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Coluna Logos Olympikus: COB: um castelo de cartas ou uma monarquia consolidada?

 Por Juvenal Dias

Certamente você já acompanhou uma série ou filme medieval em que há um reino comandado por rei absoluto, que já está no trono há muitas décadas e viu, por inúmeras vezes, crises assolarem o reinado, mas este sobreviver e prosperar. Repetidas ocasiões este rei é deposto e fica um questionamento: qual será o futuro desta nação e seus comandados?

Guardadas as devidas comparações, a analogia nos faz refletir a respeito do que vem acontecendo com o Comitê Olímpico Brasileiro (COB). As notícias que surgiram em uma sequência avassaladora desde a última quinzena interessam a todos os envolvidos com o esporte de forma geral. A prisão temporária que virou preventiva de Carlos Arthur Nuzman e sua sucessão de fatos desde então, prisão e soltura do seu braço direito e ex-diretor de operações, Leonardo Gryner, o desligamento do general Augusto Heleno, diretor do COB responsável pelo Instituto Olímpico e pelo departamento de comunicação do Comitê, a suspenção da entidade perante o Comitê Olímpico Internacional (COI), a ascensão do vice-presidente Paulo Wanderley, a renúncia de Nuzman em definitivo para se concentrar em sua defesa, a reunião do Conselho do Comitê Organizador do Rio-2016, que vem nesta semana para definir os rumos da governança, já que continua sem presidente, cargo ocupado pelo próprio Nuzman. Tudo isso faz pensar: será isso apenas o começo da extinção do império instaurado há 22 anos? A caça às bruxas só está no início? Mais cabeças rolarão para que possamos limpar o esporte das maçãs podres que estão envolvidas nessa Era? Se for isso, a Operação Unfairplay da Polícia Federal e do Ministério Público terá mais fases e veremos no esporte olímpico aquilo que já nos acostumamos a acompanhar nos noticiários sobre Lava-Jato e outros casos de corrupção no país. Sinceramente, é o que eu torço para que aconteça, mesmo que afete o desempenho dos atletas de alto rendimento, mesmo que afaste investimentos de patrocinadores e repasses do COI, seria um mal necessário pensando em um futuro melhor para aqueles que se esforçam tanto para representar o país em campeonatos internacionais e buscam no esporte um meio de vida. Talvez isso faça desmoronar a estrutura criada para perpetuar as mesmas figuras e dê mais voz ativa aos atletas.

Isso, aliás, é outra coisa que me incomoda bastante. Por que, ao serem questionados sobre o episódio, Confederações e esportistas não se pronunciam? Lembro que há duas semanas, as mais diversas desculpas foram criadas para a falta de pronunciamento dos presidentes de cada confederação ligada ao COB: presidente que estava viajando ou licenciado por motivos de saúde, falta de um representante da entidade para comentar ou simplesmente ninguém queria dar a cara a tapa. Por quê? Isso tudo por estarem com rabo preso com o Nuzman e os favores que ele provavelmente promete aos dirigentes, que usufruem de benefícios por muitos mandatos, ou estão com medo de possíveis represálias a serem sofridas caso proliferem ideias contrárias? Conhecendo o histórico do país e suas “micromáfias”, nas quais todos querem levar vantagem, diria que tem um pouco das duas coisas. Infelizmente, só um trabalho de investigação mais aprofundada poderia provar esse ponto de vista.

Muito me deixa inquieto ao ver os atletas, que tanto brigam por condições melhores e mais investimentos em suas modalidades, preferirem o silêncio no momento em que mais seriam ouvidos e aclamados. É inevitável fazer o paralelo com os norte-americanos. Nos Estados Unidos, os atletas do futebol americanos começaram um protesto contra problemas sociais e raciais durante a execução do hino nacional, antes de cada partida. Depois, os jogadores da NBA mostraram insatisfação com o comportamento de Donald Trump, simplesmente o presidente da nação mais poderosa do mundo. Os movimentos têm se unido e ganhado cada vez mais força, com pronunciamento de astros como Stephen Curry e LeBron James. Agora, aqui nas terras tupiniquins, quase ninguém de peso toma a frente para confrontar as entidades. Até porque a principal fonte de recursos para eles competirem vem dos programas governamentais, Bolsa-Atleta, Bolsa-Pódio, Lei Agnelo Piva que leva dinheiro da Loteria Federal. Quem tem coragem de apontar o dedo ou cacife para se bancar por conta?

O que parece é existir um sistema como era o ser mitológico Hidra de Lerna, que se cortava uma cabeça e surgiam outras duas no local. Não sei se Paulo Wanderley é uma cabeça tão venenosa quanto Nuzman. Ele tem história parecida, no que diz respeito a ser um ex-esportista, que veio crescendo pelas beiradas, ficou 16 anos na presidência da Confederação Brasileira de Judô, o que mostra um continuísmo exagerado, mesmo que tenha representado o momento mais vitorioso da modalidade em Mundiais e Olimpíadas, já falou que irá cumprir seu mandato até 2020, quer mudanças no estatuto tanto no COB como adequações de suas filiadas, prega um discurso de melhorias e progresso. Parece mais do mesmo de uma instituição desacreditada e desgastada pelo tempo, que troca seu comandante, mas não troca suas atitudes.

Quero acreditar que todos esses acontecimentos estejam ocorrendo para melhorar, de fato, a cultura esportiva no Brasil e que, mais para frente, possamos colher frutos mais vistosos, possamos ser vitoriosos dentro dos locais de competição, devido ao esforço conjunto de dirigentes e esportistas. A única coisa que é de graça nessa história é a manutenção da esperança, é a capacidade de sermos otimistas.

Foto: Reuters

 

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