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Jornalista indiano nos explica decepção com o tiro em Tóquio 2020 e fala de expectativa por medalha no hóquei

Saurabh Chaudhary

Para quem segue ou realiza projeções de medalhas, uma das principais narrativas para os Jogos Olímpicos de Tóquio aparentava ser o surgimento da Índia como uma força importante na geopolítica olímpica. O nosso oráculo previu 2 ouros, 8 pratas e 8 bronzes, no que seria disparada a melhor campanha de sua história mas que não se concretizou até o momento. Até agora, atletas indianos tem apenas três medalhas garantidas. 

Não estivemos sozinhos nesta: Guilherme Costa, em sua tradicional projeção para o GE.com deu 4 ouros, 3 pratas e 6 bronzes. O país ganhou apenas 29 medalhas e 9 ouros em sua história. Oito destes títulos vieram com o hóquei sobre grama, e o outro com tiro: Abhinav Bindra na carabina de ar de 10m em Pequim 2008. 

O destaque negativo por enquanto ficou por conta do tiro esportivo, esporte em que o país tem vários líderes mundiais e outros atletas em destaque no ranking da Federação Internacional de Tiro. Para G Rajaraman, um dos principais jornalistas esportivos da Índia, o sistema de ranking da Federação Internacional de Tiro (ISSF) auxiliou os indianos, que disputaram muitas copas do mundo sem os principais atiradores internacionais, dando a ilusão de que eles iriam bem em Tóquio.
O que importa apenas é o que se consegue em Jogos Olímpicos. Não acho que os atiradores indianos estivessem mentalmente fortes para conseguir essa medalha. É um pouco decepcionante. Eles não tinham uma postura de número um do mundo e este não era o time que esperávamos.

Surte+ Parada das Nações: Índia

Enquanto na Rio 2016, a Índia conseguiu duas finais no esporte, a delegação indiana alcançou apenas uma, com o sétimo lugar de Saurabh Chaudhary (foto) na pistola de ar de 10m. Na Rio 2016, Abhinav Bindra, único campeão individual na história olímpica, ficou em quarto na carabina de ar 10m e Jitu Rai terminou em sétimo na pistola de ar 10m. Os dois atletas não se classificaram para Tóquio.

Eu não acho que se possa culpar o covid-19 ou a falta de preparação, porque mesmo na fase mais restrita, eles estavam treinando muito. Muitos atletas construíram estandes de tiro de 10 metros em casa ou mesmo tiveram permissão do governo para treinar e atirar.

Como alguém que conhece melhor o esporte local, Rajaraman previa três medalhas para a Índia no esporte, e "talvez um ouro". Segundo ele, os favoritos eram Saurabh Chaudhary na pistola, e os times mistos na pistola e carabina.


Mesmo fora do alvo no tiro, Índia tem alegrias

PV sindhu
(Pedro Pardo/AFP)


Apesar do resultado decepcionante no tiro na primeira semana, outros esportes podem dar muitas alegrias à Índia na Olimpíada de Tóquio, em especial atletismo, boxe e luta livre. Logo no primeiro dia de competições (24), Saikhom Mirabhai Chanu venceu o bronze nos 49kg do levantamento de pesos. O badminton, outro esporte muito popular na Índia, já ofereceu um bronze pela estrela P V Sindhu no individual feminino, se tornando a primeira mulher a vencer duas medalhas olímpicas na história. Lovlina Borgohain disputará a semifinal do boxe dia 4 de agosto e já tem ao menos o bronze na conta.


Rajamaran relatou o problema de Borgohain que contraiu covid-19 em outubro de 2020 mas se recuperou a tempo de participar e seguir viva no torneio, como uma das muitas histórias de percalços superados na delegação. Mirabai Chanu foi outra afetada diretamente pela covid mas conseguiu sair de Tóquio com uma medalha. Com dificuldades em conseguir achar locais próprios para o treino, ela conseguiu seu visto norte-americano no dia 1° de maio e no dia seguinte, os indianos foram barrados de entrar nos EUA.

Na luta livre do wrestling, Índia espera algumas conquistas. Deepak Punia foi vice-campeão mundial em 2019 dentre os 86kg, enquanto Ravi Kumar Dahiya (57kg masculino), Bajrang Punia (65kg masculino) e Vinesh Phogat (53kg feminino) levaram medalha de bronze no mesmo evento - Phogat em uma categoria abaixo. Anshu Malik é uma revelação de 19 anos e pode surpreender nos 57kg feminino.

Em busca de uma estrela

neeraj chopra
O país está ansioso por uma estrela do atletismo. As únicas medalhas no esporte vieram com Norman Pritchard, prata nos 200m rasos e 200m com barreiras em Paris 1900 - ele foi o único indiano no evento, antes da primeira participação oficial da então colônia britânica em 1920. Norman foi um dos pioneiros na transição de esporte para cinema, adotando o nome de Norman Trevor e atuando em Hollywood, onde faleceu em 1929.


Rajaraman lembrou que o atletismo indiano foi muito bem nos Jogos Asiáticos de 2018, mas em geral não conseguem transferir os resultados para os Jogos Olímpicos. A maior esperança é com Neeraj Chopra, no lançamento de dardo, que tem uma das melhores performances do ano. "Estamos esperando medalha, mas sabemos muito que depende do dia ou como o corpo responde, e se ele consegue fazer uma boa performance". Segundo o jornalista, Kamalpreet Kaur empolgou o país ao classificar-se em segundo lugar, com a marca de 64 metros, terminando em sexto lugar na final disputada nesta manhã.

O país do hóquei

Falar em Índia e não falar em hóquei é impossível. Conversamos com ele enquanto o time masculino da Índia se preparava para enfrentar o Reino Unido pelas quartas de final, no que tornou-se uma vitória histórica por 3 a 1 que colocou o time cheio de tradição numa semifinal pela primeira vez desde Moscou 1980, edição em que levou seu último de oito ouros e onze medalhas. O adversário será a Bélgica, atual campeã do mundo e vice-campeã na Rio 2016. Para Rajamaran, sua seleção está "jogando bem, (os jogadores) estão no controle do destino. Estamos muito ansiosos".

Nesta segunda-feira, o time feminino “que não esperávamos que conseguissem chegar tão longe”, como nos confessou Rajaraman, surpreendeu a Austrália e igualou o melhor resultado da história, o quarto lugar de Moscou 1980. É apenas a terceira vez que a equipe participa dos Jogos, depois da Rio 2016, quando ficou em último lugar. Ás 23h30 desta terça-feira, a Índia desafia Las Leonas. A Argentina busca um ouro olímpico inédito no hóquei sobre a grama feminino em Jogos Olímpicos.


"Nos Jogos Olímpicos, a Índia acompanha todas disputas de medalha, mas se formos ao pódio no hóquei será a maior medalha com certeza", explicou o jornalista que completou: "somos um povo emocional e amamos nosso hóquei, é o mesmo sentimento do Brasil medalhar em futebol".

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