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Coluna Gran Willy: Andy Murray, das decepções ao primeiro Grand Slam


O tenista escocês Andy Murray, completou 33 anos na última semana. Desses 33, 15 foram voltados ao tênis profissional. Fracassos, títulos, glórias, lesões, superações e responsabilidades marcaram sua vida. Se sua história fosse contada em um filme, passaria muito longe de ser um conto de fadas. No entanto, o atleta sempre demonstrou perseverança. Portanto a Coluna Gran Willy desta semana relembra a trajetória do tenista, da infância até seu primeiro título de Grand Slam. 

O início não foi fácil

Aos 9 anos, o menino Andy ainda morava em Dunblane, na Escócia, e viu de perto a escola onde estudava ser atacada. Um homem de 43 anos chamado Thomas Hamilton invadiu o local e matou 16 crianças e uma professora, antes de tirar a própria vida.

Não bastasse isso, no ano seguinte os pais de Andy se divorciaram. Foram momentos complicados para uma criança superar. Para completar, seu irmão Jamie estava deixando a casa da família para treinar e jogar tênis. Tudo aquilo causou reflexos no garoto, que assim como o irmão, também praticava tênis.

Tornando-se uma promessa

O tênis por muito tempo foi o refúgio. Após superar problemas de ansiedade, o garoto passou a mostrar muita determinação e talento. Aos 12 anos, venceu o Orange Bowl, um prestigiado evento de tênis para novos jogadores. Aos 14, venceu o torneio novamente, juntando-se a Jimmy Connors, Jennifer Capriati, Monica Seles e Yishai Oliel como os únicos a vencerem duas vezes o Orange Bowl. 

Aos 16, veio o primeiro título de Future, em casa, jogando na capital escocesa, Glasgow. Em 2004, com 17 anos, Andy conquistou o US Open Júnior. Mal sabia ele que apenas oito anos depois escreveria seu nome na história do tênis e da Grã Bretanha. 

Andy Murray vence Sergiy Stakhovsky por 6/4 e 6/2 na final do US Open Júnior de 2004. Foto: Reprodução/YouTube
A ascensão

Em 2005, virou profissional. Não demorou muito para o sucesso vir. Após algumas derrotas em primeiras e segundas rodadas de torneios, Andy chegou em sua primeira final em nível ATP. O rival foi o suíço Roger Federer, que venceu por 6/3 7/5. A partir daquele momento, Federer nunca mais sairia da história do escocês no tênis. 

No ano seguinte, Andy conquistou seu primeiro título em nível ATP, ao derrotar o australiano Lleyton Hewitt por 2/6 6/1 7/6. Naquele mesmo ano, o tenista escocês encontraria pela primeira vez como profissional um de seus maiores rivais no circuito, o sérvio Novak Djokovic, que levou a melhor em partida realizada na terceira rodada do Masters 1000 de Madrid de 2006. 

Os anos passavam e Andy se solidificava entre os melhores tenistas do mundo. Em 2007, a entrada no top 10 do ranking, já em 2008, a primeira final de Grand Slam. E claro, tinha que ser lá, no US Open. O adversário foi Roger Federer, que atravessava sua primeira "crise" na carreira, mas que não deixou chances ao jovem rival, vencendo por 6/2, 7/5 e 6/2. 

A seguir, em 2009, viriam os primeiros títulos de Masters 1000, série de torneios no qual ele é o quinto maior vencedor, com 14 troféus. Venceu também o ATP de Queens, na Inglaterra, tornando-se o primeiro homem de origem britânica a vencer o torneio de grama desde 1938. No mesmo ano, Andy disputou a primeira partida de Wimbledon com o fechamento do teto retrátil, em confronto contra Stan Wawrinka. Além disso, atingiu seu melhor ranking até então, um 2° lugar. Mas após lesões, fechou a temporada em 4°, com 6 títulos. 

Casca grossa, mas nem tanto

Ao longo dos anos, adquiriu muita experiência. O jovem Andy já não era mais um tenista bobinho. Em quadra, tornou-se traiçoeiro. Dominou a arte de demonstrar exaustão. Dava alguns golpes displicentes, reclamava consigo mesmo, fazia expressões e posturas de quem estava morto no jogo. Entrava na mente do adversário. Quanto mais o rival achava que Andy estava derrotado, mais o escocês estava vivo. Era só questão de tempo para o bote. 

Mas ainda não era o suficiente. Em 2010 ao ser derrotado mais uma vez por Federer em uma final de Grand Slam, dessa vez na Austrália, Andy disse em seu discurso: "Eu posso chorar como Roger, é uma pena que eu não possa jogar como ele", em referência ao choro do adversário ao perder o título do Major no ano anterior e seu estilo de jogo.

Andy Murray sucumbia na tentativa de ser o primeiro britânico a ganhar um Grand Slam após décadas. Foto: Reuters
Em 2011, nova derrota na final do Australian Open. Dessa vez, para Novak Djokovic. A sina tomava rumo. Uma partida abaixo da expectativa, choro na cerimônia de premiação, discurso negativo e mais um prato para casa (geralmente o formato do troféu de vice-campeão lembra um prato). 

O ponto de virada

Mas o ano de 2012 reservava momentos épicos. Aliás, este ano merecia um texto próprio. Após ver a queda precoce de Rafael Nadal na primeira semana de Wimbledon, Andy derrotou David Ferrer e Jo Tsonga para chegar em sua primeira final no All England Club. As pessoas comentavam sobre a possibilidade de um britânico vencer na grama sagrada após 76 anos. Um Federer "trintão" na final, cansado após longas partidas no torneio. Um set de vantagem no placar. Torcida a favor. Era o melhor cenário do mundo. 

Mas o Rei de Wimbledon reagiu. Fez mágica e acabou pela terceira vez com o sonho de Andy. O placar de 4-6, 7-5, 6-3 e 6-4, levou o escocês aos prantos durante a premiação. Em seu último ato naquela noite londrina, Andy mudou o rumo de sua carreira ao discursar. "Vou tentar, não vai ser fácil", declarou à plateia tentando conter as lágrimas. "Vou começar a chorar de novo. Todos sempre falam da pressão de jogar em Wimbledon, de como é duro. As pessoas que assistem tornam as coisas bem mais fáceis aqui, fazem com que seja incrível", acrescentou, recebendo uma entusiasmada salva de palmas.

Semanas depois, Andy voltaria ao All England Club, durante os Jogos Olímpicos de Londres, para ganhar a primeira medalha de ouro olímpica de um britânico no tênis em simples, desde Josiah Ritchie, em 1908. O adversário da final: Roger Federer, que foi destronado em seu próprio reino após 3 sets a 0, 6/2 6/1 e 6/4. 

No mesmo dia Andy ainda ganhou a prata em duplas mistas, ao lado de Laura Robson.

Antes de vencer Federer na final olímpica, Andy Murray derrotou Novak Djokovic na semifinal. Foto: Action Images  
Tabu superado

Mais algumas semanas à frente e os tenistas já estavam no US Open. Andy fazia campanha regular, vencendo Alexander Bogomolov Jr, Ivan Dodig e Milos Raonic sem perder sets. Contra Feliciano Lopez e Marin Cilic, Andy perdeu um dos sets, tendo que virar o jogo contra o croata, nas quartas. Mas a eliminação de Federer contra Berdych, transformava aquela em mais uma grande oportunidade. Andy vira mais uma vez, agora contra o tcheco e se classifica para mais uma final de Grand Slam. A quinta. 

Pela frente, o velho rival, Djokovic. Mas aquele dia parecia diferente. Parecia que nada tiraria o título das mãos de Andy. 7/6, 7/5. Ele nunca tinha aberto a vantagem de dois sets em uma final, era de fato o momento, o campeonato estava em suas mãos. Só faltou combinar com o sérvio, que fez 6/2, 6/3 para empatar a partida, como se só houvesse ele dentro da quadra. Simplesmente ignorou a existência de Andy. E lá vem mais um fracasso. Esse com a marca de uma derrota de virada. Iria acontecer de novo. 

Mas antes da parcial decisiva, Andy vai ao vestiário e para diante um espelho. Mil perguntas na cabeça, mais um fracasso pela frente. "Como fui desperdiçar uma vantagem de dois sets?", perguntava. Ele revelou à revista Times no ano seguinte, que passou a gritar consigo mesmo na frente daquele espelho. "Você não vai perder essa partida. Você não vai deixar essa escapar. Esse é o seu momento". Ele sabia que podia ganhar. E foi visceral. Implacável. E logo ele chegou ao duplo ponto do campeonato.

Segundo saque na direita de Djokovic e o sérvio joga a bola para fora, fechando 5º o set em 6/2. Andy jogou a raquete no chão e caminhou até o lado da quadra. Agachou. Colocou as mãos no rosto, parecendo não acreditar. O choro demorou pouco para aparecer. Depois de cinco finais, aquelas lágrimas eram de felicidade. Andy tornou-se o primeiro homem de origem britânica a vencer um Grand Slam em simples após 76 anos. O último havia sido Fred Perry, em 1936. No US Open

Murray quebra o tabu e ganha seu primeiro Grand Slam Foto: Chang W. Lee/New York Times
Não adianta, tinha que ser ali. Onde triunfou quando era um adolescente. Onde teve a primeira decepção em finais. Vindo de uma medalha de ouro olímpica. 

Smash!

- Murray conquistou ainda o Torneio de Wimbledon em 2013 e em 2016. Ao todo o escocês tem 46 títulos na carreira.

- Ele conquistou o bicampeonato olímpico consecutivo na Olimpíada Rio 2016.

- Em novembro de 2016, assumiu a liderança no ranking da ATP, permanecendo por 41 semanas.

- Em 2019 anunciou sua aposentadoria por causa de graves lesões e dores, mas voltou às quadras em junho do mesmo ano. Hoje aguarda o fim da pandemia do coronavírus. Ele é atualmente o 129° melhor tenista do ranking. 

Foto: Rob Loud/USTA

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