e o corpo que ficou tão bem concentrado durante todo o dia desabou em pista e o choro veio rápido, assim como um beijo em uma tatuagem na mão, homenagem ao seu pai, recentemente falecido.

Abaixo segue o momento logo após o fim da luta:
Para completar, festa completa com o time brasileiro do lado da pista, que celebrava um momento que ficará para sempre marcado na modalidade do país e jogou ela no ar, comemoração tradicional no esporte. Nathalie, que depois da Festa de Gala em 2013, segue como diretora artística da FIE e cuida de todo o espetáculo visual das competições da esgrima, na tentativa de transformar em um esporte mais popular e atrativo, fez mais do que seu trabalho: suas imagens transbordadas de emoção são os ingredientes perfeitos para deixar cada vez mais a esgrima popular no país.

Dia também de medalhas no sabre masculino
Se a espada feminina foi cheia de emoções, a competição de sabre masculino que aconteceu concomitante viu favoritos e figurinhas conhecidas chegarem nas fases finais. O sul-coreano Oh Sang-uk, número 2 do mundo, vencedor da Universiade há algumas semanas e já com dois ouros em campeonatos mundiais de equipe coroou seu bom momento com o título mundial em vitória diante do húngaro András Szathmári, campeão mundial em 2017.

As medalhas de bronze foram para Luca Curatoli (ITA) e Montava Abedini, que garantiu a primeira medalha da história do Irã em campeonatos mundiais. Os embates em Budapeste continuam nesta sexta-feira, com as disputas da Espada Masculina e Florete Feminino, em que Ana Beatriz Bulcão enfrenta a japonesa Sera Azuma, a partir das 5:40, horário de Brasília.

Foto: #BizziTeam / Federação Internacional de Esgrima/ Reprodução

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