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Os Jogos Olímpicos na Televisão Brasileira: Barcelona 1992, Bandeirantes



Narração: Luciano do Valle, Silvio Luiz, Álvaro José e Marco Antônio Mattos

Comentários: Juarez Soares (futebol), Edvar Simões (basquete), Paulo Russo (vôlei), Álvaro José (várias modalidades) e Júlio Mazzei (atletismo)

Reportagens: José Luiz Datena, Eli Coimbra, Gilson Ribeiro e Olivério Júnior

Apresentação: Elia Júnior e Simone Mello

Participação: Toquinho, Zózimo Barrozo do Amaral e Armando Nogueira


Se era possível, a Bandeirantes ficara ainda mais esportiva após Seul-1988. Seguia dando espaço e cobertura incomuns na televisão aberta brasileira a várias modalidades e vários eventos. Exibia os campeonatos brasileiros de vôlei e basquete, masculinos e femininos. Tivera a exclusividade dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro de futebol, em 1990 e 1991. Em mundiais ou em eventos menos falados, seguia marcando presença – basta dizer que em 1990, tão logo terminou a cobertura marcante da Copa do Mundo de futebol, muitos integrantes já marcharam de mala e cuia para a cobertura dos Jogos da Amizade (Goodwill Games), nos Estados Unidos, sem contar a transmissão do Mundial de Basquete Masculino daquele mesmo ano. Em 1991, coubera à emissora paulista exibir com exclusividade quase total os Jogos Pan-Americanos de Havana – só a histórica decisão do basquete feminino, com o triunfo do Brasil sobre Cuba, seria mostrada pela Globo naquele Pan. Continuava com os eventos que eram só dela, como o Verão Vivo a cada começo de ano ou os torneios envolvendo a Seleção de Masters, no futebol.


Além do mais, seguiam os habituais cavalos de batalha da emissora na programação esportiva: o Esporte Total noticiava o que ocorria nas modalidades na hora do almoço, de segunda a sexta, e o Show do Esporte trazia a maratona de eventos já conhecida, das 10h às 20h de cada domingo. Em 1991, houvera ainda a abertura de uma faixa diária para a transmissão de eventos esportivos: de segunda a sexta, das 20h30 às 23h30, a Faixa Nobre do Esporte traria ao vivo qualquer modalidade de que se tivessem os direitos de transmissão (vôlei, basquete, futebol...).


De quebra, em meio àquela mudança de décadas, dentro de um programa de variedades enxertado no início das madrugadas de sábado, o Valle Tudo, Luciano do Valle começava a apresentar mais constantemente aos brasileiros aficionados por esporte o que eram as máquinas de êxito esportivo e financeiro chamadas NBA e NFL. No caso do basquete, eram mostrados tanto os jogos da temporada regular quanto o All-Star Game; já a liga de futebol americano tinha pela primeira vez o Superbowl mostrado em território brasileiro, em 1988. Tiros no alvo, começando a criar uma legião de fãs da bola oval e da bola laranja no Brasil. Mais duas apostas certeiras de Luciano, então alternando sua vida entre São Paulo e Miami (tinha até uma produtora de conteúdo para televisão nos Estados Unidos, com a intenção – frustrada – de ter um canal a cabo para a comunidade brasileira no país).


Nada mais previsível, então, que o consórcio em sequência com a Luqui (ainda dirigida em parceria de Luciano com José Francisco “Quico” Coelho Leal) planejasse outra pujante cobertura olímpica para a emissora da família Saad, como Seul-1988 já havia sido. Alguns meses antes das disputas começarem em Barcelona, um programete no decorrer do Show do Esporte apresentava aos telespectadores os candidatos brasileiros a medalha na capital da Catalunha: era o 'É ouro, Brasil'. Finalmente, chegou a hora do planejamento dos trabalhos no centro de imprensa. Outra vez, seria do canal paulista o maior contingente de enviados da televisão brasileira aos Jogos: 65 pessoas, lideradas por Luciano do Valle, ainda dirigindo o esporte da Bandeirantes. Claro, ele mesmo, Luciano, seria um dos principais símbolos daquela cobertura, dando voz à cerimônia de abertura e às principais competições.



(Quadro com notícias e informações prévias para os Jogos Olímpicos de 1992, exibido pela TV Bandeirantes durante o programa “Show do Esporte”, em 28 de junho de 1992, com a apresentação de Elia Júnior. Postado no YouTube por Êgon Bonfim)


Dividindo esse protagonismo com o locutor/diretor, estaria Silvio Luiz: mais um nome de experiência comprovada, Silvio também estaria na abertura, e também daria voz a diversos momentos importantes em Barcelona. Para a cidade-sede olímpica ainda rumariam outros dois locutores pela Bandeirantes: Marco Antônio Mattos (1939-2004), ancorado na fama que já granjeava nas transmissões de vôlei, e Álvaro José, este se dividindo entre comentários e narrações. Álvaro já era sinônimo de esporte olímpico, àquela altura de sua carreira: sempre que o canal precisasse de um nome para qualquer modalidade, às pressas ou preparado antecipadamente, ele estava a postos. Também especializado em várias modalidades, o jornalista chegara até a ser anunciado como autor de um livro sobre a história dos Jogos Olímpicos, em 1990, pela revista Placar. O projeto editorial não foi adiante, mas Álvaro José estaria em sua terceira cobertura olímpica pela Bandeirantes.


Se os narradores já eram conhecidos da audiência da emissora paulista, os comentaristas não ficavam atrás. Dos estúdios no bairro do Morumbi, Juarez Soares (1941-2019) abriria espaço entre uma partida e outra do Campeonato Paulista para comentar as partidas de futebol em Barcelona. Já na cidade-sede, Edvar Simões voltava a ser o comentarista da Bandeirantes para as partidas de basquete naqueles Jogos, masculinas ou femininas. Para os torneios olímpicos de vôlei, o professor e técnico Paulo Sevciuc, o “Paulo Russo”, comentaria o que ocorresse nas quadras do Palau Sant Jordi, mantendo a já longa parceria com Luciano do Valle. Finalmente, nas provas de atletismo no Estádio Olímpico Lluis Companys, um amigo pessoal e longevo de Luciano faria sua primeira cobertura olímpica no canal, mesmo tendo aparecido nas Copas de 1986 e 1990: o professor Júlio Mazzei, preparador físico experientíssimo – e técnico de futebol esporádico. O professor Júlio comentava as provas narradas, no mais das vezes, por Álvaro José, mesmo que vez por outra Silvio Luiz e até Luciano do Valle estivessem na cabine do estádio pela Bandeirantes.


De resto, entre os enviados, se alternavam nomes de coberturas anteriores e destaques que ainda não haviam trabalhado in loco em Jogos Olímpicos. No reportariado, Eli Coimbra (1942-1998) seguia na Bandeirantes (após rapidíssima passagem pela Manchete, em 1990), para suas segundas Olimpíadas no canal – bem como Gílson Ribeiro. Repórter destacado nos trabalhos pelo Campeonato Brasileiro de futebol, Olivério Júnior também estaria em Barcelona. Assim como um nome cada vez mais marcante naquela equipe que fazia daquele “o canal do esporte”, ainda: José Luiz Datena. Já com uma passagem rapidíssima pelo canal em 1987, revelado pela retransmissora da TV Globo na região da sua cidade natal (a paulista Ribeirão Preto), vindo em definitivo para a Band em 1989, Datena se notabilizava pelo estilo despachado e bem-humorado de suas reportagens. Fora elogiado pela participação engraçada e informativa na cobertura da Copa de 1990. E estaria nos Jogos Olímpicos em 1992, novamente com um quadro que ajudara a impulsionar sua imagem: o “Repórter Surpresa”, no qual sempre fazia uma reportagem com um personagem inesperado ou pouco conhecido em Barcelona, fosse famoso ou não, fosse do esporte ou não.


Por sinal, o “Repórter Surpresa” seria um quadro dentro de outro programa da Bandeirantes que voltava para aqueles Jogos Olímpicos. Lançado a partir de uma ideia do editor-chefe de esportes, Paulo Mattiussi (1951-2004), o Apito Final fora a maior e mais elogiada novidade do canal na cobertura da Copa de 1990: afinal, era um debate bem-humorado como pouco se vira em grandes eventos esportivos na televisão brasileira, equilibrando bem comentários esportivos e o entretenimento – que, na Copa, viera com o cantor e compositor Toquinho, que completava cada bloco com uma música, além de participar do debate, aficionado por futebol que era.


Se dera certo no ludopédio, por quê não tentar nos Jogos Olímpicos? Pois bem: a Bandeirantes teria, novamente, o Apito Final diário, para avaliar e comentar o dia olímpico nos fins de noite, começando uma tradição nas coberturas esportivas do canal. Além dos remanescentes da versão futebolística de 1990 – Luciano do Valle, Silvio Luiz, Júlio Mazzei, Toquinho – e dos nomes olímpicos – Paulo “Russo”, Edvar Simões, Álvaro José -, mais dois nomes incrementariam o debate. Um deles, de experiência comprovada no esporte: pela primeira vez após a rumorosa saída da direção de jornalismo da TV Globo, em 1990, Armando Nogueira (1927-2010) reaparecia à frente das câmeras, para ser mais um debatedor no “Apito Final”, reabilitado por Luciano do Valle. Já saindo do esporte, para trazer e comentar o ambiente fervilhante que Barcelona viveria naqueles Jogos Olímpicos, Luciano pensou num dos mais célebres e bem-informados colunistas sociais que a imprensa brasileira tinha naquele momento: Zózimo Barrozo do Amaral (1941-1997), autor de coluna popularíssima no Jornal do Brasil, também seria novidade na versão Barcelona do Apito Final.


Finalmente, caberia a Elia Júnior e Simone Mello, já então entrosados na apresentação do Show do Esporte domingo a domingo (como esquecer o “a gente já volta, é pá e bola” com que Elia anunciava os intervalos?), apresentarem os programas e transmissões dos eventos, do centro de imprensa em Barcelona – no qual, além de estúdio, a Bandeirantes contaria com vários equipamentos, graças a um investimento de cerca de US$ 15 milhões: ilhas de edição, sistema digital de áudio e até um novo sistema de gravação, com as câmeras Betacam da Sony melhorando a nitidez da imagem (tradicional reclamação de quem assistia a esporte na emissora).


De resto, nem haveria tantos programas para sustentarem a cobertura em Barcelona, além dos já existentes na grade esportiva habitual do canal. Mas nem por isso as transmissões seriam modestas. Como era habitual, a Bandeirantes apostava numa cobertura com muitos momentos ao vivo: 14h de transmissões entre 25 de julho e 9 de agosto de 1992, com o que de mais importante ocorresse sendo transmitido ao vivo, entre 5h e 19h de Brasília. Claro, Esporte Total e Show do Esporte teriam foco total nas competições olímpicas. Depois das 19h, uma pausa para o Jornal Bandeirantes, principal noticiário da emissora, e entre as 20h e as 22h, a Faixa Nobre do Esporte reprisava na íntegra o destaque olímpico do dia. E finalmente, à meia-noite de Brasília, o Apito Final arrematava o dia olímpico bandeirantino, antes que tudo começasse outra vez, no fim da madrugada brasileira. E toda a cobertura começou, em 25 de julho de 1992, com o trio Luciano do Valle-Silvio Luiz-Álvaro José comandando a transmissão da cerimônia de abertura.


A partir dali, narradores e comentaristas iam se alternando. Mas alguns começaram a ter lugar cativo em determinadas modalidades. E começaram também a protagonizar histórias, engraçadas ou edificantes. Nas engraçadas, claro, Silvio Luiz não poderia faltar. Um dia, ele foi destacado para as transmissões do basquete. E lá se foi o locutor para o ginásio do Pavilhão Olímpico de Badalona, com Edvar Simões para ser o comentarista, ambos sem nem tomar café da manhã. Chegando adiantado ao local das partidas, Silvio parou numa barraca e comeu rapidamente um cachorro-quente. A dupla entrou no ginásio, se instalou na cabine, começou a transmissão... e poucos minutos depois da bola laranja subir, Silvio Luiz pediu a Edvar Simões que segurasse as pontas: teria de ir ao banheiro. O narrador voltou, mais alguns minutos, e logo precisou se aliviar de novo. E Edvar, na cabine, estendia seus comentários o máximo que podia, para nenhum telespectador perceber a ausência de Silvio. A roda-viva seguiu por mais algum tempo naquele dia incômodo para o narrador. Pelo menos, foi só daquela vez.

A primeira história edificante nem veio com um narrador, mas com um repórter. Já com experiência longa – desde a passagem pela TV Globo, entre 1979 e 1984 -, Gilson Ribeiro estava no Parque Aquático Bernat Picornell para acompanhar a natação em 28 de julho. E cobriu toda a saga que cercou a prata de Gustavo Borges nos 100m do nado livre masculino: desde a chegada não computada no placar, passando pela frustração dos brasileiros que torciam, até a correção, a premiação ao nadador paulista e a entrevista.


(Reportagem de Gílson Ribeiro sobre a medalha de prata ganha por Gustavo Borges nos 100m do nado livre masculino, nos Jogos Olímpicos de 1992, exibida no Esporte Total de 29 de julho, na TV Bandeirantes. Postado no YouTube por Fábio Marckezini)

Para outro locutor do canal, foi uma modalidade diferente da habitual que fez seu nome ser ainda mais respeitado do que já era. Álvaro José já se acostumara a transmitir as provas eliminatórias do atletismo, no Estádio Olímpico, com Júlio Mazzei a seu lado. Até o dia 1º de agosto de 1992. Como sempre, Álvaro estava na cabine do estádio no bairro de Montjuich. E já sabia que teria dupla jornada: não só narraria o atletismo, mas também as lutas de judô que ocorriam no Palau Blaugrana – em especial, as lutas do brasileiro Rogério Sampaio, na categoria até 65kg. Porém, o narrador/comentarista da Bandeirantes teve um grave problema. E aí, é melhor citar suas próprias palavras, ao UOL, em 2013: “Naquela época tínhamos todos os sinais [de transmissão] na posição de comentarista, o que não acontece hoje. A primeira luta do Rogério foi contra o português Augusto Almeida, luta no tatame B, e eu só tinha sinal do tatame A. Aí fechei os olhos, colocaram no meu ouvido o retorno do nosso editor Rogerio Carneireiro, que foi árbitro de judô. Ele que falava: ‘Eles estão em pé. Agora no solo’. Imaginei a luta e com a ajuda dele fui falando. Quando a luta acabou, duvidaram que eu não tinha o sinal. Nelson Guzzardi, diretor da transmissão, abaixou o comunicador e todos bateram palmas”.


Álvaro José (no Estádio Olímpico de Montjuich, entre Elia Júnior e Zózimo Barrozo do Amaral) acompanhava o atletismo... mas teve de se virar para acompanhar o começo da trajetória de Rogério Sampaio rumo ao ouro no judô (Arquivo pessoal/Elia Júnior)

Álvaro José ainda teve de narrar mais uma luta “às cegas” na cabine do Estádio Olímpico: a vitória de Rogério Sampaio sobre o sul-coreano Kim Sang-moon, na segunda fase dos 65kg. Novamente, teve êxito, com o auxílio de Rogério Carneireiro. E aí, perceberam que, naquele dia, seu lugar era outro, conforme ele mesmo se recordou: “Aí, mal acabou o combate, veio ordem do Luciano do Valle para eu abandonar o atletismo e descer do [Estádio Olímpico de] Montjuich para o estúdio da TV”. E nos estúdios da Bandeirantes, no centro de imprensa, o jornalista paulistano deu voz ao resto do trajeto de Rogério Sampaio até o ouro, ganho na final contra o húngaro Józséf Csák. Após o aperto do início, a apoteose final no 1º de agosto.



(Final da luta contra o judoca húngaro Józséf Csák, que deu o ouro ao brasileiro Rogério Sampaio na categoria até 65kg, no judô, dentro dos Jogos Olímpicos de 1992. Transmissão da TV Bandeirantes, com a narração de Álvaro José, exibida numa reportagem de retrospectiva, com a locução de Olivério Júnior. Postado no YouTube por Fábio Marckezini)

Enquanto isso, o Apito Final olímpico era elogiado. E a inclusão na equipe da Bandeirantes dava farto material para Zózimo Barrozo do Amaral usar em suas colunas no Jornal do Brasil – por exemplo, na citação ao “fã-clube” que os debatedores tinham pela nadadora húngara Krisztina Egerszegi, medalha de ouro nos 400m medley da natação feminina, Armando Nogueira e Toquinho à frente.

Mas na hora de falar sério, a Bandeirantes brilhava absolutamente em uma modalidade: o vôlei. Com Paulo Russo como o comentarista habitual, os torneios olímpicos de homens e mulheres na modalidade tinham amplo espaço naquela cobertura olímpica. Para tanto, ajudavam muito os narradores. Nos anos anteriores, Marco Antônio Mattos já estava experimentado nas transmissões dos jogos das Seleções Brasileiras masculina e feminina – e já criava vários bordões que atraíam a “galera Band vôlei”, como o narrador paulista saudava os telespectadores no início das partidas. Bordões como “que hora, hein?” (quando alguém errava um saque), ou “afunda, afunda, afundou” (para uma cortada forte), ou mesmo “é o tempo da tevê” (antecipando o intervalo comercial, recomendando que o espectador ficasse atento). Ele fora, inclusive, o locutor principal nas partidas de vôlei nos Jogos Pan-Americanos do ano anterior. E coube a Marco Antônio ser a voz da Bandeirantes para as partidas iniciais do vôlei – incluindo aí as partidas do Brasil, principalmente no torneio feminino.

Já no torneio masculino, não havia muita conversa: Luciano do Valle era a voz absoluta da Bandeirantes. Ao lado de Paulo Russo, seu comentarista desde os tempos da rápida passagem pela TV Record nos anos 1980, transmitiu toda a ascensão irresistível do sexteto Marcelo Negrão-Maurício-Paulão-Carlão-Giovane-Tande, comandado por José Roberto Guimarães (sem esquecer os reservas: Amauri, Talmo, Janelson, Pampa e Jorge Edson). Veio a decisão da medalha de ouro, contra a Holanda - aqui na íntegra. E no Palau Sant Jordi, naquele 9 de agosto de 1992, com links de vários familiares vendo a transmissão e tudo o mais, pode-se dizer que Luciano teve uma dupla alegria. Primeiro, a alegria que todo narrador e todo amante brasileiro de vôlei teve: a de ver o primeiro ouro olímpico brasileiro em esportes coletivos, conquistado de maneira apoteótica e inquestionável com os 3 sets a 0. Segundo – e mais importante, no caso do narrador paulista: aquele ouro era, de certa forma, a coroação de um projeto do qual Luciano fora o principal mensageiro e incentivador na mídia, desde que deixara a TV Globo e apostara nas transmissões da modalidade, clubes ou seleções, primeiro na TV Record, depois na própria Bandeirantes, a partir do segundo semestre de 1982.

E a partir do momento em que ficou claro que o ouro do vôlei masculino era uma questão de tempo, no terceiro set daquela decisão, Luciano viveu essas duas alegrias, intensamente. Primeiro, provocara o técnico da Holanda, Arie Selinger, que desdenhara da equipe brasileira: “Colocaremos um sonoro 3 a 0 em cima desse fanfarrão que disse que não iríamos ganhar duas vezes na mesma competição (...) é bom desabafar um pouquinho”. E antes do ponto decisivo, já começara um discurso lembrando toda a campanha e toda a evolução do vôlei no Brasil, desde os anos 1980 – com calma e emoção simultâneas: “Passamos por Coreia, Holanda, Argélia, ex-União Soviética [Comunidade dos Estados Independentes], Cuba, Japão, Estados Unidos (...) Ritmo de samba! Que esse exemplo do vôlei masculino sirva para todos, para todas as modalidades, para nós, brasileiros. Que com determinação, a gente chega lá”.

Foi Marcelo Negrão sacar, forte demais para qualquer holandês rebater, e o narrador/diretor de esportes da Bandeirantes saudou a vitória com o momento mais lembrado pelos telespectadores naquela cobertura: “Marcelo Negrão... somos ouro! Campeão olímpico, o Brasil!”. Controlando as lágrimas, com calma, o professor Paulo Russo celebrou: “Hoje, nós fomos perfeitos em tudo”. A vitória podia não ser deles, mas aquela era a principal dupla de arautos daquela transformação do vôlei, sem a menor dúvida.



(Momentos finais de Brasil 3 sets a 0 na Holanda, na decisão do torneio de vôlei masculino, nos Jogos Olímpicos de 1992, na transmissão da TV Bandeirantes, com a narração de Luciano do Valle e os comentários de Paulo Sevciuc, o “Paulo Russo”. Postado no YouTube por Robson Ferrera)

No último dia de competições em Barcelona, era um fecho mais do que apropriado para outra cobertura em que a Bandeirantes se confirmava como a cara do esporte na televisão brasileira, com a Manchete no início de seus problemas financeiros e a Globo forte, mas sem o carisma de Galvão Bueno.

Mas logo os problemas também vitimariam a Bandeirantes. Ainda assim, a tradição esportiva do canal já era inquestionável. E ela seria a principal força nos Jogos Olímpicos que viessem.

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