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Os Jogos Olímpicos na televisão brasileira: Moscou-1980 - Introdução





*Por Felipe dos Santos Souza


Já em 1976, a OTI se tornara mais exigente com as emissoras brasileiras de televisão. Sabe-se a regra então instituída: só poderiam pagar pelos direitos de transmissão da Copa de 1978 os canais que houvessem exibido, no mínimo, dez minutos de imagens dos Jogos Olímpicos de Montreal. Todos eles (as tevês educativas, Tupi, Globo, Record e Bandeirantes) mostraram alguma coisa. Assim, todos eles tiveram direito a exibir a Copa. Paralelamente, pelo Brasil, algumas emissoras de televisão faziam investimentos interessantes no que ainda era chamado “esporte amador”. Por exemplo, a TV Gazeta, emissora restrita a São Paulo: no fim da década de 1970, o canal da Fundação Cásper Líbero deu muito espaço ao vôlei, em transmissões nas quais a narração era de um médico, já experiente em Medicina Esportiva, que começara a cursar Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo, e teve seu primeiro espaço ali: Osmar de Oliveira.

Mas ainda era pouco. Até porque, quase sempre – e principalmente nos canais sem tantas condições de investimento nas coberturas dos Jogos -, a preferência ficava por exibir apenas os jogos do torneio olímpico de futebol. Ou então, as disputas olímpicas nas quais o Brasil estivesse presente. Não era muito do agrado da OTI, que desejava ver pelos direitos de transmissão dos Jogos o mesmo esforço que se via das filiadas brasileiras para exibir a Copa do Mundo. Aí veio a decisão da entidade iberoamericana de televisão: de 1980 em diante, só poderiam comprar os direitos de transmissão dos mundiais de futebol as filiadas que comprassem e exibissem os Jogos Olímpicos. Ponto.

Um dos fundadores e diretores da OTI, ostentando longa carreira na direção das emissoras dos Diários Associados - principalmente a Tupi -, o brasileiro José de Almeida Castro justificou a medida em seu livro “25 anos de TV via satélite” (Edipromo, 1997): “Em nossos dias, as Olimpíadas já constituem um espetáculo de grande atração, permitindo a conquista de altos índices de audiência (...) Não era assim no final dos anos 1970. A imensa maioria dos sócios da OTI, baseada na disposição do estatuto que não obrigava o pró-rateio dos eventos entre os participantes, só assumiu compromisso para os Campeonatos Mundiais de Futebol. Era uma postura perigosa para a entidade que ficava muito limitada. O Conselho [da OTI] decidiu então, e todos assinaram a resolução de se criar os chamados Eventos OTI, que seriam obrigatórios. Daí veio o casamento compulsório: quem quer o Mundial de Futebol, e só a OTI tem os direitos, se obriga a comprar os Jogos Olímpicos, um Evento OTI”.

Se fosse só esse o problema rumo aos Jogos Olímpicos de 1980, a resolução até seria fácil: as emissoras brasileiras pagariam à OTI pelos direitos de transmissão olímpicos, exibiriam os Jogos, e teriam a Copa à disposição. Porém, já em 1979, havia um agravante: a alta possibilidade do boicote de países grandes do bloco ocidental aos Jogos – Estados Unidos à frente, guiados pelo presidente Jimmy Carter -, alegando protesto contra a invasão do Afeganistão pelas tropas da União Soviética (país-sede das competições em 1980, bom lembrar). Um boicote que tiraria boa parte do interesse e potencial de audiência dos Jogos Olímpicos, para as emissoras brasileiras.

Só dois canais destoaram desse pensamento: um comercial, a TV Globo, e outro estatal, a TV Cultura, emissora educativa paulista. Ambas decidiram arriscar: foram as únicas a comprarem os direitos de transmissão das disputas em Moscou, junto à OTI, mesmo com a confirmação do boicote de países como Estados Unidos, Canadá e Alemanha Ocidental aos Jogos Olímpicos, em 26 de fevereiro de 1980. A única emissora brasileira a tentar entrar no duopólio foi a TV Bandeirantes. Mesmo sem os direitos de transmissão de eventos, o canal paulista de televisão se valeu dos trabalhos de um repórter que logo ganharia destaque: Álvaro José, que lá fazia sua segunda cobertura olímpica pela Rádio Bandeirantes paulista, mas acabou aparecendo vez por outra na televisão.

A aposta de Globo e Cultura foi “paga” em 1981: em nova reunião da OTI, foi confirmado que só elas poderiam comprar os direitos de transmissão da Copa de 1982 para o Brasil. O canal dos Marinho cedeu suas imagens à Cultura (e esta, por extensão, cedeu às emissoras educativas), e só por elas o Mundial na Espanha pôde ser assistido na tevê pelos brasileiros. Foi um golpe forte, que causou reclamação de emissoras tradicionais em futebol, como Bandeirantes e Record. Esta, aliás, era motivo de dores de cabeça globais em São Paulo, grande mercado publicitário do país: afinal, àquela altura – início dos anos 1980 -, a Record tinha seu único sucesso de audiência nas transmissões de futebol comandadas pelo narrador Silvio Luiz, com Pedro Luís Paoliello comentando e Flávio Prado nas reportagens.

A aposta de Globo e Cultura na transmissão dos Jogos Olímpicos de 1980 deu resultados definitivos. Não só para a Copa do Mundo de 1982: de Los Angeles-1984 em diante, até para poderem estar nos Mundiais de futebol, nunca mais as emissoras brasileiras ignoraram os Jogos Olímpicos.

(Nota melancólica: coincidentemente, em 18 de julho de 1980, um dia antes da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Moscou, tinham seus transmissores lacrados e suas histórias encerradas todas as emissoras de televisão dos Diários Associados. Entre elas, a TV Tupi paulista, primeira emissora brasileira de televisão)

Para saber como foi a cobertura das duas emissoras de televisão que exibiram os Jogos Olímpicos de 1980, é só clicar abaixo:


TV Globo


TV Cultura

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