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Cego do olho esquerdo, Sam Ward retorna às Olimpíadas marcando o primeiro gol da Grã Bretanha no hóquei

Foto: Reuters


Quando o cronômetro zerou e a Grã Bretanha derrotou a África do Sul por 3 a 1, na abertura do Grupo B no hóquei na grama masculino, Sam Ward tinha muito a comemorar. E não apenas o seu gol, o primeiro da equipe nos Jogos de Tóquio 2020, ou o triunfo britânico. O atacante mascarado comemorava a sua própria superação: vinte meses após perder a visão do olho esquerdo, o atleta retornava a um campo olímpico como um dos heróis desta edição.


Em novembro de 2019, o companheiro de equipe Harry Martin disparou um chute a 80km/h que acertou o olho esquerdo de Sam. A partida contra a Malásia, válida pelo pré-olímpico, parecia ser o fim da carreira do jogador. Então com 28 anos de idade, Ward caiu ensanguentado e com o pior diagnóstico que um atacante do seu nível poderia receber: ele estava cego e corria o risco de perder para sempre o seu globo ocular.

O britânico teve a órbita ocular estilhaçada, sete fraturas faciais e uma retina rasgada. Para reconstituir sua face, os médicos precisaram retirar a pele de trás da orelha. No entanto, ainda foram mais quatro placas de metal em sua bochecha e 31 parafusos de metal para combinar com os 31 grampos na parte superior do couro cabeludo. Só que o pior ainda estava por ouvir dos responsáveis pela cirurgia: seus tempos de jogador haviam terminado.

Foto: Arquivo Pessoal


Em entrevista ao The Telegraph, Sam contou que viveu noites de pesadelos durante a recuperação no hospital. De acordo com ele, acordava após sonhar que as pessoas tentavam atacar seu "olho bom". Mesmo durante o dia, o choque da bolinha de hóquei na grama, feita de plástico e cortiça com 7 cm de diâmetro e que pesa 170 gramas, ainda ressoava em suas lembranças. 

Entretanto, Ward diz que só tem a agradecer por não ter sido pior:

"As placas de metais ficarão para sempre em mim. Mas, honestamente, só tenho a agradecer ao NHS (Sistema Público de Saúde da Inglaterra). Eu pensei: só tenho que tentar o meu melhor, fazer o que puder. E o que for, será. Estou em forma e saudável. Tenho meus membros. Tenho tudo na vida. O que pode acontecer? Simplesmente não jogar hóquei de novo", recorda Sam.

O recomeço
Foto: Arquivo Pessoal


Com a ajuda da psicóloga esportiva Katie Warriner, a quem Ward diz ser responsável por manter sua saúde mental sob controle, além de familiares e companheiros de equipe, primeiro ele conseguiu retornar para seu clube. 

Utilizando-se de uma espécie de máscara especial de proteção, o atacante passou a treinar de modo diferente. Agora ele retornava aos gramados com apenas a visão de um dos olhos. O velho Sam não existia mais. Numa das modalidades onde a pontaria é essencial e as marcações estão cada vez mais apertadas, o atleta precisou reaprender o esporte que jogou a vida toda:


“Tenho sorte que meu olho direito é bom. Eu fiz todos os tipos de treinamento neural, rastreamento ocular e outros testes, para tentar retreinar o cérebro para "ver ao redor" o ponto cego. O tempo me resignou. Quanto mais eu volto ao cotidiano, como um dia normal, aprendo a conviver com isso. Você tem que recomeçar, não é?", diz um inspirado Sam Ward.

Seu retorno oficial com a Inglaterra aconteceu no Campeonato Europeu, em junho de 2020. O atacante marcou seis gols e foi um dos artilheiros da competição. Foi o tira-teima para quem duvidava da sua superação. Inspirando a equipe toda, Sam acabou provando que estava apto à retornar aos Jogos Olímpicos.

Quando aos dois minutos de jogo na tarde de Tóquio ele abriu o placar no Oi Hockey Stadium, vinte meses após o acidente, o mundo todo conheceu a sua luta. Sam Ward recomeçava outra história olímpica. Olhando para o futuro.

*Com informações do The Telegraph


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