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Coluna Surto Mundo Afora #54 - O esporte mais democrático de todos



Modalidade que volta ao programa olímpico em Tóquio 2020, o beisebol viveu uma semana cheia de emoção e em foco. Começou na última terça-feira (22) a World Series. A grande final da Major League Baseball (MLB) que este ano reúne os campeões da Liga Americana, Houston Astros, contra o da Liga Nacional, Washington Nationals. Com muitos atletas de várias partes do planeta, foi um venezuelano baixinho, porém gigante no talento, que roubou a cena e provou mais uma vez: é o esporte mais democrático de todos.

Por sua dinâmica diferenciada, o beisebol sempre foi um espaço onde atletas com diversas características sempre se destacaram. Ainda não tão popular no Brasil, foi justamente essa diferenciação que o tornou um dos mais praticados no mundo todo, principalmente América Central e Ásia. A série decisiva que transcorre nos Estados Unidos demonstra essa paixão, com 6 jogadores da Venezuela, 4 da República Dominicana e Cuba, 2 de Porto Rico e México e um do Brasil, o receptor (catcher) Yan Gomes, que chega à sua segunda World Series.

Entretanto foi a decisão, anterior, entre Houston Astros e New York Yankees, que virou centro das discussões esportivas. O venezuelano de 1,60cm (há divergências sobre a altura exata) José Altuve rebateu o home run que eliminou o temido time de Nova Iorque e colocou os Astros na World Series. Repetindo 2017, quando o segunda base foi eleito o MVP da temporada regular na Liga Americana e da pós temporada, levou novamente o das finais da liga. Isso tudo aos 29 anos e muitos "nãos" recebidos em sua trajetória. Para muitos foi uma surpresa. Mas para quem ama o beisebol, não.

O venezuelano não é o único a quebrar estereótipos e provar que a modalidade é o esporte mais democrático de todos. Talvez o símbolo desse espaço seja o arremessador (pitcher) americano Jim Abbott. Jim nasceu com uma deficiência que o aleijou de ter a mão direita. Mesmo assim, além de se destacar com seus arremessos, foi campeão olímpico em Seul 1988. Sim, você leu corretamente: um arremessador que não tinha uma das mãos.

Draftado em junho de 1985 pelo Toronto Blue Jays, não assinou contrato à época. Três anos depois foi escolhido pelo California Angels, atual Los Angeles Angels. Ficou até 1992, quando foi trocado com os Yankees por outros dois atletas. Só que, no beisebol, quem arremessa também precisa rebater. Porém, por uma regra especial na Liga Americana - onde Jim atuou por 11 anos - o arremessador é substituído pelo chamado rebatedor designado, ou simplesmente, DH.

Foi com esse regulamento que Abbott conseguiu se impor sobre os adversário apenas sobre o montinho de lançamento. Em 1991, nos Angels, atingiu a sua melhor estatística específica dos arremessadores, o ERA, com 2.89. Este número é considerado excepcional para um pitcher, pois quanto mais baixo ele for, melhor. Para efeito de comparação, na temporada atual de 2019, o melhor ERA é do sul coreano Ryu, do Los Angeles Dodgers, com 2.32! Não à toa Jim foi o terceiro colocado na disputa do Cy Young, prêmio dedicado ao melhor dessa posição à época.

Mesmo sob forte preconceito por sua deficiência, Jim foi o arremessador na disputa da medalha de ouro das Olimpíadas de 1988, contra o Japão, outra potência. O jogou terminou 5 a 3 e o arremesso campeão saiu da sua mão esquerda. A mesma que o fez entrar para a História. Sua vida virou livro, a biografia escrita em conjunto com Tim Brown chamada "Imperfeito - uma vida improvável".

Os dois casos não estão sozinhos e muito menos são exceções. Pelo contrário. Alvo de muitas brincadeiras e memes na internet, o dominicano Bartolo Colón arremessa bolas venenosas e passeia carisma pelos estádios. Do alto dos seus 1.80 e 129kg, a silhueta bem acima do peso virou marca da sua ótima presença durante os 21 anos de MLB. Quatro vezes eleito para o Jogo das Estrelas (sendo a última em 2016, aos 43 anos!!!), ainda foi considerado o melhor arremessador da Liga Americana em 2005, quando jogava no mesmo Los Angeles Angels de Jim.

Ser gordinho nunca foi problema também para o venezuelano Pablo Sandoval. Atualmente no San Francisco Giants, o atleta de terceira base sempre criou problemas para controlar o peso e também para os seus rivais. Apelidado de Panda por conta da sua forma física, sempre foi um dos ídolos da equipe, atleta mais popular da Venezuela durante anos e fatal com o bastão. Em 2012 rebateu 3 home runs em um mesmo jogo na World Series, se juntando a nomes como Babe Ruth - considerado o "Pelé do Beisebol" -, Reggie Jackson e Albert Pujols.

Porém, com o avanço da idade, atletas vão sendo superados, certo? Não se você for Nolan Ryan ou jogar beisebol. Durante seus 27 anos de carreira, o americano que hoje está no Hall da Fama, conseguiu simplesmente 7 no-hitters. Ou seja, jogos sem nenhuma rebatida!!! São 3 a mais que qualquer outro arremessador na MLB!!! Sendo que seu último foi aos 44 anos!!!!!!!!! Considerado uma lenda viva do esporte, Ryan jogou em 4 décadas diferentes e eliminou, durante as partidas, sete pares de pais e filhos ao longo da sua trajetória.

Poderíamos enumerar muitos outros, no democrático espaço do campo em formato de diamante. Mas estes são alguns dos muitos casos que comprovam o quanto as competições vão muito além da disputa física. E neste patamar, ninguém supera o beisebol, espaço onde todos podem jogar. Quando uma bolinha encontra o bastão, o torcedor ou espectador também se encontra com o espírito ali encarnado.

Seja você baixinho, gordinho, velhinho ou simplesmente um apaixonado por esporte, entenda: o beisebol é um espaço de todos. E está de volta para 2020.
Foto: Kevin Cox/ The Daily News

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