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Alexandre Loureiro/COB |
Bruno Fratus se despediu de sua gloriosa carreira na natação oficialmente na última quarta (11). E o medalhista olímpico recebeu, ao lado outros nomes como Rafael Silva 'Baby', Ágatha, Isabel Swan e Erlon Souza, uma bela homenagem pelos serviços prestados no prêmio Brasil Olímpico 2024. Em entrevista aos jornalistas presentes no coquetel da premiação, Bruno resumiu o sentimento de terminar sua carreira de alto rendimento na natação:
"O sentimento é de saudade. A gente nunca está pronto para este momento, é um debate interno muito longo, até conseguir de fato aceitar que tá na hora. Mas é um momento que traz uma sensação de gratidão muito grande, muito confortante, tendo a noção do que eu fiz o que pude. Todas as minhas lesões são o exemplo mais claro de não deixei nada na mesa e fui até onde que dava pra ir"
E após uma relação tão intensa de tantos anos com a natação, Fratus revelou que tudo que ele não quer mais é nadar em uma piscina, nem pra manter a forma: "Tô fora. Eu tenho um relacionamento extremamente tóxico com a natação e se eu não estou treinando para ser o melhor do mundo, não faz sentido para mim estar dentro d'água. " explicou.
Confira os outros tópicos da entrevista com Bruno Fratus, que falou sobre seu novo hobby, momento definitivo da carreira, o seu futuro e o que a natação precisa para atrair mais público e patrocinadores:
Novo esporte de Bruno Fratus
"Recentemente entrei no boxe, algo que tem me deixado bem humilde (risos), porque é um esporte que eles fazem aparecer fácil demais quando você assiste, mas é extremamente complexo quando você pratica. Ainda mais para alguém que vem de um esporte fluído e sem impacto como a natação, e aí ter aquela coisa de guarda alta, esquiva, absorver o impacto da pancada... mas é um esporte que tô apaixonado."
Momento que define a carreira
"O momento que define minha carreira seria ali em outubro, ou novembro de 2006. Foi quando fui com meu pai em uma agência de viagem, a gente morava em Natal (RN), e ele comprou uma passagem só de ida para eu ir treinar em São Paulo, lá no Pinheiros. Aquela passagem só de ida foi muito simbólica. Apesar dele deixar bem claro que se não corresse como o planejado eu ia ter minha casa para voltar e aquele momento ali acho que definiu minha carreira. Tudo que veio depois dali foi fruto de trabalho e de ensinamentos dos meus pais, valores que foram introduzidos a mim quando criança e fui aplicando isso de maneira prática em minha vida."
Jone Roriz/ COB |
Teve que fazer sacrifícios na carreira?
"Essa foi a vida que eu escolhi, a vida do esporte. Quando se fala em sacrifício em prol da vida do esporte... Não acho que seja sacrifício fazer algo que vai me levar a um pódio olímpico, a esse respeito, a essa admiração que tô recebendo hoje (dia do Prêmio Brasil Olímpico), algo que realmente chega a emocionar. A vida fora da piscina continua a mesma, de um cara que acredita que a gente vive em um mundo prático, que acredita na ética de trabalho, na seriedade, que tem uma tomada de decisão baseada no que acha que é certo, em intuição, em hombridade, em respeito ao próximo, os valores que eu aprendi no esporte. A vida continua igual, mas agora o objetivo não é cruzar a piscina mais rápido do que o coleguinha do lado. Os objetivos são outros agora"
Bruno Fratus comentarista?
"Tô querendo, mas tô querendo fazer de uma maneira diferente. Não sou formado em jornalismo, acredito que minha área seja diferente, porque eu busco algo voltado para o entretenimento esportivo, algo que tem sido bem legal, mas ao mesmo tempo falando do esporte com informação e seriedade, porque tem muita transmissão que você acaba vendo e virando uma farra às vezes. Quero ser informativo, com seriedade, mas com um lado menos jornalístico, algo como eu fiz em Paris, onde busquei humanizar a conquista, a derrota, relativizar o que cada conquista e que cada derrota queria dizer, trazer um pouco mais da pessoa que tá ali competindo e o que ela fez para chegar até ali, qual é o propósito por trás da medalha...enfim, trazer o fã do esporte mais próximo dos atletas. Você já viu que já tenho um plano, né? (risos)"
Modernizar o programa da natação?
"Eu ainda acredito que a gente precisa mudar o programa da natação. Tenho uma opinião polêmica, que muita gente dentro da natação concorda e muita gente discorda, mas acho que não tem mais espaço para nenhuma prova mais longa do que 400m metros na piscina. 1500m metros para mim, deveria ser um sprint de 1500m em águas abertas, que se beneficiaria com um programa mais extenso enquanto a natação se beneficiaria de um programa mais enxuto, com a entrada de um 50 (metros) estilos, com revezamentos 4x50 e menos daquelas provas de 15 minutos."
A Criação de ídolos na natação
"Eu acredito em focar a imagem da natação baseado no atleta, algo que a gente não vê ainda acontecendo nem aqui e nem no cenário internacional. Eu vejo a natação muito focada nas organizações e é aquele negócio, quando você vai em um jogo da NBA você não compra a camisa da NBA, você compra a camisa do Michael Jordan, do Lebron, do Steph Curry... A natação tem que focar na história do atleta, focar no desenvolvimento das rivalidades entre atletas... de novo, temos um plano!"
Sobre as conquistas na carreira
"Sei que a gente costuma definir carreiras esportivas pelos títulos, pelas conquistas, e hoje eu tendo tido muitas conquistas, não acho que seja hipocrisia dizer que tem coisas que valem mais do que os títulos. Os títulos são importantes para colocar o atleta em evidência, para dar relevância esportiva ao esporte, que é um dos poucos lugares que a meritocracia de uma certa forma funciona, na maior parte das vezes. Mas existem momentos que definem caráter, definem personalidade e esses momentos não são necessariamente medalhas"
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