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Brasil e os 100 anos dos Jogos Olímpicos de Inverno: ATO - Necessidade de olhar para frente

Jaqueline Mourão durante uma prova do biatlo em Sochi 2014
Foto: AP

Por Brasil Zero Grau


O encerramento dos Jogos Olímpicos de Inverno de Vancouver, em 2010, colocou as pretensões do Brasil em uma encruzilhada. Os sonhos que levaram o país a disputar seis edições olímpicas consecutivas e conquistar um top 10 com Isabel Clark não se mostravam mais suficientes para garantir a presença brasileira em edições futuras. Era necessário mudar, mas o que precisamente? E seria um caminho novo sem o grande incentivador de outrora: Domingos Giobbi nos deixou aos 88 anos em 2013.

Este é o segundo texto do especial da história do Brasil nos Jogos Olímpicos de Inverno como parte da celebração do Surto Olímpico pelos 100 anos da primeira edição, em Chamonix, na França. Você pode conferir o prólogo da nossa história aqui neste link.

Sim, como toda grande história, chegou o momento do ponto da virada, o plot twist que consagramos como expressão na internet. O Brasil participou de seis edições olímpicas na base de sua pequena, mas mobilizada comunidade de neve, e pela atuação de abnegados no gelo que se sacrificavam em busca do sonho olímpico. Ideais nobres, sem dúvida, mas que nos anos 2000 precisavam ser complementados com iniciativas práticas. Ou seja, ações concretas de profissionalização e estrutura.

O ciclo olímpico rumo a Sochi 2014 marcou este momento de transição para uma consolidação dos esportes de inverno no país. A CBDN, por exemplo, criou uma estrutura administrativa que, hoje, é considerada referência em gestão esportiva. A CBDG, que passava por crise administrativa no fim de 2012, trocou de gestão e, em meio à corrida olímpica, também deu início a um trabalho focado a médio e longo prazo.

De forma resumida (e cada uma com suas próprias características), pode -se dizer que essas ações passavam por, entre outros pontos: 1) criação de processos de trabalho para otimizar a operação do negócio, garantindo mais planejamento em calendários e distribuição de recursos; 2) captação de talentos no Brasil e no exterior, observando atletas com dupla nacionalidade que possam incrementar a equipe; 3) tropicalização de treinos para que modalidades possam ser desenvolvidas, ainda que em partes, no Brasil.

Curiosamente, enquanto esse trabalho se iniciativa, os Jogos de Sochi registraram o atual recorde de delegação do Brasil: 13 atletas em 7 modalidades – um período de classificação que tudo deu certo para o país. Tivemos vagas inéditas na patinação artística (Isadora Williams), no biatlo (Jaqueline Mourão), no bobsled feminino (Fabiana Santos e Sally Mayara) e no esqui livre aerials (inicialmente com Lais Souza, substituída por Josi Santos após grave acidente de esqui sofrido pela atleta na véspera da convocação). Os esportes tradicionais também estiveram lá, como esqui alpino, esqui cross-country, além do retorno do bobsled masculino.


Isadora Williams brilhou em PyeongChang 2018
Foto: Abelardo Mendes Junior/Rede do Esporte


O melhor desempenho foi de Isabel Clark, que vivia, talvez, a melhor fase de sua carreira naqueles anos. Foi 14ª na classificação final do snowboard cross, mas não avançou à semifinal por uma queda na bateria das quartas. Maya Harrisson, no esqui alpino, também se destacou com o Top 40 no slalom, melhor resultado feminino do Brasil na modalidade.

O recorde de delegação quando o trabalho a longo prazo das duas confederações estava apenas começando foi o combustível que faltava para criar um ambiente melhor para os esportes de inverno no Brasil. O ciclo até PyeongChang reforça isso, com vários atletas atingindo seu ápice em diferentes momentos. Jaqueline Mourão, por exemplo, chegou a flertar com o índice A no esqui cross-country. Algo que Michel Macedo conseguiu pegar no esqui alpino. Isadora Williams se classificou com recorde de pontuação e direito a Top 5 no Troféu Nebelhorn – e o time de bobsled chegou a ficar na 17ª posição do ranking mundial.

Mas como o esporte não é uma ciência exata, o bom trabalho não conseguiu se provar em PyeongChang. Jaqueline Mourão não estabeleceu o recorde nacional do esqui cross-country em Jogos Olímpicos; Michel Macedo sofreu um acidente nos treinos, obrigando a desistir de duas provas e não completar as outras duas que participaria.

O time de bobsled, depois de ótimas sessões de treinos, foi traído por um aumento subido de temperatura na pista de um dia para o outro que derrubou a estratégia de lâminas do trenó. Já Isabel Clark, que se despediria do snowboard olímpico, sequer largou, com dores no pescoço decorrente de uma queda nos treinos e que agravou uma lesão sofrida semanas antes. De boa notícia apenas a passagem da Isadora Williams ao programa longo da patinação artística – primeira sul-americana a conseguir esse feito.


Nicole Silveira alcançou segundo melhor resultado do país em Jogos de Inverno na edição de Pequim 2022
Foto: Alexandre Castello Branco/COB

A boa notícia é que, diferentemente de outras épocas, não houve uma crise desencadeada pelos resultados abaixo do esperado na Coreia do Sul – apenas correção de rota. O trabalho de recrutamento e seleção de atletas continuava a todo vapor, com nomes que iriam brilhar em Pequim 2022, como Sabrina Cass no moguls, Manex Silva no esqui cross-country e Nicole Silveira no skeleton. Houve um aprofundamento em questões científicas, para potencializar treinos e preparação física. Além, claro, de aumentar a participação de atletas, criar uma comunidade de competidores presentes nas mais diversas provas.

Dessa forma, ainda que o recorde de delegação não tenha sido quebrado na edição de 2022 (dez atletas), a equipe chegou bem qualificada. É o caso, por exemplo, de Nicole. Em quatro anos ela passou de aprendiz de skeleton a 13ª colocada nos Jogos Olímpicos de Pequim 2022 – o segundo melhor resultado do país na história olímpica de inverno. O time de bobsled, após duas décadas, finalmente alcançou o objetivo de ser top 20.

Na neve, Manex surgiu como grande força do esqui cross-country, finalmente baixando o recorde nacional em Jogos Olímpicos. No feminino, Jaqueline Mourão ganhou a companhia de mais uma atleta (Eduarda Ribera, que substituiu Bruna Moura após grave acidente de carro na véspera da competição). Sabrina, ainda que não tenha alcançado o resultado que queria, colocou o nome do Brasil em mais uma modalidade.

O país se aproximava do centenário dos Jogos de Inverno cada vez mais consolidado – e respeitado – neste universo.



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