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Foto:COI/Gaspar Nóbrega |
Por Brasil Zero Grau
No último dia dos Jogos Olímpicos de Inverno de PyeongChang
2018, Stefano Arnhold, então presidente da CBDN e chefe da missão brasileira,
concedeu um rápido bate-papo aos jornalistas brasileiros presentes na prova do
bobsled. Falando sobre o snowboard e a renovação pós-Isabel Clark, ele
comentou: “Não acho que teremos alguém no snowboard na próxima edição em
Pequim. Nossa geração é para 2026 adiante”, comentou.
Ele falava especificamente dos irmãos Augustinho e João
Teixeira e de Noah e Zion Bethonico, na época ainda crianças e adolescentes que
não competiam no cenário adulto. Oito anos depois, Augustinho Teixeira quase
furou a previsão ao ficar na lista de realocações em Pequim 2022, Noah
Bethonico tornou-se campeão sul-americano antes dos 23 anos e Zion Bethonico
garantiu uma inédita medalha para o Brasil nos Jogos Olímpicos de Inverno da
Juventude Gangwon 2024.
É sintomático que a melhor participação da história do
Brasil em Jogos Olímpicos de Inverno da Juventude, com direito a pódio e vários
resultados top 10, aconteça no período que celebramos o centenário dos esportes
olímpicos de neve e gelo. É como se fosse uma lembrança a nós mesmos de que o
melhor está por vir.
Nos dois primeiros textos desta série, em que abordei
passado e presente do Brasil nos Jogos Olímpicos de Inverno, tentei mostrar que
aquilo que começou como uma aventura nos anos 1960, 1970 e 1980, precisou se
estruturar profissionalmente já nos anos 2000 para continuar em evidência.
Aquele trabalho de longo prazo iniciado pelas duas confederações (neve e gelo)
lá entre 2013 e 2015 começa a dar seus primeiros frutos.
A combinação entre tropicalização de treinos no Brasil e o
serviço de olheiros para recrutar atletas de dupla cidadania no exterior atrai
pessoas cada vez mais jovens para a delegação brasileira- permitindo que eles
possam evoluir muito mais ao longo do tempo. Nomes como Manex Silva, Eduarda
Ribera, Michel Macedo e Rafael Souza estão há tanto tempo nas suas respectivas
modalidades, mas não chegaram nem aos 30 anos ainda – alguns não passaram dos
25!
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Foto: Marina Ziehe/COB |
Com isso, cria-se a base necessária para que o Brasil possa, nos próximos anos, ampliar o número de atletas classificados e, claro, melhorar os resultados obtidos. É a lógica da proporcionalidade: quanto mais pessoas estiverem competindo e tentando a classificação olímpica, mais atletas conseguem a vaga.
Hoje, dos 16 esportes de inverno do programa olímpico
(incluindo o esqui de montanhismo), o Brasil tem representantes em 13 deles.
Apenas luge, combinado nórdico e saltos de esqui não contam com iniciativas
e/ou atletas brasileiros em competições internacionais oficiais. Mesmo aquelas
que nem podem disputar vaga olímpica, como é o caso do hóquei no gelo, há
projetos que buscam desenvolver a modalidade. E destas 13, pelo menos sete
delas têm chances reais de garantirem presença já na edição 2026 dos Jogos
Olímpicos.
Uma projeção otimista de atletas classificados em Milão e
Cortina d’Ampezzo poderia chegar facilmente a 20 nomes. Claro, é improvável que
todos consigam a classificação, mas é necessário salientar que uma projeção
pessimista atualmente colocaria ficaria em torno de nove atletas – e não mais
quatro ou cinco como era há vinte anos.
Evidentemente ainda há desafios a serem superados.
Historicamente, os esportes de neve e gelo recebem as menores fatias de
investimento público via Lei Piva (ainda que tenham deixado a lanterna nos
últimos anos). Isso faz com que a margem de erros seja mínima – para não dizer
nula, colocando pressão desnecessária em processos, atletas e modalidades. Um
cenário que não dá para mudar com apoio da iniciativa privada, igualmente
mínimo por não enxergarem nos esportes de inverno o potencial a ser explorado.
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Foto: Marina Ziehe/COB |
A baixa idade dos atletas também representa um perigo de abandono da carreira esportiva antes mesmo de sua consolidação no cenário adulto. Muitos trocam a adrenalina das competições com dinheiro curto pela praticidade de fazer o vestibular e seguir uma carreira mais estável. Não são poucos os jovens com potencial que simplesmente desistiram de competir por não conciliar estudos/trabalho com o esporte.
Por fim, encontrar e manter locais de treino no Brasil
acrescentam novos desafios à gestão do esporte, como logística, operação, entre
outros fatores. Não há dúvidas de que a Arena Ice Brasil em São Paulo, é um
centro que pode formar jogadores de curling, patinação e hóquei no futuro. Mas
manter todo aquele espaço requer muito mais do que boa vontade. Demanda
manutenção, cuidados com segurança e estratégias de divulgação/uso que
conciliem o lazer com o esporte de alto rendimento.
Em 32 anos de presença brasileira nos Jogos Olímpicos de Inverno, o país dá sinais claro ao resto do mundo que está em franca evolução. Se antes a presença de brasileiros era tratada como algo exótico e pitoresco, hoje as piadas e gracejos já dão lugar à admiração e ao respeito. E nessa toada, não há dúvidas de que daqui 100 anos, quando comemorarmos o bicentenário dos Jogos de Inverno, o Brasil será um país frequente nos quadros de medalhas da competição.
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