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Em menos de dois meses, curso de Enfrentamento do Assédio e Abuso no Esporte supera os 750 atletas inscritos


As restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus obrigaram a população brasileira a reorganizar sua rotina. Com mais tempo livre para investirem em si mesmas, as pessoas têm encontrado nos estudos uma alternativa interessante para adquirir novos conhecimentos e enriquecer a formação. No caso de atletas e ex-atletas, uma das opções mais buscadas tem sido o curso de Prevenção e Enfrentamento do Assédio e Abuso no Esporte (PEAAE), desenvolvido pelo Instituto Olímpico Brasileiro (IOB), braço de educação do Comitê Olímpico do Brasil (COB).

Lançado no último dia 13 de março, em formato de ensino a distância (EAD), o PEAAE já atraiu cerca de 3.000 profissionais do esporte, sendo mais de 750 atletas e ex-atletas. O objetivo do curso é mostrar como o assédio e o abuso podem se manifestar no meio esportivo, de que forma é possível reconhecer seus sinais e como as organizações podem enfrentar essas práticas, além de explicar ações de prevenção, denúncia, enfrentamento e acolhimento às vítimas.

“Achei tão legal o COB proporcionar esse tipo de curso. Não só para os ex-atletas, mas principalmente para os que ainda são atletas. Sabemos que isso existe e que muitas dessas histórias permanecem ocultas. É importante que todos sejam incentivados a estudar e a se prepararem melhor. Da minha geração para trás, são poucos os que tiveram essa oportunidade”, afirma a ex-jogadora de vôlei Ida, medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos Atlanta 1996.

“Nunca tinha feito algo parecido, e acho importantíssimo esse envolvimento do COB em questões como assédio, abuso e bullying. Precisamos desse respaldo no esporte, onde muitos jovens deixam suas cidades e seus familiares e acabam não sabendo lidar com várias situações. Esse curso nos traz outra visão, e me sinto mais consciente e preparado para oferecer ajuda”, complementa Isac, meio-de-rede do Sada/Cruzeiro (MG) e da seleção brasileira de vôlei.

Gratuito e com carga horária de 30 horas, o curso está dividido em quatro temas principais: “O que é assédio e abuso?” – definições e categorias; “Reconhecendo os sinais” – como identificar casos de assédio e abuso; “Conhecendo o seu papel” – reconhecer, denunciar e prevenir; e “O que as organizações esportivas podem fazer?” – como atuar na prevenção do assédio e abuso no esporte.

Aprendizado para todas as idades
Uma das principais marcas do PEAAE tem sido a adesão de atletas e profissionais de todas as faixas etárias, desde os que estão iniciando suas carreiras até aqueles que já construíram uma brilhante trajetória no esporte. São os casos de Laura Watanabe, do tênis de mesa, e de Elisângela Adriano, do atletismo.

“Já tinha ouvido falar em abuso e assédio no esporte, mas não sabia de fato o que era e como acontecia, porque nunca presenciei uma situação dessas”, conta Laura, 16 anos, que integrou a equipe brasileira que conquistou a vaga olímpica para Tóquio 2020. “Meus principais aprendizados foram saber identificar quando alguém está tentando abusar ou assediar de você, as estratégias que essas pessoas utilizam para conseguir o que querem e como me proteger”, completa a mesatenista

Já no caso de Elisângela, campeã pan-americana no lançamento de disco em Winnipeg 1999, um dos objetivos foi justamente transmitir o conhecimento adquirido aos jovens que integram seu projeto de atletismo.

“Adorei o curso e tenho indicado para várias pessoas. Quero levar esse aprendizado para dentro do IEMA (Instituto Elisângela Maria Adriano), onde estou organizando uma campanha de informações e um canal de denúncia, com telefone e e-mail”, revela a ex-atleta, que disputou os Jogos Olímpicos de Atlanta 1996, Atenas 2004 e Pequim 2008.

Mas o PEAAE não tem atingido somente os jovens e os atletas já aposentados. Quem ainda está no auge da carreira também está tirando lições dos ensinamentos transmitidos pelo curso.

“A maioria dos atletas, para não dizer todos, já passou por essa situação. Existem certos episódios, principalmente de assédio moral, que eu encarava como normais, e não são. Vi que não podemos nos omitir, que é preciso interceder quando algo estiver acontecendo. Como um dos capitães da seleção de handebol, tenho que estar mais atento a tudo que acontece”, diz o armador esquerdo Thiagus Petrus, 31 anos, ouro nos Jogos Pan-americanos Toronto 2015 e que disputou os Jogos Olímpicos Rio 2016.

Engajamento do COB no combate ao assédio
Desde 2018, quando lançou a Política de Prevenção e Enfrentamento ao Assédio Moral e Sexual e Abuso Sexual, o COB vem ampliando sua atuação e assumindo um compromisso em garantir um ambiente saudável, de acolhimento, orientação, proteção e prevenção, colocando à disposição de atletas e agentes envolvidos no esporte olímpico um canal aberto para denúncias de casos de assédio e de abuso moral e sexual. Nesse sentido, o PEAAE surge como um novo marco nessa luta do COB por um ambiente saudável no esporte.

“Acreditamos que o melhor caminho para a segurança no esporte é o conhecimento. A criação desse curso nos trouxe desafios, pois a nossa meta era abordar um assunto delicado, porém altamente relevante, de forma simples, objetiva e adaptada ao esporte”, explica Soraya Carvalho, gerente do IOB.

O maior envolvimento do COB no combate ao assédio moral e sexual e ao abuso sexual não passou despercebido pelos atletas brasileiros, que enalteceram a iniciativa.

“Estive em uma seleção brasileira de base que teve uma história de assédio de um ex-treinador, o encontraram com uma menina no quarto. Esse mesmo treinador, quando eu estava na seleção infanto-juvenil, vinha conversar comigo. Então, sei que isso existe e que devem ter muito mais casos do que imaginamos. Por isso, é ótimo que exista essa preocupação”, elogia Ida, que, além do terceiro lugar em Atlanta 1996, foi meio-de-rede da seleção feminina em Los Angeles 1984 e Barcelona 1992.

“Quando ainda jogava no Pinheiros (SP), o pessoal falou algumas vezes sobre assédio. Mas, na maioria das vezes, foi com o COB. Vi que passaram a ficar mais atentos ao tema nos Jogos Sul-americanos de Cochabamba 2018, quando foram bem taxativos e tocaram bastante nesse ponto”, finaliza Thiagus, que atualmente defende o Barcelona (Espanha).

Foto: Miriam Jeske/COB

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