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Surto Opina - Seleção de futebol masculino fora de Paris é perda generalizada para todo o ecossistema olímpico

Surto Opina - Seleção de futebol masculino fora de Paris é perda generalizada para todo o ecossistema olímpico
Foto: Joilson Marconne/CBF

Por Lucas Felix



Além de marcar o gabarito dos fracassos consecutivos da Seleção Brasileira de Futebol, agora envergonhada no outrora único bastião da resistência em que a camisa canarinha ainda exibia uma soberania orgulhosa na última década depois dos vexames em rigorosamente todos os Mundiais possíveis organizados pela Fifa, independente do gênero, da idade ou do piso em que a modalidade é praticada, a queda do time nacional no torneio pré-olímpico da América do Sul é um baque não apenas para a confederação que viu uma geração talentosa ser desperdiçada pelo técnico Ramon Menezes. Se trata de um problema também para o COB e as detentoras dos direitos de transmissão… Quando a equipe mais relevante do esporte de maior apelo no maior evento do planeta é uma ausência, não há vencedores do lado de fora do campo. Em alguma proporção, todos os envolvidos ficam menores do que poderiam.

O histórico de coberturas e audiências das edições anteriores dos Jogos Olímpicos desmente qualquer esboço de tese de que a lacuna deixada pelo futebol permita um reordenamento de espaço para outras modalidades nas transmissões televisivas. As tabelas, afinal, são feitas sob medida para minimizar os encontros entre os eventos de interesse para os principais detentores. Mesmo que a Globo e a Cazé TV não sejam exatamente análogas à NBC, os espaços deixados pela equipe da CBF - e que serão ocupados por argentinos e paraguaios - dificilmente irão trazer alternativas olímpicas competitivas do Time Brasil. Não faria sentido precisar dividir a tela (ou as lives) com eventos que se sustentam sozinhos, afinal. São ao menos 270 minutos de programação, contando os três jogos da primeira fase, que devem se voltar à programação habitual e não aos Jogos.

Mais do que a minutagem, a Olimpíada perde o seu teto. No Rio e em Tóquio, as finais do futebol contra, respectivamente, Alemanha e Espanha, renderam excelentes índices. Na edição carioca, a soma de Globo, Band e Record garantiu um índice superior ao registrado no acumulado da TV aberta em decisões da equipe principal, como a Copa das Confederações de 2013 e as Copas América de 2019 e 2021. Já na edição japonesa, mesmo com a bola rolando em Yokohama às 8h30 de um sábado, os números só não garantiram a maior audiência olímpica para Globo por causa de um dos jogos do vôlei de praia ter sido caprichosamente encaixado entre o Jornal Nacional e a novela das 21h.

Tanto público sendo trazido é a chance de reforçar em chamadas e flashes outras histórias dos Jogos que talvez não fizessem os mesmos milhões de brasileiros ligarem a TV. Como esporte coletivo, não custa lembrar que o futebol multiplica por 18 as individualidades para a identificação dos telespectadores. Talvez seja difícil para alguém de São Paulo ou do Rio de Janeiro entender como o Acre e a Paraíba viram as consagrações dos goleiros Weverton e Santos, por exemplo.

A monocultura esportiva no Brasil é evidentemente um vício histórico lamentável, mas mais do que aferível estatisticamente. E especialmente quando se trata de um megaevento, o dado mais eficaz é o de pessoas alcançadas. O futebol feminino e o vôlei (nos dois naipes) até podem suprir um pouco desse papel para a coletividade. Por mais que brilhem em todos os sentidos, contudo, ficará a perspectiva de que os seus bons números poderiam ir ainda além se não fosse o vexame dos comandados de Ramon em um quadrangular que envolveu Paraguai e Venezuela.

Assim como time, cobertura pré-olímpica também decepciona


Tal qual já havia feito no vôlei feminino, a Globo voltou a tratar a perspectiva de classificação de uma modalidade coletiva para os Jogos com destaque ironicamente menor do que em ciclos anteriores, mesmo que prometa um espaço maior para as competições na França. Ao contrário do Brasil x Argentina decisivo para vaga em Tóquio, que mexeu até mesmo com o Big Brother e a transmissão do Oscar, no último domingo não houve nenhum esforço para substituir o Domingão com Huck pela partida. O horário escolhido pela Conmebol, mesmo que ilógico na perspectiva esportiva, em nada afetaria as transmissões do Carnaval - sejam as locais realizadas mais cedo, seja a dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro iniciada só mais de duas horas depois do apito final na Venezuela.

É como se a rede se dedicasse a bombar a audiência nas semanas finais de suas novelas, porém resolvesse deixar alguns dos capítulos inéditos com os ganchos mais relevantes para esses ápices das tramas disponíveis apenas em seus canais por assinatura. O público até pode chegar adrenalizado pelo clímax, mas não em seu melhor potencial de quem já havia devidamente sido apresentado aos personagens.

Mesmo dentro do nicho do SporTV, a cobertura foi recheada de deslizes. A rotatividade de narradores e comentaristas nos jogos do Brasil pode ter sido uma opção eficiente para a equipe de recursos humanos harmonizar o clima na Barra da Tijuca, mas impediu a criação de uma identidade maior com o torcedor ao longo do campeonato. É incompreensível também que o envio de uma repórter para cobertura in loco, a excelente Gabriela Ribeiro, tenha acontecido somente no derradeiro jogo da competição. Apesar dos tempos de escassez econômica, o histórico recente (ainda) registra viagens de profissionais para destinos mais distantes em competições de menor apelo.

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