Parecia que a previsão inicial pós jogos do Rio não se concretizaria, mas estamos mesmo de fora dos jogos olímpicos de Tóquio. Demorei intencionalmente para fazer esse texto, pra não ser tomado pela emoção em algum momento e deixar calar um pouquinho a voz do torcedor. Porque, como um fã de basquete, essa eliminação doeu e não quero ser injusto com ninguém. 2019 nos deu uma pequena ilusão de que poderíamos transpassar todos os problemas que as meninas do basquete sofrem há pelo menos uns 20 anos, mas a realidade bateu na porta novamente em 2020.
Sobre o pré-olímpico, todo mundo sabia que o jogo contra Porto Rico era nossa final. Após três quartos jogando de maneira razoável, parecia que o Brasil controlaria e venceria o jogo aos trancos e barrancos, mas aí faltou algo básico do basquete que é saber não deixar o adversário gostar do jogo. Porto Rico, com todas as suas limitações, gostou do jogo, o Brasil sentiu a pressão de decidir a partida e a derrota na prorrogação veio. França e Austrália eram derrotas certas e o Brasil, memos com um time com um nível abaixo dessas seleções, jogou até bem em alguns momentos pelo nível da nossa seleção e das adversárias, mas o último quarto novamente as brasileiras caíam muito de rendimento e a derrota vinha.
Em qualquer eliminação em qualquer esporte aqui no Brasil começa-se o tradicional caça às bruxas e acaba sempre sobrando para o técnico (e com razão às vezes). Mas José Neto foi acertadamente mantido para pensar no ciclo de 2024. Ele, que conseguiu uma evolução técnica impensável para mim (sério, para mim o Brasil com essas jogadoras ia ficar no pré continental), mas agora precisa começar o trabalho do zero. Nossa seleção é fraca, com todo respeito às meninas que se esforçam a manter o basquete feminino vivo no meio dessa terra arrasada- Elas são a que tem menos culpa nesse processo. Neto deve ter um planejamento preliminar para 2024, ele sabe que precisa fazer a transição das jogadoras de hoje com os (poucos) talentos que temos na base e vai precisar do apoio da CBB, das federações estaduais e dos clubes para isso.
Mas, começando de cima para baixo, a CBB vai ter condições de fazer intercâmbios e mandar seleções de base e profissional para Europa para treinos e competições? Os clubes vão conseguir manter equipes de base? As federações vão conseguir fomentar o esporte nos estados, dando suportes aos profissionais que ensinam o basquete feminino? Falta grana, isso é fato, e quando a CBB teve dinheiro na farra da Rio 2016 que todas seleções tinham grana à vontade, só olhou para seleção masculina. E isso vem desde quando o "abençoado"- para não dizer outro nome - do Gerasime Bozikis entrou no comando da CBB. As meninas se seguram na boa geração pós Paula e Hortência, capitaneadas por Janeth, mas quando veio a geração seguinte, que foi deixada de lado, largou a liga nacional, a base , a seleção feminina, tudo porque só se olhava para a seleção masculina que não se classificava para a olimpíada (e pra desviar umas verbas também), caímos de nível estilo descida de montanha russa.
Ainda temos um abismo técnico muito grande. Se no âmbito das Américas mostrou-se fácil alcançar algumas seleções que estão ganhando da gente, no âmbito mundial estamos muito atrás. O alento é que ele parece ser menos complicado de subir de patamar do que no basquete masculino mundial.
Eu vejo o futuro do basquete feminino, com toda sinceridade, reside nas jogadoras brasileiras que atuam na NCAA (basquete universitário americano) feminino, que estão jogando em um basquete de alto nível técnico e podem se desenvolver muito por lá e serem de grande ajuda no adulto. Mas será que vamos conseguir a liberação delas? Vamos conseguir evitar que elas se naturalizem e defendam outra nação? Não sabemos. A esperança é que a CBB, mesmo sem verbas e com uma liga nacional com risco de perder patrocínio, consiga manter a seleção feminina minimamente competitiva no próximo ciclo.
E a Masculina também, já que o caminho para se classificar para Tóquio, vai ser difícil...
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