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Surto Entrevista: Oscar Schmidt

Por Juvenal Dias

Oscar Schmidt foi homenageado recentemente pela Spalding, marca fabricante de bolas de basquete. A empresa confeccionou 1414 edições de uma bola especial para o atleta. É uma bola preta com detalhes em dourado e o número que marcou a carreira do jogador. Uma honraria que apenas Kobe Bryant teve. Parte do dinheiro arrecadado com as bolas vai para a ADD (Associação Desportiva para Deficientes), para manutenção e compra de novos equipamentos.

No final da semana passada, houve uma noite de autógrafos e Oscar conversou com a imprensa sobre a homenagem, sua carreira e como vê o basquete de hoje em dia. Confira o que falou o “mão-santa”:

- Você já recebeu diversas homenagens. Esta da Spalding mexeu com você?

Pensa bem, essa é a melhor bola do mundo. Ser homenageado desta maneira realmente emociona. Estou muito feliz.

- O que significa receber uma homenagem que só Kobe Bryant recebeu?

Uma honraria tremenda. Maior que a maioria das outras. Só perde talvez para o Hall da Fama. Tenho um orgulho de estar encabeçando as vendas, que não vai para mim. O lucro vai para a ADD. Espero que façam bom uso, comprem cadeiras de rodas boas para poderem continuar com seu projeto que é sensacional.

- Já que estamos falando de bola, você lembra da sua primeira bola?

Olha, evoluiu demais, você precisava ver como era. A bola era um perigo. Primeiro que não era tão redonda. Ao bater bola era preciso ter um domínio incrível. Lembro que jogava na minha vizinhança, em Brasília, com 13 anos, e o técnico fazia uns exercícios estranhos. Ele colocava uma fileira de pedrinhas, eu tinha que driblar com uma mão e pegar as pedrinhas com a outra. Imagina isso para um moleque desengonçado completamente. Depois colocava uma corda entre cadeiras e tinha que passar por baixo e por cima.

- Fala um pouco sobre o número 14, que é um número especial para você e que simboliza tudo o que você fez no basquete.

Antes eu jogava com qualquer uma. Passei a jogar com a 14 porque é o dia em que conheci minha esposa. Estamos há 44 anos juntos. Somos uma dupla incrível, não me vejo sem ela do meu lado. Na minha opinião, a maior responsável por ter alcançado esse sucesso todo. Ela foi a pessoa mais importante da minha vida, disparado.

- Como você vê o basquete de hoje, que está aquém das conquistas da sua época?

Eu vejo com muito bons olhos. Primeiro que nosso presidente (Guy Peixoto) é um cara que jogou bem basquete. Foi campeão brasileiro e era titular. Cara rico que não sabe onde bota o dinheiro. Não vejo se dando bem com proveitos da Confederação. Acho que nosso basquete tem muito a crescer por causa dele.

- O Brasil se classificou para a Copa do Mundo, mas teve derrotas para o terceiro time do Canadá, por exemplo. Dá para pensar que o time vai ser competitivo a curto prazo?

Talvez a melhora exista, mas não vai ser significativa. Mas a médio e longo prazo nós vamos voltar a jogar bem contra todas as equipes do mundo. Tenho certeza disso.

- Você ainda é muito recordado no exterior. Quando a NBA faz o All-Star Game seu nome é comentado. Como você se sente com esse reconhecimento?

É um grande orgulho ser lembrado. Sempre bom para o ego. Ter uma camiseta do Brooklin Nets, que eu nunca joguei, só fui rookie, é algo diferente. Me deixou muito orgulhoso também. Eles são sempre muito simpáticos e reconhecedores do meu trabalho.

- E como é isso no Brasil?

Ao contrário do que muita gente pensa, brasileiro é muito bom, lembra de tudo. Mas lembra só das vitórias. Da derrota ninguém lembra, ainda bem. Porque nós não ganhamos uma medalha olímpica por minha culpa. Eu que errei o último arremesso e esse lance fica rondando minha cabeça todos os dias. Se tivesse acertado, estava na zona de medalha. Por causa daquele arremesso errado, saímos dessa zona. Aquela geração merecia ter medalha em Mundial (bronze em 78) e Olimpíada (Seul-88).

- Você ainda lembra daquela situação do jogo?

Você não lembra porque não era nem nascido (o jornalista que escreve tinha alguns meses). Foi em 88. Era o lance do jogo. Se acertasse de 3 ganhávamos o jogo. Eu (se auto-entitula idiota) fui para dentro e errei a bola de 2. É sempre melhor arremessar de fora porque tem menos marcação. Esse arremesso fica na cabeça. Não tem um dia que não lembro dele.

- Por outro lado há grandes conquistas...

Tudo o que você falar não vai consertar nada. Nenhuma conquista chega perto dos erros. Eu lembro mais dos erros. O Pan-Americano (Indianápolis-87) sou obrigado a lembrar porque dou palestras e faz parte da minha vida. Mas a lembrança mais forte é daquele arremesso.

- Em termos de conquistas, tirando a medalha olímpica, acredita que alcançou tudo o que queria?

Eu queria a medalha olímpica. Faltou isso. Ganhamos medalha no Mundial e tivemos duas grandes chances em Olimpíadas. Nas duas vezes batemos na trave.

- Falando do basquete atual, você acompanha os brasileiros que estão na NBA?

Até acompanho. É muito difícil alguém de fora chegar lá e jogar bem. A exceção é a Espanha que tem vários jogadores atuando bem, a Argentina... Dirk Nowitzki é uma raridade, que saiu da série B da Alemanha. Os brasileiros estão esperando uma chance. Quando aparece, não agarram. É como o último arremesso. Não tem muitas vezes para fazer o arremesso do título. Quando chega, precisa colocar a bola lá dentro. Antes via os playoffs, mas agora só vejo a série final porque 25 dos 30 times não são tão bons. Prefiro assistir jogo que valha a pena ver.

Mesmo com tantos jogadores habilidosos?

Quem é habilidoso? [Chris Paul]. Ele está em um dos sete times bons. LeBron ainda não está mas esse time do Lakers vai ficar bom.

Para finalizar, comente sobre o esporte brasileiro como um todo. Recentemente foi divulgado que Cesar Cielo está sem clube, o Diego Hypólito está desesperado atrás de patrocínio.

O esporte vive a crise brasileira. Não tem como desvencilhar uma coisa da outra. Se o Brasil está em crise, o esporte estará em crise, vai faltar dinheiro para o esporte. Meu sobrinho foi campeão olímpico (Bruno Schmidt – vôlei de praia) e perdeu um dos patrocínios. O que dá para fazer a mais do que ser campeão olímpico? Nada! O Brasil tem esse problema grave, mas para consertar, só o país andando bem. Tem gente com dinheiro que aí investiria no esporte. Eu vivi isso a vida toda. Tive que sair do país para ganhar dinheiro.

Foto: Juvenal Dias

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