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Surto Entrevista - Nicole Silveira


Gaúcha de 26 anos de idade, Nicole Silveira vem se firmando como um dos principais nomes do Brasil nos esportes de inverno. Ela, que vive no Canadá, se tornou a primeira atleta do país a competir no Mundial de Skeleton e foi a vencedora da última edição do Prêmio Brasil Olímpico na categoria Desportos no Gelo.

Nesta entrevista, Nicole conta como tem sido o seu processo de evolução na modalidade, suas expectativas para a busca de uma vaga nos Jogos Olímpicos de Pequim 2022 e com tem sido sua experiência de trabalhar como enfermeira no combate ao COVID-19. 


- Você foi vice-campeã da última temporada da Copa América, melhorou sua posição no Mundial este ano em relação ao ano anterior e está no Top 40 do ranking mundial do skeleton. Como está sendo este processo de crescimento na modalidade e o que você acha que ainda precisa evoluir mais?

Eu tenho certeza que necessito continuar evoluindo em várias áreas. Crescimento não pode nunca parar. Tenho aplicado no meu bem-estar psicológico, técnico e físico para que consiga formar uma base sólida para continuar aperfeiçoando meu posicionamento na modalidade. Aplicando em novos métodos de corridas, exercícios que ajudarão no aumento de força muscular e canalização dos esforços no progresso da ascensão da minha posição no ranking mundial.

- Você já praticou dança, ginástica artística, rugby, vôlei, futebol e fisiculturismo antes de se tornar uma atleta de esportes de inverno. Como a prática de modalidades tão distintas te ajudou na carreira?

Consistência, disciplina, resiliência…estes são alguns entre outros benefícios de estar envolvida com vários esportes desde minha infância. Iniciação esportiva é muito positiva e abre um mundo de possibilidades. Sempre estive envolvida em esportes de forma competitiva o que ajudou do meu desenvolvimento físico e psíquico para que hoje esteja preparada para alcançar sucesso em esportes de mais alto rendimento.

- Antes do skeleton, você competiu no bobsled. Como foi o processo de transição de uma modalidade para outra?

Foi bastante diferente no sentido que quando praticava bobsled, eu era a “brakewoman”, ou seja, eu empurrava o trenó no início e depois puxava o freio. Por isso, não tinha quase nenhum controle e zero visão da pista em que estava na frente do piloto. Quando fiz a transição para o skeleton, tive que aprender todas as curvas das pistas e tinha total controle, o que me fez apaixonar com o esporte mais ainda. Também me ajudou a desenvolver minha autoconfiança, tomar decisões que representam resultados finais e aceitar a responsabilidade de que eu sou a única responsável por estes ditos resultados. Em termos de como funcionava a temporada, já estava familiarizada com a vida de viajar para vários países e estar longe de família e amigos. Mas a qualificação e o progresso ajudam a compensar a saudade de estar longe de todos.

- Uma peculiaridade do skeleton é que existe um clima de amizade entre os atletas. Como é sua relação com as suas colegas? Se inspira em alguma delas?

Sim, por conta do esporte ser tão distinto e não ter muitos atletas em quantidade, todo mundo no esporte de skeleton se conhece e admira os esforços uns dos outros. Tenho muitas amizades com atletas internacionais. Amo muito essa parte do esporte, de poder conhecer pessoas do mundo inteiro. Me inspiro muito em todas as atletas femininas que, parecidas comigo, se esforçam para levar seu país aos Jogos Olímpicos e ter chance de receber medalhas.

- Você foi eleita ano passado como melhor atleta de esportes de inverno do Prêmio Brasil Olímpico. O que este prêmio representou para você?

Este ano que passou foi um dos mais importantes para mim em termos de desenvolvimento e reconhecimento internacional. Me senti honrada em ser eleita o melhor atleta de desportos no gelo e de receber esse prêmio maravilhoso. Espero continuar a dar orgulho ao meu país e poder representá-lo da melhor maneira possível. Estou pronta para o desafio que está vindo pela frente.

- Você tem trabalhado como enfermeira neste período de pandemia. Como está sendo esta experiência na sua vida?

Tem sido bem diferente. Imaginava estar trabalhando todos os dias, sem folga, mas no início da pandemia no Canadá, os hospitais fecharam muitas áreas, deixando muitas enfermeiras sem ter muito trabalho, especialmente na parte cardíaca e da pediatria onde normalmente atuo. Foi mais ou menos meu caso, então procurei outras fontes para poder contribuir com a sociedade e ajudar durante esta pandemia. Fui convocada a fazer o check-in (avaliação inicial) na entrada dos hospitais medindo temperatura e explicando procedimentos internos. Também passei 3 semanas no norte da província num asilo de idosos ajudando com o surto; tendo em vista que está muito difícil de conseguir pessoas para trabalhar nestes locais já que são o foco principal da doença e ninguém quer entrar nesses ambientes. Foi muito compensador poder ajudar as pessoas mais velhas que muitas vezes se encontram sós e tristes devido a não poderem estar em contato com seus entes queridos.  Hoje, estou de volta em minha cidade e devagarinho as coisas estão voltando ao normal. Mas de mesma forma, muita coisa mudou. Temos que usar máscara durante todo nosso turno. Nunca tive medo de contrair a doença, queria mesmo era estar ajudando onde pude.

- Teme que esta pandemia possa atrapalhar a sua busca pela vaga nos Jogos Olímpicos de Pequim 2022?

Já pensei muito em como essa pandemia pode me afetar e afetar as Olimpíadas em 2022. Tem várias coisas negativas, mas também algumas positivas se nossa temporada de 2020/2021 for cancelada; tal como poder treinar mais concentrada no desenvolvimento do esporte em si e não se preocupar com pontuação. Tento não me estressar com coisas que não tenho como mudar e sim usar para minha vantagem. Não vou deixar essa pandemia afetar minha vaga nos Jogos Olímpicos de Pequim 2022. Continuo e continuarei treinando para o meu progresso pessoal no esporte nessa temporada que se aproxima tão rapidamente.

- Você foi a primeira brasileira a disputar o Mundial de Skeleton. Qual a sensação de saber que pode também ser a pioneira da modalidade nos Jogos Olímpicos de Inverno?

Wow, somente de pensar nisso dá arrepios. Meu orgulho de poder pela primeira vez representar o país numa Olimpíada de Inverno numa modalidade que nunca teve participação anteriormente é de explodir meu cérebro. Não imagina a felicidade de poder quebrar a barreira e representar o Brasil, um país tropical, num esporte de gelo, pela primeira vez na história. Que desafio maravilhoso que tenho pela frente.

- Por fim, deixe uma mensagem para os leitores do Surto Olímpico.

Nunca desista de seus sonhos e seja perseverante. Não faça nada pela metade. Se dedique ao que quer e saiba que é possível desde que se tenha uma mentalidade positiva e faça tudo com amor e dedicação. Acredite, tudo é possível!

Foto: Rory Siddall/@rorysvideos

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