Érica já tinha recebido duas punições dos árbitros e estava "pendurada". Na marcha atlética, quando uma atleta recebe três punições - por dobrar o joelho ou por não ter uma das solas do pé no chão -, ela precisa fazer uma espécie de "stop and go", ficando parado por dois minutos para depois voltar a competição. A partir da quarta punição, a corredora é excluída.
A brasileira recebeu a terceira punição já a cerca de 1km para o fim da prova, mas só foi notificada na reta final, quando faltavam menos de 200m para o fim. Ela estava em terceiro lugar, com mais de 15 segundos de margem sobre a quarta colocada, e ainda brigava pela segunda posição. Após cumprir a suspensão, desolada, ainda voltou a disputa para terminar na 11ª colocação.
A italiana Antonella Palmisano conquistou o título, marcando 1:29.12, seguida pela colombiana Sandra Arenas, com 1:29.37. A chinesa Liu Hong ficou com o bronze, com 1:29.57. A brasileira concluiu a prova com 1:31.39, já considerando os dois minutos descontados.
A Itália fez a dobradinha na marcha atlética 20km, também tendo vencido a prova masculina (Foto: Feline Lim/REUTERS) |
Vale lembrar que esta não foi a primeira vez que Érica foi punida em uma grande competição. Nos Jogos Pan-Americanos de Lima, em 2019, ela liderou praticamente toda a prova, mas acabou precisando parar no 16ºkm. Quando retornou ainda conquistou a medalha de bronze.
"A marcha é muito injusta porque é subjetiva. Não entendi até agora porque fui punida. Estou entre as melhoras atletas do mundo e nunca fui punida", disse a atleta à época, afirmando que quase desistiu da prova. Em Tóquio, ela estava desolada e passou direto pela zona mista, sem falar com a imprensa.
Quarta colocada no Mundial de 2019, Érica foi sétima na Rio-2016. Caso confirmasse o bronze - ou a prata em Tóquio - esta seria a segunda medalha olímpica do Brasil em provas de rua do atletismo, a primeira entre as mulheres.
A prova
Competindo de forma solitária, como a única brasileira na prova, Érica Sena tomou a iniciativa e logo se anexou ao pelotão dianteiro. Ainda que de forma conjunta, ela passou as duas primeiras parciais na primeira colocação. A pernambucana seguiu muito bem e passou a parcial dos 4km na segunda colocação. A essa altura, o pelotão dianteiro começou a se quebrar.À marca do 6º km, apenas 18 atletas compunham o grupo principal e algumas corredoras começaram a ficar para trás. Érica passou na 7ª colocação, mas com o mesmo tempo das líderes. Na parcial seguinte (2km depois), a brasileira saiu da linha de frente e se fixou no meio do pelotão. A ucraniana Mariia Sakharuk fez uma primeira tentativa de desgarrar, mas sem sucesso. Ela ainda acabou sendo punida.
Chegando na metade da prova, uma parte do grupo líder começou a "quebrar", mas a brasileira seguiu nele. A altura dos 14km, 12 atletas permaneciam agrupadas, com uma diferença mínima para as líderes. Chegando no 15ºkm, Érica partiu para uma postura mais agressiva e assumiu a liderança, passando a puxar a prova. O pelotão começou a se desmembrar cada vez mais.
A 4km do fim, a brasileira perdeu a liderança e viu Palmisano e a chinesa Yang atacarem a prova. Elas começaram a abrir bem e a brasileira caiu para a quarta colocação, atrás ainda de Arenas. A altura do km 17, Érica caiu para a quinta colocação. O ritmo da prova aumentou e a italiana começou a desgarrar, deixando a brasileira cada vez mais distante.
No entanto, tudo mudou quando, na tentativa de alcançá-la, Yang tomou três punições e precisou parar no "pit-stop" por dois minutos. Enquanto isso, Erica Sena ultrapassou Liu Hong - que estava em quarto - e foi para a terceira posição em consequência da punição da chinesa. A 1km do fim, a brasileira abriu 13 segundos de frente sobre a quarta colocada e estava com a medalha praticamente certa.
Érica recebeu uma punição ainda na metade da prova e a segunda lhe foi dada já nos 5km finais. Quando ainda lutava pela segunda colocação, já na reta de chegada, recebeu a informação de que foi advertida pela terceira vez. Ela precisou parar e viu a medalha olímpica escapar por suas mãos.
Foto de capa: Kim Hong-ji/REUTERS
0 Comentários