INTRODUÇÃO
O Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte será a 19ª nação a entrar no Estádio Nacional de Tóquio em 23 de julho de 2021, na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio. A delegação reúne atletas dos três países que compõem a ilha da Grã-Bretanha (Escócia, Inglaterra e País de Gales), além daqueles nascidos na Irlanda do Norte, localizada na ilha da Irlanda. Entenda mais sobre a geografia do país na figura abaixo.
Dono do 13º maior IDH do mundo (0,932), o Reino Unido é considerado a segunda maior economia da Europa e a sexta do mundo. Com uma extensão territorial de 243.610km² divididos em algumas porções de terra, o país abriga uma população de cerca de 67,5 milhões de pessoas e é reconhecido mundialmente por sua rica história cultural, que surge desde genialidade de William Shakespeare, passando pela paixão pelos esportes e o amor pelo chá até chegar na pontualidade.
A origem dessas tradições remonta para um passado que teve como marco a miscigenação gerada da invasão de alguns povos no território. A unificação de terras e a formação de reinos também foram aspectos principais no surgimento da nação. Hoje, o Reino é constituído pelos britânicos, advindos dos "bretões", povos antepassados com raízes na comunidade celta, que foi uma das inúmeras culturas antepassadas a passarem pelo território antes de sua consolidação identitária.
Mapa geográfico da Inglaterra, Grã-Bretanha e Reino Unido (Reprodução/Toda Matéria) |
HISTÓRIA
Os celtas foram os primeiros a se destacarem em invasões na região do Reino Unido, instalando-se no território por volta de 500 a.C. Eles eram divididos em bretões, que se fixaram onde hoje é a Inglaterra; picts, na região da Escócia; e gaels, na Ilha da Irlanda. Todos tinham a mesma língua e os mesmos costumes, mas não eram unidos. O povo permaneceu lá até 43 d.C, quando os romanos invadiram o território e anexaram a Inglaterra e o País de Gales ao Império. A princípio, a Escócia não foi dominada.
Quatrocentos anos mais tarde, os romanos deixaram o local, e, em cerca de 410, foi a vez dos povos gêrmanicos iniciarem a conquista da região. À época, dois grupos principais se destacaram: os anglos e os saxões. Os anglos, inclusive, foram os responsáveis por formar o nome do principal país do Reino Unido, que permanece até os dias atuais: Inglaterra, na língua local, é "England", formada pela junção das palavras "anglo" + "land", que resulta em angloland, significando "terra dos anglos" em português.
Quando se estabilizaram, os anglos e os saxões criaram diversos reinos em todo o território. Em 843, os reinos fixos na Escócia se uniram para formar o Reino de Alba, que durou até 1286, quando algumas guerras culminaram na independência do país. Por volta de 865, os vikins invadiram e conquistaram boa parte da Inglaterra, permanecendo até 927, até que os reinos britânicos se uniram para expulsá-los. Os reinos foram liderados por Etelstano, que ficou conhecido como o primeiro rei inglês.
Após um tempo de "calmaria", a situação dos britânicos voltou a se conturbar quando o rei Harold II morreu, em 1066, originando uma intensa disputa pelo poder. Após alguns conflitos, o duque da Normandia, Guilherme I, invadiu e conquistou a Inglaterra, o sul de Gales e a ilha da Irlanda, ficando mais tarde conhecido como "Guilherme, o Conquistador". Durante esse período de domínio normando, que durou até 1362, o francês foi a língua oficial do Reino Unido. Gales só foi, de fato, conquistada em 1284 com o rei Edward I. A Escócia também chegou a ser dominada por ele, mas logo voltou a ser independente.
Em 1541, o rei Henrique VIII fundou o Reino da Irlanda, anexando a ilha ao Reino Unido. Você pode conferir mais sobre a história cultural e olímpica irlandesa na nossa Parada das Nações sobre o país, clicando aqui. Somente em 1º de maio de 1707, a Escócia foi anexada à Inglaterra e ao País de Gales, na formação do Reino da Grã-Bretanha (ilha maior, onde os três países estão localizados). Quase cem anos depois, em 1801, foi formada o Reino da Grã-Bretanha e Irlanda, que durou até 1922, quando a República da Irlanda conseguiu sua independência, com sua vizinha do norte ainda pertencendo ao Reino Unido.
Hoje, o Reino Unido é uma monarquia constitucional, cujo poder legislativo é eleito e o poder executivo é investido a um conselho de ministros liderado pelo pelo primeiro-ministro Boris Johson, que presta contas somente ao Parlamento e, consequentemente, ao eleitorado. A monarca, a rainha Elizabeth II, de 94 anos de idade, atua apenas como chefe de Estado, o que significa dizer que ela toma parte do processo político mas não executa as ações no país.
JOGOS OLÍMPICOS
O Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte é um dos cinco países que já participaram de todas as edições olímpicas de verão. A nação britânica compete desde Atenas 1896 e só não esteve presente sob sua bandeira em Moscou-1980, quando participou pelo nome de "Associação Olímpica Britânica", por conta do boicote do bloco capitalista àquela edição. O Team GB também esteve presente em todas as edições olímpicas de inverno.
Em todas as 28 Olimpíadas, a Grã-Bretanha já conquistou 883 medalhas, sendo 274 de ouro, 299 de prata e 310 de bronze. De forma disparada, sua melhor campanha foi em Londres-1908, quando sediou os Jogos pela primeira vez. Na ocasião, foram obtidos 146 pódios, com 56 ouros, 51 pratas e 39 bronzes, fazendo com que o país ficasse na primeira colocação do quadro geral de medalhas, num episódio que permanece inédito até os dias atuais. Na última participação olímpica, o Team GB deixou o Rio de Janeiro com 67 medalhas (27 ouros, 23 pratas e 17 bronzes), um número maior até mesmo que aquele visto em Londres-2012, quando sediou o megaevento pela terceira vez e faturou 65 medalhas (29 ouros, 17 pratas e 19 bronzes).
Além de ter sido a melhor campanha olímpica dos britânicos em relação ao desempenho, Londres-1908 também proporcionou a eles sua maior delegação da história, com 676 atletas. O número só chegou a ser ameaçado em Londres-2012, quando o país teve 541 esportistas presentes. Em Londres-1948, foram 375 atletas.
Entre as Olimpíadas realizadas fora do Reino Unido, Barcelona-1992 foi quem viu a maior quantidade de britânicos competindo. Ao todo, foram 389 atletas. Até o momento, a nação possui 283 atletas classificados aos Jogos Olímpicos de Tóquio, de forma extra-oficial. Por enquanto, é a quinta maior delegação de Tóquio, atrás do Japão, Estados Unidos, Austrália e China. A expectativa do Team GB é superar Barcelona e fazer história em solo estrangeiro.
Da primeira Olimpíada da Era Moderna, em 1896, até a sétima edição, em 1920, o Reino Unido também continha a Irlanda. Após sua independência em 1922, os britânicos passaram a competir somente com a presença da Irlanda do Norte. Porém, os atletas nascidos na Irlanda do Norte possuem dupla nacionalidade e têm o direito de escolher entre competir pela Irlanda ou pela Grã-Bretanha. Um caso famoso recente envolve o golfista Rory McIlroy, um dos melhores do mundo em sua modalidade, que é nascido em Belfast, capital do Norte, que já anunciou que competirá pela vizinha do sul nos Jogos Olímpicos de Tóquio, e não pelo Reino Unido.
ESPORTES DESTAQUES
+ Atletismo
O atletismo é o esporte que mais deu medalhas aos britânicos na história olímpica: 205, sendo 55 de ouro, 80 de prata e 70 de bronze. Na Rio-2016, foram dois ouros, uma prata e três bronzes. Historicamente, o país tem tradição nas provas de meio-fundo, com destaque Sebastian Coe, atual presidente da World Athletics, que tem dois ouros (1.500m) e duas pratas (800m) em Olimpíadas, e tem visto um domínio recente nas provas de fundo com a lenda Mo Farah, tetracampeão olímpico entre os 5.000m e os 10.000m. Entre as mulheres, Kelly Holmes tem dois ouros (1.500m e 800m) em Atenas-2004 e um bronze em Sydney-2000 (800m).
Atualmente, os principais destaques são a heptatleta Katharina Johnson-Thompson e a velocista Dina Asher-Smith, atuais campeãs mundiais, além do próprio Mo Farah, que chegou a competir o ciclo na maratona, mas voltou atrás e retornou às pistas. Dina briga pelo ouro nos 100m e nos 200m rasos, além da disputa do revezamento 4x100m feminino. A equipe masculina também é credenciada ao pódio.
+ Ciclismo de pista
O Reino Unido tem se consolidado como uma potência no ciclismo de pista, a ponto da modalidade se tornar o carro-chefe da delegação nas últimas três Olimpíadas, liderando o quadro de medalhas dessas edições. O país foi ao pódio em nove das dez provas disputadas em Londres-2012 e na Rio-2016, sendo que, na última edição olímpica, obteve seis ouros, quatro pratas e um bronze.
Depois da alta, o ciclismo britânico passou por um processo de renovação e teve uma queda de rendimento neste ciclo olímpico. Foram conquistadas "apenas" três ouros, oito pratas e dois bronzes nos Campeonatos Mundiais disputados entre 2017 e o início de 2020. Nomes como Bradley Wiggins, dono de oito medalhas olímpicas, se aposentou das pistas. Por outro lado, o casal Jason e Laura Kenny, que juntos possuem dez ouros em Olimpíadas, seguem para Tóquio.
Laura e Jason Kenny foram um dos casais mais vitoriosos do esporte mundial (REX) |
Com tudo isso, os britânicos não chegam com o mesmo poderio de antes, mas com credenciais para medalhar em várias provas. A principal delas é a perseguição por equipes, em que o país briga pelo ouro tanto no masculino quanto no feminino. Os homens foram campeões mundiais em 2018 e ficaram com a prata em 2019, enquanto as mulheres foram vice-campeãs mundiais em 2017, 2018 e 2019. As disputas individuais de Omnium e o sprint por equipes também estão no bolo por uma medalha.
+ Futebol
É impossível fazer um especial sobre a cultura do Reino Unido sem citar o futebol. Esporte mais popular do mundo, o futebol, sob os parâmetros que hoje conhecemos, foi desenvolvido em solo britânico no final do século XIX. A modalidade é a queridinha dos britânicos e o campeonato inglês masculino, a Premier League, é atualmente a liga nacional mais importante do planeta.
Apesar de tamanho sucesso, a seleção inglesa masculina - principal entre as quatro equipes do Reino Unido - só conquistou um título mundial de futebol em sua história. Foi em 1966, justamente quando sediou a Copa do Mundo pela única vez. Na última edição da competição, em 2018, na Rússia, a Inglaterra ficou na quarta colocação, perdendo o bronze para a Bélgica. A Escócia esteve presente pela última vez em Olimpíadas em 1998, enquanto a Irlanda do Norte em 1986. O País de Gales só competiu uma vez em Copas, em 1958.
Seleção britânica de futebol masculino, que foi tricampeã olímpica em 1912 (Arquivo) |
Em Olimpíadas, o Reino Unido conquistou três medalhas, todas de ouro e entre os homens: 1900, 1908 e 1912. Além da união das quatro seleções nacionais que hoje compõem a nação, as equipes campeãs também possuíam atletas da República da Irlanda, que ainda não havia conquistado sua independência. Depois do tri, a Grã-Bretanha e Irlanda do Norte jamais voltou a figurar o pódio olímpico. Aliás, a terra do futebol viveu um hiato de participações entre 1964 e 2008, passando 12 edições fora da disputa do torneio da modalidade. O Reino Unido só retornou à competição em 2012, quando foi sede, e parou nas quartas de final. O país não esteve presente em 2016 e não se classificou para o torneio masculino de Tóquio-2020.
Por outro lado, a equipe feminina vive uma ascensão e estará presente pela segunda vez em Jogos Olímpicos. Em sua primeira participação, em Londres-2012, a seleção foi quinta colocada, tendo sido eliminada nas quartas de final. Agora, as britânicas se garantiram em Tóquio depois que a Inglaterra terminou em quarto lugar na última Copa do Mundo, disputada em 2019, na França. Elas chegam à capital japonesa como uma das favoritas ao pódio.
+ Taekwondo
O Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte tem o taekwondo como uma de suas principais forças nas modalidades individuais olímpicas. Em cinco Olimpíadas, foram conquistadas dois ouros, uma prata e três bronzes. Na Rio-2016, o país obteve três medalhas, uma de cada cor. Jade Jones foi campeã na categoria até 57kg, Lutalo Muhammad ficou com a prata na até 80kg e Bianca Walkden foi bronze na +67kg. O país foi sede do último Campeonato Mundial, em 2019, e acabou na segunda colocação no quadro geral de medalhas, atrás somente da superpotência Coreia do Sul.
Para Tóquio-2020, o país será o único fora da Ásia a levar uma delegação com cinco atletas (o limite pelos Pré-Olímpicos continentais é de quatro), tendo conseguido a classificação após os bons posicionamentos nos rankings mundiais. Dentre os representantes nacionais, estarão três campeões mundiais em 2019: Bradly Sinden (68kg), Jade Jones (57kg) e Bianca Walkden (+67kg). Completam a equipe Mahama Cho (+80kg) e a bicampeã europeia Lauren Williams (67kg). Todos chegam com reais chances de subir ao pódio em suas categorias.
+ Remo
O remo é o terceiro esporte que mais deu medalhas ao Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte em Jogos Olímpicos. Ao todo, já foram 68 pódios, sendo 31 ouros, 24 pratas e 13 bronzes. Assim como o ciclismo de pista, pode ser considerado um dos esportes protagonistas da delegação britânica nas últimas três edições olímpicas. O país liderou o quadro de medalhas da modalidade em Pequim-2008 (dois ouros, duas pratas e dois bronzes), Londres-2012 (quatro ouros, duas pratas e três bronzes) e Rio-2016 (três ouros e duas pratas).
No Rio de Janeiro, o quatro sem masculino sagrou-se pentacampeão olímpico (conquista o ouro de forma consecutiva desde 2000), enquanto Helen Glover e Heather Stanning conquistaram o bicampeonato no dois sem feminino. Neste ciclo olímpico, o remo britânico passa por renovação, não tendo conquistado nenhum título mundial entre 2017 e 2019: foram duas pratas em 2017 e oito bronzes entre 2017 e 2019, incluindo três com o quatro sem masculino.
As bicampeãs Glover e Stanning anunciaram a aposentadoria assim que conquistaram o ouro no Rio de Janeiro. Glover, no entanto, decidiu retornar às regatas no ano passado, mesmo depois de ter dado luz a três filhos no ciclo olímpico. Ela está inscrita no Campeonato Europeu de Remo, que será iniciado nesta semana, em sua especialidade, o dois sem, ao lado de Polly Swann.
Helen Glover e seus três filhos (Eurosport) |
+ Vela
A vela já deu 58 medalhas ao Reino Unido em Jogos Olímpicos, sendo o quarto esporte com mais pódios distribuídos à nação. Com 28 ouros, os britânicos lideram o quadro de medalhas histórico da modalidade, com nove a frente dos Estados Unidos, que aparecem na segunda colocação. Nas últimas cinco edições olímpicas, a delegação britânica só não terminou a frente no quadro da vela quando sediou o megaevento, em 2012, ficando atrás da Austrália. Na Rio-2016, foram dois ouros e uma prata.
Quatro das 28 medalhas douradas do Team GB na vela foram obtidas por Ben Ainslie, que triunfou entre 2000 e 2012 nas classes Laser e Finn. Em 1996 e 2000, ele foi rival direto de Robert Scheidt nas Olimpíadas. Em Atlanta, o brasileiro foi ouro na classe Laser, deixando o britânico com a prata. Em Sydney, o inverso ocorreu e Scheidt ficou com a prata. Ainslie, Scheidt e outro brasileiro, Torben Grael, são os únicos velejadores com cinco medalhas olímpicas no currículo.
Ainslie e Scheidt foram rivais entre 1996 e 2000 (Reprodução) |
Para Tóquio-2020, a vela britânica chega com reais chances de ouro na Nacra 17, com John Gimson/Anna Burnet, na 470 feminina, com Hannah Mills/Eilidh McIntyre, e na 49er, com Dylan Fletcher/Stuart Bithell. As três parcerias foram campeãs mundiais nos ciclo olímpico, nos respectivos anos de 2020, 2019 e 2017. Charlotte Dobson/Saskia Tidey foram vice-campeãs mundiais em 2020 e são concorrentes das brasileiras Martine Grael/Kahena Kunze na classe 49erFX.
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