Na última quinta-feira (24) o Brasil deu um passo importante no
desenvolvimento de um esporte de inverno. Foi inaugurada a primeira pista de
“push” do bobsled no Núcleo de Alto Rendimento de São Paulo (NARSP), que fica
no bairro de Santo Amaro, Zona Sul da cidade, em parceria com a Confederação de
Brasileira de Desportes no Gelo. Trata-se do lançamento de um equipamento que
servirá para os atletas aprimorar um aspecto relevante no ganho de alguns
milésimos de segundo que é a largada.
Que o país não tem tanta tradição nos Jogos Olímpicos de
Inverno, que não há montanhas com neve ou que as geadas duram pouco no país
tropical todos já sabem. Mas o que pouca gente conhece é que há uma evolução
gradativa na modalidade considerada a Fórmula 1 do gelo e que hoje já existe um
respeito maior dos adversários mundiais, prova disso que o Brasil saiu de 71º
colocado no ranking quando começou para ser 17º atualmente. Os homens e
mulheres que competem não querem mais o estigma de “Jamaica abaixo de zero” ou
“Bananas congeladas” como tiveram em outrora. Eles têm objetivos de chegar a
PyeongChang, na Coreia do Sul, ano que vem, e alcançarem um top-10. Caso isso
aconteça, poderia igualar o feito que Isabel Clark fez no snowboard de
velocidade em Turim-2006.
Para se aproximar de tal feito, Odirlei Carlos Pessoni, que
é o breakman (homem do breque na tradução livre) do time, foi atrás do nosso
jeitinho brasileiro de adaptação e improvisação e convenceu os dirigentes da
CBDG a construir essa pista para melhorar a performance dos atletas no período
em que não há competições. Aliás, não só convenceu como é o responsável direto
pelo desenvolvimento do equipamento. Ele mesmo explica melhor essa história:
“Desde de pequeno sempre desmontei meus carrinhos, sempre gostei de mexer com
ferramentas, tenho muitas em casa. Desde quando fui para o bobsled, via a
necessidade de mexer no trenó, ajustar uma coisa aqui, apertar um parafuso ali,
às vezes quebra uma fibra... Aí, juntamente com a Confederação, eu bolei essa
ideia (da pista) e eles abraçaram”.
Nessa época de verão do hemisfério norte, o treinamento fica
restrito à musculação e sincronia de largada em pistas desse tipo, mas feitas
em um local apropriado, de alvenaria, com terraplanagem, com borracha por cima
como uma pista de atletismo. Se procurar vídeos de “bobsled push training” irá
encontrar uma variedade de opções deste segmento de treino. Mas o integrante da
modalidade “four-men”, aquela em que há quatro integrantes, foi além e teve a
ideia de fazer uma pista desmontável dentro da curva da pista de atletismo do
NARSP. É um par de trilhos, que se encaixa de 3 em 3 metros, com 78 metros de
extensão total, com uma armação sob rodas ligados ao trilho, equivalente ao
peso e espaço que o trenó tem. Odirlei explicou que colocou o projeto no papel
e convenceu os dirigentes que poderia construir.
O jeito brasileiro de
construir sem um profissional da área pode não ser o idealizado, de um centro
próprio e dedicado ao esporte, mas pode melhorar a preparação dos atletas,
diminuindo a diferença deles com seus principais concorrentes. É o que acredita
o novo treinador da Seleção, José Eduardo Moraes: “Quando falamos em preparação
física, temos aquela parte de força, potência e velocidade. Porém quando eles
(atletas) viajavam, não tinham o contato com a transição da parte física para a
técnica, que é essa parte de ‘push’. Então sempre adaptávamos com trenós feitos
por serralheiros, o Odirlei é um cara que fazia isto. Ajuda muito, pois no meio
de setembro já irão para os Estados Unidos competir com essa transição feita de
maneira mais adequada”. Ele ainda explica este momento técnico e que pode ser
decisivo em uma prova: “Todo esporte de velocidade é decidido em milésimos de
segundo, então todo detalhe é importante: a largada, a coordenação em que os
(quatro) atletas começam a empurrar ao mesmo tempo, não adianta um empurrar
antes que os outros, se todos conseguirem aplicar a mesma força no mesmo
momento, melhor será o desempenho. Também tem a questão do piloto bater o menos
possível nas laterais”.
Sally (lê-se com “A” mesmo) Siewerdt da Silva, apesar de
nome, sobrenome e aparência de estrangeira, é brasileira de nascença e será a
piloto da modalidade “two-women” que tentará a classificação para a próxima
edição da Olímpiada de Inverno. Ela já esteve em Sochi-2014 como break-woman e
vai buscar um lugar entre as duplas que competirão na Coreia. Ela foi outra que
ressaltou a importância da pista recém-inaugurada: “Nos ajuda demais. Nós só
começávamos a treinar este fundamento quando chegávamos na competição, então já
saiamos em desvantagem”. A atleta comentou também sobre a estrutura oferecida
pelo NARSP: “É excelente! Os profissionais, todos os equipamentos de alta
qualidade, um dos melhores locais para treinamento do Brasil. O Edson
Bindilatti (piloto) entrou em contato com Irineu Loturco (diretor técnico e
doutor em treinamento esportivo do Núcleo) para ver o que ele achava, de pronto
já apoiou a ideia de treinarmos aqui. Agora, realmente estamos vivenciando o
boblsed de alto rendimento”.
Ainda estiveram presentes ao evento os atletas Edson
Bindilatti, Edson Martins, Denis Parreira, Erick Vianna e Rafael Souza da
Silva, todos integrantes do time brasileiro que compõem o quarteto e dupla que
buscarão vagas para os Jogos até janeiro, além de Jaqueline de Nazaré, parceira
de Sally no dueto feminino.
Fotos: Tiago Campante e Juvenal Dias
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