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Surto de A a Z: O amor da jogadora Mayra Sayumi pelo softbol e a longevidade do técnico Milton Konno


Existem amores que ultrapassam qualquer barreira. Não importam as dificuldades, a rotina maçante ou a disputa por atenção com outras atividades da vida. Aquilo nunca acaba. É assim que podemos resumir a relação de amor entre a atleta brasileira Mayra Sayumi e seu esporte, o softbol.

Vencedora do Prêmio Brasil Olímpico na modalidade em 2019, Mayra começou a jogar softbol durante a infância. O convite surgiu na  Associação Cultural e Esportiva de Maringá (ACEMA), onde seu irmão praticava beisebol.

"Começou assim né, eu ia lá e brincava na terra", dissse Mayra sobre seu início no softbol. "Depois, quando fui ficando mais velha, subi de categoria e comecei a treinar de forma mais séria". 

Mas se engana quem pensa que a vida é fácil neste esporte. Assim como muitas modalidades olímpicas no Brasil, há pouco apoio, principalmnete no âmbito financeiro. Em tempos normais, fora da atual pandemia de coronavírus, Mayra se dividia entre o emprego na papelaria de seus pais em Maringá, Paraná, estudos, e os treinos físicos nos dias úteis e os táticos e técnicos, no campo, aos finais de semana com seu atual time, o Nikkey Marília, de São Paulo. 

"Ninguém aqui no Brasil vive de softbol. Todo mundo trabalha e estuda. Eu me formei em engenharia de alimentos, mas não trabalho na área. Agora estou fazendo faculdade de educação física", revelou a atleta de 27 anos. 

Tal relato escancara o amadorismo do esporte nacional. E esse não foi o único problema enfrentado por Mayra no softbol. Em 2015 ela teve que deixar a equipe do Maringá e passou a competir por seu time atual, em Marília, pois não havia quantidade suficiente de atletas para competir em campeonatos adultos. 

"Como não é um esporte profissional, as meninas acabam saindo né. Chega um momento em que elas acabam dando mais prioridade para os estudos ou o trabalho. Não havia mais atletas da minha idade e não era possível completar o time com atletas das categorias mais jovens, então eu precisei sair para continuar jogando na seleção brasileira", disse a atleta, que meses mais tarde participaria dos Jogos Pan-americanos de Toronto, conquistando junto com a equipe nacional a quarta colocação no evento.

Foto: Reprodução/WBSC

O "quase abandono" que virou oportunidade

Mayra não é grata só por praticar o sotfbol. De acordo com ela, diversas experiências que talvez não ocorressem sem a presença deste esporte em sua vida, tornaram-se possíveis com ele. Assim como o período que ficou estudando nos Estados Unidos, por exemplo.

No final de 2009, prestes a terminar o ensino médio, Mayra estava pensando em parar de jogar softbol para focar nos estudos. Era época de se preparar para os vestibulares. Até que, por indicação de uma amiga que também jogava, surgiu a chance de ganhar uma bolsa de estudo praticando o esporte, no Chipola College, uma instituição de ensino da Flórida. 

Com o incentivo da mãe, Mayra abandonou a ideia de parar com o softbol e após superar alguns contratempos, foi para os Estados Unidos em 2010, onde ficou por dois anos e meio.

"Eu nunca tinha viajado de avião, nunca tinha ido para fora do país. Fiquei pensando 'nossa, o que eu to fazendo, estou indo para um lugar que eu não conheço ninguém, não sei falar a língua deles direito'. Foi bem louco, mas foi das melhores coisas que aconteceram na minha vida. Se eu não tivesse ido, eu teria parado com o softbol. Lá mudei muito a minha mentalidade, isso me fez amadurecer muito rápido", disse.

Brasil fora das Olimpíadas, dentro da Copa do Mundo e a mudança de mentalidade

No ano passado a seleção brasileira disputou o torneio pré-olímpcio de softbol, onde ficou sem a vaga para os Jogos de Tóquio, mas conquistou a classificação para o mundial da modalidade ao bater a seleção de Cuba. 

Mesmo com a falta de estrutura e apoio, esta é a primeira vez que o Brasil jogará uma Copa do Mundo na modalidade por suas próprias forças, uma vez que em 2016 a seleção precisou de um convite para estar no torneio.  

Foto: Reprodução/WSBC

Diante o grande feito da seleção brasileira, Mayra confessa que uma conversa foi decisiva na mudança de mentalidade dela e das atletas do time do Brasil. 

"Nós jogamos softbol por paixão. Mas no ano passado, como era um evento classificatório para as olímpiadas, nós mudamos essa forma de pensar. Em uma consulta com a Karina Hatano, nossa médica, ela falou que deveríamos parar de pensar como apenas amadoras, pois estávamos representando a seleção brasileira", revelou. 

"Ela disse 'vocês têm que pensar como profissionais pois vão jogar esse torneio para ir para uma Olimpíada'. Então a partir disso nosso foco mudou bastante. A gente faz tudo pelo softbol. É uma paixão muito enorme. E nesse momento paramos de ter aquele pensamento 'a, mas os Estados Unidos são melhores, o Canadá é melhor'. Passamos a enxergar que podemos jogar contra elas, ao invés de só ficar com os olhos brilhando ao vê-las", disparou Mayra.

Mas veio 2020 e a pandemia de coronavírus, passou a devastar diversos países. Dentro do mundo esportivo a doença afetou o calendário dos eventos, obrigando a  Confederação Mundial de Baseball e Softbol (WBSC), a adiar a Copa do Mundo de Softbol feminino que ocorreria em 2021, para 2023. 

Mesmo com mais três anos até a chegada do evento, Mayra já projeta o esforço que deverá fazer, com o intuito de permanecer na seleção e disputar o campeonato. 

"Para o esporte, quando você está beirando os 30 anos, como é o meu caso, você meio que está ficando 'velha'. Mas acho que a gente aguenta mais um pouquinho. Como foi um campeonato que a gente conquistou a classificação, eu não quero nem pensar em ficar de fora", afirmou. 

"Não sei se será um dos meus últimos na seleção. Mas farei de tudo para estar lá e acho que todo mundo que participou dessa qualificação deve ter o mesmo pensamento. Vale a pena conseguirmos manter o foco até lá. É especial". 

Quem também tem pensado na Copa do Mundo de Softbol é o treinador da seleção brasileira, Milton Konno. Há 30 anos atuando dentro da modalidade, ele ainda não sabe o que esperar desses três anos que separam o Brasil do evento tão aguardado. 

"É muito tempo. São três anos. Cada atleta tem sua vida particular, seus planos, algumas podem desejar ter filhos, então esse adiamento atrapalha muito a seleção. Já é difícil normalmente, pois todas divivem seu tempo entre trabalho e prática da modalidade. Nem eu sei se estarei aqui até lá. Desejo muito, mas não sei", declarou Konno. 

A relação de Konno com o softbol

Além de ser técnico da seleção brasileira, Konno exerce a mesma função no Nikkei Curitiba, time de softbol da capital paranaense, que junto ao estado de São Paulo, são os dois grandes pólos da modalidade no país. 

Foto: Reprodução
Após tantos anos trabalhando com este esporte, ele pôde viver situações em que até mesmo ele teve que arcar com custos de viagens.

"É complicado o nosso esporte. Mas vejo pelo lado positivo também. As meninas se tornaram empreendedoras. Se esforçaram ao máximo para fazer o esporte crescer. Se você não correr atrás dos seus objetivos, não dá certo. São custos grandes nessas viagens e as meninas tiveram que participar disso porque não tinha outro jeito. Até eu, não sei quantas viagens já tirei do meu bolso, pra gente pelo menos alavancar o esporte no país né", declarou Konno.

Tantos anos de bons serviços prestados ao softbol brasileiro, rederam a Konno a entrada no Hall da Fama da modalidade, honraria conquistada em 2019. 

"Se não fosse a ajuda que recebi aqui no clube nesses anos todos, eu nem estaria no softbol", disse o técnico, que jogou beisebol na juventude. 

"Um dia um amigo meu do clube me chamou para ajudar o técnico da época. E quem joga essas modalidades tem esse sentimento de querer ajudar. Então eu fui lá, ajudei um dia. Depois esses dias passaram a ser semanas. Até que o técnico foi embora e eu assumi a responsabilidade de tocar a equipe", contou o treinador de 50 anos. 

"A gente começou a estruturar a equipe. No começo eu não tinha nem dez atletas. Teve um período que eu só tive uma jogadora lá. Então o clube juntamente com o trabalho dos pais foram retomando a montagem da equipe daqui de Curitiba. Hoje temos todas as categorias preenchidas, desde o infantil (T-ball), até o adulto", relatou Konno. 

Por fim, o técnico da seleção declarou ainda que uma alternativa para alanvancar o softbol e vários outros esportes no pais, seria um maior envolvimento das universidades nacionais e a possibilidade de criar um sistema parecido com o utilizado nos EUA, pela Associação Atlética Universitária Nacional (NCAA). 

"Acho que se a gente tivesse um sistema como o dos EUA, onde você ganha uma bolsa de estudo e junto com essa oportunidade, você se desenvolve no âmbito esportivo e educacional, o Brasil seria uma potência olímpica. Além de crescer dentro do esporte o atleta estuda e garante uma profissão para o futuro", opinou Konno. 

Foto: Jiro Mochizuki

3 Comentários

  1. Saúde!
    O softbol alia atividade física e mental. Tem valores como disciplina, tolerância, coletividade. Tem lugar para todos os biotipos e idades. Possibilita ampliar horizontes e levar os aprendizados para a vida pessoal e profissional.
    É um esporte amador. Praticado pelos apaixonados. Amor puro!

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  2. Parabéns aos desportistas e praticantes do Softbol, modalidade em que a experiência vivida com certeza transforma as pessoas para muito melhor, a formação de caráter senso de trabalho em equipe e solidariedade.

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  3. Obrigado ao site Surto Olímpico pela divulgação do Softbol e o repórter Lucas Bueno.

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