Poucos atletas têm sua história tão atrelada à
história de uma modalidade como Emanuel e o vôlei de praia. O paranaense
de 42 anos se despediu oficialmente das areias durante o Grand Slam do
Rio de Janeiro da Etapa do Circuito Mundial de Vôlei de Praia, na arena montada na Praia de Copacabana, mesmo local dos
Jogos Olímpicos deste ano, os primeiros sem a participação dele desde
que o esporte entrou no programa, em Atlanta 1996.
Na sexta-feira, ele e
o parceiro Ricardo foram eliminados do torneio na repescagem, contra a
dupla chilena Marco e Esteban Grimalt, mas isso não o impediu de subir
ao pódio no domingo (13). Não para receber uma entre as mais de
150 medalhas que colecionou na carreira, mas para ser homenageado.
O ministro do Esporte, George Hilton, entregou uma placa
ao multicampeão, que ainda ganhou homenagens de patrocinadores e da
Confederação Brasileira de Vôlei (CBV). Os parceiros de Emanuel nas
medalhas olímpicas, Ricardo (ouro em Atenas 2004 e bronze em Pequim
2008) e Alison Cerutti (prata em Londres 2012), além do primeiro
companheiro na carreira, Aloísio, presentearam o amigo com um quadro
contando a trajetória dele no vôlei de praia.
Emanuel retomou a parceria com Ricardo para tentar a vaga
nos Jogos Rio 2016, mas a dupla não conseguiu ficar entre as duas
melhores do Brasil no Circuito Mundial do ano passado e as vagas foram
para Alison/ Bruno Schmidt e Pedro Solberg/ Evandro. Sem um grande
objetivo próximo, o “Rei” das areias decidiu encerrar a carreira.
“A minha grande motivação é ter um objetivo grande e
quando terminou o objetivo de ir para as Olimpíadas, o outro grande
objetivo seria só o Mundial de 2017. Eu teria que me preparar mais um
ano e estaria com 44 anos. Essa foi a grande decisão, saber que eu não
teria a paciência para me motivar mais um ano para um grande evento”,
confessou Emanuel, que estava acompanhado dos pais, dos dois filhos e da
esposa Leila, ex-jogadora de vôlei (quadra e praia).
Respaldo
O apoio em casa, segundo o campeão olímpico, foi
fundamental para que ele tivesse mais estabilidade emocional neste
momento. “A participação da Leila foi plena, porque ela teve a
experiência em 2008 quando parou de jogar. A gente trocou muita ideia
sobre isso. A mulher tem esse lado mais emocional, os homens pensam de
forma mais racional, pragmática, então ela me falou sobre essas emoções
que iriam acontecer agora. Ela me preparou, foi o meu pilar de
sustentação, por isso posso dizer que estou seguro emocionalmente”.
A decisão de parar de jogar profissionalmente de Leila foi
de repente, enquanto Emanuel vem pensando na aposentadoria há anos,
como contou a ex-jogadora e secretária de Esporte do Distrito Federal.
Para ela, o marido se preparou para este momento e para assumir outras
funções fora das quadras. “Ele é uma pessoa amada e respeitada.
Construiu uma história muito bacana e agora vamos seguir em frente”,
projetou Leila, que nas conversas em casa antecipou algumas situações
para o campeão olímpico.
“Falei uma coisa para ele, que vi acontecer aqui. Tenho
certeza de que ele se lembrou dessa conversa. Quando você é atleta, não
entende e nem tem tempo para pensar o quanto você impacta na vida dos
outros. As pessoas não acham que isso vai acontecer, mas no dia que
acontece, elas querem se manifestar, mostrar o quanto você é importante.
E foi o que disse para ele: ‘quando você parar, vai entender quem é
você, o quanto você contribuiu’. É o que está acontecendo aqui. Tenho
muito orgulho dele”, relatou.
O carinho dos fãs e da família, o respeito dos amigos e
autoridades do esporte foi demonstrado o tempo todo na arena montada em
Copacabana. Parceiro de Emanuel por dez anos, Ricardo recebeu com
surpresa a notícia dada pelo amigo. “Ninguém esperava que ele fosse
tomar essa decisão, mas foi uma decisão pessoal e a gente tem que apoiar
e respeitar. Ele sempre se programou bem durante a carreira e acho que
ele já estava se preparando para esse momento”, disse.
O amigo considera as vitórias na Copa do Mundo de 2003, no
Pan-Americano de 2007, ambas no Rio, e a medalha de ouro em 2004, como
as mais brilhantes da dupla. Ainda sem ter conversado muito com Emanuel
sobre o assunto, Ricardo afirmou que quer vivenciar este momento ao lado
do ex-companheiro de areia antes de buscar uma nova parceria. “Não quis
misturar as coisas. Tentei vivenciar o momento e curtir da melhor forma
possível, porque é especial para o nosso esporte e principalmente para
mim”.
Quem também vai sentir falta do convívio diário com o
esportista nos últimos sete anos é a treinadora Letícia Pessoa. “Fica
uma saudade imensa”, confessa, antes de revelar novos planos para um
trabalho conjunto. “Agora treino dois garotos mais novos e ele vai fazer
umas consultorias para mim”. Na opinião da técnica, o contato com os
jovens e o exemplo de carreira serão os legados que Emanuel deixará para
a modalidade. “O que vai ficar de legado são os garotos mais novos
verem o que ele fez para chegar aonde chegou. Isso é importante para o
vôlei de praia”, disse Pessoa, para destacar o que, para ela, é a marca
do ex-jogador: “Nunca desistir”.
Outra marca de Emanuel é a influência. O depoimento da
tricampeã olímpica Kerri Walsh, uma das principais estrelas da
modalidade, ajuda a traçar essa dimensão. "Vou sentir muita falta dele. Na homenagem, se eu e a April não estivéssemos aquecendo (para a final do Grand Slam, que as duas ganharam),
eu estaria chorando. Ele significa muito para mim e para este esporte,
estou orgulhosa de ter jogado durante a 'Era' do Emanuel. Ele é uma
lenda, é eterno, aprendi muito com ele jogando e com o comportamento
dele fora da quadra. É um homem de família, que luta pelos sonhos. Eu
respeito ele por muitos motivos", afirmou.
Futuro
Antes de assumir outras funções, Emanuel quer diminuir o
ritmo de vida próprio de um atleta, como parar de acordar às seis da
manhã com vontade de treinar. “Acho que vou precisar de uns dois meses
para diminuir isso, entender que sou uma pessoa normal de novo, uma
pessoa que pode ter os dias mais tranquilos, dormir mais”.
Além do trabalho de consultoria junto à treinadora,
Emanuel pretende atuar mais na Comissão Nacional de Atletas, órgão
vinculado ao Ministério do Esporte para que os esportistas participem da
formulação de políticas públicas para o setor. “Emanuel é um grande
ídolo de todos nós que amamos o esporte, em especial o vôlei de praia.
Ele vai iniciar uma nova etapa e vai me ajudar muito, principalmente por
fazer parte da Comissão Nacional de Atletas. A ideia é que a gente
possa massificar cada dia mais esse esporte pelas escolas e federações,
ou seja, trabalho redobrado para nosso eterno ídolo. O Brasil vai
continuar tendo muitas alegrias com ele”, destacou o ministro George
Hilton.
A CBV também quer aproveitar a experiência de Emanuel para
desenvolver a modalidade ainda mais pelo país. “Para nós é um dos
maiores ícones do esporte, com tantos títulos, mas principalmente pelo
caráter. Ele é diferenciado, vai ser importante para a Confederação.
Nosso intuito é trazê-lo para perto da gente. Ele já é membro do Comitê
de Apoio ao Conselho Diretor, mas queremos torná-lo funcionário nosso”,
revela Ricardo Trade, diretor executivo da entidade, que garante ter
feito um convite para Emanuel exercer uma função na Superliga de
Vôlei.
Foto: Ministério do Esporte
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