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Coluna Surto Mundo Afora #53 - Na 'Primavera Feminina', a maior atleta do mundo é uma mulher


Não foram poucas as vezes em que o sucesso esportivo foi associado à masculinidade ou à figura de homens. Nos últimos Jogos Olímpicos, Michael Phelps e Usain Bolt foram alguns dos muitos, mas tiveram que dividir essa imagem midiática com uma mulher. E hoje, em plena era da causa feminina, ela suplantou todos e é a maior atleta do planeta: Simone Biles.

Até pelo seu caráter histórico, as Olimpíadas sempre foram o auge da midiatização e sucesso esportivo. Com raríssimas exceções, como os casos de Nadia Comaneci, em Montreal 1976, e Cathy Freeman, em Sydney 2000, a figura de um atleta homem sempre esteve acima de qualquer outra. Ainda que as mulheres tenham tido desempenho igual ou superior. Exemplo de Florence Griffith-Joyner, três ouros e uma prata no atletismo de Seul 1988.

Força e representação acabaram sendo quase sempre deles. Aumentada nessa lupa de gêneros quando lembramos a cada novos Jogos Olímpicos a heroica chegada da suíça Gabriela Andersen. Praticamente curvada, chegou ao final da maratona exaurida e caindo em seguida. E sem a vitória. Inegavelmente talvez seja uma das maiores imagens de todos os tempos. Porém é sempre associada às fragilidades, dores e, claro, espírito esportivo ainda que não vença.

Mas as mulheres no esporte são muito mais que "prêmio de consolação" ou algo do tipo. Ainda que escondidas pela cultura da nossa sociedade, anos após anos elas se tornam referências e inspirações para mais gerações que não querem viver sob essa sombra. E hoje a maior atleta do mundo é uma mulher, com nome e sobrenome, Simone Biles.

Biles se torna a principal estrela, figura e nome de sucesso para Tóquio 2020. Aos 22 anos apenas, a ginasta se tornou a maior medalhista da História da Ginástica Artística ao ganhar sua 21ª. E claro, o recorde veio com ouro, por equipes com os EUA. A americana superou a russa Svetlana Khorkina, que tinha 20 medalhas. 

Um dia depois, Simone quebrou seu próprio número: ganhou a 22ª medalha. Novamente dourada, agora no combinado feminino. E neste sábado, mais uma vez, a 23ª, no salto. Igualou o bielorrusso Vitaly Scherbo, maior vencedor em Mundiais. Um fenômeno. Um ícone esportivo.

Na Rio 2016, a ginasta conseguiu subir ao alto do pódio quatro vezes (equipes, salto, solo e individual geral). E mais uma no terceiro lugar (trave). Se fosse um país, Simone Biles teria ficado em 22ª lugar no quadro geral de medalhas, à frente de países como Argentina, Dinamarca, Suécia, Sérvia, Ucrânia, Romênia, República Tcheca... diversos países com relevância esportiva. E estamos falando apenas da sua PRIMEIRA Olimpíada.

No Mundial, que chegou ao fim neste final de semana, Simone Biles apresentou um novo movimento. O giro duplo em um backflip duplo, popularmente chamado de duplo-duplo. E para a cereja do bolo, ainda fez um triplo-duplo. A equipe dos EUA sugeriu que os nomes dos saltos sejam "The Biles" e "The Biles II". A Federal Internacional de Ginástica, a FIG, vai se pronunciar nas próximas semanas ou dias sobre a decisão. 

Em seu país, muito além de um fenômeno. Tornou-se relevante personalidade em diversas causas e lugares. Foi uma das que se manifestou em apoio sobre o escândalo #MeToo, cuja companheira Alexandra Raisman - também campeã olímpica - foi a grande porta-voz. Biles disse ter sido vítima de abuso sexual. Segundo ela, o autor do assédio foi o médico da equipe dos Estados Unidos, Larry Nassar. Desde então passou a levantar bandeiras e dar luz a quem não tinha.

Com apenas 1,45m, a atleta é uma gigante. Desfaz todos os mitos e é símbolo dessa Primavera Feminina que vive o mundo. Negra, mulher, baixinha e vencedora, muito vencedora. Uma pulverizadora de estereótipos. Uma referência para muitas outras que durante anos sempre tiveram que conviver com exemplos masculinos ou fora da sua realidade. Biles é hoje o maior nome do esporte mundial. Os holofotes do planeta estarão sobre ela em menos de um ano.

Ainda que apareçam alguns nomes de grande importância esportiva, será o de Biles que todos aguardam. O que ela fará de diferente. A programação televisiva americana já prepara uma grade especial para que a Ginástica, que de certo modo sempre foi modalidade queridinha da América, seja vista pelo país todo. Os Estados Unidores querem ver Simone. O mundo quer ver Simone. Eu quero ver Simone. 

Ela é a diferença entre o esforço sobre-humano e os mortais. Ela é a maior do planeta. Ela é a grande estrela de 2020. E ela é mulher.

foto: Ricardo Bufolin

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