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Campeã pan-americana, Gwen Berry desabafa: "sinto como se um fogo estivesse queimando em mim"


"Sinto como se um fogo estivesse queimando em mim. Tenho orgulho de pessoas que estão protestando. Tenho orgulho de pessoas que estão se posicionando. Sinto que agora, mais do que nunca, sou compreendida. Quando assumi minha posição, foi numa época em que as coisas estavam acontecendo, mas nada estava sendo feito. Quando assumi minha posição, fiquei completamente incompreendida. Agora sinto que todo mundo sente como eu me sentia", desabafou Berry ao citar as grandes manifestações espalhadas pelos EUA na última semana.

Foi desta forma que a americana campeã pan-americana do lançamento de martelo iniciou sua entrevista à revista 'Sports Illustrated'. No ano passado, nos Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru, Gwen Berry abaixou o rosto e levantou o punho em forma de protesto enquanto ouvia o hino nacional americano no pódio.
Gwen foi suspensa por 12 meses pelo Comitê Olímpico dos EUA por violar regras sobre protestos políticos em uma competição global. A suspensão termina em agosto, justamente enquanto os EUA possuem protestos por igualdade racial após a morte brutal de George Floyd pela polícia americana.

"Eu recebi muitas ameaças de morte. Eu estava recebendo muitas ligações e emails. Muitas pessoas não me entenderam. Era uma época que eu estava me preparando para o Campeonato Mundial, então decidi preservar minha energia emocionalmente e não falar muito sobre isso. Eu fiz isso porque era genuíno. Eu sinto que as vezes as pessoas se posicionam e depois se esforçam demais para chamar a atenção, então isso não é genuíno", comentou Berry.

Gwen Berry conhece como funciona. Ela cresceu em Ferguson, Missouri, e marchou com manifestantes em St. Louis, em 2014, depois da morte do jovem Michael Brown, baleado pelo ex-policial Darren Wilson. A morte provocou semanas de manifestações e debates raciais, mas Wilson nunca veio a ser processado. Berry vai se juntar a manifestantes em Houston, nesta terça-feira (02), com a ideia de que precisa continuar enfrentando.

Desde pequena Gwen Berry cresceu sabendo que precisava ser forte e lutar por seus direitos. Próxima de completar 31 anos, a americana tenta passar sua luta para seu filho e irmãos.

"Meu pai sempre me disse que eu precisava ser forte. Eu cresci com força de vontade e mente forte. Ele sempre me dizia: "Nunca deixe as pessoas te verem chorar, porque elas te vêem chorar é um sinal de fraqueza e nunca deixe as pessoas te pegarem". Uma coisa coisa que ele me ensinou sobre a história e a cultura negra é que ele sempre me dizia que sou bonita. "Não deixe ninguém lhe dizer que você não é bonita". Ele apontava essas coisas para que, quando eu crescesse, não me sentisse inferior às pessoas que eram diferentes de mim", contou ao repórter Chris Chavez.

"Eu tenho que lembrá-los que quando você for a lugares, abaixe sua música. Não seja muito desordeiro e não preste atenção desnecessária a si mesmo, porque você é um alvo o tempo todo. É uma conversa difícil, mas é necessária", comentou sobre as conversas com seu filho e seus irmãos.


Berry em ação na final dos Jogos Pan-Americanos Lima 2019 - Foto: Vidal Tarqui/New Services Lima 2019

Com a quinta maior marca do mundo no arremesso de martelo e presença constante nas primeiras posições das grandes competições, Gwen Berry almeja brilhar em Tóquio e convoca a todos para lutarem contra o racismo.


"Vá para as linhas de frente. Se você perguntar a alguém que não é negro na América se ele quer ser negro na América, eles diriam que não. Então eles sabem. Eles só precisam ser corajosos o suficiente para fazer alguma coisa".

Questionada se protestaria novamente nas Olimpíadas, a lançadora de martelo não descartou. "Eu não sei como eu faria isso, mas definitivamente faria minha posição ser ouvida."

Nesta terça-feira (02), o Team USA do Comitê Olímpico e Paralímpico Americano se posicionou contra o racismo e a favor da igualdade. Nos comentários, internautas comentavam a suspensão dada pelo Comitê a Gwen Berry e Race Imboden, após protestaram em Lima 2019.

"A igualdade no campo de jogo, na vida e em nosso país não deve ser vista como um privilégio, mas, sim, um direito concedido a todos os humanos", dizia a publicação.

"Palavras vazias. Vocês colocaram Berry e Imboden em liberdade condicional de 12 meses por levantar o punho e ficar de joelhos", comentou uma internauta citando os gestos dos atletas.

Foto: Claudio Cruz/ New Services Lima 2019

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