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Os Jogos Olímpicos na televisão brasileira - Introdução: O cenário antes de 1972





Há muito tempo, era o rádio, que trazia uma agilidade impressionante na prestação de serviços – até hoje ele traz, a bem da verdade. Atualmente (e para o futuro), é a internet, com sua multiplicidade cada vez mais inacreditável, oferecendo possibilidade a qualquer um de fazer trabalhos profundos sobre vários temas, mesmo que não se seja profissional.


Ainda assim, é inegável: de lá para cá, se houve um veículo de mídia que ajudou os Jogos Olímpicos a se popularizarem no mundo, este foi a televisão. Também foi assim no Brasil. E é essa trajetória aqui, de 1960 a 2016, que será descrita nesta série de textos do Surto Olímpico, abordando em detalhes a cobertura que cada emissora brasileira fez de lá para cá – com direito a um texto especial para finalizá-la, sobre quais são as perspectivas da transmissão dos Jogos (e de esportes olímpicos) no futuro.


Comecei a fazer esta série após pedido da equipe do Surto, baseado no trabalho semelhante que fiz para o site Trivela, antes da Copa do Mundo de 2018 no futebol, com a história das coberturas de cada Copa na televisão brasileira – e depois, ainda veio um texto sobre os trabalhos de 2018. Aceitei prontamente. Se por um lado tive mais trabalho (afinal de contas, são mais modalidades...), também tive mais tempo para fazê-lo.


Além de mais tempo, tive mais ajuda. E aqui, um agradecimento é necessário: o gaúcho Edu Cesar, mantenedor do tradicional Papo de Bola – e dentro dele, do Papo de Mídia, habitual coluna sobre mídia esportiva, em todas as suas vertentes, de todos os seus tempos -, foi um especialista que me socorreu bastante. Todos os erros aqui (e eles devem ser muitos) não têm nada a ver com ele. E todos os acertos aqui têm muito a ver com ele. A Edu Cesar, meu extremado agradecimento.


Mais agradecimentos também aos três nomes que deram depoimentos rápidos, mas valiosos: Silvio Lancellotti, André Kfouri e Gustavo Villani. E, finalmente mas nunca menos importante, agradecimentos aos leitores desta série especial, às terças-feiras, que irá deste 20 de abril até 20 de julho, última terça antes da cerimônia de abertura em Tóquio. Desde já, peço desculpas pelos erros.


Ficam as dicas de bibliografia e videografia a quem se interessar por mais detalhes desta história: 

William, Wagner. Silvio Luiz: olho no lance. São Paulo, Nova Cultural, 2002
Mattiussi, Paulo. Osmar Santos: o milagre da vida. São Paulo, Sapienza, 2004
Faria, Bob. Grito de gol: as vozes da emoção na TV. Belo Horizonte, Leitura, 2011
Bueno, Galvão. Ostrovsky, Ingo. Fala, Galvão!. São Paulo, Globo Livros, 2015
Léo, Alberto. História do jornalismo esportivo na TV brasileira. Rio de Janeiro, Maquinária, 2017
Site: De olho na telinha, de Êgon Bonfim e Memória Globo


Que venham outras séries, melhores e mais exatas do que este pontapé inicial.


Felipe dos Santos Souza





O começo



Desde que a história da televisão brasileira começou, em 18 de setembro de 1950, com o início das transmissões da TV Tupi de São Paulo (emissora pertencente aos Diários Associados, conglomerado de mídia comandado pelo empresário paraibano Assis Chateaubriand), não demorou muito para que aquele novo veículo também se envolvesse com o esporte. Só que tal envolvimento também deixou claro: o futebol seria a modalidade primordial. Basta dizer que o primeiro evento esportivo transmitido pela telinha no Brasil foi Palmeiras 2x0 São Paulo, em 15 de outubro de 1950, pelo Campeonato Paulista, com a narração de Jorge Amaral e os comentários de Ary Silva (1917-2001) na Tupi paulista.


Não demorou muito, e outras emissoras foram surgindo. Algumas, já proporcionando disputas pela audiência. Em 20 de janeiro de 1951, era inaugurada a TV Tupi do Rio de Janeiro. Mais um ano, e a partir de 14 de março de 1952, São Paulo tinha um novo canal: a TV Paulista. Em 27 de setembro de 1953, o estado bandeirante ganhava mais uma opção na televisão: comandada pela família Machado de Carvalho, que já tinha a Rádio Panamericana – hoje Jovem Pan -, surgia a TV Record. 1955 traria a segunda opção no Rio de Janeiro: em 17 de julho, era fundada a TV Rio.


E aos poucos, a televisão ia se espalhando pelo país. Muito por obra e graça dos Diários Associados, que iam criando suas afiliadas (embora ainda não houvesse o conceito de “rede”, com todas exibindo o mesmo programa). Em Minas Gerais, por exemplo, o dia 8 de novembro teve a inauguração da TV Itacolomi. Finalmente, em 20 de dezembro de 1959, o Rio Grande do Sul passava a também ter sua afiliada dos Diários Associados: a TV Piratini.


E o futebol, quase sempre sendo o assunto principal das transmissões esportivas. Quase sempre, pelo menos. Quando outras modalidades proporcionavam um evento importante para a cidade, aquele novo veículo já prestava atenção. Um bom exemplo (mesmo sem ser modalidade olímpica) veio já em 5 de agosto de 1951: o Grande Prêmio Brasil de turfe, no Hipódromo da Gávea, no Rio. A TV Tupi exibiu a prova, vencida pelo cavaleiro L. Dias, guiando Pontet Canet, que cruzou o disco final com vantagem minúscula sobre Tiroleza, cavalgado por F. Irigoyen. Na Tupi carioca, notável foi o narrador do GP Brasil: Aldo Viana. Seu nome completo: Aldo Viana Galvão Bueno. Sim: o pai desse mesmo que você está pensando.


Mas seria do boxe – esta sim, modalidade olímpica – que viria talvez o primeiro grande sucesso esportivo da televisão brasileira fora do futebol. Em 1955, João Batista do Amaral, dono da TV Rio, voltou de uma viagem aos Estados Unidos, fascinado pela atração que um programa noturno, com várias lutas de boxe, exercia no público norte-americano. Decidiu fazer o mesmo no Brasil. Começava a nascer ali o TV Rio Ringue, todo domingo, às 21h30, com cinco lutas no auditório da própria emissora.


E o TV Rio Ringue tinha em sua equipe clássica vários nomes que voltaram a ser vistos por muito tempo nas transmissões esportivas – alguns, aliás, vistos até hoje. O narrador das lutas era um radialista gaúcho, notabilizado por suas narrações na Rádio Globo carioca, na TV Rio desde aquele 1955, até hoje reconhecido como uma das grandes grifes do rádio do Rio de Janeiro: Luiz Mendes (1924-2011). Luiz tinha a seu lado, nos comentários – e também na produção – outro nome marcante: o ítalo-brasileiro Teti Alfonso, que ocupou vários cargos de direção, em várias emissoras.


Apresentando os confrontos no ringue, um paulista de Cordeirópolis (interior do estado), nascido em 1932. Desde 1947 na carreira, em 1950 o paulista chegou ao Rio, para trabalhar na Rádio Globo. Na primeira transmissão, Luiz Mendes foi anunciar o nome dele, mas gaguejou na hora de falar “Belinaso Neto”. Um pouco sem jeito após o erro, disse que o paulista teria de arrumar outro “nome artístico”, mais fácil. E ele fez uma lista de opções. Nela, havia uma homenagem à irmã, Leonilda, usando o apelido dela, junto ao seu sobrenome, um pouco alterado: Batista, não o Baptista da certidão. Luiz Mendes gostou. Assim, João Baptista Belinaso Neto virou quem até hoje é: Léo Batista.


Outro destaque extrafutebol surgiu no Rio de Janeiro, em 1957. No mês de janeiro, o futebol estava parado no estado: afinal, o Campeonato Carioca ainda estava por começar, e os clubes excursionavam pelo exterior. Eis que um mineiro, já na TV Tupi desde 1951, envolvido desde o princípio com as transmissões esportivas, organizou um evento de tênis: nos fins de semana daquele mês, vários tenistas brasileiros jogaram um torneio amistoso, dividido nas chaves masculina e feminina, com partidas na quadra do Fluminense. Este mineiro, nascido em Caxambu, também fez história em várias coberturas esportivas, por várias emissoras: Rui Viotti (1929-2009). O próprio Rui narrou as partidas, iniciando longa trajetória de proximidade ao tênis, tendo nos comentários outro histórico nome: Júlio de Lamare, que voltará a esta história nos próximos textos.


Aquela iniciativa de 1957, só para preencher a programação a pedido dos anunciantes enquanto o futebol não recomeçava, deu certo. Tanto que em 1959, o baiano José de Almeida Castro, diretor da divisão internacional dos Diários Associados, comprou o videotape da final do torneio feminino de simples em Wimbledon. E as emissoras do conglomerado – Tupi paulista, Tupi carioca, Itacolomi, Piratini – puderam exibir, com exclusividade em seus estados, o histórico título de Maria Esther Bueno sobre a norte-americana Darlene Hard.


O avanço, aos poucos


Transmitir outros eventos ainda era tarefa das mais árduas naquela primeira década de 1950. O futebol ajudou a quebrar algumas barreiras – e a incrementar: em 18 de dezembro de 1955, Santos 3x1 Palmeiras, pelo Campeonato Paulista daquele ano, na Vila Belmiro, foi a primeira transmissão de uma cidade para outra (de Santos para São Paulo) dentro do mesmo estado, feita pela Tupi paulista. Vários narradores e comentaristas foram destacados para o acontecimento: Milton Peruzzi (1913-2001), Jorge Amaral, Ary Silva, Mário Fanuti, Antônio Hélio, Augusto Machado de Campos e Geraldo Bretas (1914-1981).


A Record não deixou por menos: no ano seguinte, em parceria técnica com a TV Rio, fez a primeira transmissão interestadual, em 26 de maio de 1956, exibindo imagens diretas do Rio de Janeiro para São Paulo, no calçadão de Copacabana, tendo como repórteres dois nomes que estariam ligados ao esporte: Hélio Ansaldo (1924-1997) e Sílvio Luiz – este, repórter desde 1953, após começar a carreira na TV Paulista, no ano anterior. Se a Tupi se valera da exibição de Santos x Palmeiras até para um lema publicitário (“Tupi, 100 quilômetros na frente”), a Record pôde ostentar sua vingança até nisso (“Record, 300 quilômetros na frente”). E a emissora dos Machado de Carvalho não ficou nisso: ainda em 1956, no dia 3 de julho, transmitiu Brasil 2x0 Itália, o primeiro jogo de futebol com transmissão interestadual. Pela Record, Hélio Ansaldo narrou e Sílvio Luiz reportou.


Somada a esses avanços tecnológicos, a aparição de mais concorrentes – como a TV Continental, inaugurada no Rio de Janeiro em 15 de março de 1959 – fazia crer que logo outros esportes também teriam vez com mais frequência na televisão brasileira. Isso também era crível pela aparição de profissionais mais ecléticos. Como Álvaro Paes Leme (1912-1984): na TV Record desde a fundação desta, o jornalista participava de várias transmissões esportivas. Não só isso: ainda incentivava os colegas a “estudar e se especializar também em outros esportes, não ficar só no futebol”, conforme relatou o jornalista Alberto Léo. Como se verá nos textos a partir de 1980, a lição seria aprendida por alguém muito próximo de Paes Leme: seu filho, Álvaro José.


Paralelamente, havia ainda o advento do “videotape”. Ao invés da exclusividade de eventos e exibições ao vivo, era possível comprar as fitas gravadas, trazê-las ao Brasil – de avião, de navio, como se pudesse – e exibi-las, com alguns dias de atraso. Foi assim que alguns eventos esportivos iam, pouco a pouco, se popularizando. Em 20 de novembro de 1960, a TV Tupi exibiu o título mundial de Éder Jofre no peso galo, ganho dois dias antes, em luta contra o mexicano Eloy Sanchez, no Ginásio Olímpico de Los Angeles.


Por sua vez, o futebol tinha suas transmissões seriamente ameaçadas. No Rio de Janeiro e em São Paulo, os clubes passaram a proibir a exibição de suas partidas, por julgarem insuficiente o pagamento de direitos a eles e também por julgarem que a transmissão televisiva afastava o público dos estádios (vale lembrar: a bilheteria ainda era uma generosa fonte de renda, naquela época).


Se havia esse revés, por outro lado, outras modalidades ganhavam um espaço gigante. Foi a sorte do basquete, por exemplo: em maio de 1963, o Campeonato Mundial de Basquete que o Brasil sediou foi mostrado por duas emissoras. Tanto a TV Continental (narração de Carlos Marcondes) quanto a TV Rio (narração de Luiz Mendes, comentários de Souza Francisco) exibiram o bicampeonato que consagrou a geração de Wlamir Marques, Amaury Pasos, Rosa Branca, Ubiratan, Mosquito... todos treinados por Togo Renan Soares, o “Kanela”.


Videotape e espaço maior, só esperando. Foi assim que algumas emissoras passaram a apostar na transmissão dos Jogos Olímpicos. Claro, num Brasil sem satélites, ainda era irreal imaginar a exibição ao vivo dos eventos. Pensar em muitas modalidades sendo mostradas, então, era quase falar em ficção. No entanto, já foi o bastante para que os brasileiros pudessem acompanhar os Jogos na década de 1960, a cada quatro anos. Tendo paciência para aguardar alguns dias entre a realização das competições e a transmissão deles na telinha, claro.




Teixeira Heizer foi a primeira voz dos Jogos Olímpicos na televisão brasileira



Roma 1960



Se no Brasil a exibição ao vivo ainda era um sonho distante, nos Estados Unidos não só ela já ocorria, como as redes norte-americanas já eram as grandes interessadas na transmissão dos dias de competição. Foi o caso da CBS, que pagou US$ 394 mil (US$ 3,26 milhões, na cotação de hoje) à Eurovisão, exibiu com exclusividade o que ocorreu em Roma entre 22 de agosto e 11 de setembro, e fez um documentário com os melhores momentos das disputas esportivas. Bastou para que a TV Continental se interessasse em exibi-los, com exclusividade, no Rio de Janeiro.


De acordo com os relatos do jornalista Alberto Léo em seu livro “História do jornalismo esportivo na TV brasileira”, a Continental comprou o videotape da CBS. E o documentário mostrando os apogeus de Abebe Bikila, Wilma Rudolph e Muhammad Ali (então ainda Cassius Clay) na capital italiana foi o primeiro registro olímpico na televisão brasileira. Com locução em português de um mineiro, advogado de formação, que se notabilizaria muito, ainda, na imprensa brasileira. Em esportes, basta dizer que o mineiro foi o narrador da primeira transmissão de futebol da TV Globo. Que passou por vários jornais e revistas. E que, mesmo no final da vida, ainda aparecia no SporTV, comentando futebol. Enfim: na TV Continental, a narração do documentário da CBS sobre os Jogos Olímpicos de 1960 teve a voz de Teixeira Heizer (1932-2016).


E ainda houve um elemento adicional para os brasileiros: segundo os relatos de Alberto Léo, o documentário da CBS exibiu a prova final dos 100m livres masculinos da natação. Nos quais um brasileiro teve razões para comemorar: Manoel dos Santos disputou a liderança nado a nado com o americano Lance Larson e o australiano John Davitt. Os três chegaram juntos, e a diferença foi no toque final: ouro para Davitt, prata para Larson, bronze para Manoel.




O trabalho de Paulo Planet Buarque na locução dos boletins olímpicos para a TV Record foi elogiado por quem o via durante a gravação, nos Estados Unidos



Tóquio-1964



Nos Estados Unidos, a transmissão via satélite passava a ser uma realidade a partir dos Jogos Olímpicos na capital japonesa – mais precisamente, pelo Syncom 3, o primeiro satélite de comunicações com orientação geoespacial, permitindo que o sinal passasse do Oceano Pacífico.


Já no Brasil, embora o espaço para outras modalidades além do futebol existisse (era pequeníssimo, mas existia) e outros canais aparecessem (como a TV Excelsior, inaugurada para São Paulo em 9 de julho de 1960, presente no Rio a partir de 1963), transmitir os Jogos Olímpicos ao vivo ainda era tarefa impossível. Muito menos exibi-los para todo o território nacional. Pelo menos, alguns estados já tinham mais opções de emissoras para acompanharem os Jogos de Tóquio.


No Rio de Janeiro, a TV Rio se notabilizou pelo que transmitiu antes das disputas começarem em Tóquio. Em setembro, um mês antes da abertura dos Jogos, a emissora iniciou Olimpíadas 64, programete de cinco minutos, exibido de segunda a sábado, às 20h, com apresentação de Sérgio Roberto. No programete, eram mostrados não só os treinamentos de atletas que estariam competindo no Japão, mas também as instalações já montadas em Tóquio. Além disso, também eram fornecidas dicas turísticas e hoteleiras a aos (raros) brasileiros que fossem viajar à sede olímpica.


Todas as imagens do programete foram tiradas de documentários feitos pela comissão olímpica, cujos direitos foram vendidos à TV Rio. De quebra, o produtor Haeckel Raposo também conseguiu com o Comitê Organizador os direitos de transmissão das competições olímpicas para o Rio. E assim foi: novamente, com um dia de atraso, a TV Rio mostrava uma compilação do melhor do dia nos Jogos aos telespectadores fluminenses.


Já em São Paulo, a Tupi e a Record transmitiram os videotapes das competições, que chegavam da Europa com um dia de atraso entre a disputa e as exibições. Valendo-se da rede dos Diários Associados, a Tupi paulista tinha alcance maior: recebia o boletim diário de vídeo feito pela UPI (United Press International, uma das grandes agências de notícias da época) com os destaques olímpicos de cada dia, e os exibia à noite.



(Imagens exibidas pela TV Tupi, com algumas disputas dentro dos Jogos Olímpicos de 1964, com trilha sonora adicionada posteriormente. Postado no YouTube por Êgon Bonfim)


Nesse sentido, tinha mais sorte a Record: a emissora da família Machado de Carvalho pôde enviar três nomes aos Estados Unidos, para que fizessem pelo menos as locuções dos eventos ao vivo – então, já com o áudio em português, as fitas eram enviadas a São Paulo, e mostradas também à noite, com um dia de atraso. Foram aos Estados Unidos três nomes tradicionais da equipe esportiva da Record: Ernesto de Oliveira, Darcy Reis (1933-1989) e Paulo Planet Buarque.


Coube a Planet Buarque viver um momento que coroou a cobertura incipiente da Record, de certa forma. Nascido em 1927, percorredor de muitos caminhos na vida profissional (jornalista, advogado, Procurador do Estado de São Paulo, membro do Tribunal de Contas do Município de São Paulo, conhecedor íntimo da vida política do São Paulo - chegou a ser presidente do clube por alguns dias, em 2005), Planet – planê, na pronúncia – Buarque fazia a locução ao vivo de um dos boletins olímpicos, certa vez, nos estúdios norte-americanos.


Improvisando sem muitos problemas, acostumado pelos anos em que acumulava tevê (Record) e rádio (Pan-Americana), ao terminar o trabalho, Paulo pôde ouvir os elogios de um diretor da televisão norte-americana. Não parou por aí. O diretor apontava para Planet Buarque, olhava para seus produtores e dizia imperativo: “Estão vendo como é que se faz televisão?!”.



Quando estreou em Jogos Olímpicos, em 1968, Walter Abrahão já era um símbolo do esporte na TV Tupi



Cidade do México-1968



Àquela altura, a ABC (American Broadcasting Company) já havia se tornado a compradora preferencial dos direitos de transmissão dos Jogos Olímpicos. E exibições ao vivo já eram correntes na América do Norte. No Brasil, ainda faltava um pouco. Ainda restava comprar os videotapes prontos, com o que ocorria nos dias de competição na capital do México, entre 12 e 27 de outubro, para a exibição com um dia de atraso.


Foi o que a Tupi fez com exclusividade, tendo a seu lado as emissoras dos Diários Associados para a exibição em rede. Tão logo as fitas chegavam aos estúdios no bairro do Sumaré, em São Paulo, recebiam a narração de outra figura histórica do esporte na televisão brasileira: Walter Abrahão (1931-2011), advogado de formação, na Tupi paulista desde a década anterior.


Criador de muitos bordões (para ele, Pelé não era Pelé, era “ele”), autointitulado criador do replay (numa transmissão de futebol, perdera o lance de um gol, pedindo à produção que desenvolvesse um jeito de repetir o lance – no dia seguinte, estava encontrada a solução, então batizada “bi-lance”), Abrahão foi o narrador preferencial do boletim olímpico de 1968 para as emissoras dos Diários Associados.


Segundo depoimentos, foi de Abrahão, paulista de Piraju, a voz da disputa histórica pelo ouro masculino no salto triplo, com recordes sucessivos sendo quebrados na final pelo brasileiro Nélson Prudêncio (1944-2012), pelo italiano Giuseppe Gentile e pelo soviético (georgiano) Viktor Saneyev, até que este levasse o ouro, com a prata para Prudêncio e o bronze para Gentile.


A primeira década de transmissões olímpicas na televisão brasileira terminava ainda com os telespectadores precisando esperar um ou dois dias até verem as provas na tevê. Afinal, ainda faltava um satélite. Isso começou a mudar em 28 de fevereiro de 1969: nesse dia, era oficialmente inaugurada a estatal Embratel (Empresa Brasileira de Telecomunicações) com a transmissão ao vivo de uma bênção especial do papa Paulo VI, diretamente do Vaticano. Só faltava uma estação que recebesse sinais de satélite – e a Embratel a montou em sua base de Tanguá, distrito de Itaboraí, no Rio de Janeiro, incluindo o país na rede Intelsat, formada nos Estados Unidos, em 1964. Tal rede era abrangida pelo satélite Intelsat II, a 36 mil quilômetros de altitude. Pronto: os sinais de satélite chegavam ao Brasil, que poderia ver vários eventos ao vivo a partir dali. Incluindo os Jogos Olímpicos que viessem dali por diante.


Em 1971, mais um evento ajudaria a popularizar as disputas no Brasil, indiretamente: a fundação da OTI (Organização das Televisões Iberoamericanas), entidade unindo todas as emissoras da região. Caberia à OTI comprar os direitos de Copas do Mundo e dos Jogos, para dividi-los entre as emissoras que pagassem as anuidades em dia. Geralmente, o interesse era maior pelas Copas. Mas a OTI logo manobrou para que as competições olímpicas entrassem no pacote, quisessem os canais ou não.


Só que essa manobra só será destaque daqui a alguns textos. Por enquanto, é esperar por 1972, a primeira cobertura ao vivo dos Jogos Olímpicos por uma televisão brasileira.

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