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Surto de A a Z: Um papo com André Rienzo, primeiro arremessador brasileiro na história da MLB


Provavelmente em algum momento da sua vida você ouviu alguém dizer: "Nossa, se tem um povo que está espalhado por todo mundo, esse povo é o brasileiro". No mundo dos esportes, dizer isso também não é exagero. Tem brasileiro em todos os lados do planeta e disputando uma grande variedade de modalidades. 

E um desses atletas é André Rienzo, atual arremessador do Tecolotes de los Dos Laredos, franquia da Liga Mexicana de Beisebol, e do Yaquis de Obregon, da Liga Mexicana do Pacífico. 

Com grandes momentos na carreira, o atleta de 32 anos tornou-se em 2013 o primeiro arremessador brasileiro a disputar uma partida da Major League Baseball (MLB), ao ser promovido das ligas menores pelo Chicago White Sox. Ele ainda teve uma passagem pela franquia do Miami Marlins em 2015.

Mas sua relação com o beisebol começou num desses tropeços que a vida dá. Os pais de André se separaram quando ele ainda era criança. Sua mãe, pensando na educação dos três filhos, buscava um esporte que pudesse proporcionar maior disciplina para eles. 

Foi então que, com a recomendação de uma amiga, ela encontrou o beisebol, sem imaginar que seguiria carreira na modalidade e seria uma das referências no Brasil. Mesmo com o beisebol, o atleta contou em entrevista ao Surto Olímpico que jogava qualquer esporte, participando até mesmo de equipes de handebol. 

"A gente praticou tudo. Desde o futebol, na rua, arrancando a tampa do dedão quando chutava o asfalto, até outros tipos de esporte, como vôlei. Joguei handebol também, pela escola e pelo time de Atibaia. Eu não pensava em jogar profissionalmente no beisebol naquela época".

Mas a aventura no esporte do taco vingou e André passou por diversos países. República Dominicana e Venezuela já foram um dos seus destinos. Ele comentou um pouco sobre a diferença entre a modalidade jogada nos países latinos e na liga estadunidense, com a experiência adquirida nelas.  

Foto: Reprodução
"O estilo latino é diferente, eles vibram muito com o que acontece no campo. Se você for ver, eles sempre comemoram uma batida, ou alguma outra jogada, até mesmo os que atuam na MLB. É uma vibração diferente e que eu particularmente gosto, sem faltar o respeito com outros estilos. Já na MLB é como se fosse algo mais sério. Você faz a jogada, mas sem aquela comemoração, sem aquela intensidade".

Assim como os jogadores, a torcida latina também participa de forma efusiva nos jogos. André revelou que os torcedores mexicanos são uns dos mais empolgados e apaixonados com quem já teve contato.

“No México, eles são muito apaixonados pelo time e pelo esporte em si. Nos Estados Unidos eles são mais apaixonados pela diversão, por ir nos estádios. Para eles, jogador vai, jogador vem e tanto faz. Agora, no México, eles são ligados com o jogador. Eles torcem para que ele tenha bom desempenho, querem que ele fique no time. É uma relação que vai além só do time, é com o atleta também”, ressaltou.

Mas não foi só em times do exterior que André obteve sucesso. Ele também atua na seleção brasileira de beisebol, tendo participado da World Basebal Classic (WBC) de 2013, uma espécie de Copa do Mundo. O atleta falou sobre o prazer que tem em defender o time do Brasil, mesmo não se tratando de uma seleção com tradição neste esporte. 

“Eu particularmente gosto muito de representar o Brasil, por mais que seja um esporte ainda amador no país. E digo isso sem criticar ou culpar alguém. Mas é o que temos neste momento, somos tratados ainda como amadores independentemente dos atletas que vem de fora. Mas para mim sempre é um prazer jogar pela seleção e farei isso enquanto puder e até quando eles quiserem, eu estarei presente”.

Após 2013, o Brasil nunca mais conseguiu retornar ao WBC e ainda perdeu a chance de disputar uma vaga para as Olimpíadas de Tóquio, por não se classificar para os Jogos Pan-americanos de Lima, que ocorreram no ano passado. 

Para buscar uma evolução no esporte, André relata que o Brasil poderia fazer um trabalho semelhante ao realizado em outros países da América Latina. Além disso, comentou sobre a importância da modalidade fazer parte das Olimpíadas, para a seleção brasileira

Foto: Alex Trautwig/MLB
“Quando o beisebol saiu das Olimpíadas, nós perdemos o apoio do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e sem ele, as seleções adultas começaram a ser mantidas pelos atletas. E isso dificultou muito o desenvolvimento. O pessoal para de praticar, representar e tudo mais", disparou.

“Mas na verdade o softbol e o beisebol só voltaram para o programa olímpico pois as Olimpíadas serão no Japão, país sede que pleiteou a inclusão da modalidade. Mas torço para que continue. Temos um apoio muito forte com ele no evento. E se mostrarmos qualidade de jogo lá, se nos classificarmos em outra oportunidade, assim como foi feito na Copa do Mundo, nós vamos atrair olhares”, ressaltou.  

“Pra coisa mudar, falando sinceramente, a gente tinha que ser igual os países vizinhos na América Latina, onde o beisebol é um esporte remunerado. Ele sendo remunerado, existe um profissionalismo maior. Mas acho algo difícil de acontecer agora. E não é culpa de alguém específico. É culpa da nossa cultura. O povo ama futebol e as vezes se fecha para outros esportes”, finalizou.

De acordo com o atleta brasileiro, a forma de disputa do beisebol não é o que afasta o público de uma prática da modalidade e sim o alto preço dos equipamentos. 

"Quem é fã vai assistir quatro, cinco, seis horas de jogo. O problema é que a modalidade é cara. Os materiais de beisebol não são baratos e não tem muita durabilidade. Do que você precisa para jogar futebol? Uma chuteira e uma bola. Você faz o campo. Então por ser caro, precisar de um grande espaço e muita gente pra jogar, acaba não pegando aqui. Lá nos Estados Unidos têm vários campos, diferentemente daqui. Você vai em qualquer praça e tem, mesmo que em tamanhos menores", reiterou.

Copa do Mundo, sonhos e partidas marcantes

O Brasil estava na batalha para voltar ao WBC, que seria realizado no ano que vem, até que a pandemia de coronavírus surgiu e cancelou o evento de qualificação. O Brasil enfrentará o Paquistão na rodada de abertura. Se vencer, joga contra a Nicarágua. Do outro lado da chave estão Alemanha, França e África do Sul. 

Para André, o Brasil pode buscar a classificação. Mas até lá precisará melhorar a preparação coletiva. 

"Dá para sonhar com a classificação. Na primeira vez em que classificamos para a Copa, com Colômbia, Panamá, era muito mais difícil do que vamos enfrentar agora, sem desmerecer os times, claro. Mas o que ocorre também, é que naquela oportunidade estávamos com uma preparação melhor também. Os atletas do Japão vieram ao Brasil e ficaram um tempo treinando conosco.

"Para esse ano, também estávamos bem, mas tivemos o problema da pandemia e também o fato da gente ter se preparado muito individualmente e pouco coletivamente. Classificamos naquele ano porque todo mundo estava junto, concentrado, preparado e com um só objetivo", afirmou. 

Jogar mais uma Copa do Mundo pelo Brasil acrescentaria mais um grande feito na carreira de André no beisebol. Porém, o atleta releva que já realizou todos os seus desejos neste esporte. 

"Sinceramente, meus sonhos meio que já se realizaram. O que vier daqui para frente é lucro. Já joguei na MLB, México, Venezuela, República Dominicana, já cheguei a ir pro Japão, aprendi três línguas. Joguei uma Copa do Mundo. Então sou muito feliz e grato por tudo que fiz nesses quase 16 anos de carreira".

Um longa carreira é construída por momentos difíceis também, até que seja possível atingir o sucesso. Por isso, algumas partidas "chave" ficaram marcadas na memória do arremessador brasileiro.  

"Já tive uma partida em que nenhum arremesso meu foi rebatido de forma válida. Foi na Triple AAA, não numa classe baixa. Então eu tenho um sentimento grande por esse jogo. E tem a partida no WBC, contra Cuba. Fiquei até a quarta entrada sem ser rebatido, então foi algo muito marcante também”, concluiu. 

Foto: Jason Miller/AFP

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