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Superliga de portões fechados: torcidas e clubes se reinventam para estarem presentes, mesmo a distância



O esporte, há muito tempo, deixou de ser apenas um jogo. Torcedores, atletas, animadores de torcida, DJs e vários outros personagens possuem papel fundamental que se retroalimenta e proporciona um ambiente encantador e viciante para os fãs. Não é só sobre sentar em uma arquibancada e assistir a uma partida de voleibol, é também fazer parte do show. 

Brasileiros sabem muito bem o que é isso. Somos um dos países com os fãs mais apaixonados e energéticos do mundo, seja no esporte ou na música. Não é incomum acompanhar eventos esportivos embalados pelo trabalho de algum DJ e cantos de torcedores empolgados. No voleibol, podemos citar tranquilamente a Superliga como exemplo disso. No maior campeonato nacional do esporte, a ambientação dentro dos ginásios já é tradição. Clubes grandes como o Sesi Vôlei Bauru e o Itambé/Minas chamam a atenção na hora de dar um verdadeiro show para os espectadores nas cabines de som, enquanto os apaixonados pelos clubes o complementam das arquibancadas.

Camila Ramalho, responsável pela experiência de marketing na Superliga do Itambé/Minas, em entrevista ao Surto Olímpico explicitou o quão importante essas questões ‘musicais’, que às vezes passam despercebidas para quem não está atento, são para o esporte. “Tentamos trazer um pouco do conceito de entretenimento para a arena. A cada dia que passa os eventos estão apostando em músicas dessa maneira. Não se vê mais um evento esportivo sem DJ.”, comentou. E não é só a música pela música. O que é tocado tem um poder enorme de influenciar a performance dentro de quadra. “No saque da adversária, por exemplo, os DJs são orientados a não tocar nenhuma música, afinal, o jogo é na nossa casa! Ou, por exemplo, se o time está perdendo, o ideal é tocar uma música de fundo mais sóbria. Tem que existir esse planejamento e entendimento do momento, porque, imagina, o Minas está perdendo por 4 ou 5 pontos e o DJ solta um axé animado...não faz sentido”, comentou Camila.

Essa atividade musical nos jogos se tornou tão tradicional que até mesmo as atletas se envolvem na escolha das músicas. Há alguns anos, um patrocinador do Minas bolou uma ação em que criou uma playlist com duas escolhas de cada jogadora para ser tocada nos jogos. A seleção musical foi a mais ouvida do perfil durante anos. “Conversamos com as atletas e tentamos entender qual estilo musical elas mais gostam. A música contribui demais para o jogo.”, concluiu Camila. O DJ da arena já se tornou parte do clube.

Quem acompanhou a Liga das Nações pôde ter uma grande evidência disso. Para além do jogo sendo disputado dentro de quadra, diversos elementos fora dela marcaram presença e se uniram para criar um campeonato marcante não só esportivamente, mas também no quesito do entretenimento. Não é atoa que o DJ Stari, responsável pelas músicas tocadas nos jogos, ganhou destaque nas transmissões e nas redes sociais brasileiras.

E nem sempre isso é tão fácil quanto parece. A sonoplastia do ginásio precisa respeitar regras rígidas do esporte e das transmissões brasileiras. Por exemplo, após o apito do juiz autorizando o saque, não é permitido músicas e locução. É um trabalho minucioso de entender quando segurar e quando soltar o grito.

O mesmo entendimento vale para a torcida. Braço direito das atletas em quadra, torcedores de “organizadas” - termo muito utilizado no futebol, porém, de natureza bastante diferente no voleibol - que não perdem uma partida possuem um poder enorme de mudar os rumos do jogo. O ‘fator casa’ é conhecido no mundo esportivo, independente da modalidade, afinal, quem não se afetaria com a presença de multidões gritando seu nome?

“Acredito muito que torcida muda sim o resultado de um jogo. Envolve muita coisa, como a energia e o timing. Por exemplo, saber a hora de impulsionar uma jogadora nossa ou a hora de tentar desestabilizar uma adversária que está fazendo a diferença”, comentou Laissa Barros, diretora da torcida Independente Minas, parceira do Itambé/Minas e do Fiat/Minas.

Mas e na pandemia? Como é possível fazer a diferença em uma Superliga de portões fechados? Em um bate papo com o Surto Olímpico, a representante da torcida Independente Minas contou detalhes da parceria entre a organizada e o Minas Tênis Clube, que buscou levar um pouco do calor dos torcedores para dentro do ginásio vazio.

A Torcida Independente Minas tem mais de 20 anos de história na rua da Bahia, apoiando as equipes de voleibol do Minas Tênis Clube, tradicional clube de Belo Horizonte. O que começou com um grupo de amigos amantes do voleibol, hoje celebra parceria oficial com a direção do clube. 

Na última temporada da Superliga, que ocorreu inteiramente de portões fechados devido à pandemia, torcida e clube precisaram se reinventar para garantir que o ‘fator casa’ continue sendo peça-chave na arena. Para isso, o Minas Tênis Clube convidou a torcida para gravar as músicas de incentivo ao time e às atletas e, em conjunto com o trabalho do DJ, se empenhava a soltar o ‘grito’ da torcida nos momentos mais importantes de cada partida.

“Ficamos muito felizes com o Minas ter convidado a gente para gravar esses áudios. Às vezes o atleta está ali em um momento difícil do jogo e relembra, ouve uma música da torcida... É a saída que a gente tem hoje.”, celebra Laissa.

Os sons artificiais já vem sendo utilizados em outros esportes ao redor do mundo. No ano passado, quem assistiu à final da Champions League de futebol até esqueceu que o jogo estava sem torcedores na arquibancada, tremendo o trabalho da equipe de som. Mas isso realmente faz a diferença? Os jogadores e as jogadoras, de fato, se sentem em casa com som artificial?


Laissa garante que sim. Os feedbacks foram muitos. Várias atletas entraram em contato com a torcida para deixar claro o quanto aquilo fez diferença durante a temporada. Algumas até realizaram pedidos especiais: “A Macris (levantadora do Itambé/Minas e da seleção brasileira) pediu que a gente enviasse todos os nossos vídeos cantando nossas músicas e cantando a música que fizemos para ela. Ela queria ouvir todo pré-jogo para entrar no clima.”. Pedidos semelhantes também vieram até da comissão técnica, que passou a incorporar alguns gritos de torcida nos treinos da equipe. Sinal que a estratégia deu certo, e o torcedor conseguiu marcar presença, mesmo de longe.

“Quem acompanha esporte sabe o quanto o fator torcida influencia, e uma torcida apaixonada e calorosa como é a do Minas sabe que o ‘fator casa’ faz toda a diferença.”, analisou Laissa. E talvez há um fundamento maior que imaginamos. Ao final da temporada 20/21 da Superliga, o Itambé/Minas levantou a taça de campeão, tendo vencido duas edições seguidas do campeonato nacional.

O esporte, há muito tempo, deixou de ser apenas um jogo. Dentro e fora de quadra, há pessoas apaixonadas pelo vôlei e o espetáculo que ele proporciona. Mesmo de longe. Enquanto os portões seguirem fechados, seguiremos nos reinventando para manter viva a paixão dos milhões dos fãs de vôlei do nosso país, dentro e fora das quadras.

Fotos: cedidas pela Torcida Independente Minas

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