A história recente da carreira do brasiliense Bruno Schmidt
no vôlei de praia pode ser resumida em três datas de significados
distintos. No início da madrugada de 19 de agosto de 2016, Bruno, ao
lado de seu parceiro Alison, chegava, nas areias de Copacabana, ao
título mais importante de suas vidas: o ouro nas Olimpíadas do Rio.
Naquela data, tudo indicava que o Brasil teria, para o ciclo
olímpico seguinte, uma dupla credenciada para repetir o resultado em
Tóquio 2020. Afinal, antes do ouro nos Jogos em casa, Alison e Bruno
dominaram a modalidade e tinham conquistado, entre outros diversos
troféus nacionais e internacionais, o Campeonato Mundial em 2015, na
Holanda, e o título do Circuito Mundial naquele mesmo ano.
Então, em 23 de maio de 2018, depois de um 2017 tímido em
termos de resultados, Alison anunciou que, após quatro anos e meio de
parceria, a dupla com Bruno Schmidt chegava ao fim. A decisão forçou
Bruno a uma mudança radical de direção em seus planos visando aos Jogos
Olímpicos no Japão.
No mesmo dia do desmanche da parceria com Alison, Bruno e o
carioca Pedro Solberg retomaram o time que havia sido campeão mundial
sub-21 em 2006, na Polônia, e que já tinha atuado com sucesso no
circuito profissional na temporada 2012/2013.
A dupla com Pedro Solberg, entretanto, durou menos de um ano.
Em 10 de fevereiro de 2019, Bruno ganhou um novo parceiro: Evandro, um
gigante carioca de 2,10m, que tem no currículo o título de campeão
mundial em 2017 (ao lado de André) e cujo saque foi eleito o melhor do
circuito mundial em 2015, 2016, 2017 e 2018.
Amparado pela versatilidade de Bruno, eleito o melhor jogador
do mundo em 2015 e 2016, melhor jogador defensivo do Circuito Mundial em
2013, 2014, 2015 e 2016, melhor jogador ofensivo do Circuito Mundial
2015 e melhor atacante do Campeonato Mundial 2015, o novo time estreou
no último fim de semana na etapa de Fortaleza do Circuito Brasileiro. O
resultado foi a medalha de ouro conquistada após seis jogos e seis
vitórias sem nenhum set perdido e a expectativa de que o potencial dos
dois pode levá-los a sonhar com o topo do pódio em Tóquio no ano que
vem.
Evandro sempre na mira
Bruno conta que desde o fim da parceria com Alison já sonhava
com Evandro como seu companheiro em quadra. Mas revela que uma série de
fatores impediu que o time se formasse em 2018.
“Desde o meio do ano passado, quando eu e o Alison nos
separamos, eu não imaginava que o Evandro e o André fossem desfazer o
time deles, tendo em vista como eles estavam jogando, o posicionamento
no ranking e tudo mais”, lembra Bruno. “Fiquei surpreso quando eles
abriram o time e o André foi jogar com o Alison. Eu já tinha fechado com
o Pedro no mesmo dia em que a gente decidiu desfazer a dupla, pensando
realmente que essa dupla do Evandro e do André não iria se desfazer.
Dois dias depois, o técnico do Evandro me procurou e eu não acreditei.
Falei com ele que estava complicado, que estávamos no meio da temporada
do Mundial. Disse que eu iria terminar a temporada com o Pedro e que
iria procurá-lo. Feito isso, não houve mais contato. Ele sinalizou que
iria dar continuidade com o parceiro do Evandro com quem ele terminou a
temporada passada, que era o Vítor, e então, para mim, já tínhamos
fechado as portas”, prosseguiu o campeão olímpico.
“Aí, na prorrogação mesmo, a gente voltou a conversar por
telefone. A minha cabeça de hoje é a mesma do ano passado: topei na
hora. Achei bacana a ideia em todos os aspectos, principalmente no lado
motivacional. A gente topou juntar em cima da hora mesmo, já que temos
pouco tempo para trabalharmos a dupla. Daqui a duas semanas já estamos
viajando para nossa primeira competição internacional. Foi bem em cima
da hora, mas acho que era necessário”, frisa Bruno.
Embalados pelo título em Fortaleza, Bruno e Evandro, partem, em breve,
para o primeiro desafio internacional. De 14 a 16 de março, eles
disputam a etapa quatro estrelas do Circuito Mundial de Doha, no Catar.
Com foco voltado para a classificação para as Olimpíadas de
Tóquio 2020, Bruno explica que relaxar no carnaval é um luxo que ele e
Evandro não podem se dar. Tanto que os treinos na praia do Leblon terão
até que ser transferidos de lugar, de modo que a folia carioca não os
tire do foco em nenhum sentido.
“Não existe no vôlei de praia essa parada semanal do carnaval. É
um período em que a gente precisa priorizar os treinos em todos os
sentidos, físicos e técnicos. Aqui no Rio de Janeiro fica um pouco
complicado por conta do carnaval mesmo. Então, a gente vai para
Saquarema e por isso vamos poder ter uma semana ainda mais intensa na
preparação para Doha”, revela.
Afinidade e admiração
Donos de temperamentos parecidos, marcados por um jeito calmo e
quase tímido, Bruno e Evandro compartilham, além dos títulos mundiais e
do amplo domínio dos fundamentos do vôlei de praia, uma admiração
mútua.
“Jogar ao lado do Bruno só me motiva mais”, diz Evandro. “O
Bruno, por já ser um campeão olímpico, por já ter conseguido a medalha
de ouro dele, me faz querer a minha também. Ele é uma pessoa fácil de
lidar. Eu também. Então isso ajuda bastante. Somos pessoas simples. O
Bruno é um craque. É um excelente jogador, um excelente levantador,
então facilita bastante o meu jogo. O Bruno sempre me deixa livre para
tomar minhas decisões e isso é bacana. E ele fica livre para falar o que
ele acha. Eu sempre dei essa liberdade, de ouvi-lo mais do que falar.
Eu acho que essa é a grande diferença do nosso time”, continua.
“Ele vem em uma crescente muito grande, cada vez mais
adquirindo respeito e títulos lá fora. É o atual campeão do mundo. É o
melhor saque do mundo por quatro temporadas consecutivas e não é
qualquer um que consegue esse feito”, elogia Bruno, que revela que
Evandro concordou em uma mudança de posicionamento em quadra para a
formação do novo time.
“Ele vinha jogando na mesma posição que eu. Desde o ciclo
passado, ele jogava revezando, não era o principal bloqueador. Na
conversa que a gente teve, ele teria que mudar a posição e ser, por
questões bem óbvias (de altura, já que Bruno tem 1,85m), o único
bloqueador. Lembra um pouco as questões técnicas da minha antiga
parceria (com Alison), justamente por conta das minhas necessidades e da
maneira como temos que jogar lá fora. Então, a gente tem que trabalhar
em cima disso para potencializar o máximo o nosso time e chegarmos bem
competitivos em pouco tempo”, diz Bruno.
Foto: CBV
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