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Os Jogos Olímpicos na televisão brasileira - Rio 2016, SporTV





(Vinheta de promoção das transmissões do SporTV para os Jogos Olímpicos de 2016, com a canção “Foco, força e fé”, de Projota, exibida durante os intervalos da programação antes do evento)



Narração: Luiz Carlos Júnior, Milton Leite, Sérgio Maurício, Eduardo Moreno, Júlio Oliveira, Jota Júnior, Eusébio Resende, Jader Rocha, Odinei Ribeiro, Linhares Júnior, Roby Porto, Claudio Uchôa, Daniel Pereira, Bruno Souza, Clayton Carvalho, Guto Nejaim, Paulo Stein, Jorge Vinícius, Luiz Alano, Jaime Júnior, Henrique Guidi, Luiz Prota, Sergio Arenillas, Bernardo Edler, Marcio Meneghini, Rhoodes Lima, Lincoln Gomide, André Azevedo, Bachin Júnior, Bruno Fonseca, Diego Dantas, Marco Antônio Rodrigues e Rainan Peralva


Comentaristas: Roger Flores, Ricardo Rocha, Edinho, Raphael Rezende, André Loffredo e Carlos Eduardo Lino (futebol masculino), Lêda Maria (futebol feminino), Nalbert, Carlão e Marco Freitas (vôlei masculino), Fofão (vôlei feminino), Isabel (vôlei feminino/vôlei de praia), Alemão, Ricardo, Sandra Pires e Adriana Samuel (vôlei de praia), Claudinei Quirino, Arnaldo Oliveira, Claudio Murad e Lauter Nogueira (atletismo), Byra Bello, Hélio Rubens, Alberto Bial, Jorge de Sá e Carlão (basquete), Alex Pussieldi, Luiz Lima e Daniel Takata (natação masculina), Fabíola Molina e Mariana Brochado (natação feminina), Luiz Lima e Catarina Ganzeli (maratona aquática), Ticiana Cremona e Priscila Japiassú (nado sincronizado), Juliana Veloso e Silina Braga (saltos ornamentais femininos), Gustavo Veloso (saltos ornamentais masculinos), Maria Esther Bueno, Domingos Venancio, Dácio Campos, e Narck Rodrigues (tênis masculino/tênis feminino), Angelo Paiva, Daniela Polzin, Ketleyn Quadros, João Gabriel Schittler e Luciano Corrêa (judô masculino/judô feminino), Andréa João, Mosiah Rodrigues, Ana Paula Luck e Henrique Motta (ginástica artística), Renata Teixeira e Caroline Sá (ginástica rítmica), Acelino “Popó” Freitas e Daniel Fucs (boxe), Marcelo Ferreira, João Siemsen Bulhões e Ricardo Baggio (vela), Ricardo Nagato e Gabriel Alcântara (badminton masculino/badminton feminino), Natália Falavigna e Alan Carmo (taekwondo masculino/taekwondo feminino), Leoni Nascimento, Bernardo Menezes e Bruno Souza (handebol), Gustavo Selbach, Antonio Carlos Silva e Édrei Ascêncio (canoagem slalom), Carlos Augusto "Guto" Campos, André Lúcio Cayê e Thiago Borges (canoagem de velocidade), Iêda Botelho (ciclismo de pista/estrada BMX-M), Patricia Moreira (ciclismo pista/estrada), Eduardo Rezende (ciclismo BMX), Amarildo Ferreira (ciclismo “mountain bike”), Heraldo Souza (hipismo), Luís Fernando Monzon (hipismo/saltos – CCE – adestramento), Fabricio Albuquerque e Paulo Rinaldo Franco (hipismo CCE), Sabine Bilton e Pedro Filho (hipismo – adestramento), Ivan Schwantes, Evandro Duarte e Fábio Loureiro (esgrima), Julio Cesar Faria e Rodolfo Rangel (ginástica de trampolim), Ismar Brasil e Philippe Gasnier (golfe), Leonardo Lemos e João Sauerbronn (hóquei sobre a grama), Liliane Menezes e Alex Tozzi (levantamento de peso), Nicolas Abou Jaoude, Antoine Abou Jaoude e Ralph Abou Jaoude (lutas olímpicas), Wagner Romão e Roberta Sant’Anna (pentatlo moderno), Carlos Eduardo Carvalho e Raul Amaya (polo aquático), Fabiana Beltrame, Ronaldo Esteves de Carvalho, Ricardo Esteves de Carvalho e Paulo Roberto de Carvalho (remo), Maurício Alexandre Carli e Marcelo de Oliveira Amiky (rugby), Silnei Fernando Yuta e Érico Duarte (tênis de mesa), Janice Gil Teixeira e Leonardo Vagner Moreira (tiro esportivo), Renato Emilio e Lauro Henrique Alves (tiro com arco), Virgilio de Castilho (triatlo)


Repórteres: Marcelo Barreto, Tiago Maranhão, Guido Nunes, Guilherme Roseguini, Alexandre Oliveira, Kiko Menezes, Edgar Alencar, Guilherme Marques, Joanna de Assis, Eric Faria, Eudes Júnior, Karin Duarte, Lizandra Trindade e Bruno Côrtes


Apresentação: Vanessa Riche, Bárbara Coelho, Domitila Becker, Janaína Xavier e André Rizek


Participação: Flávio Canto, Lucas Gutiérrez, Kyra Gracie, Roger Flores, Adriana “Didi” Wagner, Roger Flores, Maitê Proença, Xico Sá, Felipe Andreoli, Eduardo Bueno, Nadia Comaneci, Bart Connor, Carl Lewis, Mark Spitz, Michael Johnson, Greg Louganis e Javier Sotomayor


Não se sabe como começou a ideia – há quem diga que o gaúcho Raul Costa Júnior, diretor geral do SporTV até 2017, foi o autor do estalo inicial. Não se sabe qual foi o exemplo – alguns falam que a inspiração veio do trabalho da BBC inglesa, que fez a mesma coisa em seu país para os Jogos Olímpicos de Londres. O fato é que o SporTV era o detentor preferencial dos direitos de transmissão olímpica para a televisão fechada brasileira no Rio-2016, graças à vitória do Grupo Globo na licitação em 2009. E o canal esportivo da Globosat decidiria explorar isso de uma maneira inédita na televisão brasileira. Tão inédita quanto grande.


A intenção já estava expressa desde que o planejamento da cobertura começou, em 2014: nenhuma disputa olímpica deveria ficar de fora das telas do SporTV. Nenhuma. Está certo que a opção preferencial da emissora já era pela “overdose olímpica” – basta lembrar o progressivo aumento de seus canais nas coberturas dos Jogos (um em Atlanta-1996, três em Sydney-2000, quatro a partir de Atenas-2004...). Mas com o Rio sendo a cidade-sede olímpica da vez, a conversa seria outra. Realmente, nada poderia ficar de fora das telas do SporTV. Da final dos 100m do atletismo masculino à primeira partida da primeira fase do torneio de duplas mistas no badminton. Da decisão do ouro no futebol masculino à primeira eliminatória da luta olímpica. Da cerimônia de abertura ao torneio de golfe. Tudo que ocorresse nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro teria um narrador e um comentarista da emissora esportiva do Grupo Globo – e se tivesse repórter, tanto melhor.


Claro, nem só disso viveriam os preparativos do SporTV para 2016. Viriam programas prévios em 2014 e 2015. Programa de matérias especiais apresentado por Marcelo Barreto (de volta ao Brasil em 2013, após a experiência em Londres), o SporTV Repórter trazia várias produções se aprofundando em temas olímpicos – por exemplo, a “fábrica” de fundistas no Quênia. E uma iniciativa ainda mais nostálgica seria a faixa SporTV Classic: nas noites de terça-feira, um grande momento brasileiro nas Olimpíadas seria exibido, se valendo do arquivo do canal – ou mesmo da “emissora-mãe”. Foi assim que o Brasil x Alemanha da semifinal do futebol masculino de Seul-1988 foi exibido no SporTV Classic, com a narração original de Galvão Bueno para a TV Globo. Outro episódio marcante foi quando a decisão histórica do vôlei de praia feminino em Atlanta-1996, com as brasileiras ouro e prata, foi vista num cinema – com Sérgio Maurício, o locutor daquele ouro, tendo a seu lado tanto as vencedoras, Jacqueline Silva e Sandra Pires, quanto as vencidas, Mônica e Adriana Samuel.


Todavia, o SporTV só revelou a grande atração de sua cobertura para os Jogos quando 2016 chegou. Para dar cabo do devaneio, a emissora não contaria com dois, nem com três, nem com quatro: nada menos do que 16 canais, todos em alta definição, realizariam o objetivo de mostrar absolutamente toda e qualquer disputa olímpica no Rio de Janeiro. Aí, ajudariam os canais do Premiere e do Combate, que só parariam de exibir os Jogos Olímpicos quando houvesse futebol ou MMA na mesma hora. Mas se faltasse espaço na televisão, haveria via internet: seriam 56 canais on-line no SporTV Play, site de vídeos por demanda, mostrando o que não coubesse na tela – que, de quebra, também estaria disponível via aplicativo de celular.


E todos os canais tinham uma organização do que transmitiriam. Nos três canais habituais do SporTV na grade de programação, estariam as cerimônias de abertura e encerramento, os programas que alinhavavam a cobertura, mais os momentos de destaque dos esportes de maior audiência (vôlei, atletismo, futebol, natação, basquete...). O serviço adicional daquela “orgia televisiva olímpica” começava com o SporTV 4 sendo um “mosaico”, que deixava à disposição o que estava passando nas 16 telas, para que o assinante selecionasse o que desejava. A partir dali, começava a subdivisão. No SporTV 5, vôlei; no SporTV 6, atletismo, ginástica e iatismo; no 7, todos os esportes aquáticos; as partidas mais alternativas dos torneios de futebol estavam no SporTV 11; no 12, o basquete, junto ao remo e à luta olímpica... e assim sucessivamente.





(O mosaico dos canais SporTV para os Jogos Olímpicos de 2016, na operadora Oi. Postado no YouTube por Afrânio Albuquerque Moreira)


O tamanho daquilo já era inédito na história da televisão fechada brasileira, de qualquer modo. Mas também ampliava o tamanho da dificuldade. A direção da cobertura já sabia: não seria possível contar só com alguns narradores, ou alguns comentaristas, ou alguns repórteres. Era óbvio que Luiz Carlos Júnior e Milton Leite estariam no Rio, principais vozes do SporTV que eram (aliás, até se destacavam num anúncio da cobertura). Mais óbvio ainda que todos os locutores secundários precisariam estar de prontidão para os trabalhos entre 3 e 21 de agosto de 2016. Júlio Oliveira, Jader Rocha, Eusébio Resende, Jota Júnior, Eduardo Moreno, Roby Porto, Odinei Ribeiro, Guto Nejaim, Daniel Pereira... eles e mais alguns outros também fariam transmissões olímpicas.


No entanto, precisava-se de mais. E chegou-se a 35 locutores selecionados. Muitos nomes mais acostumados a narrarem as transmissões regionais do Premiere no futebol também se fariam presente na cobertura para os Jogos: o mineiro Jaime Júnior, os gaúchos Luiz Alano e Márcio Meneghin, os paulistas Henrique Guidi e Jorge Vinícius. Entre os 35 escolhidos para os trabalhos olímpicos, havia também reconhecimentos involuntários. Nome que tanto marcara em várias coberturas pela TV Manchete (Los Angeles-1984, Seul-1988 e Barcelona-1992), Paulo Stein (1947-2021) também estaria no Rio pelo SporTV. Bem como Sérgio Maurício – que se não era voz tão simbólica do canal quanto os dois principais, ora bolas, estava no canal desde os primórdios. Outra escolha nostálgica foi Lincoln Gomide: havia muito tempo sem se vincular ao esporte (apresentava eventos imobiliários, após deixar o posto de narrador principal da Globo Minas), o carioca radicado em Belo Horizonte foi mais um locutor a trabalhar nos canais do SporTV, 24 anos após ser um dos locutores da incipiente cobertura pioneira do então Top Sport para Barcelona-1992.


Também eram notáveis as novidades para aquela cobertura olímpica. Por exemplo, seria o primeiro grande evento esportivo de dois nomes que recebiam ali uma aposta inicial, agradariam o SporTV e ficariam de vez na equipe do canal: o mineiro Luiz Prota, que se focaria na luta olímpica (experiente nas lutas do canal Combate que narrava), e o paulista Sérgio Arenillas, que trabalhou nas locuções das provas do ciclismo de estrada (falando a este Surto Olímpico em 2018, Arenillas celebrou: “[Narrei] um esporte que sempre sonhava em narrar na tevê, pois já acompanhava bastante de perto há anos”). Um nome mais experiente também chamou a atenção: o carioca Marco Antônio Rodrigues – não confundir com o “Bodão” do Bem, Amigos!... – seria a voz do golfe, tão experimentado que era dos tempos de transmissões da modalidade na passagem pela ESPN.


Se a força para os narradores teria de ser redobrada, o mesmo aconteceria com os comentaristas. Entre os 110 (!) nomes, era fácil imaginar a gente habitual do SporTV que opinaria nas principais modalidades. Roger Flores, Raphael Rezende, André Loffredo, Ricardo Rocha, Carlos Eduardo Lino e Edinho para o futebol masculino; Lêda Maria para o futebol feminino – a ex-jogadora já fora a comentarista na Copa de 2015; Marco Freitas e Carlão para o vôlei masculino, com Nalbert sendo o “comentarista fora da cabine”, estando à beira da quadra no Maracanãzinho; Lauter Nogueira no atletismo, no Engenhão; Byra Bello e Jorge de Sá nos torneios de basquete, na Arena Carioca 1 e na Arena de Deodoro; Maria Esther Bueno, Narck Rodrigues e Dácio Campos nos torneios de tênis no Centro Olímpico; Alexandre Pussieldi e Mariana Brochado na natação dentro do Centro Aquático; Andréa João na ginástica artística, Silina Braga (1952-2021) nos saltos ornamentais. Todos eles eram caras conhecidas no canal esportivo do Grupo Globo, e todos eles opinariam sobre as disputas olímpicas. Mas era óbvio que isso seria pouco naquela cobertura mastodôntica do SporTV.


Então, vieram tanto nomes que já haviam sido comentaristas por outras emissoras, em outras Olimpíadas, quanto novidades. No primeiro caso se enquadravam Fofão, que comentara o vôlei feminino para o Bandsports em Londres-2012, e faria o mesmo para o SporTV no Rio-2016. 28 anos após opinar sobre o bola-ao-cesto na “mãe” Globo em Seul-1988, Hélio Rubens comentaria o seu esporte para o “filho SporTV” em 2016. Fabíola Molina voltaria a falar sobre as provas da natação, 12 anos após ter feito isso na cobertura da TV Bandeirantes para Atenas-2004. Já com relativa experiência – vinha de Pequim-2008, pela Globo, e Londres-2012, pela Record -, Claudinei Quirino seria um dos opinadores do SporTV para o atletismo. Isabel comentara tanto o vôlei feminino de quadra (Globo, Atlanta-1996) quanto o de praia (Band, Atenas-2004) – e faria as duas funções pelo SporTV no Rio de Janeiro. Técnico de basquete com passagens por vários times brasileiros, Alberto Bial – sim, irmão desse que se pensa... – também comentaria o bola-ao-cesto, como já fizera algumas vezes pelo SporTV.


No segundo caso, nomes um pouco mais conhecidos dos brasileiros faziam sua primeira aparição comentando na televisão: como Ketleyn Quadros, opinando sobre o judô, Juliana Veloso, acompanhando Silina Braga nos comentários dos saltos ornamentais, ou Natália Falavigna, quase sinônimo de taekwondo, opinando sobre as lutas no SporTV. Já outras vinham pela completa ausência de um especialista na modalidade fora do meio dela. Foi assim, por exemplo, no badminton, com as transmissões no SporTV 10 tendo os comentários de Ricardo Nagato, presidente da federação carioca, e o ex-jogador e professor Gabriel Alcântara. E na luta olímpica: sinônimos dela no Brasil, os membros da família Abou Jaoude (Nicolas, Antoine e Ralph) comentariam as lutas na Arena Carioca 2.


Um número grande de narradores, de comentaristas... e claro, de repórteres também. Porque não só o SporTV contaria com os membros mais conhecidos de seu reportariado – mais experientes, como Marcelo Barreto, ou mais recentes, como Guido Nunes, um dos revelados no Passaporte SporTV -, mas também teria à disposição o material e os repórteres da “emissora-mãe” Globo. Aliás, através da sinergia cada vez maior entre a gigante emissora aberta e o canal esportivo fechado, o SporTV também teria seu espaço no grande prédio montado pelo Grupo Globo para basear suas transmissões dentro do Parque Olímpico. Na construção de três andares, a Globo ficaria com o andar superior, e o SporTV, com o andar do meio – só para constar, no primeiro andar estaria a operação do globoesporte.com.



No prédio erigido pelo Grupo Globo dentro do Parque Olímpico, especialmente para a cobertura dos Jogos do Rio, o SporTV tinha o estúdio abaixo da “mãe” Globo (Divulgação)

Naquele estúdio estariam os apresentadores, a postos para os programas que balizariam toda aquela trabalheira. Abrindo o dia olímpico no SporTV principal, às 8h de Brasília, vinha o Bom Dia SporTV, com a dupla Bárbara Coelho-Domitila Becker. E fechando tudo ali, Vanessa Riche apresentava o SporTV News, às 22h, como já fazia habitualmente, em sua última grande cobertura pela emissora antes de deixá-la. Todavia, o “estúdio de vidro” que o SporTV tinha naquele prédio sediaria outros três programas durante aquelas semanas olímpicas. E eles é que teriam destaque.

A rigor, todos eram retornos. Haviam feito certo sucesso na cobertura também grande para a Copa de 2014, e teriam suas aparições olímpicas. No Extraordinários, exibido diariamente às 22h no SporTV 4, um grupo de nomes aleatórios comentava o que se via nos Jogos – equipe quase igual à de 2014: Maitê Proença, Xico Sá, Eduardo Bueno e Felipe Andreoli, com o acréscimo de algum dos históricos integrantes do Casseta & Planeta, dependendo do dia (podia ser Hubert Aranha, ou Hélio de la Peña, ou Cláudio Manoel, ou Beto Silva...). O bom humor era a regra – como neste vídeo que “simulava” Maitê Proença lutando esgrima.

Ousadia ainda maior vinha no programa da madrugada. Das 23h30 às 7h, também no SporTV 4, enquanto o Parque Olímpico estivesse adormecido, o Madruga SporTV tentava manter todos acordados, com um clima de “botequim de luxo”. Tudo era comandado por um quinteto: Lucas Gutiérrez, Kyra Gracie, Flávio Canto, Roger Flores (além de comentar o futebol masculino, o ex-jogador dava vazão ao seu carisma) e até Adriana “Didi” Wagner, acostumada ao entretenimento e aos grandes eventos, “emprestada” do Multishow para aquele programa. Pela enésima vez, os momentos mais importantes do dia nos Jogos eram comentados no Madruga – e quando não fosse isso, havia apenas espaço para uma diversão no meio do trabalho. A parte dos comentários contava com convidados renomados, chamados na hora, fossem do esporte ou do entretenimento – nessas, Samuel Rosa e Kaká falaram ao Madruga SporTV. E na hora da diversão, os profissionais do SporTV relaxavam. Guido Nunes, por exemplo, até mostrou um outro lado seu: amante do samba, Guido até tocou cavaquinho para animar o dia em que foi convidado do Madruga.

Finalmente, o terceiro programa especial do SporTV para os Jogos daria a respeitabilidade que a cobertura queria. Se o É Campeão já agradara na Copa de 2014, trazendo capitães de seleções campeãs mundiais de futebol para uma mesa-redonda (Fabio Cannavaro, Carlos Alberto Torres, Daniel Passarella, Lothar Matthäus e até Franz Beckenbauer)... por quê não repetir a dose no Rio-2016? Pois bem: caberia novamente a André Rizek a responsabilidade de comandar a versão olímpica do É Campeão, com nomes estelares dos Jogos. Pelo Brasil, já comentaristas do canal, Carlão, Sandra Pires e Nalbert seriam os representantes. Ao lado deles, nomes “simples”: Carl Lewis, Michael Johnson, Nadia Comaneci, Mark Spitz, Bart Connor, Javier Sotomayor, Greg Louganis... novamente, o É Campeão causou barulho. A ponto de ter virado matéria do New York Times, no 21 de agosto de 2016 que encerrou aqueles Jogos Olímpicos (a matéria, aqui, mas é necessário ter login).


André Rizek, de novo, comandou o “É Campeão”: a versão olímpica teve gente como Greg Louganis, Bart Connor, Michael Johnson e Carl Lewis (da esquerda para a direita) (Bob Paulino/SporTV)

Depois de tanto trabalho só para o planejamento, a cobertura do SporTV enfim podia começar (se quiser recordar, os vídeos estão aqui), sob o mote musical de “Foco, força e fé”, canção do rapper Projota. Como sempre, o futebol veio antes. No dia 3 de agosto, a dupla Luiz Carlos Júnior-Lêda Maria comentou o 3 a 0 das mulheres na China; no dia 4, Milton Leite e Roger Flores estiveram no 0 a 0 brasileiro com a África do Sul. E finalmente, a cerimônia de abertura teve um quarteto a transmiti-la no SporTV, no 5 de agosto de 2005: Luiz Carlos Júnior e Marcelo Barreto repetiram a dobrada de Londres-2012, tendo ao lado Lauter Nogueira e Tiago Maranhão (o repórter paulista acumulava a experiência de ter sido correspondente do SporTV em Tóquio).

Começava uma cobertura cheia de momentos marcantes. Que já começariam em 8 de agosto: na Arena Carioca 2, Rafaela Silva disputou o ouro contra a mongol Sumiya Dorjsurjengiin, no peso leve do judô feminino. Como se sabe, a carioca da Cidade de Deus ganhou. E como já fizera com Sarah Menezes em Londres-2012, Sérgio Maurício pôde dar voz a mais um triunfo brasileiro nos tatames olímpicos. Com mais emoção ainda: Sérgio mostrou a voz embargada ao narrar o ouro de Rafaela (aqui, a íntegra). E não seria o único a chorar: comentarista do judô para a Globo, Flávio Canto passou pela cabine do SporTV após o ouro e deixou suas lágrimas à vista. Mais do que justificadas: afinal, Rafaela começara no judô graças às aulas no Instituto Reação, entidade beneficente mantida por Canto na Cidade de Deus. Era, de certa forma, uma pupila do carioca.

Viriam mais momentos emotivos. Os cinco ouros de Michael Phelps (aqui, o dos 200m) que o tornaram o maior medalhista da história olímpica, com Milton Leite e Luiz Carlos Júnior se alternando na cabine do Centro Aquático durante as provas, ao lado de Alexandre Pussieldi. Milton viveu o primeiro grande momento nos Jogos ao dar voz ao ouro de Thiago Braz no salto com vara masculino, celebrando com o grito de “passou” o salto de 6,03m que fez o brasileiro bater o recorde olímpico e superar o rival Renaud Lavillenie para levar a vitória. Emoção tão grande no Engenhão que fez até um áudio indiscreto vazar: no meio da comemoração de Thiago Braz, na pressão de uma transmissão de grande audiência, ouviu-se Milton pedir para que a coordenação dos trabalhos o deixasse falar ao vivo, até que perdeu a paciência: “Eu tô falando, p*** que pariu!”. Tudo no ar. Faz parte...



Já Luiz Carlos Júnior teve outro momento grande no Engenhão: se Usain Bolt se tornou tricampeão olímpico dos 100m, o locutor carioca foi a voz desse tricampeonato. Narrara a vitória de Bolt em Pequim-2008, o ouro em Londres-2012... e estava na cabine do estádio olímpico do bairro carioca de Engenho de Dentro, em 14 de agosto de 2016, para dar voz ao terceiro ouro do jamaicano, com Lauter Nogueira ao lado. E aquela vitória deu mais lembranças alegres a outros dois integrantes da equipe do SporTV. Falando com o vencedor após o triunfo, Tiago Maranhão ouviu frase marcante: “Eu já era uma lenda, mas essa noite eu confirmei”. Já Guido Nunes reportou o lado alegre de Bolt: imitando um guitarrista, depois o jamaicano deu voz a “One love”, um clássico do famoso conterrâneo Bob Marley. Em vinheta durante os intervalos da programação atual do SporTV, Guido ainda se lembra com bom humor: “Pessoa legal, o Bolt”.

Falando em repórteres, os elogios à cobertura também iam além das transmissões. Chegavam aos programas. O Bom Dia SporTV, por exemplo, era considerado agradável: Domitila Becker e Bárbara Coelho, as “gêmeas” (assim chamadas pela semelhança de fisionomia), agradavam na apresentação do que seria o dia olímpico, mostrando entrosamento impensado, já que nunca haviam trabalhado no mesmo programa antes.


Domitila Becker e Bárbara Coelho agradaram no “Bom Dia SporTV” que abria os trabalhos diários durante aquelas Olimpíadas (Divulgação/SporTV)

No É Campeão, Nadia Comaneci roubava a cena com seu bom humor: o ícone da ginástica artística brincava com o “bigode” que havia caracterizado tanto seu colega Mark Spitz, dizia que se apresentaria no solo ao som de samba caso ainda fosse ginasta no Rio (e provaria na prática, em pleno estúdio), media a cabeça do companheiro de programa e de vida Bart Connor para comparar com o bíceps de Arthur Zanetti (prata nas argolas), e até ganhou de Spitz uma réplica perfeita do macacão branco com o qual assombrara o mundo em Montreal-1976. Mas havia espaço para Comaneci falar sério, claro: ela também opinou sobre o que Simone Biles fazia na Arena Olímpica, levando quatro ouros (individual geral, por equipes, salto sobre o cavalo e solo).

Claro, houve momentos ruins. Nas quartas de final do vôlei feminino, por exemplo. Voz preferencial da modalidade, Luiz Carlos Júnior estava na cabine ao lado de Fofão e Marco Freitas, pronto para narrar um triunfo da equipe brasileira, que fizera campanha perfeita na fase de grupos. Mas o trio teve de amargar uma tremenda decepção, com as chinesas virando para 3 sets a 2 e calando o Maracanãzinho, ao avançar para as semifinais – e futuramente para o ouro, com Zhu Ting simbolizando aquelas vitórias.



(Ponto decisivo de China 3 sets a 2 no Brasil, quartas de final do torneio de vôlei feminino nos Jogos Olímpicos de 2016, na transmissão do SporTV, com a narração de Luiz Carlos Júnior e os comentários de Fofão e Marco Freitas)

Também constrangeu um pouco o incidente envolvendo Karin Duarte e Bruno Fratus. Na beira da piscina do Centro Aquático, a repórter do SporTV foi entrevistar o nadador brasileiro, que havia ficado apenas na sexta posição, na final dos 50m. Irritado consigo mesmo, Fratus foi irônico com Karin, ao ser perguntado se estava chateado: “Chateado? Estou felizão, fiquei em sexto. Desculpa, mas estou bastante triste, decepcionado”. A repórter levou numa boa, mas o nadador recebeu críticas suficientes para, um tempo depois, voltar a Karin e pedir desculpas ao vivo: “Queria pedir desculpas. Sou melhor falando no olho no olho e péssimo falando publicamente, de cabeça quente. Queria agradecer a quem torceu por mim hoje, deixei tudo na água e não saiu. Desculpa quem está em casa. Não consigo lidar bem com esse tipo de decepção”. Problema resolvido.

Nos demais canais daquela cobertura, havia momentos agradáveis – como Marco Antônio Rodrigues comandando com competência as transmissões do golfe, disputado na reserva de Marapendi. Ou momentos incomuns: geralmente narrando as partidas de futebol dos times mineiros, coube a Jaime Júnior dar voz à vitória da espanhola Carolina Marín na semifinal do badminton feminino, sobre a chinesa Li Xuerui – Carolina terminaria com o ouro.

E os trabalhos do SporTV terminaram em sucesso, dentro e fora das disputas. Dentro, nos dois últimos dias. Em 20 de agosto, Milton Leite exultou de novo: saudou com um “gol de ouro!” o pênalti convertido por Neymar que deu o título ao Brasil no futebol masculino, após o 1 a 1 com a Alemanha em 120 minutos. No dia seguinte, foi de Luiz Carlos Júnior, junto ao trio Nalbert-Carlão-Marco Freitas, a transmissão para o ouro brasileiro no vôlei masculino.

Ainda naquela final no Maracanãzinho, coube a Nalbert prolongar no “filhote” SporTV uma bonita tradição da “mãe” Globo. Assim como Maurício fora até a cabine para abraçar e lacrimejar com Bebeto de Freitas, comentarista global, pelo ouro em Barcelona-1992; assim como Giovane fora até Tande, comentarista da Globo em Atenas-2004, para um abraço afetuoso na comemoração do segundo título olímpico no vôlei; Nalbert, comentarista e dublê de repórter na quadra, fez uma entrevista emotiva com o antigo colega Serginho, já de medalha no peito após a cerimônia de premiação.

E na noite daquele 21 de agosto, cerimônia de encerramento já finalizada, logo no começo do último É Campeão, André Rizek foi chamado ao centro do estúdio, pelo casal Nadia Comaneci-Bart Connor. Ali, a romena radicada nos Estados Unidos fez um prêmio simbólico – era ao apresentador e jornalista paulistano, mas podia servir também para o SporTV: Nadia colocou em Rizek, pelo menos por alguns minutos, uma réplica de uma das tantas medalhas de ouro que ganhara em Montreal-1976. Reconhecimento de valor incalculável.


André Rizek foi “premiado” por Nadia Comaneci e Bart Connor na última edição do “É Campeão”. De certa forma, o SporTV também (Bob Paulino/SporTV)

Era mais fácil calcular o tamanho dos ganhos do SporTV a partir do fato de que a audiência dos 16 canais havia somado 42 milhões de assinantes, superando de longe os canais ESPN, segundo lugar na audiência dos Jogos Olímpicos. E também era mais fácil avaliar o quão positiva tinha sido a impressão por prêmios como o do Comitê Olímpico Internacional ao É Campeão, como melhor programa de televisão em todas as coberturas olímpicas ao redor do mundo.

Impossível dizer que a cobertura do SporTV para os Jogos Olímpicos de 2016 foi a melhor que já se viu na história da televisão brasileira. Afinal, as opiniões variam para cada espectador. Mas que foi a maior cobertura, com seus 16 canais, é indiscutível.



(Encerramento da cobertura do SporTV para os Jogos Olímpicos de 2016, exibido após o “É Campeão” de 21 de agosto, com todos os profissionais envolvidos nos trabalhos, com o som de “Foco, força e fé”, canção de Projota)

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